On Broadway – Company – But alone is alone, not alive


Resumidamente: PERFEITO!
Company, para quem não leu minha outra postagem (confira aqui), é um musical da Broadway por Stephen Sondheim que estreou em 1970, e já ganhou várias outras versões, lá e por todo o mundo, inclusive uma brasileira no início dos anos 2000. Conta a história de Robert, responsável por unir seus 10 amigos casados para uma festa surpresa no seu aniversário de 35 anos – o único não casado no grupo, ele busca um amor verdadeiro, sonha e sofre, enquanto também precisa se perguntar se ele estaria certo para um compromisso como esse… e ainda resolver o problema dos seus três relacionamentos pendentes.
A história não é apresentada de maneira cronológica, portanto podemos ver Bobby de maneiras totalmente diferentes de uma cena à próxima – são uma série de acontecimentos independentes cuja única constante é Robert, amigo de todos eles e tão essencial em suas vidas, e a ligação é justamente a festa de 35 anos, cena que vemos e revemos em três momentos importantíssimos do musical: e é incrível como a mesma música pode ter tons tão diferentes dependendo da hora em que é utilizada, e também da interpretação que Neil Patrick Harris dava ao personagem… ou o ator a interpretar Robert.
Falarei de Harris, pois a versão que vi foi a “New York Philharmonic Concert” de 2011.
Como a história é fragmentada, o primeiro momento que encontramos é de Robert com Harry e Sarah. Eu amei aqueles dois! Interpretados por Stephen Colbert e Martha Plimpton, os dois são incrivelmente engraçados. The Little Things You Do Together. Eu amei aquela história toda de ele não poder beber, e ela não poder comer chocolate… I get the impression that you guys are on diets”. Também é ótimo vê-los discordando um do outro, e vê-los lutando karatê… uma das coisas mais engraçadas, não só pelos dois, mas também pela participação de Robert, variando da diversão ao puro desespero… como ele se pega envolvido no meio da briga é HILÁRIO! “I say it was a draw!”
Aqui já somos apresentados à temática do casamento e ao fato de ele estar sozinho, e se vale ou não a pena se casar. “Sorry-Grateful” traduz isso perfeitamente! E a breve e divertida cena de Peter (Craig Bierko) e Susan (Jill Paice), na qual me pareceu arriscado colocar Robert dizendo coisas como: “Se um dia você decidir largá-la, deixe-me ser o primeiro a ficar sabendo!”, mas eu não imaginava o que estava por vir… o East River, o terraço, os desmaios constantes… eu ri bastante com “Well… you’re the first to know! We’re getting a divorce. We haven’t told anybody yet”!
O que leva Robert à cena com David (Jon Cryer) e Jenny (Jennifer Laura Thompson), uma das melhores do primeiro ato! Eu ri do começo ao fim! Vê-los drogados daquela maneira (“I’m potted”) foi hilário, especialmente pela personalidade certinha e contida de Jenny… quando ela se solta, as risadas de Dave compensam toda a cena! Bem como também é ótimo ver Bobby se divertindo de verdade. S-say son of a bitch” / “Son of a bitch” / “S-say kiss my ass” / “Kiss my ass”, eu ri bastante! E de maneira estranha o assunto do casamento também é trazido à tona (“I have everything but freedom. Which is everything. Huh.”), e surpreendentemente a cena tão divertida acaba de maneira triste…
Mas vamos valorizar aqui You Could Drive a Person Crazy! Christina Hendricks, Anika Noni Rosa e Chryssie Whitehead dão um show como April, Marta e Kathy, respectivamente. A cena é perfeita, divertida e contagiante… amei o ritmo e a coreografia!
As conhecemos todas mais tarde. Enquanto Marta canta lindamente Another Hundred People (que durante “city of strangers” me lembrou assustadoramente Sweeney Todd – “City’s on fire!”), vemos Robert com cada uma delas. April era totalmente divertida… se auto-denominando burra, eu achei ela meio fofa e divertida – e a maneira como ela falava era engraçadíssima. Mas Kathy era a mais fofa das três, aquela menina de cidade pequena, por quem Robert já foi profundamente apaixonado, sentimento recíproco, mas um relacionamento que se transformou em uma profunda e verdadeira amizade… me partiu o coração. E a Marta era uma maravilha! Muito amigável (“I don’t pass people on the street. I stop and I know them. Every son of a bitch I know it’s my new best friend”) e apaixonada por Nova York, ela certamente me fez rir…
The theory about how your ass look like… EU RI!
