Sítio do Picapau Amarelo (2001) – Reforma da Natureza, Parte I



“Viu? É fácil reformar! Mas tem que ter ciência!”
A primeira história mais longa na versão de 2001 do “Sítio do Picapau Amarelo”. Aqui, adaptando o livro “Reforma da Natureza”, temos 10 episódios, exibidos entre os dias 03 e 14 de Dezembro de 2001, mas embora a temática das duas semanas sejam similares, elas quase funcionam como duas partes independentes. Desse modo, a primeira “história” traz a primeira reforma da natureza empreendida por Emília ao lado de sua amiga Magrela, tudo com base numa história que a Dona Benta contou para as crianças sobre o Américo Pisca-Pisca, que certo dia decidiu “reformar a natureza”, mas acabou desistindo disso quando pega no sono embaixo de uma jabuticabeira e se dá conta de que seria a primeira vítima de sua reforma se tivesse trocado de lugar as jabuticabas e as abóboras… teimosa, no entanto, Emília não acha que ele tinha que “ter perdido a cisma coisíssima nenhuma”!
Assim, ela decide começar sua própria REFORMA DA NATUREZA.
Começando a pensar em tudo que está “errado” na natureza, Emília escreve em seu diário toda animada com a ideia maluca que está tendo: “Quanto mais eu penso, mais erros eu vejo na natureza! […] Eu, se fosse reformar o mundo, deixava tudo um encanto!” A sua grande oportunidade surge quando Dona Benta e Tia Nastácia recebem um convite para irem à Conferência pela Paz Mundial, ensinar ao mundo como atingir a paz. Dona Benta convida o Visconde de Sabugosa para ir com elas, e Emília fica insistindo para que elas aceitem o convite, porque então ela poderá ficar sozinha no Sítio do Picapau Amarelo e, assim, poderá colocar o seu plano em prática. Quando as senhoras saem de viagem, e Pedrinho e Narizinho decidem ir ao capoeirão para “fazer um filme da Iara”, Emília não vai com eles, “porque não tem tempo para perder com essas coisas”.
Então, a sapeca boneca de pano convida Magrela para ajudá-la em sua maluquice, e as duas começam a discutir os seus planos, a começar pelos olhos. Magrela diz: “Se eu fosse reformar as criaturas, ia colocar um olho na testa e outro na nuca. Dobrava a segurança!” Emília discorda: “Já eu, aumentava o número de olhos. Por que só dois? Nós temos dez dedos, porque não DEZ OLHOS?” E as suas explicações são divertidíssimas, sobre como podia colocar olhos nos dedos do pé, para impedir tropicadas e esse tipo de coisa… a reforma propriamente dita começa com a mesma ideia do Américo Pisca-Pisca, colocar as abóboras no pé de jabuticaba e as jabuticabas no pé de abóbora, porque “é vergonhoso um pé desse tamanho dar frutas tão pequenas, e abóboras nascer num pé tão pequeno que parece até pé de coisa nenhuma”. Então, É HORA DO FAZ-DE-CONTA.
Lembro-me de sempre ter AMADO o Faz-de-Conta da Emília, que infelizmente só tem efeito no Sítio: “É só fechar o olho e pensar com força que a coisa acontece. […] Brincadeiras aqui no Sítio são todas assim: de verdade!” Depois das jabuticabas e abóboras, as meninas vão até as laranjas. Magrela sugere que elas nasçam com faquinhas, porque às vezes queremos comer laranjas e não temos como descascá-las, e Emília é muito mais prática: decide fazê-las nascer sem cascas, “que só servem mesmo para serem descascadas”. Assim, as laranjas do pé ficam todas peladas e morrendo de vergonha. Uma das reformas que não dá certo é quando Emília retira o peso da cadeira de Dona Benta, que passa imediatamente a flutuar no ar da sala, porque “é o peso que prende as coisas no chão da Terra”, graças à Força da Gravidade, como a Emília aprendeu em sua viagem ao céu.
Enquanto Emília e Magrela estão fazendo a maior confusão pela natureza, Pedrinho e Narizinho saem para andar sozinhos no Capoeirão, por um longo tempo, deixando um caminho de farelo de pão para encontrarem o caminho de volta para casa, mas Rabicó os segue comendo todo o trajeto, e agora eles estão perdidos no meio da mata. Pelo menos até encontrarem um misterioso piquenique que deixa Pedrinho receoso, porque é muito “conveniente”, mas, morrendo de fome, os bobinhos caem na enganação da Cuca e acabam presos em uma jaula no meio da caverna da linda jacaroa! Ali, é a primeira que as crianças interagem com a Cuca por um período maior de tempo, e temos provocações do tipo “Eu não tenho medo de você, não, sua cara de jacaré caolho!”, e a própria Cuca chamando a Narizinho de “Nariguda”. São cenas bem divertidas!
