Sítio do Picapau Amarelo (2001) – Reinações de Narizinho



“Nada é insolúvel para um aprendiz de Sherlock Holmes”
A quarta história do “Sítio do Picapau Amarelo”, exibida entre 05 e 09 de Novembro de 2001, é “Reinações de Narizinho”, e une duas tramas do livro de mesmo nome do Monteiro Lobato. Depois que a parte inicial da trama já foi adaptada em “O Reino das Águas Claras”, dessa vez nos aventuramos pela história de quando o Príncipe Escamado e sua Corte vêm ao Sítio de Dona Benta para conhecê-la e visitar a Princesa Narizinho. Além disso, Narizinho e Emília também conheceram um misterioso gato nas redondezas, e embora Emília tenha dito que era “obóvio” que era o Gato de Botas que ouviu falar da “boneca de pano mais esperta do mundo” e veio conhecê-la, na verdade temos um gato gatuno a ser desmascarado pelo Visconde de Sabugosa, agora que o sabugo de milho mais inteligente do mundo está fascinado pelas histórias de Sherlock Holmes!
Mais uma vez, o mais gostoso de assistir ao “Sítio do Picapau Amarelo” é perceber tanto a inocência quanto as travessuras da infância, como o Pedrinho tentando ensinar o Saci a andar de skate (“Agora é só dar um empurrão com a outra perna e vai!”), ou andando de redemoinho, ou ainda o Quindim, o mais novo morador do Sítio, procurando um lugar para morar, perguntando à Vaca Mocha se pode morar ali com ela, e os planos que começam a surgir quando o misterioso gato avisa a Emília e a Narizinho que o Príncipe Escamado e sua corte estão vindo visitar. Ao invés de contar para Dona Benta, como era o plano inicial, as duas resolvem guardar o segredo e fazer uma surpresa. Afinal, como diz a Emília: “As duas velhas vão cair para trás quando ver a peixarada toda invadindo o Sítio” Bem, tampouco é para menos, com TODA essa visita!
Gostei MUITO da reação do Rabicó, todo assustado e se perguntando: “O que é isso? Será uma invasão? Cadê o Quindim, aquele tomador de conta de meia tigela? O Sítio está sendo invadido e ele não está fazendo nada!” Tia Nastácia tranca toda a casa e Dona Benta se recusa a sair, então, triste, o Príncipe Escamado decide que é melhor partir, porque sua presença não é bem-vinda. A cena contém comentários memoráveis como “Olha só, Narizinho, brincadeira tem limite! Acho melhor você mandar esse seu marido… quer dizer, esse peixe, de volta pra toca!” e “Isso é um absurdo! Meu marido lá fora sendo escorraçado pela minha própria avó!”, com direito a resposta: “Narizinho, você não pode ser casada com um peixe!” “Por que não? A Emília é casada com um leitão!” “Mas eu quero o divórcio!” Momentos como esse é que nos fazem sorrir, e é por isso que faz TÃO BEM assistir ao “Sítio do Picapau Amarelo”.
Termino os episódios sorridente, feliz… renovado.
Quando o pessoal do Reino das Águas Claras está mesmo partindo, Narizinho confronta a avó dizendo que “essa não é a educação que ela lhe deu”, então Dona Benta resolve sair, “para ver até onde vai essa história”, e uma vez lá fora, ela é toda educada, e pede desculpas por tê-los deixado esperando, diz-se envergonhada. Todos estão ali: o Príncipe Escamado, o Doutor Caramujo, a Dona Aranha, o Major Agarra-e-Não-Larga-Mais, e Dona Benta precisa admitir, encantada: “Você tem razão, Narizinho. O mundo em que você e o Pedrinho vivem é muito mais interessante que o nosso!” Narizinho caminha com o Príncipe Escamado, Emília conversa com a Dona Aranha, Dona Benta vai fazer exercícios e cuidar da saúde com o Doutor Caramujo, e o Pedrinho se envolve em uma espécie de competição com o Major para ver “qual deles é mais corajoso”.
Destaque, naturalmente, para a cena da Emília conversando com a Dona Aranha, encantada com “o carretel de linha que ela carrega na barriga” e se perguntando se ela teve que comer muita linha quando era pequenininha. Também para a Miss Sardine, que invade a cozinha da Tia Nastácia incrivelmente curiosa com tudo: o fogão, o fogo, o sal, a pimenta (!) e tudo o que vê pela frente. Também o duelo de Pedrinho e o Major e as desculpas mais esfarrapadas que o segundo dá para fugir de todas as provas. E o “efeito colateral galináceo” na Nastácia quando ela toma uma pílula que era para o Pinto Sura? Ah, e claro, a cena da Narizinho e da Emília mostrando a Vaca Mocha para o Príncipe Escamado, “a senhora mais importante do Sítio depois da Dona Benta e da Tia Nastácia”, para surpresa do Príncipe: “Mas não foi ela que comeu toda a família do Sr. Visconde de Sabugosa?”