Wow! Getting Married Today – como eu já era apaixonado por essa música, já vi ansiando por esse momento. É o momento brilhante de Amy (Katie Finneran) e Paul (Aaron Lazar) – a música é perfeita, rápida e combina perfeitamente com a loucura de Amy! Meio paranóica e sem parar muito para respirar, a música cancela o casamento, e é seguida de uma cena espetacular à qual Robert é obrigado a assistir. O suco de laranja, a torrada, a paranóia dela com a diversão de Paul… eu gostei demais da cena por, além de ser engraçada, era muito inteligente (“Did I ever say I like my friends? I do not”) – como os bilhetes de “I love you” espalhados pela casa…
“A person can’t stand all that sweetness, Paul!”
A sequência é surpreendente, mas Amy e Robert compartilham uma cena bastante bonita e terna, na qual ambos se ajudam, e é uma boa desculpa para Marry Me a Little, o solo de Robert que encerra o primeiro ato. Foi fofo, foi bonito e foi bastante forte e intenso! E Neil Patrick Harris, claro, dando um show de interpretação e nos arrepiando… o momento em que ele assume que está pronto para o casamento, mesmo que nós ainda estejamos em dúvida a respeito disso. Um momento muito importante com uma música linda… acaba, além de ser emocionante, sendo bastante triste também… e começamos a verdadeiramente sentir a dor de Bobby.
Sabe o pedido no aniversário?
Quem já assistiu Company e não se divertiu com a história do gato e da borboleta? Ainda mais em comparação com a história sobre o motel impossível de ser encontrado no meio da madrugada? A longa cena de April e Robert em seu apartamento é engraçada no começo, e provocante no final… além de bonita. Afinal é legal ver as mulheres se preocupando com ele com Poor Baby (“Dumb. Tacky. Vulgar. Old. Tall. Aggressive. Neurotic. Very weird. Goliath.”), depois foi interessante como eles sugestivamente transam sob os lençóis e como as meninas do ensemble dançam Tick-Tock com camisolas e lençóis… Barcelona foi basicamente engraçada mesmo.
“You’re a special girl, June” kkk
E mais uma vez, Robert é obrigado a pensar sobre si mesmo, em uma cena com Larry (Jim Walton) e Joanne (Patti LuPone), na qual ela canta magicamente bem, e além de ajudá-lo de maneira confusa e controversa, também mostra o tamanho de seu próprio sofrimento. É bom, finalmente, conhecer melhor aquela misteriosa mulher que vemos desde o começo. Mas Robert também pode ampliar suas opções, na divertidíssima cena com Peter, na qual ele se insinua todo – “Bob, have you ever had a homossexual experience?” – eu achei muito legal ver o diálogo desse momento, e a maneira como Robert se esquiva, confuso. Eu ri bastante.
Mas falando em diálogos, os diálogos de Company são espetaculares. E eu percebi isso na quantidade de anotações que fiz para esses textos, e no tamanho que eles realmente estão ficando, agora próximos de estarem prontos… em gostei bastante de Company porque os diálogos são espertos, criativos e muito bem escritos. Dessa maneira, todo e cada um deles é marcante… você não lembra de uma única cena de tédio, era o tempo todo rindo ou se emocionando, uma ótima cena seguida de outra. Maravilhoso, huh?
É assim que Company termina com Being Alive, enquanto a companhia ainda canta Bobby e ele pede que todos parem – “What do you get?”. É uma música muito linda e triste. A letra traduz perfeitamente o sofrimento e confusão do personagem, e nos emocionamos com ele, enquanto ver as lágrimas em seus olhos nos parte o coração… a nova visão que temos da festa de aniversário para o fim do espetáculo é realmente sofrido. Não deixa de ser bonito, não deixa de ser emocionante, mas também é bastante triste. Só vendo para ter noção do quanto uma frase simples como “HAPPY BIRTHDAY, ROBERT!” dita ao mesmo tempo por 10 vozes animadas pode ser triste…
E o pedido: Make me alive. Um musical emocionante, divertido e certamente marcante. Eu fiquei totalmente apaixonado por Company, e eu realmente não achei que isso fosse acontecer. Me arrependo profundamente de ter protelado tanto esse evento em minha vida. Com músicas inesquecíveis e personagens memoráveis, a produção toda de Company está de parabéns! Além de um belo texto… bem, você precisa assistir para entender o que eu quero dizer, mas faça isso: as músicas ficarão na sua cabeça, e você só vai ansiar pelo momento de poder assistir novamente. Perfeito!

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