Sítio do Picapau Amarelo (2002) – As Aventuras de Hans Staden


  
“Emília, você é mesmo uma danada!”
Definitivamente, UMA DAS MELHORES HISTÓRIAS da primeira temporada do “Sítio do Picapau Amarelo”! Exibida entre 13 e 17 de Maio de 2002, e de volta às histórias contadas em 5 episódios, “As Aventuras de Hans Staden” é parte dos livros mais didáticos de Monteiro Lobato, trazendo muita informação bacana sobre esse alemão que chegou ao Brasil pouco depois de sua descoberta e acabou preso pelos índios tupinambás, que comiam seus inimigos. O mais interessante é notar a inteligência com que a história é composta, trazendo três narrativas paralelas que se unem através de um mesmo cerne: A PRESERVAÇÃO DA HISTÓRIA. Seja ela através de um livro, como aquele escrito por Hans Staden quando retornou ao seu país, ou por um museu (o célebre Museu da Emília), ou ainda um patrimônio histórico como o velho Casarão da Fazenda do Tucano Amarelo.
Tudo começa com as crianças brincando que são portugueses em uma caravela, em busca de terra. O mais bonitinho foi vê-los imitar sotaque português. Pedrinho era o Pedro Álvares Cabral, e Narizinho era Pero Vaz de Caminha, para “contar como tudo aconteceu”, enquanto o Visconde ficava lá no mastro, esperando para gritar “TERRA À VISTA!”, embora isso tenha sido alvo de discussão entre as crianças. É uma introdução incrível, especialmente porque se origina de uma inocente brincadeira de crianças curiosas, o que acaba se tornando, também, muito INFORMATIVO. Com o tema trazido à tona, por exemplo, Dona Benta fala sobre as especiarias e como chegaram no Brasil pela primeira vez, e a verdade é que aprendemos tanto com “Sítio do Picapau Amarelo”! E é tão incrível poder aprender como as crianças: se divertindo, não é?
Emília, no entanto, logo se desvia. Depois de um “cacaremoto”, ela decide organizar a sua canastra (mas não vai jogar nada fora, “nem que a Mocha tussa!”), e quando o Visconde menciona um museu, seus olhos se arregalam tanto que chegam a cair. Então ela decide: VAI ABRIR O “MUSEU DA EMÍLIA”, que vai contar a história da boneca-gente. “Imagine um circo e coloque uma porção de cacarecos, abra a torneira de asneiras, espalhe tudo e uma pitadinha de Faz-de-Conta. Entendeu?” Ela nomeia o Visconde museólogo e arquivista do museu, e começa a fazer seus planejamentos. É agora, também, que nasce o termo BILONGUES, como Emília chama suas coisas, e eu acho isso fenomenal. Segundo sua explicação, vem do inglês “belong”, e temos que admitir: de fato faz muito sentido. Assim, os “bilongues” da Emília começam a ser organizados em categorias.
Afinal de contas, TEM DE TUDO ALI!
Tem o célebre alfinete de pombinha branca, um dos primeiros pertences de sua canastra, e coisas que ela arrecadou ao longo de todas as aventuras, como a língua queimada da Hidra de Lerna e assim por diante. O Visconde não poderia estar mais empolgado com o trabalho, pensando em dividir tudo em alas, tipo a “Ala Grega”, a “Ala da Fantasia”, e Emília exige uma “Ala de Novidades”. Emília é um verdadeiro gênio, com a ajuda de Visconde, é claro. Porque, como ela mesma diz: “Eu já pensei em tudo, mas meu pensamento ainda está na tua cabeça. Então me diz, Visconde, como vão ser os ingressos pro meu museu?” No fim, Emília fica responsável por fazer os “ingressos animados” (tecnologia Harry Potter) para o seu museu, enquanto manda o Visconde fazer um DISCURSO para a grande inauguração. Então, ela convida todos a prestigiarem-na.
