Sítio do Picapau Amarelo (2003) – Juca Pirama



“Eu sou guerreiro!”
Baseado no poema indianista I-Juca-Pirama, de Gonçalves Dias, “Juca Pirama” é uma história de apenas 6 capítulos na terceira temporada do “Sítio do Picapau Amarelo”, e que traz a história do índio que, capturado pelos timbiras, queria ser morto e comido pela tribo rival… afinal de contas, fugir era coisa de covarde, e “ele não é covarde, ele é um guerreiro”. Emília, no entanto, não está disposta a permitir que Juca Pirama morra, e ela vai ter um trabalhinho para conseguir convencer o cabeça-dura a ir embora com o pai e a moça que é apaixonada por ele… a história é interessante, tem um ritmo bacana, devido aos poucos capítulos, e consegue ser bem intensa em algumas passagens. Além de levantar alguns questionamentos, porque eu fiquei deveras incomodado ao ver a Emília tentando forçar o Juca a fazer algo que ele se recusava a fazer.
Sei lá, tudo é bem complicado!
Emília é a primeira a ver os índios passando por perto do Sítio do Picapau Amarelo, e o Tio Barnabé explica que “não tem índio por ali há muito tempo”. Naquela noite, em volta da fogueira, a bonequinha pede que o Tio Barnabé conte a história dos índios que, no passado, moravam ali, e Barnabé conta sobre os Tupis e os Timbiras, tribos inimigas que viviam em verdadeira guerra na floresta. Os timbiras ainda eram famosos por comer a carne dos inimigos que eram capturados, e isso tudo me faz pensar também em “As Aventuras de Hans Staden”, lá na primeira temporada, porque não é a primeira vez que índios canibais dão as caras pelo Sítio. Enquanto isso, então, Juca Pirama é capturado pelos guerreiros timbiras e, na próxima lua, ele vai morrer para servir de alimento… eles acreditam que, ao comer a carne do inimigo, eles ganham sua força e sua coragem.
Mas o pessoal do Sítio não vai permitir que isso aconteça! Jacira aparece no Sítio para pedir a ajuda deles, para o seu amado Juca Pirama, enquanto o Potiaçu, o pai de Juca, acaba vagando sozinho pela floresta, enxergando muito mal, e chegando à caverna da Cuca – e ele se encanta pela “lindona” jacaroa. Ao ouvir a história de Jacira, Emília decide ir atrás do “Pote Azul” e do “Juca Piranha” agora mesmo, mas é claro que a Dona Benta não permite… até porque onde já se viu se meter na mata a uma hora dessas? É muito perigoso, amanhã eles verão o que fazer. Na manhã seguinte, no entanto, as crianças nem esperam a avó acordar para tomarem decisões… antes mesmo do café, elas saem sozinhos em direção à tribo dos índios timbiras, para resgatar o Juca Pirama, e é a Jacira quem, inocentemente, conta para Dona Benta o paradeiro de seus netos.
Nastácia chega até a desmaiar quando descobre que os timbiras são antropófagos.
“Meus netos numa tribo de índios canibais! É demais para mim, Nastácia!”
Corajosas, as senhoras também entram na mata, acompanhadas da índia, dizendo que “não vão permitir que ninguém jante seus netos”, enquanto as crianças chegam à aldeia. Emília, Pedrinho e Visconde acordam o Juca Pirama e dizem que estão ali para salvá-lo, mas rapidamente descobrem que a missão deles não vai ser assim tão fácil: morrer ali e ser comido pelos timbiras é seu destino como guerreiro, e se ele foi preso, ele não pode fugir como um covarde. Ele só pede que encontrei e cuidem de seu pai, que não enxerga muito bem, mas insiste que não vai sair dali… dali ninguém o tira! Narizinho avisa, então, que os índios estão chegando, Jacira se despede rapidamente de Juca Pirama, e eles correm para se esconder, mas se recusam a ir embora… se o Juca Pirama não quer ir embora com eles, ele precisa, então, ser convencido disso!
E eu confesso que não tenho o estudo o suficiente para opinar a respeito disso, mas tudo foi bem incômodo de se assistir. Pensamos como Emília e os demais, achamos um absurdo o canibalismo, mas o Juca Pirama, a vítima, estava tão convicta de seu destino, dizendo que “era uma honra” ser comido pelos timbiras… e se ele não queria, de modo algum, a ajuda do pessoal do Sítio, eles podiam mesmo obrigá-lo? É tudo muito confuso, felizmente não somos colocados frente a decisões como essa, porque a viagem no tempo não existe na vida real. Pedrinho, Narizinho e Jacira, então, vão atrás de Potiaçu, o pai de Juca Pirama, para ver se ele convence o índio a fugir, enquanto Emília e Visconde interferem em um ritual e Emília acaba adorada por eles como uma divindade e amiga de Tupã. Eles mudam até a sua roupa, dançam para ela e com ela, e é tratada como uma rainha…
Com direito ao Visconde a abanando com folha de bananeira e tudo!
