O Rei do Show (The Greatest Showman, 2017)
“It’s
everything you ever want / It’s everything you ever need”
Quando Hugh
Jackman canta, na primeiríssima música do filme, que “Isso é tudo o que sempre quisemos / Tudo o que sempre precisamos”,
eu não sei se ele está falando de seu Circo ou do filme como um todo. “O Rei do Show” é o tipo de filme de que
PRECISÁVAMOS. Saí do cinema totalmente revigorado, encantado e com a minha
imensa paixão por musicais reforçada, quase reconstruída. Há anos, é o melhor
filme do gênero que chega aos cinemas, se
não for o melhor de toda minha vida! E até assistir ao filme, eu não tinha
me dado conta do quanto estava sentindo falta de um bom musical, um EXCELENTE musical como esse! Quanto mais eu gosto de um filme, e quanto mais ele me fascina, mais difícil eu acho de compor o texto... sinto como se nada que eu escrevesse fosse alcançar o sentimento que trago em mim. "O Rei do Show" me deslumbrou, com a impressionante força de suas músicas e letras, e o seu visual arrebatador. Revigorante, belíssimo
e inspirador… estou esperando por um
Oscar. Tem uma fotografia impecável, atuações intensas, as mais belas
performances, e um ótimo e tocante roteiro… o filme pulsa em plena PAIXÃO, emanando de cada momento, de cada cena, de
cada música.
Já sentimos
isso quando o filme começa, com “The
Greatest Show”. A intensidade latente daqueles pés batendo na arquibancada,
o som reverberando por todo o cinema… é um primeiro momento mágico, a nossa primeira entrada no Circo
de P. T. Barnum. Hugh Jackman está impecável
em seu papel, e ele realmente é “o rei do show” quando ele anuncia o
espetáculo, vestido de vermelho, os braços abertos, nos convidando a entrar, a sermos parte disso… entramos, e jamais queremos sair. As pessoas do Circo estão
ao seu redor, emanando energia e vida, cores intensas se mesclando, números de
trapézio, tudo tão impressionante, tão mágico. “It's everything you
ever want / It's everything you ever need / And it's here right in front of you
/ This is where you wanna be”. E então tudo se apaga. O Circo se esvazia, o sorriso de P. T.
Barnum também, e estamos de volta à sua infância, iniciando sua história.
A cena da
infância de P. T. Barnum é lindíssima
e emocionante. O conhecemos como
filho de um empregado em uma grande casa, onde uma garota chamada Charity
estuda etiqueta, e ele a faz rir e
cuspir todo o chá – é uma relação fofa entre eles, pelo menos até que Barnum
apanhe por causa disso, e então se torna doloroso. É nesse contexto que surge a
canção “A Million Dreams”, que nos
mostra toda a trajetória de Barnum e Charity, da infância à fase adulta, com
todo o amor que compartilharam ao longo de anos.
É Ziv Zaifman quem providencia a voz de Barnum quando criança, e a música arrepia, com todo um tom de
melancolia que nos envolve, mas também de uma beleza infinita. Pela belíssima
música e por cenas como aquela mulher que carinhosamente lhe dá uma maçã depois
que ele apanha por tentar roubar um pão, ou as inúmeras cartas que ele e
Charity trocaram durante anos e anos a fio.
“'Cause every night Ι lie in bed
Τhe brightest colors fill my head
Α million dreams are keeping me awake
Ι think οf what the
wοrld could be
Α vision οf the one Ι see
Α million dreams is all it's gοnna take
Α million dreams fοr the wοrld we're gonna make”
Charity o amava profundamente. Quando Barnum volta, adulto, ela abandona
toda a sua vida de antes para estar com
ele. E ELA ESTAVA FELIZ. São algumas das cenas mais emocionantes do filme. O amor dos dois, a dança no terraço,
fotografia incrivelmente bela, também: o vestido voando, os lençóis brancos
pendurados, a gravidez de Charity. E muitos anos depois, quando as filhas já
estão grandes, a felicidade da família segue, e é tão bonito ver como o amor que um tem pelo outro é mais importante que
tudo. Ela tinha uma vida rica, com tudo o que ela podia querer, materialmente
falando, mas ela é muito mais feliz ao lado de Barnum. Independente de ele não ter
emprego, independente de ela estar ali lavando e estendendo roupa. A felicidade pode ser sentida em seu olhar.
A família era feliz. O presente de
aniversário que o pai dá às filhas, por exemplo… mágico. E os pedidos das filhas? Uma quer “se casar com o Papai
Noel”; outra quer “sapatilhas de ballet”.
Me emocionou tanto.
E então P. T.
