Alex Strangelove (2018)



In love with “Alex Strangelove”
Sou particularmente apaixonado por filmes que NOS FAZEM SENTIR. “Alex Strangelove” é uma obra belíssima de uma sinceridade sem tamanho. É daqueles filmes em que, gay ou não, acredito, nós nos identificamos, rimos vergonhosamente porque, às vezes, “been there done that”, e vivemos as emoções ao lado dos personagens, as melhores e as piores. Eu sorri, eu torci por Alex e Elliott e, em última instância, eu chorei, e chorei pra valer. Interessante como um filme que é tratado como “comédia” pode nos levar tanto a refletir sobre aspectos sérios de nossas vidas, e pode nos emocionar de uma forma tão verdadeira ao final, e isso se deve à sua SENSIBILIDADE. “Alex Strangelove” é HUMANO, acima de tudo, e já ganhou um lugar mais que especial em meu coração, e estou me perguntando quando eu vou assisti-lo novamente… porque é desses filmes para ver e rever e rever.
Alex Truelove (como ele mesmo diz, “sim, esse é seu sobrenome”) é um garoto no último ano do Ensino Médio, fascinado pela vida selvagem e que está se descobrindo. Há algum tempo, ele sai com uma garota muito bonita que, também, é sua melhor amiga, igualmente fascinada pela vida selvagem e com quem faz vídeos divertidos para a internet comparando a vida selvagem com o Ensino Médio atual. O que faz todo o sentido. Alex é fofo, nerd, romântico, um tanto quanto metódico, e Claire não entende porque ele sempre se esquiva por um motivo ou outro quando as coisas estão “esquentando” entre eles. Alex tampouco entende o motivo, e começa a sentir coisas diferentes quando conhece, casualmente, o gatíssimo (e gay) Elliott em uma festa… a partir de então, as coisas começam a girar e ele não sabe lidar com as descobertas que está fazendo sobre si mesmo.
Porque Alex Truelove acha que está apaixonado por Claire – e a verdade é que ele realmente a ama, com todo o coração, mas não de forma romântica. Para nós, isso é evidente desde o primeiro momento em que Alex vê Elliot, e a química perfeita que Daniel Doheny e Antonio Marziale, Alex e Elliot, respectivamente, compartilham. Em um dos meus momentos favoritos do filme todo, eles estão deitados na cama, de frente um para o outro, conversando e sorrindo, e a maneira como eles se conectam além das palavras é evidente, tanto que eu pouco me lembro do diálogo que eles compartilharam ali. Apenas me lembro claramente dos olhares intensos e reveladores. Tanto que, na manhã seguinte, Alex acordou respondendo mensagens de Elliott que o convidavam para um show naquela noite, e ele estava empolgadíssimo para ir com ele.
Embora ainda não soubesse bem o porquê.
Fascinante toda e qualquer cena que os dois compartilham. Naquele show, caras beijando caras chamam a atenção de Alex, e ele sai andando pela rua com Elliott, eles saem para comer, e a verdade é que se divertem muito juntos. Adorei, particularmente, aquele diálogo sobre “How do you know you’re gay?” “How do you know you’re straight?”, que tínhamos visto parcialmente no trailer, e fica melhor ainda na íntegra. Também amei a cena da ponte, quiçá romântica, e a maneira como eles se aproximam mais e mais, e como por alguns segundos de hesitação eles não se beijam… assim, com isso tudo EXPLODINDO dentro dele, Alex volta para casa naquela noite e encontra Claire lá, e ela está procurando companhia depois de ir ao médico com a mãe, e ele acaba sendo um babaca, mas apenas porque, depois de tudo, ele estava na defensiva.
E nós o entendemos.
Acredito que Alex tem OS MELHORES AMIGOS ao seu redor, e neles eu incluo a Claire, que antes de sua namorada, sempre foi sua melhor amiga. Mas também o Dell, todo louco, compreensivo e surpreendentemente fofo – mas acima de tudo, louco mesmo, e não apenas quando ele lambe o sapo. Quer dizer, vide a cena de Alex Truelove decidindo que é “bissexual” e contando para o Dell, na escola, que para provar que o que ele está dizendo não faz sentido, mostra o próprio pênis e pergunta se ele tem algum interesse nele. Bizarramente hilário! Assim como toda a leitura do “Ensino Médio” que Dell faz, por sinal! Por fim, depois de contar a Dell que conheceu um cara gay que evidentemente está interessado nele, e ele não acha que isso é uma má ideia, ele conclui que “tem um crush num cara gay” e é só isso. Nada demais. Por isso, segue com o plano de transar com a sua namorada.
E nós sabemos que só pode dar problema.
E corações partidos.
Antes da “grande noite”, Alex encontra novamente com Elliott, dessa vez por acaso, quando está na farmácia comprando camisinha, e os dois acabam conversando bastante novamente, e Elliott o convida para ir à sua casa, porque “precisa lhe mostrar um vídeo”. O momento que eles vivem ali é especial, e não me refiro apenas ao beijo, mas o Elliott fazendo toda aquela performance musical, que foi realmente bonita. Mas o beijo, naturalmente. Alex está confuso, está envolvido, evidentemente está atraído por Elliott, e quando se senta ao seu lado na cama, não pensa muito e o beija… porque ele tinha que fazê-lo. O beijo é QUENTE, melhor do que a maioria dos beijos gays que vemos em filmes e séries, e eu adorei porque foi profundamente SINCERO e verdadeiro, Elliot e Alex se entregaram de verdade ao momento… um beijo invejável.
