O Vingador do Futuro (1990)


What if this is a dream?

Eu realmente não gosto de Arnold Schwarzenegger por motivos que talvez eu não saiba explicar, mas não foi por ele que eu assisti ao Vingador do Futuro, mas sim por Philip K. Dick. Esse cara é um dos maiores gênios da ficção científica de que se tem notícia, e eu sou um fã declarado dele e suas obras. E O Vingador do Futuro é baseado em We Can Remember it for You, Wholesale, um de seus contos de que mais gosto! Um conto que não passa de 30 páginas, claro que o filme tem uma longa enrolação que nunca existiu no original.
Relevemos.
Mas acho que tanto o filme original de 1990 quanto o remake de 2012 falharam ao captar um pouco do espírito do conto – We Can Remember it for You certamente tem bastante ação e isso é uma parte importante do roteiro, mas o grande questionamento de realidade ou ilusão é a base de tudo, como várias obras de Philip K. Dick. E ambos os filmes trazem esses questionamentos muito bem, mas falham ao encerrar o filme sem trazer a grande jogada do autor, que foi incorporar uma única fala que realmente muda toda a maneira de ver o conto ou mesmo pensar na história…
Foi assim que cuidei daquele homem que vocês me mandaram matar em Marte.
Pronto, e então nunca mais conseguimos tirar a história de Douglas Quaid da cabeça. O conto e o filme de 1990 contam a história de Douglas Quaid, a princípio um trabalhador normal com certa obsessão a respeito de Marte. Mesmo com a mulher e colegas de trabalho constantemente o desencorajando, ele acaba indo à Rekall, uma empresa capaz de inserir memórias falsas na mente das pessoas com a promessa de serem tão vívidas quanto memórias reais, ou ainda mais críveis.
E acho que a Rekall foi uma das criações mais espetaculares de Philip K. Dick. Dependendo de sua interpretação do conto, talvez ela nem funcione para valer, ou nunca tenhamos tido uma prova, mas sua proposta é realmente muito interessante – é um fascínio muito grande poder escolher o que você quer ser ou o que quer fazer e poder ter essas memórias implantadas e viver essas coisas como se fosse verdade. Como comentei na postagem do remake, é um sonho que eu tenho, e eu adoraria a Rekall na vida real. Apenas para comentar.
Mas voltando ao filme, Quaid vai até a Rekall para implantar uma memória a respeito de Marte, e acaba escolhendo a opção de Agente Secreto. Aparentemente antes que o processo possa ser completado, as drogas injetadas nele causam um problema no qual memórias verdadeiras são despertadas, memórias sobre as quais ele não deveria ter lembranças. De que realmente já esteve em Marte, e de que foi uma outra pessoa o tempo todo, e sua vida na qual acredita agora é uma farsa, inclusive sua mulher. Perseguido até a morte, Quaid não sabe mais o que está acontecendo.
E essa é a grande jogada e a coisa mais interessante do roteiro. Nos fazer o tempo todo questionar o que é verdade e o que não é. Porque temos motivos tão claros para acreditar tanto em uma coisa quanto na outra. As drogas e a visita à Rekall podem realmente ter sido o gatilho que disparou as memórias antigas, mas também pode ser que tudo o que se passa dali em diante seja já parte da ilusão. Especialmente no filme, que nos leva a uma viagem à Marte, exatamente como o plano cobria – inclusive com a opção de ter salvo o planeta e conquistado a mulher no fim de tudo.
Acho que o filme de 1990 teve mais sucesso ao captar algumas coisas da obra de Philip K. Dick. Especialmente por sua história ser mesmo baseada no tal fascínio por Marte. Que não oferece nada de tão interessante, afinal o planeta é bem monótono e com cenários não tão bons graças aos efeitos um tanto precários – muitos filmes apresentam essa imagem de Marte. Mas além dessa obsessão, o filme colocou McClane como no conto, e apresentou algumas similaridades interessantes. Além de uma infinidade de invenções necessárias para a versão cinematográfica.
Que é interessante. Como a própria Lori, muito bem utilizada em ambos os filmes, mas sem toda essa história no conto original. O que me parece que foi algo que Philip K. Dick fez questão de deixar sub-entendido para que pudéssemos pensar nisso tudo por nós mesmos. Parece algo que ele gostava muito de fazer em suas obras: fazer com que o leitor pensasse e questionasse a realidade em que vive. Por isso é que eu gosto tanto desse autor! Se você nunca leu nada dele, talvez seja a hora…
O filme é bem interessante, cheio de ação (talvez demais, mas isso é só o Jefferson falando) e uma ficção científica muito bem construída que nos faz questionar o que é realidade e o que não é. Talvez não na nossa vida, como Matrix consegue fazer tão bem, mas dentro da vida de Quaid, e é tão interessante quanto… o roteiro faz questão de brincar com isso o tempo todo, nos dando motivos para acreditar em ambas as coisas, e nunca respondendo. Cada um com sua opinião, talvez o mais interessante de Dick é que ele não parece impor que escolhamos um lado… apenas quer nos fazer questionar. Interessantíssimo, vale a pena assistir!

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