Guillermo del Toro’s Cabinet of Curiosities – Pickman’s Model

“I know where fear lives”

Baseado em um conto de H. P. Lovecraft, escrito em 1926 e publicado pela primeira vez em 1927, “Pickman’s Model”, dirigido por Keith Thomas, é o quinto episódio de “Guillermo del Toro’s Cabinet of Curiosities” e possivelmente o meu episódio favorito na antologia de terror… protagonizado por Ben Barnes e Crispin Glover, o episódio traz a história de um artista que é afetado pelas pinturas assustadoras de um colega de profissão, e todas as consequências provindas das terríveis visões que passa a ter depois de vê-las pela primeira vez. Apavorante e inteligente, o episódio se beneficia de uma excelente direção e de atuações impecáveis, em uma premissa curiosa e instigante que nos deixa vidrados – o suspense e o terror presentes em “Pickman’s Model” é exatamente o meu tipo de história favorita no gênero, uma narrativa admirável!

O episódio começa no início do século XX, nos apresentando Will Thurber, um jovem talentoso, que acaba conhecendo Richard Pickman, um outro artista cujas pinturas parecem “fugir do tradicional”. Durante uma aula na qual eles são convidados a “pintar o que veem”, Richard faz uma pintura com toques de horror que não parecem condizer com a proposta do exercício – mas que talvez seja a maneira como ele vê as coisas? Richard é alguém que não é muito bem acolhido pela sociedade de artistas, por causa das suas pinturas “diferentes”, e Will Thurber comete o erro de tentar se aproximar dele… quando ele é convidado para visitar a casa de Richard e ver mais do seu trabalho, ele acaba sendo modificado pelas pinturas que vê, como se as pinturas tivessem, de algum modo, entrado em sua mente e feito com que ele passasse a enxergar um outro mundo.

A transição de Will Thurber é genial… a maneira como ele sai assustado/transtornado da casa de Richard naquela noite e começa a ver coisas estranhas do lado de fora, ou a maneira como ele tem visões que ninguém mais parece estar tendo. Voltamos a encontrar Will Thurber muitos anos depois, tentando levar uma vida normal, com a esposa e o filho, mas para sempre afetado pelo trabalho de Richard – são apavorantes as sequências dos pesadelos de Will, claramente influenciados pelas pinturas que vira na casa de Richard, quando descobrira “onde mora o medo”. Para piorar a sua situação, Richard reaparece depois de tanto tempo, e o medo contínuo causado pela presença de Richard e pelo possível retorno de suas pinturas faz com que Will se torne cada vez mais perturbado e paranoico, enquanto o episódio constrói magistralmente o suspense.

Dali em diante, Will se dedica a tentar destruir todas as pinturas de Richard – ele já viu o seu trabalho, ele sabe o que ele faz com as pessoas, e ele não pode permitir que isso continue acontecendo… a tensão e o suspense que encaminham “Pickman’s Model” ao seu clímax são intensos, e chegam a uma conclusão estarrecedora em duas sequências: a primeira quando Will retorna à casa de Richard e destrói todas as suas pinturas colocando fogo em seu ateliê, e vê uma criatura levar o corpo de Richard, mostrando que, no fim das contas, ele pintava mesmo o que via; a segunda quando as pinturas colocadas à mostra em uma exposição afetam também a sua família, e Will volta para casa para encontrar sua esposa depois de ela “ter descoberto onde mora o medo”. A conclusão do episódio é horripilante, do tipo de causa angústia e repulsa em quem assiste.

Grande parte do sucesso do episódio se deve, a meu ver, à atuação impressionante de Ben Barnes. Ben Barnes interpreta um personagem complexo e o guia com competência por todas as suas fases e emoções… é admirável a transição de Will Thurber, daquele jovem talentoso, leve, sonhador, com um sorriso no rosto ao homem maduro e transtornado no qual ele se transforma. Ben Barnes imbui o personagem de emoções complexas e mistas, transparecendo seu pavor, seu medo, sua angústia, sua dor, sua determinação, seu senso de responsabilidade e proteção com a família. A cena do final, quando ele vê a esposa e sua expressão vai se transformando e seus olhos se enchendo de lágrimas enquanto a revelação se assenta e, destruído e em negação ele pede que “ela não” é perfeita e um exemplo do que quero dizer. Que atuação!

 

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