Mas então tudo desanda… Alex está confuso, coloca a culpa em Elliot por tê-lo beijado, e sai, e nós sabemos que “a grande noite” só pode ser um desastre, ainda mais depois disso. É um daqueles momentos repletos de VERGONHA ALHEIA. Ri com a coisa de “falar sacanagem”, ou com Claire pedindo que “ele não falasse nada”, ou ele precisando de estímulo para se excitar, imaginando o Elliot sem camisa à sua frente (o que, por sinal, é mesmo bastante excitante, devo dizer!), e é um momento DOLOROSO quando Claire percebe que Alex não está gostando de nada daquilo. Então, no meio de toda a confusão, Alex dá a entender que “está gostando de outra pessoa”, e acaba expulso do hotel, e volta para casa, tristonho, para ver documentários de animais e se enrolar em cobertas, enquanto a mãe lhe traz a resposta da faculdade, o que ainda é meio que uma incógnita.
Mas tenho minhas teorias.
O que eu MAIS GOSTEI no filme foi que ele foi brilhantemente escrito e conduzido por uma série de momentos. Ele é uma linda história de amor entre Alex e Elliott, sim, mas ele não é um filme sobre isso. Ele é um filme sobre Alex Truelove descobrindo mais sobre si mesmo e as pessoas que estavam à sua volta nesse processo. Pessoas ADMIRÁVEIS. Os amigos, como eu disse, são uns fofos, e eu adorei aquele momento em que eles vêm buscá-lo em casa para uma festa, para ele se distrair um pouquinho, naquela (também vergonhosa) festa em que Alex se embebeda e acaba ficando com uma garota desconhecida, com quem, claro, também não consegue transar. E então Claire aparece, a confusão é armada de forma mais séria, e quando ele sai atrás dela, não consegue a encontrar, apenas o famoso sapo lá do início do filme, que ressurge.
E ali temos uma das cenas MAIS TRISTES de todo o filme. Seguindo o sapo e o vendo pular na piscina, Alex cai na piscina atrás dele, e quando está quase se afogando, vemos em flashback uma cena dolorosa de sua infância. Ali, o pequeno Alex tomava banho em um acampamento, e, ao olhar para os outros garotos, acabou se excitando. Ele foi xingado de nomes feios e apanhou, e naquela noite ele não dormiu nada, pensando no que tinha acontecido… ali, talvez, ele descobriu que era gay, mas também se fechou para esse sentimento, porque o fazia sofrer demais com essas pessoas preconceituosas ao seu redor. Felizmente, completamente diferentes dos amigos que atualmente ele tem! Quando ele sai da piscina, respirando com dificuldade e parcialmente curado do porre, quem o encontra é Claire, e então ele admite: “I’m gay”. E parece um peso tirado das costas…
O fato de poder dizer isso.
Nunca me esquecerei da PRIMEIRA VEZ que disse isso em voz alta.
Como eu disse, adoro o romance com Elliott, mas adoro a maneira como Claire, por exemplo, é MARAVILHOSA. Ela é uma das pessoas mais importantes na vida de Alex, e ele nunca vai deixar de amá-la, embora não da maneira como ela gostaria de ser amada por ele. A conversa no carro é bonita porque é totalmente honesta. Não é algo fantasioso, algo utópico. Não, é algo doloroso e necessário, mas bonito e repleto de amor. Claire o ama, e sempre o amará, e nem por isso o seu coração deixa de estar doendo. A conversa é compreensiva, e chorei quando ele pedia desculpas e ela dizia que “ele era o melhor namorado gay que uma garota podia ter”, assim como chorei com o convite para o baile ou com a Claire entrando em casa e indo chorar no colo da mãe… e também é lindamente doloroso como a mãe, doente, é o colo da filha adolescente com problemas.
Sempre.
Assim, Alex Truelove vai para o baile da escola com Claire e os melhores amigos do mundo (!), e Claire faz uma das coisas mais fofas da parte dela: traz um presente para ele, o próprio Elliott, todo lindão arrumado para o baile. Eles não conversam desde o dia do beijo, e têm muito o que conversar, e antes Alex precisa resolver umas últimas coisas. Outra conversa linda com Claire, uma fuga triste, mas compreensiva, para o banheiro, e então Alex faz o QUE TINHA QUE SER FEITO, porque independente de qualquer medo ou vergonha, ele não podia perder uma pessoa como Elliott, que tinha aparecido em sua vida como um presente e despertado isso tudo nele… assim, quando Elliott está tentando ir embora, Alex segura seu braço na pista de dança e o beija. Outro beijo DE VERDADE. Apaixonado, romântico e quente. Um beijo sincero. Um final lindíssimo. Os amigos aplaudindo, felizes. Chorei com o olhar de Claire para eles, mas ela está feliz pelo amigo também…
O final, com vídeos de pessoas “saindo do armário”?
CHOREI MAIS UM MONTÃO.
Que filme LINDO! <3


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P.S.: Sobre quem achou o filme “utópico”: discordo. Eu mesmo, por exemplo, já tive uma ex-namorada que foi minha amiga antes e depois de termos namorado. Acontece que Alex Truelove teve sorte de ter pessoas ao seu redor que são maravilhosas, e é isso o que queremos, esperamos e merecemos da vida. Por que toda história com protagonista gay precisa ser trágica ou triste? Não merecemos uma história de amor sincero e um final feliz como outras pessoas, é isso? E não pense que “Alex Strangelove” ignorou problemas e sofrimentos que enfrentamos, porque Alex sofreu ataques homofóbicos quando era criança, e Elliott foi expulso de casa quando se assumiu gay. Esses problemas estão ali, mas é que eles não são toda nossa história! Pense nisso :P

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