Sítio do Picapau Amarelo (2003) – Rapunzel do Sertão



“Rapunzér, joga as trança cor de mér!”
AH, COMO EU AMEI ESSA HISTÓRIA! “Rapunzel do Sertão” é uma das melhores histórias da Temporada 2003 do “Sítio do Picapau Amarelo”, e a última história dessa versão do programa que se encerra em poucos capítulos… com muito carisma, caracterizações impecáveis e um roteiro bem escrito, “Rapunzel do Sertão” consegue fazer, em 6 capítulos, o que muitas histórias não conseguem em 20. O elenco também é incrível, contando com nomes como Alessandra Negrini, no papel da “Rapunzér”, Eduardo Moscovis, no papel do “Príncipe” Otávio, Arlete Salles, no papel da madrinha vilã, Hermengarda, e até uma participação menos importante do Aramis Trindade, que alguns anos depois se tornaria o novo Visconde de Sabugosa, a partir da icônica e dificílima de se encontrar adaptação de 2005 para “Dom Quixote”, a última história da quarta temporada.
Mas o que me fascinou desde o primeiro instante foi o visual de “Rapunzel do Sertão”, notado e apreciado desde aquele flashback de quando Hermengarda rouba Rapunzel de sua mãe como punição por ela estar roubando mandioca de suas terras. “Ela fica comigo pra mode ocê pagá sua ousadia”. A escolha artística da história me fez pensar em “O Cangaceiro Lobisomem”, do ano anterior, e eu adoro quando o “Sítio” retorna a origens, representando o povo brasileiro… e, nesse caso, eles foram além disso, abrasileirando um conto infantil clássico, sem perder a sua essência, e sem parecer forçado – é mil vezes melhor que a péssima adaptação de “A Bela e a Fera” que a temporada viu mais cedo. Com tanta gente que eu gostava + esses visuais incríveis, não tinha como não aproveitar os 6 capítulos que contavam a história dessa Rapunzér.
Dona Benta está contando a história da Rapunzel quando todo o pessoal aparece nas redondezas. Conhecemos, além da Rapunzel e da Hermengarda, Serena, a filha da vilã, que tem inveja da Rapunzel e só pensa em se dar bem, e Otávio, um moço lindo e apaixonado pela moça das tranças compridas… é muito fofa a primeira cena da Rapunzel com o Otávio, e ele sugere que eles fujam juntos, mas ela diz que não pode – há toda uma provocação, um quase beijo, e então Serena surta por causa da “sem-vergonhice”, acusando Rapunzel de agarrar o Otávio, mas o rapaz defende sua amada, dizendo que era ele quem estava tentando beijá-la, porque a ama e quer se CASAR com ela. Hermengarda, no entanto, não permite… manda os seus jagunços atrás de Otávio, que escapa, enquanto pune a Rapunzel, a prendendo na torre lá no alto, de onde “ela só pode sair voando”.
“E agora? Quem é que vai me tirar daqui?”
Enquanto a Rapunzel quase morre de fome e de tédio na torre isolada, sua única companhia são os besouros da Emília, que eventualmente aparecem por lá… o Otávio, fugindo dos jagunços da Hermengarda, acaba no Sítio do Picapau Amarelo, e Emília é a primeira e encontrá-lo, claro, enquanto ele rouba ovos do galinheiro porque está com fome. Hermengarda, por sua vez, leva os seus jagunços para saquearem a venda do Elias, enquanto planeja ir atrás do dinheiro do Coronel Teodorico. Serena, no entanto, acha que a mãe não deve simplesmente invadir a casa e roubar o que ele tiver por lá, porque ela conseguirá muito mais se casando com ele… afinal de contas, além de rico, ele também é velho e ele pode morrer em breve. A maneira como ela veladamente fala sobre assassiná-lo é bastante fria… não é como das outras vezes que o Coronel foi enganado.
Mas o Coronel é tão tapado que SEMPRE é enganado!
