Seventh Doctor – The Ripple Effect (Malorie Blackman)


E o prêmio de MELHOR conto vai para…
Sensacional! Foi o primeiro conto que me fez ter vontade, vontade de verdade, de ver essas histórias em adaptações cinematográficas – sim, eu sei o quão inviável isso é, sem conseguirmos trazer de volta os atores antigos da série, mas ainda assim não custa sonhar. E uma adaptação cinematográfica desse conto daria muito certo! Perfeição é o que define… eu li tão depressa, mas ao mesmo tempo parece que eu li tanto. Envolvente do começo ao fim, a narrativa é sensacional.
Eu já estava bem ansioso, porque o Sétimo Doctor, de Sylvester McCoy era um Doctor fantástico! Mas devo confessar que fiquei surpreso com a qualidade do roteiro… o conto já começa de maneira genial com o Doctor e Ace presos num Temporal Plexus com direito até a ecos da TARDIS, mas depois disso só melhoramos… com um plano maluco e genial do Doctor, eles se vêem em uma realidade alternativa na qual os Daleks são um povo civilizado e muito amado, além de muito inteligente e grandes filósofos… sim, Malorie trouxe os Daleks que tanto queríamos ver, e de uma maneira inovadora.
O que não contradiz nada. Na verdade, chega a ser ainda mais assustador ver os Daleks daquela maneira. Verdadeiramente? Ver um Dalek nos contos foi uma sensação única, eu esperava por isso, os mais antigos e clássicos dos inimigos do Doctor – e todos sabem como ele fica na presença deles. Mas a diferença é que eles estão assustadoramente modificados, super educados e fofos; é uma confusão gigantesca para nós mesmos enquanto lemos o conto, tentando decifrar, entender e organizar nossos sentimentos…
Mas nada se perde em relação à personalidade dos Daleks. Com esse novo jeito e uma discussão viável e muito bem conduzida, o Doctor tem certeza absoluta de que alguma coisa está muito errada e que deve ser consertada. Não importa o quão amáveis os Daleks sejam, não importa o quão bom aquele universo parece estar, não importa que até Ace tenha se afeiçoado aos fofos Daleks… aquele Universo é simplesmente errado, e o seu instinto de Time Lord o está conduzindo a fazer alguma coisa. E todos sabemos que o Doctor de McCoy era muito preocupado com suas funções de Time Lord.
O Doctor de Sylvester McCoy era simplesmente GENIAL. Ele ficou no papel de 1987 a 1989, e foi o último dos Doctors da série clássica. Retornou ao papel brevemente muitos anos mais tarde, em 1996, para filmar sua morte no filme que daria lugar a Paul McGann. O Sétimo Doctor era diferente dos anteriores (embora tenha levado a questão dos pontos de interrogação muito a sério) e muito mais calculista e insensível – mas tudo isso graças à sua personalidade extremamente intelectual, sua maneira de pensar lembrava um jogo de xadrez: ele era muito estrategista, e possivelmente o mais inteligente dos Doctors.
E é evidente que por isso eu seria apaixonado por ele. Acho que Malorie conseguiu transmitir isso no seu conto já nas primeiras linhas, ao fazê-lo tentar consertar a TARDIS e pedindo coisas como “Pass me the magnetic de-interlacer” ou então explicando que “I’m reconfiguring the chrono-dynamic tensor to have a non-orthogonal phase angle. Now I need a tachyon filter. Please”. O seu vocabulário complicado e engraçado fazia tudo parecer muito simples, e Ace reagia, confusa por ele achar que as coisas eram tão claras quanto não o eram. Era por isso que ela por vezes o pedia para falar “inglês” e sempre o chamava de “Professor”.
Falando em Ace, ela é uma companion fantástica. Um tanto adolescente, McCoy estabelece com ela uma relação meio que de pai e filha. No conto, podemos sentir isso perfeitamente, e eu gosto da maneira como colocaram Tulana lá em Skaro, toda defensora dos Daleks, e alguém que se torna muito amiga de Ace. Os personagens criados ou recriados por Malorie Blackman são tão profundos e convincentes que conseguimos facilmente importarmos com eles, e isso é genial – é bom lermos uma história na qual isso aconteça, possamos nos identificar e acreditar neles.