E é um grande evento a INAUGURAÇÃO DO MUSEU DA EMÍLIA. Tudo muito bem organizado, “como nos melhores museus do mundo” (“Eu sei, ficou lindo mesmo!”), e então o Visconde se empolga fazendo um longuíssimo discurso, mas a cena toda é ESPETACULAR. Um dos meus momentos favoritos na temporada – é a dita inocência que tanto amamos na produção! “Pronto, está inaugurado o maior e mais importante museu do mundo! O Museu da Emília!” Rabicó, no entanto, estraga tudo em busca de comida, e acaba deixando a Emília arrasada com a situação (“Aquele porco porcaria estragou a minha festa!”), e ela está quase chorando quando sai, de cara amarrada… fiquei com dó! Dona Benta, toda fofa, vai lá falar com ela e consegue animá-la, e então a convida para ajudá-la a resolver todo o problema do casarão, que tem enfrentado.
Porque querem derrubar o antigo casarão na Fazenda do Tucano Amarelo! A notícia surge quando o Elias conta ao Tio Barnabé, lá no Arraial, e diz que querem “abrir um posto de gasolina” no lugar. Dona Benta fica inconformada, e decide ver o que está acontecendo, e impedir se for o caso. Afinal de contas, o Casarão é lindo e, não só isso, É UMA CONSTRUÇÃO IMPORTANTE PARA A REGIÃO! Uma construção de quase dois séculos, de uma fazenda importantíssima da região, talvez até o lugar que tenha começado a história daquele lugar… e agora o capital quer derrubá-la para fazer dinheiro, e apenas Dona Benta parece enxergar a HISTÓRIA por trás disso tudo! Dona Benta mobiliza o Coronel Teodorico, com quem clama pela memória do Arraial dos Tucanos, mas Nicolau, o responsável pela futura derrubada do casarão, pouco se importa com isso.
Dona Benta é uma senhora determinada, no entanto. Ela não vai desistir. Ela decide unir todos do arraial para IMPEDIR ESSE CRIME. Mas o duelo é difícil, Dona Benta está lidando com pessoas baixas. Enquanto ela organiza um verdadeiro PROTESTO, Nicolau compra os ingênuos moradores da região com camisetas e bonés, e isso me fez pensar em “O Poço do Visconde”, e como eles são tão facilmente enganados. Dona Benta faz um bom discurso na venda do Elias, dizendo que “não é contra o posto de gasolina, mas não acha que para isso precisem derrubar o casarão”, e ainda completa: “Um povo sem memória é um povo que não se dá valor, é um povo que não se respeita!” Então, depois de um verdadeiro debate, o Coronel Teodorico interfere sugerindo um PLEBISCITO para tomar a decisão se derrubam ou não o casarão, e eu senti orgulho do Elias se recusando a tapear seus amigos quando Nicolau tenta trapacear.
E comprar seu voto!
Enquanto isso, Pedrinho e Narizinho parecem muito mais interessados na história de HANS STADEN. Depois que o Visconde fala sobre ele, ele é retirado pela Emília para trabalhar no seu museu, então as crianças vão sozinhas à biblioteca da Dona Benta em busca do tal livro escrito pelo alemão, e pedem que o Conselheiro leia para eles. Assim, entramos na história de Hans Staden, interpretado pelo Thiago Lacerda (!), e é INCRÍVEL viajar por essa verdadeira e divertida aula de história. Conhecemos Hans Staden, um aventureiro que sonhava em ir às Índias e que embarcou em uma caravela portuguesa ao Brasil chegando a Pernambuco. Depois de retornar à Europa, ele volta para cá um ano depois, chegando em São Vicente, onde trabalha em um forte junto a um escravo índio, chamado Carijó, e então ele acaba encontrado e feito prisioneiro pelos tupinambás…
Índios que comem seus inimigos.
Eles acreditam que ao comer um adversário forte e corajoso, essa força é transferida para eles, e é o que planejam fazer com Hans Staden, por pensarem que ele é um português. “Hans chegou na aldeia causando curiosidade, como um animal raro”. Aos poucos, a vida de Hans Staden na aldeia foi mudando… de prisioneiro a quase temido pelas orações ao seu poderoso Deus que consegue impedir tempestades, por exemplo, mas quando um francês visita a aldeia, e ele não consegue conversar com ele, por não saber direito o idioma, eles concluem que ele é mesmo um português, então podem comê-lo. Hans Staden ainda tenta racionalizar, dizendo coisas como “Se nenhum animal racional come o seu semelhante, como pode você comer um homem?”, mas nada adianta! Eles estão determinados a comer Hans Staden, e o engordam para isso!