Os besouros da Emília levam a ela o pedido de socorro da Rapunzel, e ficam encarregados da troca de mensagens e ficarem de guarda – Rapunzel pede que a Emília traga o Otávio, então a bonequinha e as crianças partem em busca do “Príncipe”, que está perdido em algum lugar do capoeirão… quando Emília o encontra, ela lhe conta toda a história: como Rapunzel está presa na torre e quer que ele a tire de lá. Otávio não é o príncipe clássico, e é um pouquinho lerdo (adorei ele tendo dificuldades para decorar o que tinha que gritar: “Rapunzér, joga as trança cor de mér!”), mas ele ama a Rapunzel, e isso é o que importa. Enquanto isso, Rapunzel continua brava e entediada, tentando se distrair jogando paciência, fazendo e refazendo a trança, com vontade até de ariar uma panela gordurosa ou lavar um tanque de roupa suja.
Qualquer coisa para sair daquele tédio.
“Ô seu Otávio, cadê ocê, homi?”
Eu achei TÃO LINDO o Otávio finalmente conseguindo gritar lá na torre da Rapunzel, e ela joga as tranças… antes que ele possa subir, no entanto, como na história original, outra pessoa aparece: Hermengarda. E é ela quem sobe pelas tranças da Rapunzel, e pergunta o que ela estava fazendo com essas tranças penduradas do lado de fora (“Tomando umas fresca nas trança”). Como castigo, Hermengarda lhe dá uma escova de dentes para limpar os vãos entre os tijolos, e então a população da torre COMEÇA A CRESCER. Primeiro, Hermengarda esbarra em Pesadelo e o bate num soco digno do Popeye e o manda também para dentro da torre da Rapunzel… depois, é a vez do Saci, que aparece para saber o que está acontecendo e acaba tendo sua carapuça roubada pela peste da Hermengarda, o que quer dizer que, agora, ele é seu escravo.
Mesmo com toda a confusão, Emília não desiste. Agora é hora de tirar tanto a Rapunzel quanto os outros prisioneiros da torre, e Otávio finalmente sobe pelas tranças de sua Rapunzér: “Até que enfim digo eu!”, ela reclama. “Caricia de demorar tanto tempo assim, caricia?” Enquanto isso, Hermengarda está distraída com o plano de Serena, que quer “limpar o Coronel Teodorico”, e se joga nos braços dele, para que Hermengarda os obrigue a se casar: “Aparpô tem que casá”. Como eu já comentei, eu não consigo sentir pena do Coronel Teodorico, porque ele é um velho babão com a impressionante capacidade de sempre cair no mesmo plano das moças ambiciosas que aparecem por ali. Quando, desesperado, o Coronel Teodorico chama o Elias para ajudá-lo, ele reconhece Hermengarda como a líder dos jagunços que saquearam a sua venda.
Para descer, Emília e os demais colocam uma escada na torre (?), e eu adorei a Rapunzel perguntando por que, então, ele subiu pelas suas tranças se tinha uma escada: “Eu sei lá… Emília que mandô. Emília mandô… eu obedeci”. Mas Pesadelo é o único que consegue escapar pela escada, então ele a derruba, a escada quebra, e ninguém mais sabe o que fazer. Depois, Saci desce pelas tranças da Rapunzel, coitada, e Otávio é o único que continua lá em cima com a moça, tendo que se esconder quando Hermengarda sobe. O único problema dessa história (e, desculpem-me, mas vou ter que criticar) é como a edição está ZOADA nesses trechos, cheia de falhas. A Hermengarda ora está em um lugar, ora está em outro, em cenas que vêm uma atrás da outra, ou o horror que é ter a Hermengarda vestida de jagunça lá embaixo, antes de subir pelas tranças da Rapunzel, mas chega lá em cima com o vestido rosa que usou para ir à casa do Coronel.
É um incômodo assistir a esses erros, mas vá lá…
É o único defeito de “Rapunzel do Sertão”.
