Third Doctor – The Spear of Destiny (Marcus Sedgwick)


Deixou os outros dois contos no chinelo.
Apesar das roupas excêntricas, a inteligência inquestionável e a chave de fenda sônica agora regularmente, talvez o terceiro Doctor, interpretado por Jon Pertwee tenha sido o mais diferente de todos – e que mais fugiram à nossa idéia clássica de Doctor Who. Afinal ele passou quase seu tempo todo preso na Terra, exilado (os gastos dos episódios eram muito mais baixos se gravados todo com o cenário real), e chegou mesmo a trabalhar para a UNIT… ou seja, o Doctor trabalhando para o governo, e ainda bem propenso a resolver as coisas com ação.
E dirigindo carros!
Tudo o que é mais clássico em Doctor Who esteve presente no conto de Marcus Sedgwick, como o uso constante da sonic screwdriver e a TARDIS sendo colocada em ação – mas com características tão específicas e marcantes que o Terceiro Doctor apresentava, não acho que Sedgwick teve tanto trabalho em transformá-lo em um personagem de conto; essas diferenças do Doctor, que não foram seguidas futuramente, eram o que deixava a série de 1970 diferenciada. Atualmente é algo que estamos bem acostumados a ver, mas parece que esse estilo estava mais próximo da realidade, mais humano – e mais como os filmes de ficção científica governamentais que vemos hoje.
Mas o Doctor também não sofreu uma total descaracterização na sua terceira encarnação. Bessie, por exemplo, o carro que ele tanto amava dirigir, era uma de suas invenções e tinha bem a sua cara. Eu gosto da terminologia whomobile. E não foi a única coisa que ele inventou, sendo então essa a encarnação do Doctor mais fascinada por criar coisas novas – mas a ação é garantida por seus golpes de Aikido Venusiano (kk, sua cara) e grandes perseguições automobilísticas, já que ele amava tanto dirigir carros… até parece meio estranho falar do Doctor nesses termos, huh?
Mas por alguma razão, não foi a escolha de Sedgwick para terminar sua narrativa: o Doctor foi bem diplomático, utilizou-se de uma conversinha barata e um truque ardiloso para roubar a Spear of Destiny no final do conto. Sem golpes de Aikido Venusiano. E embora eu tenha achado que o conto talvez pudesse ter um desfecho mais grandioso e surpreendente, a previsibilidade do desfecho não me deixou triste por toda a construção fantástica que Marcus Sedgwick apresentou ao longo de todo o The Spear of Destiny, que juntou tanta coisa de tanto lugar que foi fascinante.
Meus olhos brilhavam lendo.
“[…] she knew better than to tease him about working for UNIT, the United Nations Intelligence Taskforce. She also knew better than to remind him that he had only agreed to work for them since he had been exiled to Earth by the High Council of the Time Lords, having been found guilty of violations of time. And, although the High Council had now allowed the Doctor freedom to travel in time and space once again, she certainly knew better than to mention his exile”.
Encontramos o Terceiro Doctor com sua mais clássica companion: Jo Grant, os dois trabalhando para a UNIT, tentando entrar em uma exposição em um museu para roubar uma lança ali exposta… isso tudo se passa na Londres de 1973, tentam utilizar a TARDIS para completar seu plano, mas não dá lá muito certo, e eles acabam tendo que viajar um longo caminho até a época dos Vikings para recuperar a lança enquanto ainda estava com um de seus donos passados: Odin. A Lança, chamada ali de Gungnir, está nas mãos de um poderoso homem, futuramente retratado nas histórias como um deus.