Dona Benta explica para as crianças que “os índios não tinham consciência de crueldade”. Eles brincavam com suas vítimas, sim, e depois jantavam seus prisioneiros, mas os verdadeiros vilões CRUÉIS dessa história de colonização, claro, são os europeus. Afinal de contas, eles exterminaram civilizações inteiras, como os astecas! Depois da visita do francês, Hans ora por uma família e é atribuída a ele a cura de duas pessoas, e ele até lidera uma defesa contra portugueses na aldeia, para provar que não é um “pero”, e isso muda o seu status na aldeia. 14 dias depois de sua chegada, Hans é avisado de um navio francês que pode ser a sua liberdade… nas negociações para que ele possa ir embora, Cunhambebe diz que “Hans é como meu filho. Hans vai pros irmãos… mas volta”, e Hans concorda… e claro, nunca mais retorna à aldeia. De volta ao seu país, ele escreve o livro contando a sua história, e é o primeiro livro publicado sobre o Brasil!
“As portas do mundo estão sempre abertas para quem tenha coragem… e fé”
Outra história paralela, curta, mas interessante, é a da Cuca e da Tia Nastácia. Precisando de AZEITE para uma poção, a Cuca pede que o Saci vá até o Sítio do Picapau Amarelo para pegar o azeite de cozinha da Tia Nastácia, e diz para ele trocá-lo por “óleo de língua de sapo”, que ela nem vai notar. Quando Tia Nastácia experimenta uns bolinhos com o azeite errado, ela desmaia e, ao acordar, ESTÁ FALANDO COM A VOZ DA CUCA! E, para completar a bizarrice, a Cuca está falando com a voz da Tia Nastácia, para o divertimento do Saci (“Se você não parar de rir agora, eu transformo você num menino, primeiro da classe!”). É super bizarro e estranho vê-las falando com as vozes invertidas, mas é também um máximo ver a Cuca fazendo uma visitinha ao Sítio, para conseguir a sua voz de volta… um momento memorável para a nossa bruxa favorita!
Voltando à história de Dona Benta, quando ela coloca Emília para ajudar, as coisas andam. Ela convence Dona Benta a chamar o Nicolau para um lanche, e decide que vai dar-lhe uma lição: num lance meio “Inception”, ela lhe dá chá de dormideira e, quando ele pega no sono, ela e Visconde “sugestionam” o seu sonho… sussurram coisas, como a ideia de transformar o Casarão em um CENTRO CULTURAL, com cinema, teatro, livraria, lojinhas… o Centro Cultural Nicolau. E isso funciona surpreendentemente bem! Quando o plebiscito está chegando ao fim no Arraial dos Tucanos, Nicolau surpreende a todos com o seu voto CONTRA a derrubada do casarão, e anuncia que tem outros planos para o lugar. Como diz a Dona Benta: “Emília, você é mesmo uma danada!” Quem diria que ela conseguiria, não é? Mas é a Emília… E O QUE ELA NÃO CONSEGUE?!
Por fim, Emília decide que precisa inaugurar seu Museu DE NOVO (“Ah, o meu museu! Eu tinha me esquecido! Eu tenho que inaugurar o meu museu de novo!”). Afinal de contas, “aquele porco porcaria” tinha arruinado a sua primeira tentativa de inaugurar o belo espaço… e tudo bem, Narizinho e Pedrinho tinham saído para terminar de ouvir a história de Hans Staden, e Dona Benta ainda estava envolvida com toda a trama do Casarão. Agora, todos podem estar completamente envolvidos com o MUSEU DA EMÍLIA, cheio de cacarecos impressionantes que estiveram em sua canastrinha esse tempo todo. RI MUITO com ela proibindo eles de tocar nas coisas – “Tem que explicar tudo pra esse povo da roça que nunca foi no museu!” Sério, nós AMAMOS essa bonequinha-gente que, realmente, tem muita coisa para contar em memórias ou em museus!

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