O Retorno de Mary Poppins (Mary Poppins Returns, 2018)



“Jane? Let’s go fly a kite!”
TÃO MÁGICO E FASCINANTE QUANTO O PRIMEIRO FILME! Como uma criança que se encanta por Mary Poppins e tudo o que ela representa, desde o primeiro filme, eu assisti ao seu retorno com um sorriso no rosto e uma emoção tão grande no coração o tempo todo, que mal posso esperar pelo momento em que a verei novamente. Dessa vez, Emily Blunt assume o papel que fora de Julie Andrews há 54 anos, em uma produção respeitosa que nos remete à história clássica do início ao fim – é um musical moderno, de efeitos belíssimos, mas com o espírito original de “Mary Poppins”, como um musical da época. Apaixonante, vibrante e com uma belíssima mensagem, independente da primeira. O Sr. Banks, agora Michael, o garotinho do primeiro filme, tem uma história diferente do Sr. Banks original, mas também precisa reaprender umas coisas com a babá “praticamente perfeita”.
Mas eu ainda não entendi o “praticamente”. Até porque Emily Blunt assumiu o papel com uma delicadeza apaixonante – ela é firme e razoavelmente séria, como a Mary Poppins de Julie Andrews, com uma postura elegante, expressão quase sempre séria, mas a magia flui a partir dela… e eu ADORO toda vez que, como no filme original, Mary Poppins nega os contos “mágicos” das crianças: “Eu não tenho ideia do que vocês estão falando”. O filme é um belíssimo tributo à obra de 1964, nos levando de volta a esse mundo de fantasia que Mary Poppins cria, e é impossível estar no cinema em 2018 e não pensar no clássico – e, para “Mary Poppins”, isso é algo FANTÁSTICO. Não são “comparações”, mas referências e reconhecimentos. Não apenas em elementos, como a casa do Almirante na Rua das Cerejeiras, ou a pipa do emocionante fim do primeiro filme, mas tudo… a própria estrutura organizacional do filme é exatamente a mesma, e é fácil encontrar equivalentes.
O filme se passa na década de 1930, durante a Grande Depressão e, por isso, os Banks estão perdendo a sua casa – eles têm até a meia-noite de sexta-feira para pagar uma dívida ao banco, ou então serão despejados. Os Banks em questão, agora, são Michael Banks, um jovem viúvo cuja esposa morreu há um ano, sua irmã Jane Banks, e seus três filhos, John, Annabel e Georgie. Assim como a mãe era uma sufragista, Jane Banks agora é uma sindicalista envolvida, e Michael Banks é um homem amoroso com os filhos, mas que sofre para cuidar das crianças sem a esposa, porque “não sabe o que está fazendo”, e a sua música no sótão, enquanto busca pelo Certificado de Ações que o pai deixara e que pode salvar a casa, é absolutamente linda. Ali, as lágrimas já ameaçam surgir. Um pouco desesperançado, Michael joga fora várias coisas “velhas”, dentre elas a pipa que “eles adoravam empinar com o pai e a mãe”.
E é a pipa que traz Mary Poppins de volta.
PERFEITAMENTE EMOCIONANTE ver Mary Poppins retornar do céu, como da primeira vez, mas dessa vez não com o seu guarda-chuva, mas com a pipa que fora a chave de um momento emocionante do primeiro filme – Mary Poppins aparece porque precisam dela, não porque foi chamada dessa vez – Annabel acha que “eles cresceram muito no último ano” e que “sabem se cuidar sozinhos”… portanto, eles não precisam de uma babá. Mas Mary Poppins não é “uma babá comum”. Adoro a delicadeza dos detalhes que nos remetem ao primeiro filme, como o Almirante (agora disparando o canhão 5 minutos depois do Big Ben), ou a chegada de Mary Poppins à casa… também adorei ver Michael e Jane pensando nas coisas que viveram quando eram crianças, chegando à conclusão de que “aquilo não pode ter acontecido de verdade”…
…enquanto Mary Poppins sobe pelo corrimão das escadas, como da outra vez.