Agora, pelo menos por enquanto, Emília tem poder sobre a tribo. Ela proíbe que toquem em um fio de cabelo do “Juca Piranha”, e quando o Juca, bravo, diz a ela que quer ser sacrificado, ela responde: “Pois vai ficar querendo! Eu não vou deixar e pronto!” Eles desamarram o índio, então e, mesmo assim, ele não foge. Mas Emília tem outras coisas com que se preocupar… o cacique dos timbiras logo vem agradecê-la por ter trazido sorte e fortuna à aldeia, contando que os guerreiros conseguiram muita comida na mata, um banquete, e quando a Emília vê qual é a “comida” que foi capturada, ela se assusta: Tia Nastácia, Dona Benta e Tio Barnabé. Os três, apavorados, são amarrados ao tronco e esperam o seu destino (a Nastácia dizendo que isso é praga do Rabicó!), e a Emília é a única chance que eles têm de serem salvos… estão nas mãos da bonequinha.
Quando os guerreiros timbiras também pegam o Pesadelo, Emília vê ali a sua chance de ganhar tempo: ela não vai deixar que comam nem o Pesadelo (embora o Pesadelo viva querendo devorar todo mundo!), mas é a oportunidade perfeita de ganhar um tempinho, e então ela pode planejar seus próximos passos… enquanto a aldeia está fora, caçando, a bonequinha solta Tia Nastácia e a coloca para cozinhar (!), algo “vegetariano” e delicioso que vai distrair os índios de sua fome, pelo menos por enquanto. Depois que eles se empanturram de comida gostosa, todo mundo cai dormindo, e devem ficar dormindo por horas… então, eles têm a chance de escapar. Emília, inclusive, convoca a ajuda do Saci para levar todo mundo embora dali da aldeia… todo mundo, inclusive o Juca Pirama, sem a sua autorização, e ele fica todo birrento porque “não queria ter fugido”: “Eu não sou covarde, eu sou guerreiro!”
Como o índio teimoso aproveitará a primeira oportunidade para voltar para a aldeia timbira, Dona Benta o tranca no galinheiro, enquanto as crianças não retornam com o Potiaçu… Pedrinho e Narizinho só conseguem convencer o índio a abandonar a sua “lindona” quando o Pedrinho o faz olhar para a Cuca através das lentes do binóculo de Dona Benta, que ele sempre carrega consigo, e então ele topa ir embora e eles o levam para o Sítio. Dona Benta explica tudo o que aconteceu e o leva para conversar com o Juca Pirama, no galinheiro, e o Potiaçu não ajuda em nada no que eles queriam: ele diz que tem vergonha de ser pai de um guerreiro covarde. Juca Pirama se defende e diz que não é covarde, nem queria fugir e, para provar o que está dizendo, ele vai voltar para a aldeia e se entregar… mas, assim que ele faz isso, Emília e o pessoal também vão à aldeia.
“Ah não, você de novo, não!”
O cacique dos timbiras, no entanto, explica a Juca Pirama que eles só comem a carne de guerreiro para ganhar sua força, e se ele é um covarde, eles não querem saber dele… ou então todos virarão covardes. Então, de forma bizarra, o Juca Pirama fica ali, implorando para ser assado em óleo de javali, enquanto o pai se pergunta o que dirá lá na aldeia, e o peso da humilhação maltrata o Juca. As cenas são razoavelmente fortes, porque não parece que o Juca foi “salvo”. Ele está triste e arrasado porque sente que não cumpriu o seu destino como guerreiro, e ele chora dizendo que “deu tudo errado” e que “ele está acabado”. A história se complica de verdade quando a Cuca aparece na aldeia atrás do Potiaçu, e acaba sendo expulsa pelo Pedrinho e o seu bodoque… então, Abapuru, o cacique timbira, olha para o garoto com uma nova ideia em mente:
“Pedrinho, o curumim do bodoque, vai ser sacrificado e entregue aos guerreiros timbira”
Agora, Emília tem que impedir os timbiras de assarem o Pedrinho, e eu fiquei com pena da Dona Benta, toda desesperada: “Pedrinho, que história é essa de ser sacrificado?” E o menino, inocente, ainda está se achando, porque foi considerado valente… adorei a Dona Benta dando bronca e puxando a sua orelha: “Fica quieto, Pedrinho!” Enquanto isso, Narizinho e Jacira conversam, um diálogo interessante. Narizinho diz que está com medo pelo primo, e Jacira diz que ela devia estar orgulhosa, porque isso é o que o Juca mais queria, e Narizinho diz que não a entende… Jacira, no entanto, tampouco entende o modo de pensar de Narizinho. Então, Emília é quem salva a história, tendo uma ideia boa afinal: ela coloca o Juca Pirama para lutar contra o Abapuru: se o Juca vence, todo mundo vai embora, eles salvam o Pedrinho e o Juca ainda se prova valente.
Então, é Abapuru vs Juca.
O fim da história, então, é a luta entre os índios. Emília, Pedrinho, Narizinho e Jacira assistem, enquanto Dona Benta, Tia Nastácia e Visconde ficam dentro da oca, nervosos, mas sem querer assistir. A luta se prolonga, até que o Juca Pirama vença, mas eles celebram cedo demais, porque ainda falta o golpe final, o golpe que “vai tirar a vida do cacique”. Antes de morrer, Abapuru reconhece a bravura de Juca Pirama, e se coloca, com honra, para ser morto por ele, “respeitando-o”, mas Juca diz que só fez isso tudo para provar que Abapuru estava errado a seu respeito e que ele não era um covarde, mas ele não pretende matá-lo. “Eu não vou matar ninguém, cacique. Eu já limpei minha honra!”, ele anuncia. Então, eles se elogiam, se respeitam e terminam a luta, ambos vivos e ambos valentes. Agora, Juca está livre e pode se casar com Jacira.
Sem que ninguém pense que ele é covarde…


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