Então, a Cuca coloca as crianças para trabalhar. Quer dizer, coloca a Narizinho para ser sua faxineira e coloca o Pedrinho para estudar e ser seu Aprendiz de Feiticeiro, enquanto assiste a tudo tricotando e alimentando o Rabicó para engordá-lo, e ele está lá, comendo feliz da vida, “porque se vai pro forno, vai com a barriguinha bem cheinha”. É a Narizinho quem, por fim, rouba as chaves da jacaroa para abrir a jaula onde são mantidos prisioneiros, e junto com Pedrinho, ela lê o livro “COMO SE LIVRAR DE CUCAS EM 10 LIÇÕES”, em busca de um feitiço que possa ajudá-los a se livrar da bruxa… eles acabam deixando a Cuca flutuando no teto de sua caverna e escapam, com apenas o Saci podendo ajudar a prima, em uma série de feitiços trocados e malfeitos… Pedrinho, ao retornar ao Sítio, percebe que não conserva nenhum poder de feiticeiro.
Magrela e Emília partem, então, para as reformas dos animais. Reformam a Mocha, coitada (“A gente podia colocar mais rabos na Mocha, pra espantar as moscas do corpo todo!”), que acaba com rabos pelo corpo todo, torneirinha de um lado para tirar o leite, e tetas do outro, e chifres de extraterrestre. Elas também reformam o Quindim, que ganha penas e pés de pato, e o Burro Falante, que ganha uma série de olhos por todo o corpo, para que possa ser mais livros ao mesmo tempo… as reformas da Magrela, no entanto, não parecem agradar tanto assim a Emília, que reclama que “parece que ela está sabotando a sua reforma”. A Emília ainda ajuda o Tio Barnabé plantando “uma muda de cerca”, para que fique firme ao contrário daquelas que ele e o Quindim estão construindo e construindo, e o Saci está sempre vindo e derrubando, por pura traquinagem.
Depois disso, Emília começa a reforma das PALAVRAS, trocando “absurdo” por “bisurdo”, por exemplo, porque segundo ela o “a” faz ela abrir demais a boca, e os seus dentes podem cair! Depois, ela torna os livros comestíveis – afinal de contas, “todo mundo já leu os livros, e agora eles vão virar comida de traças, por que não ser comida pra gente também?” Assim, Emília faz um verdadeiro COMERCIAL, falando sobre os gostos dos livros, e sobre como “é sua chance de deixar de ser ignorante”, toda fofinha e inteligente, com direito a um slogan e tudo: “Livro comestível: você ainda vai comer um!” Essa é, basicamente, a última reforma da Emília, porque então Dona Benta, Tia Nastácia e Visconde retornam da Conferência da Paz, para encontrar o Sítio em um verdadeiro CAOS, para seu total desconcerto: “Emília, eu acho que a gente precisa ter uma conversinha!”
Ah, mas a Emília reforma o leite, que agora apita quando ferve, e o fogo apaga…
Okay, essa foi BEM ÚTIL, não?
Emília se recusa a perceber que está equivocada, independente do que a Dona Benta lhe diga, mas a vovó resolve acabar com isso de uma vez por todas quando percebe a situação deplorável das jabuticabas, crescendo no chão e correndo riscos. Dá bronca em Emília e manda ela colocar tudo de volta em seu lugar, porque “ela pode causar um desequilíbrio ambiental”. Emília, no entanto, mantém-se toda resistente e teimosa, e se recusa a arrumar as coisas – diz que reformou e tá reformado, “e se der na telha, ela continua reformando”. O grande clímax é quando o Rabicó ATACA A BIBLIOTECA. “Dona Benta! Dona Benta! É uma calamidade! O Rabicó está comendo os livros da biblioteca!” Então, Dona Benta solta um grito altíssimo pela Emília, que chega toda dissimulada com um provocativo “Chamou, Dona Benta?”, como se não soubesse do que se trata.
Tem como não rir dessa bonequinha?!
Dessa vez, Dona Benta conversa com Emília sobre o que ela fez, e explica os problemas que pode causar. Explica sobre os livros que precisam ser preservados para sempre, e que “livros comestíveis” não precisam substituir os livros de papéis. Explica os problemas de as laranjas não terem casca, e assim Emília vai entendendo que não podia ter mexido dessa forma com as coisas: “Ok, Dona Benta me mostrou que eu estava errada. Mas tem que ser assim: na batata do argumento científico. Eu vou desreformar tudo”, e usando o seu Faz-de-Conta, Emília faz tudo voltar ao normal. Ao fim da reforma e desreforma, o Visconde ainda tem uma bela fala, que diz: “A verdadeira reforma da natureza tem que vir de dentro. Da transformação dos seres vivos, que se adaptam e evoluem”. Parece que Emília aprendeu a sua lição, embora talvez nem tanto assim…
Afinal de contas, a “Reforma da Natureza” ainda tem uma PARTE II!

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