Barnum arrisca tudo. Ele consegue um
empréstimo no banco sendo um pouco trapaceiro, mas acreditando profundamente no
que está fazendo. E assim, em “Come
Alive”, ele dá vida ao seu espetáculo. Ele contrata uma mulher barbada, um
anão, um “gigante irlandês”, o homem-cão, o homem “mais gordo do mundo”, trapezistas
negros, o homem tatuado… ele exagera um pouco, também, mas essa é a
característica de Barnum: ele tem visão, ele arrisca, e ele vende com veemência
aquilo no que ele acredita. E dá certo.
Com uma música incrivelmente pulsante e contagiante, o espetáculo ganha vida, a
coreografia de todo o elenco no palco é LINDA DEMAIS, e as garotas assistindo
da plateia, com Charity, e dançando também… aquilo
me arrepia. Então ele começa a ganhar visibilidade, ganha apoiadores e
protestantes… mas ele usa tudo a seu favor. É assim que ele nomeia o espetáculo
o “Circo do Barnum”, por causa de um
comentário de um crítico amargurado no jornal.
Debochado. E apaixonante.
“And the world becomes a fantasy
And you're more than you could ever
be
'Cause you're dreaming with your eyes
wide open
And we know, we can't be go back
again
To the world that we were living in
'Cause we're dreaming with our eyes
wide open
So, come alive!”
E é então,
enquanto o espetáculo já está VIVO, mas Barnum precisa lutar muito para conseguir público, que ele vai atrás de Phillip
Carlyle, para oferecer-lhe uma parceria, e ele precisa convencê-lo a abandonar
a vida miserável em que vive, e “viver um pouco, rir um pouco”, ser livre. Assim, em uma cena
incrivelmente bem coreografada, temos “The
Other Side”, um brilhante dueto de Hugh Jackman e Zac Efron. E QUE
MARAVILHA! Há quanto tempo não ouvimos Zac Efron cantar? Desde “Hairspray” e o último “High School Musical” em 2008? Ele está
maravilhoso, eu devo dizer isso. Como Phin, Zac Efron faz um belo trabalho de
atuação e música, nos emociona e nos envolve… ao fim da música, ele decidiu “ir para o outro lado”, e é impressionante
como o Circo de Barnum muda a vida de Phin. E Anne, também, a trapezista
por quem ele se encanta desde o primeiro momento.
As coisas
começam a dar errado para o Circo quando Barnum não se satisfaz com tudo o que
tem, embora tenha uma casa imensa na mesma rua dos pais de Charity, e a sua
filha esteja no ballet, como sempre sonhara. Ele vai além. Vai até a Inglaterra
conhecer a Rainha (!), e traz de lá Jenny Lind, uma famosa cantora de ópera, que ele nunca ouviu cantar, mas na
esperança de provar-se um pouco mais.
Ali ele acaba indo longe demais. Nem tanto ao provocar o pai de Charity no teatro,
porque eu juro que faria o mesmo (!), mas principalmente ao impedir que o seu
elenco do Circo entrasse no teatro para ver Jenny Lind, ou impedindo-os de ir ao
camarote, porque “estariam visíveis demais”. É doloroso como ele mesmo sente vergonha de seus
artistas, e isso nos incomoda, e nos faz sofrer. Mas também é isso que nos
proporciona uma das melhores músicas do
filme.
“This is Me”
“When the sharpest words wanna cut me
down
I'm gonna see the blood, gonna drown
them out
I am brave, I am bruised
I am who I'm meant to be, this is me
Look out 'cause here I come
And I'm marching on to the beat I
drum
I'm not scared, to be seen
I make no apologies, this is me”
Que FORÇA
IMPRESSIONANTE tem essa música!
“I’m not scared, to be seen / I make no
apologies, this is me” é um grande HINO sobre o respeito, sobre a diferença
e sobre sermos nós mesmos. Belissimamente
composta, a música é interpretada com paixão e intensidade por Keala Settle, e
NOS LEVA ÀS LÁGRIMAS. Aqui, independente de terem o apoio de P. T. Barnum ou não,
os “freaks”, como são chamados, se unem como a família que se tornaram, marcham
por eles mesmos, com coragem, e mostram quem
são. Com orgulho dizendo: "Esse sou eu!" A cena é emotiva e forte, e bela. E ali nós sabemos que Barnum vai
trilhar caminhos duvidosos. Depois que Jenny Lind cantou “Never Enough”, ele sai em turnê com ela, abandona o Circo aos
cuidados de Phin, que felizmente está tão apaixonado e envolvido nisso tudo que
realmente faz o seu melhor… mas é triste ver o show sem Barnum, e é
mais triste ver Charity e as meninas sem ele, a cadeira sempre vazia, na mesa
de casa ou nas apresentações de ballet.
