Sítio do Picapau Amarelo (2001) – Festa do Faz-de-Conta



“Grandes coisas, aqui até sabugo de milho fala!”
Eu realmente AMO a primeira temporada do “Sítio do Picapau Amarelo”, que conseguia brincar com os livros de Monteiro Lobato e parecer tão incrivelmente atual enquanto adaptava quase que ao pé da letra história após história do célebre autor. Isso mostra o quanto, em muitos sentidos, o “Sítio” é atemporal. A brincadeira de criança e a inocência é tão relacionável em 1931, quando o autor publicou “Reinações de Narizinho”, quanto em 2001, quando essa história foi ao ar pela primeira vez, quanto agora em 2018, quando assisto novamente para escrever para o Parada Temporal. “Festa do Faz-de-Conta” adapta três partes do primeiro livro no Sítio, sendo elas Cara de Coruja(na festa que as crianças preparam para os seus amigos do País das Maravilhas, como a Cinderela, a Branca de Neve e o Aladim), O Irmão do Pinóquio e, por fim, O Circo de Cavalinhos.
No começo da história, as crianças ainda estão pensando no Peninha, que os levou naquela maravilhosa aventura pelo País das Maravilhas no último episódio, e lhes deu o pó de pirlimpimpim, e enquanto eles brincam de esconde-esconde, Emília reclama que “queria ser invisível igual o Peninha, assim não seria achada”. Ainda na dúvida sobre a identidade do misterioso “garoto invisível” (ele é ou não é o Peter Pan?), as crianças resolvem convidá-lo para o Sítio do Picapau Amarelo, e isso se transforma em uma FESTA para todos os personagens do Reino da Fantasia, com direito a divertidos convites personalizados e tudo, assinados pela Marquesa de Rabicó, o Conde dos Bigodes de Manda e a Princesa do Nariz Arrebitado. Então, com os convites devidamente enviados, começa a imensa preparação para a festa, com decoração da casa, comidas…
Com a Emília perambulando pelo Sítio e distribuindo tarefas.
A primeira convidada a chegar à festa é a Cinderela, e a Emília rapidamente a intercepta com uma série de perguntas, a respeito do material de seus sapatinhos, por exemplo, ou que fim levaram a madrasta e as irmãs malvadas, com direito a um comentário sensacional: “Se fosse eu, não perdoava. Eu sou má. Tia Nastácia que me fez esqueceu de colocar um coração”. Depois chega a Princesa Branca de Neve, que presenteia Emília com um pequeno espelho mágico, e o Pedrinho fica lá, esperando a chegada do Peter Pan, que nunca acontece… enquanto isso, o Saci pensa em “se vingar” do garoto porque, aparentemente, ele se esqueceu dele, e pra isso ele rouba a gravadora do Pedrinho, e aqui temos uma das melhores cenas do episódio, que é a Cuca gravando um videoclipe (!) com a música do “Nana Neném”. Não é à toa que a Cuca virou MEME internacional! <3
Também temos o Ali Babá fugindo dos 40 ladrões, e o Aladim que parece arrasar os corações das princesas, embora a Narizinho diga que, como dona da festa, ela será a primeira a dançar com ele! E como em toda festa que se preze, temos também os penetras, no caso um lobo, que se apresenta como “Lobo. Lobo Mau”. Enganando o inocente Quindim, ele entra na festa cantando (!), e todo mundo se apavora com a “batida de lobo” na porta, e a Emília comenta que a parte do livro em que ele é morto pelo caçador deve ser “erro de impressão”. A Tia Nastácia, com a sua célebre vassoura, é quem vira a grande heroína da história, expulsando o Lobo Mau da casa e, assim, protegendo as crianças e os convidados, como a aterrorizada Chapeuzinho Vermelho… o Lobo ainda tenta atacar o Rabicó, que é devidamente defendido pelo Quindim!
Outra trama que compõe a primeira parte de “Festa do Faz-de-Conta” é a Dona Benta e o Coronel Teodorico, que saem para caminhar e acabam enfeitiçados pela Cuca em uma “Fonte da Juventude” que os transforma de novo em crianças. Eles ficam super fofinhos, mas enquanto pedem ajuda a todo mundo, ninguém acredita neles. Pelo menos até a Tia Nastácia expulsar o Lobo Mau e a pequena Dona Benta fazer um comentário que apenas ela faria, sobre a oração que ensinou à Nastácia! “Crendiospai! Essa pequena… ela é a Dona Benta!” Então, para trazer a vovó de volta ao normal, Emília usa um pedido ao gênio da lâmpada, e Narizinho precisa negociar o último desejo para que a boneca use no Coronel Teodorico. Assim, com eles salvos, a festa segue até o anoitecer, e então Cinderela se apressa para ir embora antes que sua carruagem vire abóbora, e Dona Benta coloca todo mundo para dormir.
A festa chegou ao fim.
Não sem antes uma visitinha da rabugenta da Dona Carochinha!
Então a segunda parte de “Festa do Faz-de-Conta” começa com a chegada de novos livros ao Sítio do Picapau Amarelo, dentre eles o PINÓQUIO! Dona Benta começa a contar a história sobre um pedaço de madeira que falava (“Grandes coisas, aqui até sabugo de milho fala!” “E boneca de pano também!”) e uma versão um pouco diferente da que conhecíamos da história, com direito à Emília fazendo uma leitura bem bacana sobre as “lições de moral” no fim das histórias de antigamente: “Sei! As crianças ficavam é com medo do castigo e fingiam que eram boazinhas”. Boneca de pano inteligente essa, não? Depois da leitura de “Pinóquio”, Emília surge com a ideia de acharem um pedaço de pau vivente no Sítio para que eles possam fazer o Irmão do Pinóquio, mas em troca da ideia ela quer o cavalinho de madeira sem rabo do Pedrinho, que ele promete dar caso encontre um pedaço de madeira que fala.
