Altered Carbon 1x02 – Fallen Angel


“Technology advances. But humans don’t”
Uma das afirmações mais sérias que o gênero de ficção científica pode fazer com propriedade: a tecnologia avança, mas os humanos não. Muita coisa me fascina em “Altered Carbon”, e dentre elas eu incluo o fato de esse universo ser tão bem construído em todas as suas minuciosidades, que abrangem uma grande gama de possibilidades, que avaliam o próprio ser humano como o conhecemos e o aterrador futuro que nos aguarda. Para mim, o lado religioso também segue sendo um dos mais fortes na verossimilhança em “Altered Carbon”, porque é tão palpável que faz que tudo seja muito mais crível e próximo à realidade, sem contar que Kristin Ortega, em todas as suas obsessões ainda não explicadas, se revela como uma pessoa repleta de segredos obscuros e, portanto, uma excelente personagem em potencial… estou ansioso para conhecê-la melhor.
Takeshi Kovacs, que inicia o episódio exibindo aquele corpo (!) é encontrando no quarto por uma advogada de Bancroft que quer dar início aos trabalhos, e o leva até a PSYCHASEC, um lugar de capas para Matusas. O lugar ferve de propagandas como “Put your wife in me” e “You deserve this sleeve”, e embora seja tão creepy e bizarro, o lugar é bem construído e, portanto, se torna perturbador. Aqui, Kovacs fala sobre a “fragmentação de personalidade” no caso de múltiplos reencapamentos, e chega a ser ultrajante como os ricos Matusas não precisam se preocupar com isso, pois a loucura é prevenida com o reencapamento em CLONES, que custam mais do que a maioria das pessoas consegue ganhar em sua vida inteira. “You can live forever. If you have the cash”. Não é nem um pouco diferente da organização social no mundo em que vivemos atualmente.
Infelizmente.
A visita a Psychasec (que também conta com um nu frontal surpreendente de Bancroft!) serve ao propósito de investigações primárias por Tak. Todos são suspeitos, a princípio, e eu adoro como ele enfrenta Bancroft: “You want answers, they come with questions attached”. Basicamente, ele fará as coisas à sua maneira, fará as perguntas que julgar necessárias, e desenterrará informações que talvez Laurens Bancroft não queira à mostra. É isso, ou então ele pode colocá-lo de volta no gelo. Resumidamente, ele tem a carta perfeita na manga, e meios para colocá-las em ação. Ao lado de Poe, a Inteligência Artificial que é o hotel em que está hospedado, Kovacs começa a investigar as milhares de ameaças de morte a Bancroft, o que o coloca na mira de um cara chamado “Elliot”, que ameaçou matar Bancroft “por sua filha Lizzie”. E o fez com uma arma do Protetorado.
Gosto muito da agilidade do roteiro que nos leva depressa a Elliot e entrega algumas das melhores cenas de Kovacs, que é excelente em combate. Embora Elliot se mostre, enfim, não culpado pela morte de Bancroft, a trama é importante para a construção da personalidade desprezível do homem que contratou um Emissário. Através de um dispositivo de realidade virtual, Kovacs entra em um mundo de escapismo onde Elliot ressuscitou a memória da filha, embora ela esteja presa em um loop traumático e isso seja doente. Os efeitos são muito bons, quase psicodélicos novamente, e Tak entende que, por mais doente que Elliot seja, ele não matou Bancroft. No entanto, ele descobre que Lizzie e Bancroft “estavam saindo”, e ele vai atrás de investigar isso tudo de forma mais profunda, fazendo algumas descobertas reveladoras e apavorantes.
Kovacs acaba em um “puteiro”, onde Lizzie trabalhara, mas a mulher que o “atende” se transforma completamente quando Kovacs cita o seu nome. Ali, em busca de informação, Takeshi se faz passar por Ava, a mãe de Lizzie, e, por mais que o método seja duvidoso, ele consegue algumas informações, sobre como Bancroft é um cliente que maltrata as prostitutas, em uma política doentia de “quebrou, pagou”, expressando exatamente a maneira como elas são tratadas como mercadorias, e quase agem como se isso fosse natural. É angustiante vê-la exibir o pescoço machucado, e é doloroso ver como ela se comove quando Kovacs diz que “ela não devia deixar ninguém machucá-la, independente de quanto a pagasse”, e então o abraça e diz o seu verdadeiro nome: ALICE. Se Takeshi Kovacs já desprezava Laurens Bancroft desde antes, mais agora.
Além disso tudo, também acompanhamos Kristin Ortega, e eu realmente gosto de sua parte na história, agora. Há camadas ainda não exploradas a serem observadas. Primeiro, a maneira como ela mente para uma mulher cuja filha morreu há dois meses, e o corpo está desaparecido. Dolorosamente, a senhora diz que a filha “se converteu” no ano passado, e ainda que o seu cartucho esteja bem, ela não pode ser ressuscitada, portanto o corpo era tudo o que ela tinha. Outra sequência forte de Kristin é com a mãe, religiosa, que está incomodada e preocupada com o fato de ela ter renunciado à religião… ela diz que a filha não pode nem comungar, ou se confessar, e não é certo usar o cartucho para voltar à vida. Quando Kristin pergunta como a mãe se sentiria se ela fosse morta, ela responde que sofreria muito, e choraria lágrimas o suficiente para encher todos os oceanos da Terra…
mas jamais iria querer que ela voltasse à vida assim.
FORTE.
A sequência final do episódio traz duas cenas em paralelo. Primeiro, descobrimos que o corpo “desaparecido” está sendo mantido por Kristin, o que parece chocante, mas não mais que o seguinte: durante uma confissão, Kristin assume que “fez algo errado”, e nos revela, em sua mão, o cartucho da mulher morta há dois meses, ainda sem que entendamos o porquê. Adoro um mistério a ser resolvido! Ao mesmo tempo, acompanhamos uma alucinante cena provocante entre Kovacs e a “Sra. Bancroft”, que aparece em seu quarto para seduzi-lo, ainda não sabemos exatamente com que intenção… talvez de distraí-lo. De todo modo, eles fazem sexo, e é uma das cenas mais quentes que a Netflix produziu, especialmente pelo seu conceito inovador. Esse hormônio que permite que um sinta também o que o outro está sentindo gera uma proposta curiosa de sexo e prazer…
I would try.

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