<3
Com as crianças, a primeira sequência de Mary Poppins é a fofíssima “Can You Imagine That?”, que é a cena do banho – adoro como ela prepara o banho jogando todo tipo de coisas na banheira, enquanto Annabel fala sobre “bobagens” e “tolices”, enquanto Poppins concorda que “aquilo tudo é impossível”. Mary Poppins é tão adoravelmente sarcástica, de um jeito que só ela sabe ser! Os três pequenos Banks se divertem em uma aventura mágica e colorida embaixo da água ou no mar, navegando em uma banheira, em um brilhante equivalente à arrumação do quarto com “A Spoonful of Sugar” no primeiro filme – de forma lúdica, Mary Poppins consegue transformar as coisas mais simples (ou mais chatas, para as crianças!) em grandes aventuras que encantam as crianças… o que é o Georgie dizendo que “queria tomar outro banho”?
FOFO DEMAIS! *-*
Depois, temos uma longa sequência em desenho animado, e eu AMEI como isso foi trazido ao filme de uma forma diferente – dessa vez, as crianças não entram nesse outro mundo através dos desenhos de Bert no parque, mas através da tigela de porcelana que eles têm no quarto e que pertencera à mãe. Durante uma discussão, eles a quebram, e então Mary Poppins e Jack, o lume que é o seu companion (!) no filme, levam as crianças para o Mundo das Porcelanas, que é repleto de desenhos animados, onde eles ajudam a consertar uma carroça que quebraram na confusão e passeiam com personagens que parecem saídos diretamente de uma animação clássica. Adoro, também, como os figurinos deles parecem desenhos, e como tudo é TÃO CHEIO DE COR. A apresentação no Royal Doulton Music Hall e “A Cover is not the Book” são ÓTIMAS, e adoro a letra da canção. Uma mensagem e tanto.
Também gostei de como esse mundo da fantasia se mesclou ao mundo real, como percebemos mais tarde, por causa do “lobo”. Aqui, Georgie sai em busca da sua girafa de pelúcia, feita pela mãe, e acaba sequestrado por vilões de desenho animado, que nos entregam uma das melhores cenas do filme, porque eu fiquei ADMIRADO com a maneira como mesclaram bem as crianças, reais, com o desenho animado que compunha não apenas o restante dos personagens em cena, mas todo o cenário ao redor deles. É UMA CENA E TANTO, que acaba com as crianças caindo pela “borda da tigela” de volta para o “mundo real”, onde Mary Poppins as coloca para dormir, avisando que “foi apenas um pesadelo”. Mas todos tiveram o mesmo sonho, e o lenço de Mary Poppins está na pintura da porcelana, segurando a roda da carroça no devido lugar.
Então não foi um sonho.
Seguindo a estrutura do primeiro filme, depois do desenho animado, Mary Poppins leva as crianças (destaque, aqui, para a cena de Jack carregando Mary Poppins e as três crianças em uma bicicleta, que ficou LINDA DEMAIS!) para uma “prima” sua, Topsy, que pode consertar qualquer coisa, para arrumar a tigela quebrada – a cena é divertida e traz um conceito interessante ao universo de Mary Poppins, o do dia em que “tudo está do avesso”, e essa cena é um claro equivalente (inclusive eles parecem passar pela mesma rua!) à cena do Tio Albert no primeiro filme… a ideia é representada visualmente por uma sala que vira de cabeça para baixo, literalmente, mas a proposta é que as crianças aprendam a “ver as coisas de outro ponto de vista”, e, pensando sobre essa cena, percebo o quanto isso era uma dica para a conclusão do filme.
Afinal de contas, eles estavam loucos em busca do Certificado, não?
Depois de Topsy, as crianças acabam no Banco Fiduciary, mas embora descubram que Weatherall é um vilão que quer roubar a casa deles (equivalente ao “lobo” no mundo real), eles não causam toda a comoção que Michael e Jane causaram no banco no primeiro filme – mesmo assim, Michael Banks, agora pai, fica bravo e os manda embora… no caminho de casa, as crianças se perdem e acabam ajudadas por Jack, que nos leva em uma das mais NOSTÁLGICAS cenas de todo o filme. Se no primeiro filme Bert levou as crianças pelas chaminés até uma “aventura no telhado”, agora Jack os leva por um poste de luz até uma “aventura no sobsolo”, onde os vários lumes de Londres dançam e cantam em uma cena que nos faz pensar na cena dos limpadores de chaminé. Alguns passos da coreografia original, inclusive, foram reaproveitados, e Mary Poppins se senta com as crianças para assistir assim como ela fez com Michael e Jane no passado… E ISSO É DELICADO E FOFO.
O filme cuidou muito da nossa memória, respeitou o clássico e nos comoveu.