Como a mente da Emília está sempre trabalhando, ela rapidamente tem outra ideia: mas vai precisar da ajuda do Rabicó. Então, Rabicó é caracterizado como Rapunzel, E ELE NÃO PODERIA ESTAR MAIS FOFO. Com as roupas como as da moça, e tranças longas, ele precisa ficar no seu lugar, interpretando a sua voz e seu modo de andar, e o Rabicó fica uma gracinha! Para que o plano funcione, no entanto, Rapunzel precisa jogar as tranças para que o Rabicó suba, e ela não está muito feliz com isso: “Aquele porco gordo não vai subir pelas minhas trança, ah não vai mesmo!” Mas, eventualmente, ele sobe, e o Rabicó-Rapunzel joga as tranças para que Rapunzel e Emília desçam… então, Rabicó fica no seu lugar na torre, para enganar a Hermengarda, enquanto Emília leva Rapunzel e Otávio para o Sítio de Dona Benta, para escondê-los.
No dia seguinte, Rabicó é encarregado dos afazeres de Rapunzel, como preparar Serena para o casamento com o Coronel Teodorico, enquanto o próprio Coronel troca de lugar com o Elias para tentar enganar os jagunços e fugir do casamento… quando Hermengarda e Serena chegam na casa do Coronel e veem que não é que está ali, elas conseguem obrigar o Elias a falar para onde ele foi: para o Sítio de Dona Benta. Então, Hermengarda DECIDE INVADIR O SÍTIO. Ela prende o Quindim e o Conselheiro, descobre o Rabicó disfarçado, e passa pela porteiro para “cuidar do Coronel e da tar de Dona Benta”. Quando fica sabendo disso, Rapunzel decide se entregar… afinal de contas, é ela que a madrinha quer, mas Emília não permite: “Uma pinoia! Depois do trabalhão que eu tive para tirar você daquela torre?” Emília tem outra ideia, e envolve salvar o Saci.
Então, a confusão volta a acontecer… estão todos na varanda de Dona Benta. O pessoal do Sítio, vilões e jagunços, quando o Pedrinho pesca a carapuça do Saci, lhe devolvendo os poderes, e então Saci e Emília saem para buscar ajuda. E a ajuda é justamente da CUCA… bem, a Cuca já estava brava com a tal da Hermengarda por ter mandado roubarem o seu jantar, então ela aparece para “dar uma lição”. Quando a Cuca chega no Sítio, o casamento de Serena com o Coronel está acontecendo, com a Hermengarda apontando uma arma para ele, e então temos aquele momento icônico de Cuca vs Hermengarda, QUE EU ADOREI. Cuca vence Hermengarda e Serena rapidamente, transformando uma em um carrapato e outra em uma aranha… e Rapunzel fica com dó e decide cuidar das duas. Rapunzel, sempre adorável, incapaz de guardar raiva no coração.
A história da “Rapunzel do Sertão” termina com O CASAMENTO DE RAPUNZEL E OTÁVIO. Afinal de contas, já tinha um padre ali para casar o Coronel Teodorico e a Serena, então por que não aproveitá-lo? Eles se casam, felizes, e é um final muito bonito – a história termina repleta de amor, festa, bolo e até uma quadrilha… quando Rapunzel joga o buquê, Emília é quem o pega, mas ela diz que “já é casada com o Rabicó”, o que é algo que normalmente ela adora negar, mas foi fofinho que ela reconheceu isso! Depois dessa história, outro ciclo se fecha no “Sítio do Picapau Amarelo”. Pelo restante da temporada, todas as histórias serão consideravelmente mais longas. Antes da exibição de “Os Bandeirantes”, em agosto de 2003, o “Sítio” esteve em hiatus por pouco mais de um mês, exibindo uma reprise justamente de “O Cangaceiro Lobisomem”, de 2002.
Existem, como comentei, muitas semelhanças entre o estilo de ambas as histórias!


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