O Doctor passa o conto todo quebrando a cabeça para tentar entender o que está acontecendo – sempre disposto a criar planos e jogar o jogo de seus “adversários” meio que os manipulando, ele tenta do começo ao fim descobrir a verdade que levou aquele universo a existir, explicando toda a teoria do Ripple Effect (o título já fez com que eu me apaixonasse pelo conto) e achando o ponto no space-time em que as coisas mudaram, e o que causou tal mudança. Não surpreendentemente, foi ele mesmo. Claro.
Malorie Blackman, autora de
"The Ripple Effect"
A narrativa do conto é muito bem conduzida, e eu fiz uma série de anotações e grifei várias partes do texto – Malorie cria sua história de maneira ascendente, sempre nos surpreendendo com novas informações e novas surpresas, como a própria chegada dos Time Lords a Skaro – chegamos a um momento em que nós mesmos estamos confusos demais para continuar. É difícil pensar em que acreditar? Como digerir uma realidade na qual os Daleks são bons, inteligentes, civilizados e o centro da civilização moderna? Mas ao mesmo tempo como não se encantar com esse novo Universo e essas novas possibilidades, que parecem tão chamativas e encantadoras?
“Him?”, echoed the Doctor. “Did I hurt him? My dear girl, did he hurt you?”
Gostei da maneira como a autora escolheu trabalhar um pouco de moral em seu conto. Quais são os motivos que levaram o Doctor a agir da maneira como age perante a situação toda? “You’re doing this because you hate the Daleks. You’ve always hated them”. Meu primeiro instinto, bem como Ace, era aceitar essa nova realidade, que parece muito mais convidativa do que a “certa” – por que não aceitar a nova personalidade dos Daleks? E eu gosto do confronto que se estabelece no qual ela se pergunta se o Doctor poderia estar sendo preconceituoso… porque talvez com uma pequena exceção do Matt Smith no último episódio com Daleks, os Doctors realmente apresentam uma mudança de personalidade assustadora quando perto de Daleks.
Vide Christopher Eccleston.
Chegou a ser assustador quando o conhecemos daquele jeito.
“Face it, Doctor, when it comes to the Daleks, you’re as intolerant as the resto f us.”
Mas eu gostaria muito de ver esses Daleks cinza e vermelho em um episódio, quem sabe com Peter Capaldi… seria uma boa idéia. “I am Pytha. Welcome to the Academy”, imagina só um Dalek todo educado falando uma coisa dessas? “The Doctor was speechless. Daleks that were corteous? Daleks that apologised?”. “There’s no record of them ever conquering anyone, anywhere, at any time. Skaro is now the universal centre of civilization, philosophy, democracy and art”. Sabe o que eu pensei? Through the looking-glass we go…
E momento confissão novamente: embora eu diga isso tudo, o momento mais emocionante na leitura desse conto foi justamente a última página, na qual li, em letras garrafais: “YOU HAVE INVADED OUR SPACE. YOU – WILL – BE – EXTERMINATED!”. Sério, whovians: vocês não conseguem escutar as vozes dos Daleks dentro de nossas cabeças, apenas ao ler essa frase? Sim, fiquei curioso e encantado com o novo olhar sobre os Daleks, mas jamais deixarei de amar esses Daleks fofos e assassinos, com sede de vingança, que ficam por aí gritando ex-ter-mi-nate sem pensar em qualquer outra coisa.
Own.
Um último comentário antes que eu possa ir… bem entretido na discussão de moral de Ace e o Doctor, decidindo se suas ações eram realmente fundamentadas ou apenas um eco do ódio que ele sentia pelos Daleks, fiquei triste quando o Universo começa a se desmoronar provando que o feeling de Time Lord estava correto. Mas a frase “We need to get back to the Plexus before that’s wiped out too, or we’ll blink out of existence just like everything and everyone else”… apagado da história? Só eu que associei isso a De Volta Para o Futuro?
O conto de Malorie Blackman é genial, THE RIPPLE EFFECT MERECE UM LUGAR DE DESTAQUE NA COLEÇÃO DE DOCTOR WHO. Além da narrativa ser envolvente e muito crível, é bom visitar e explorar o planeta natal dos Daleks, vê-los de todas as maneiras possíveis, e explorar o cérebro inteligentíssimo que Sylvester McCoy trouxe à série, com seu estilo mais intelectual que seus antecessores que tanto nos encantou… um dos melhores Doctors de todos os tempos, acho que depois da leitura desse conto, merecemos uma boa maratona com o Sétimo… que tal?

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