Por isso, a danada da Emília vai fazer de tudo para conseguir o seu cavalinho, e essa é uma das minhas travessuras favoritas dela. Ela vai descaradamente até o Visconde e pergunta: “Visconde, larga esse livro e me responde: você sabe gemer?” Então, tudo para conseguir o seu cavalinho, Emília usa o Visconde para enganar o Pedrinho, e o esconde dentro de um pedaço de madeira oco para que ele gema: “Trate de gemer bem gemido, Visconde, se não eu nunca mais falo com você!” Eu ADORO a mentalidade da Emília, mas fiquei com um pouco de pena do Pedrinho celebrando, todo inocente. Dissimulada que só, Emília solta um descarado “Passa o cavalinho pra cá!”, e todo mundo se concentra em um concurso de desenho para escolher o visual do Irmão do Pinóquio, com uns desenhos bem bons, outros nem tanto assim… mas o visual será escolhido POR SORTEIO.
Emília, naturalmente, tenta burlar o sorteio, e quando é desmascarada, fica birrenta, sobe pro quarto, arruma as coisas na sua canastrinha e decide que vai embora. “Eu vou-me embora. Não fico aqui nem mais um minuto. Ninguém gosta de mim! Tia Nastácia, então, é uma bruxa! Narizinho nem pra me defender”. Assim, dizendo um dramático “Adeus, Sítio do Picapau Amarelo”, Emília manda beijo e acena tchau, até que a voz de Narizinho soe a chamando de volta, e ela celebra sozinha: “Eu sabia que a Narizinho não ia me deixar ir embora!”. Ela decide ficar, em troca de um vestido cheio de laços e babados… de volta à trama, o desenho sorteado é o da Tia Nastácia (“Eu não sabia que a sorte era tão burra! Escolheu o desenho mais feio!”), e Tia Nastácia começa então a fazer o boneco Irmão do Pinóquio, enquanto Emília brinca com seu cavalinho de madeira…
“Ai que vergonha, Tia Nastácia. Você fez um monstro que não pode ser mostrado pra ninguém!”
Depois de pronto o boneco, Emília o batiza de JOÃO FAZ-DE-CONTA. Afinal de contas, como ela explica: “Faz-de-Conta que não é feio, Faz-de-Conta que não tem um prego nas costas, Faz-de-Conta…” Mas por causa da enganação da Emília, o boneco não tem vida (“Viva, bobo! Viva, se não o Pedrinho te bota fora!”), e eventualmente o Pedrinho se cansa dele, gerando uma briga feia com a boneca de pano quando ele exige seu cavalinho de madeira de volta, e os dois brigam como duas crianças, com direito a beliscão e tudo! Frustrado depois da briga, Pedrinho vai até o “pau vivente” e descobre toda a armação com vestígios de sabugo de milho lá dentro, enquanto o Visconde está se perguntando se deve contar a verdade ou não ao melhor amigo sobre a enganação, com direito a Visconde de Branco e Visconde de Vermelho lhe dando conselhos.
“Marquesa vale mais que Visconde, ela manda em mim. Eu sou um sabugo mandado!”
A vingança do Pedrinho é divertida, contando uma série de mentiras à Emília até que ela arregale tanto seus olhinhos de retrós que eles saltam pra fora. O João, por sua vez, acaba tomando vida em um sonho de Narizinho, quando ele vive para defendê-la da abelha rainha que vem confrontá-la pela morte de uma operária sua que morava dentro de uma jabuticaba. “João, você salvou a minha vida. Você é feio, mas tem muita coragem!”. O Visconde, por fim, passa mal de tanto conhecimento, e o Rabicó precisa buscar o Dr. Caramujo lá no Reino das Águas Claras para fazer uma cirurgia de emergência: “Sua Excelência está empanturrado de Matemática e outras ciências empanturrantes. Vai ter que operar. […] Álgebra é pior que caroço de jabuticaba pra entupir a barriga”. Assim, eles fazem uma divertida cirurgia que tira uma série de coisas complicadas de dentro do Visconde…
…mas deixam uma semente de ciência.
Por fim, na última parte da história, Emília sugere um “Círculo de Escavalinhos”, e ela rapidamente convence o Pedrinho de sua ideia, e logo todo mundo está envolvido na montagem DO GRANDE CIRCO. Eles até organizam uma venda antecipada de ingressos para comprar a lona para o circo! A maneira como todos se envolvem é muito bonitinha, e tudo fica LINDO! O cenário é lindo, os convidados vêm do Reino das Águas Claras e do Reino da Fantasia, como no início da história, e o Circo é um espetáculo, mas também meio que um desastre, porque o João Faz-de-Conta é vaiado, o Palhaço Sabugueira desaparece, um cachorro ataca o elefante, e o pessoal acaba rindo do João enquanto Emília está no palco, e ela fica furiosa: “Não brinco mais!” UMA CONFUSÃO QUE SÓ, mas ao menos eles se divertiram à beça! Uma história fofa, bonita, inocente, e acaba com as crianças super cansadas, depois de um longo dia de brincadeiras…
O Visconde?
A semente de ciência cresce depressa!

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