Time After Time – Um Século em 43 Minutos


H.G. Wells é um dos precursores da viagem no tempo, e da própria ficção científica propriamente dita. Certamente sua maior obra-prima é The Time Machine, que incentivou tantas outras obras sobre o tema. Mas o autor, extremamente visionário, a man before his time, não ficou apenas nisso, tendo em seus livros também antecipado o Socialismo, a Guerra Mundial, as Viagens Espaciais e a Liberação Feminina. E Time After Time é uma interessante e inteligente obra de ficção científica sobre viagem no tempo, representando o gênero nesse Mês Temático, já que ficou de fora no ano passado.
Sabem por que é assim tão inteligente? Porque Um Século em 43 Minutos pega uma figura real, importantíssima para a literatura e pertencente ao imaginário público, e o torna protagonista de uma história na qual a viagem no tempo é possível. Além de H. G. Wells ter escrito o livro “A Máquina do Tempo”, o personagem no filme realmente cria uma de verdade (ele realmente a criou na vida real), mas que funciona! Então eles transportam o escritor de Londres em 1893 para San Francisco em 1979 (ano de lançamento do filme). Viagens no tempo são possíveis, com uma máquina exatamente como a de seu livro, permitindo-lhe assim uma visão do futuro que incentivariam sua escrita.
Não pára por aí. O plot do filme começa lá em Londres, como eu comentei, quando ele reúne um grupo de seus amigos para apresentar sua mais nova invenção: a Máquina do Tempo. Na qual todos eles parecem ter uma relutância inicial em acreditar. Mais tarde, ainda antes de testá-la, a polícia chega na casa em busca de um criminoso (na introdução do filme conhecemos Jack, o Estripador) – o segredo do filme é que John/Jack fora um amigo de Wells, que escapou na sua Máquina. Isso inclui no filme o tom policial, retorna à história do Estripador, e permite a H. G. uma viagem ele mesmo até 1979, na tentativa de trazer Stevenson de volta e entregá-lo à polícia.
Teremos, a partir daí, os mais deliciosos e previsíveis clássicos da viagem no tempo – mas tendo em vista o ano de produção, chamamos de “clássicos” e “previsíveis” atualmente, não chamaríamos naquela época. Tem ele perdido sem saber onde está (ele sabe o ano), mas sem ninguém na rua disposto a lhe dar essa informação (que ele consegue aonde? Num jornal, é claro!); depois a lanchonete (que dessa vez é o MacDonalds, ficou engraçadíssimo, certamente!) e o prazo de uma semana para que resolva todas as coisas e possa retornar a seu tempo – prazo que depois será assegurado pela ameaça de Stevenson à vida de Amy.
Assim como Lorraine se apaixonou por Marty McFly (e eu percebo que De Volta Para o Futuro veio 6 anos depois), Amy também se apaixonou por Herbert, e foi um tanto quanto atiradinha – mas não sei o que Herbert tinha, que realmente o tornava encantador e desejável. Deve ter sido o ar inocente e fofo. Talvez. E inteligente. É muito bom ver como isso acontece, como ela vai se apaixonando por ele muito mais depressa do que ele por ela, até porque ele ainda está perdido demais para ao menos entender seus sentimentos… enquanto isso Jack, o Estripador começa a fazer suas primeiras vítimas em 1979, e Herbert sabe que é sua função fazer algo a respeito.
Ele até se torna Sherlock Holmes!
Muito bom também é ver como ele vai se encantando e tentando entender tudo o quanto é novo, e vai fazendo anotações a respeito de tudo isso. Os carros, que ele aprende a dirigir teoricamente, depois até arrisca na prática. O avião, a independência das mulheres… a Primeira e Segunda Guerra Mundial (a cena em que ele pergunta da Terceira Guerra Mundial é simplesmente genial!). A escada rolante, a televisão – mas ao mesmo tempo é bastante triste ver a sua decepção com o que o futuro lhes reserva, aquele futuro que ele imaginava como uma perfeita Utopia, sem nenhum problema, sem guerra, onde todos fossem iguais e amigos. É triste pensar em como ele se desapontou com a realidade de, 86 anos no futuro, termos um mundo ainda mais cruel e violento do que aquele que ele conhecia.
O que torna Jack, o Estripador, nem tão chocante assim no ano de 1979. O mais legal de toda essa história está justamente quando o momento fatídico de contar a Amy a verdade chega – e ela evidentemente não acredita. Ele, então, insiste em provar a ela que está dizendo a verdade, com uma viagem no tempo uma semana ao futuro, que dura mero ¼ de segundo, e ela nem nota que algo aconteceu. Até ver o jornal… é aí que seu assassinato na sexta-feira, às 19h30, lhe prova que tudo era verdade, e eles retornam para o passado, sabendo como Stevenson pensa, prontos para contatar a polícia, ou eles mesmos, e resolver todo o problema.
São cenas agonizantes de corrida contra o tempo.
Eu amo o tipo de efeitos especiais que temos nos filmes dessa época – bastante simples, mas ao mesmo tempo tão nostálgicos que parecem ainda melhores do que os atuais. Pelo menos sentimentalmente falando. E amei toda a teoria bem fundamentada que guia toda a história, sem contradizê-la. Como funciona a Máquina do Tempo… oh, como ela funciona! A teoria de 2 anos a cada 1 minuto é fascinante, o que explica a “estranha” tradução brasileira. São 86 anos no futuro, ou seja, 43 minutos! E ele vai para o século seguinte… não é calculadamente apurado, mas ainda assim foi um nome interessante para o título; embora deixe o filme com muito mais tom de brincadeira do que o original.
Enfim… o filme é MARAVILHOSO! Eu sabia que estava apaixonado quando a Máquina funcionou e ele chegou ao Museu Britânico, em uma exposição de si mesmo, com direito a uma “réplica” da Máquina do Tempo, que “não funcionou”. Mas é uma daquelas histórias deliciosas de viagem no tempo, com todos os elementos que mais nos encantam no gênero, e ainda foi uma bonita homenagem ao escritor que escreveu possivelmente a mais famosa história sobre o tema. Vai para a lista de meus filmes favoritos sobre o tema, certamente… e eu realmente não acredito que eu ainda não o tinha assistido anteriormente. Shame on me!

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