E NOS FEZ VIVER AQUILO TUDO DE NOVO \o/
Quando chegam em casa, Michael Banks está tão bravo com Mary Poppins e com as crianças como o Sr. Banks estivera – mas a presença de Mary Poppins, como sempre, faz toda a diferença. Mary Poppins não interfere diretamente, e para sempre negará qualquer coisa que nós dissermos para ela, mas é ela quem muda a vida dessa família… quando Michael fala sobre “ter perdido a esposa”, as crianças recriam um discurso lindíssimo que Mary Poppins fizera para eles em canção (“The Place Where Lost Things Go”), sobre como a mãe não se foi de verdade, só está em “outro lugar”, e então o pai a reconhece no sorriso de uma criança, no jeito de andar de outra, nos olhos da terceira – e pergunta “quando eles ficaram tão inteligentes”. Assim, Michael Banks volta a ser o homem carinhoso de sempre, enquanto eles se preparam para abandonar a casa.
O prazo cessou.
Quando eles têm aproximadamente 7 minutos para a meia-noite, no entanto, a mesma pipa do primeiro filme SALVA A CASA – o Certificado de Ações agora tinha um antigo desenho de Michael Banks no verso, que Georgie recortara e usara para remendar a pipa cada vez mais estragada. Portanto, eles têm agora como pagar a dívida e salvar a casa, mas precisam fazer isso em menos de 7 minutos… por isso, as crianças pedem que Mary Poppins faça O TEMPO VOLTAR. Mas é claro que isso parece tolice, bobagem, impossível… “Mas tudo é possível. Até o impossível”. Assim, enquanto Michael e Jane correm para o banco o mais rápido que podem, Mary Poppins, Jack e as crianças vão ao Big Ben, onde uma reunião de lumes e, por fim, Mary Poppins em seu guarda-chuva, conseguem voltar cinco minutos no relógio. Agora, enfim, o Big Ben está alinhado com o canhão do Almirante!
O desfecho do filme é totalmente construído em cima de referências e homenagens. Não podendo entrar no banco a tempo, Michael resolve mandar a pipa pela janela (“Jane? Let’s go fly a kite!”), e quando parece que isso não será o suficiente para que Weatherall perdoe a dívida, porque a parte com as assinaturas não estava ali, temos um retorno triunfal: o Sr. Dawes Jr., INTERPRETADO POR DICK VAN DYKE, o Bert do filme original – que até sapateia por alguns segundos! Ele reassume a presidência do banco, expulsa o sobrinho, e conversa com Michael Banks e as crianças, fazendo uma breve menção à “perna-de-pau chamada Smith” e contando uma “história” de um garotinho chamado Michael Banks, que queria gastar dois centavos para alimentar os pássaros enquanto seu pai queria que ele investisse no banco… no fim, ele deu os dois centavos para o pai, na esperança de que isso “resolvesse o problema”.
Nesses anos, o dinheiro rendeu juros e, agora, é o suficiente para quitar a dívida.
QUE FECHAMENTO LINDO!
Felizmente, o filme ainda conta com uma belíssima sequência final, “Nowhere to Go But Up”, que nos faz pensar MUITO em “Let’s Go Fly a Kite”, e é bela e colorida, com crianças e adultos escolhendo balões no parque e voando com eles… lúdico como é o mundo de Mary Poppins, e é bom ver essas pessoas felizes. Ver Michael sorrindo, ver Jane e Jack juntos – e então a “porta da felicidade” volta a se abrir para Michael, e era essa porta que Mary Poppins estava esperando se abrir para poder ir embora. Sem se despedir, com um aperto no coração, mas sabendo que sua missão foi cumprida, Mary Poppins vai embora, como da outra vez, há tantos anos. Só senti falta de duas coisas nesse filme: uma participação rápida de Julie Andrews (mas ela disse que “era o show da Emily e ia deixá-la conduzir”), e, claro, a palavra “supercalifragilisticexpialidocious” dita pelo menos uma vez. Fora isso… é um filme PERFEITO. Com jeitinho de clássico, um belo tributo, empolgante e visualmente belíssimo.
Mais uma vez e sempre: MARY POPPINS, OBRIGADO POR TUDO, NÓS TE AMAMOS!
<3


Para a reviews do primeiro filme de Mary Poppins, clique aqui.


Comentários

Postar um comentário