Aqui, eles discutem uma variedade de coisas sobre a Vaca Mocha, enquanto o Príncipe Escamado se encanta com tudo o que não conhece, como as tetas da vaca (“‘Tetas’ quer dizer ‘torneirinhas de leite’”) e o rabo (o “espantador de moscas”, que segundo a Emília foi pregado ali pela Tia Nastácia quando a Mocha nasceu), e de tão admirado com o novo, o Príncipe deseja levá-la consigo para o Reino das Águas Claras, e imediatamente Emília tem uma ideia e vai correndo conversar com a vovó: “Dona Benta, você não quer trocar a Vaca Mocha por uma baleia? Pensa bem, tudo que falta aqui no Sítio é uma baleia!” Também adoro o diálogo sobre o mistério de como ela dá leite, que a Emília resolve com “Eu sei! É porque ela come mandioca todo dia. Pra mim, leite é mandioca líquida”, e aquela convicção da Emília de que o Rabicó “só não dá leite porque não tem torneirinha”: “Tenho certeza que se a Tia Nastácia costurasse umas torneirinhas no Rabicó, ele também dava leite!”
Mas a visita do pessoal do Reino das Águas Claras é ameaçada pela imensa curiosidade e teimosia de Miss Sardine. Ela acha a frigideira com óleo quente a coisa mais linda do mundo e, assim que fica sozinha na cozinha, se prepara para pular naquela “água borbulhante”, afinal já nadou em muitos mares perigosos. Então, Miss Sardine pula na frigideira com óleo quente e é encontrada mais tarde pela Tia Nastácia, enquanto o Time do Sítio joga peteca contra o Time do Reino das Águas Claras, com Emília como juíza: “O Rabicó tá comendo a peteca, isso não vale!” Então, com a morte de Miss Sardine (“Elementar, minha cara Dona Benta. Miss Sardine não resistiu à beleza do óleo quente. Aqui jaz Miss Sardine”), o Príncipe Escamado declara luto no Reino por um mês e, frente a tanta tristeza, decide ir embora, com a promessa a Narizinho que voltará visitá-la.
Com a partida da Corte, uma nova história, de outro capítulo de “Reinações de Narizinho”, é trazida ao primeiro plano: A HISTÓRIA DO GATO. Tio Barnabé dá pela falta de um pintinho no galinheiro enquanto o Gato, todo ardiloso, se infiltra no Sítio do Picapau Amarelo e conta uma história toda inventada e repleta de absurdos, de maneira divertida, o que me fez lembrar um pouco o tipo da Tati (da Heloísa Périssé e da Fernanda Souza!) de contar história. De todo modo, a Emília implica e acha a história chatíssima, então fica responsável por contar a próxima história no dia seguinte, enquanto Visconde se aprofunda em um mistério trazido por Tia Nastácia a ele e Dona Benta: “Nada é insolúvel para um aprendiz de Sherlock Holmes”. Assim, o Visconde de Sabugosa pede a ajuda do Pedrinho para investigar o desaparecimento dos pintinhos (já são só 8, de 10), e temos ÓTIMAS CENAS a partir disso…
Primeiro, o próprio fato de o Visconde precisar da ajuda do Pedrinho para investigar “o local do crime”, afinal de contas é o galinheiro e ele é uma espiga de milho! “Medo, não. É receio que atrapalha minha pesquisa”. Assim, quando o Visconde encontra a primeira pista no galinheiro, ele pede ao Pedrinho que lhe faça um “microscopinho”, e é uma graça vê-lo trabalhando… mais tarde, quando ele reclama que “não tem material o suficiente”, Pedrinho chama Narizinho para fazer uma das coisas mais fofas do Sítio: o laboratoriozinho do Visconde dentro de uma casca de árvore! Funciona muito bem para essa fase do Sítio em que o Visconde ainda é pequeno do tamanho de uma espiga de milho! Além de ser uma verdadeira graça ver o Visconde lá dentro, trabalhando e investigando. Dessa vez, sentindo-se o próprio Sherlock Holmes!
No dia seguinte, Emília passa o dia todo quieta, pensando na história que vai contar à noite, e começa, sem nenhuma surpresa da Narizinho: “Era uma vez… um Rei!” Pelo visto, Narizinho diz que se não tiver rei, princesa, príncipe, fada e transformação, não é uma história da Emília, e tem mesmo tudo isso… Isabelle Drummond, aquela fofura interpretando a Emília, arrasa contando a história, e é tudo muito fofo, com a Narizinho comentando, orgulhosa, para a avó ao fim: “Você percebeu como a Emília tá inteligente? Ela não é mais a burrinha de antes!” O Gato, no entanto, também escolhe implicar com a Emília e sua história. Diz que era chatíssima, e que as pessoas só fingiram gostar porque senão ela ia chorar… diz que a Narizinho “só gostou por pena”. Brava, Emília briga com o gato, arranca um pelo seu e vai toda furiosa conversar e contar tudo ao Visconde…
…que fica interessadíssimo no pelo de gato.
“Senhoras e senhores, era uma vez um gato gatuno…” A história do Visconde é maravilhosa, cheia de drama e romantização até chegar à grande revelação de que o ladrão de pintinhos ERA O GATO! Adorei as interferências da Emília, do tipo “Deve ser algum parente seu, os traços são tão parecidos!” Com os dois pelos como prova do que está dizendo, o Visconde revela toda a verdade e todo mundo coloca o gato para correr, mas em especial a Tia Nastácia com a vassoura que usa para expulsar o Rabicó de sua cozinha. Com o Visconde elogiado como o grande solucionador do caso (“Valeu, Visconde, você é o nosso Sherlock Holmes!”), Dona Benta diz que agora eles vão dividir a biblioteca e o Visconde de Sabugosa vai ajudá-la na administração do Sítio. Bem… nós sempre soubemos que o Visconde era um gênio, não? Inspirado por Sherlock Holmes, então!
Uma história adorável! <3
Como todas.

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