E assim acompanhamos o nascimento da Mitologia Nórdica. “Jo, this is so fascinating! We are witnessing the origin of Norse myth!”. É assim que a busca pela Lança do Doctor e de Jo acaba esbarrando na história de Thor e Odin, homens comuns mas muito poderosos, e o Doctor brevemente explana sobre a criação de mitos, e como estudante de letras, eu fiquei fascinado em ler essas palavras… porque ele disse as coisas da maneira como eu acredito que elas acontecem: como esses homens grandiosos do passado capazes de fazer coisas que o povo da época não entendia, acabaram se tornando grandes mitos… a guerra Aesir x Vanir prestes a acontecer…
Mas uma das coisas que mais me agradaram foi justamente entender a Lança. “Gungnir is a Physical Temporal Nexus. A PTN”. Ela precisava ser recuperada pela UNIT justamente por ser uma PTN e estar causando esses pequenos distúrbios temporais nas redondezas (como relógios perdendo a hora todos juntos ou marcando 13, um grande número de pessoas com sentimento de déjà vu) e esse termo é utilizado pela primeira vez também para caracterizar a TARDIS, e normalmente não temos grandes explorações a respeito dos distúrbios temporais que uma máquina dessa magnitude provoca nas profundezas… seria interessante ter mais sobre isso.
A origem, a origem da Laça do Destino é o que me encantou. Inicialmente uma Lança comum, e depois uma propriedade de Odin (capaz de se conectar com a pessoa a quem pertence e realizar qualquer um de seus desejos – na Era Viking apenas conhecida por acertar quem quer que o dono quisesse que o acertasse, através do estudo dos inúmeros universos paralelos possíveis naquele momento) – dessa maneira, Sedgwick foi o que mais conseguiu mesclar a mitologia de Doctor Who com mitologias externas, ainda com um quê acentuado da ficção científica pura e real que eu tanto amo.
Na verdade, a tal Spear of Destiny fora a Lança que perfurou Jesus logo após a sua morte pelo soldado romano – e a partir de então ela foi tida como invencível e atravessou toda a história da humanidade, passando pelas mãos de Odin e mais tarde ligada a Adolf Hitler – aquela lança que ele colocou em exposição é no conto caracterizada como essa mesma lança que precisa ser roubada, mesmo com a dúvida de porquê, então, os Nazistas perderam a guerra afinal. E uma explicação bastante plausível. Dessa maneira, o autor liga tudo com muito complexidade e indo longe, misturando Mitologias, Religião, Ciência e História, tudo em um único conto. Ficou perfeito, de se tirar o chapéu.
Poderia terminar a análise aqui, mas…
THE MAAAAAAASTER!
Sim. Marcus Sedgwick foi o melhor autor de contos de Doctor Who até o momento por ter nos fascinado tanto até ali, e ainda ter colocado o Mestre como vilão da história, ligando-o, também, à Mitologia Nórdica, na qual ele representa Frey…
‘It was said that Frey could make his ship any size he wanted. That he could fit as many men on board as he wished. Does that sound familiar? A ship that’s bigger on the inside?’
‘Doctor! You think…?’
‘Jo, the name Frey. In Old Norse it means Lord. Or –’
‘Master!’ cried Jo. ‘Frey is the Master!’
Essa parte eu só transcrevi, porque não tinha mais o que falar. Você imagina o quanto eu surtei lendo essas palavras, mal acreditando que ele tinha mesmo escrito algo tão bom, colocando um dos elementos mais clássicos e importantes de Doctor Who: o Mestre. Ler qualquer uma de suas cenas foi espetacular, eu não queria mais que o conto acabasse, queria apenas ficar naquele sentimento de descobertas, e esperar por mais confrontos verbais entre o Doctor e o Mestre, porque era sempre uma coisa maravilhosa de acompanhar… Jo virou coadjuvante a partir de então.
Marcus Sedgwick, autor de
The Spear of Destiny
Bem, e o conto de Marcus Sedgwick, um gênio completo, se sustenta até o final prendendo nossa atenção e nos fazendo vibrar. Ele conseguiu realmente capturar a essência do Terceiro Doctor, interpretado por Jon Pertwee de 1970 a 1974. Não é o Doctor favorito de muita gente, não é o meu Doctor favorito, mas talvez em sua versão escrita ele se torne… mas aguarde em breve os comentários dos próximos contos e Doctors… enquanto isso, eu continuo aconselhando a leitura! Vale muito a pena… até mais. E que venha 21 de Novembro!

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