Por muito tempo.
“Tightrope”.
Tudo parece passar tão depressa no filme,
infelizmente. Eu colocaria mais 10 músicas e assistiria por mais uma hora e
meia, sem problema. Gosto muito de como Phin se apaixona por Anne, e de como
ambos sofrem por um amor complicado, que parece impossível. Quando ele solta a mão
dela na ópera… quando seus pais a chamam de “criadagem” quando ele tenta levá-la
ao teatro. E ele é profundamente corajoso ao desafiar isso tudo para estar com
Anne, porque ele gosta dela. Uma das
mais belas canções de amor que já
ouvi (!) é “Rewrite the Stars”, e as
vozes de Zac Efron e Zendaya estão belíssimas
juntas. QUE MÚSICA! E mais do que isso, como é visível em todo o filme: QUE
FOTOGRAFIA BELÍSSIMA! O cenário do Circo e o conceito do trapézio para a música
dos dois… aquilo é impressionante. Eles
estão falando sobre “estrelas”, ela está lá acima dele, quase inalcançável, e
ele faz de tudo para ir até ela… tudo.
Ela sozinha voando é linda, mas quando eles voam juntos… me arrepia. Quando ele pula lá de cima para alcançá-la! QUE CENA
BEM CONSTRUÍDA, além de ser incrivelmente bela de se assistir.
Como todo o filme.
“All I want is to fly with you
All I want is to fall with you
So just give me all of you
[…]
Why don’t we rewrite the stars?
Changing the world to be ours”
O ápice da
derrocada está no momento em que Jenny Lind tenta beijar Barnum, e ele se
recusa… então a turnê chega ao fim. E
para finalizá-la, ela o beija no palco, para que a imprensa tire foto e isso se
espalhe pelos jornais do país. Assim, Barnum tem um prejuízo enorme porque Lind
abandona a turnê, perde a esposa, por causa da foto e das decisões que ele
tomou sem ela, e o prédio onde o Circo funcionava pega fogo por causa de
baderneiros que não aceitam a diferença. Motivados pela intolerância e o preconceito. Para completar, Phin ainda quase morre
no incêndio, tentando salvar Anne. É angustiante.
E ele precisa recuperar e reconstruir tudo. Ele o faz durante “From Now On”, quando seus artistas vão
atrás dele no bar, independente de tudo o que ele fez, porque ELES são uma
família, e eles encontraram um lugar no Circo que nunca tiveram. Aquilo é tudo para eles.
A coreografia
de “From Now On” é linda, de volta ao
bar, com Barnum se permitindo ter esperanças novamente. Naquele momento, ele se lembrou o que era o Circo de verdade, o que
importava. O amor, a entrega, essas pessoas. Durante essa música, Phin desperta
ao lado de Anne, no hospital, e Barnum vai atrás de Charity, na praia, e arruma
as coisas com ela… é tudo bem rápido, mas perfeitamente bonito, e é
impressionante essa característica do musical, em que uma música pode mudar tudo. O Circo é reerguido, diferente dessa vez. Não há muito o que
se salvar nos destroços, nem dinheiro nenhum para ser usado. A não ser os 10% semanais de Phin. É uma
cena linda quando ele diz a Barnum, no meio de todos, sobre “tudo” o que ele
tinha antes, e sobre o que tem agora:
amizade, amor e um emprego que adora. Seus 10%, negociados em “The Other Side”, estão guardados, e não
são o suficiente para comprar um novo prédio, mas quem sabe um terreno afastado.
E uma tenda.
Assim, renasce “The Greatest Show”. A reprise da música, no final, me
arrepiou ainda mais que no começo. Fui às
lágrimas. Hugh Jackman, novamente, excepcional, mas foi comovente como
Barnum passa a cartola e a liderança do show a Phin, porque “ele quer ver suas
filhas crescerem”. E o filme acaba, com
Zac Efron cantando “The Greatest Show”, e um único verso de Hugh Jackman, no
ballet da filha. DE ARREPIAR. Que filme IMPRESSIONANTE. Belíssimo. Figurinos
incríveis, cenários indescritíveis, elenco e vozes perfeitas, performances
apaixonantes e intensas. Músicas fortes, detalhes
sincronizados à canção, como copos batendo à mesa, ou folhetos sendo pregados…
tudo repleto de emoção, de AMOR, um musical que nos eleva, que nos inspira e
que nos revigora. O filme nos marca, enaltece a vida e enaltece o
respeito um pelo outro. Eu realmente mal posso esperar para ver algumas belas
apresentações desse filme no Oscar!
Saí do cinema
mais vivo!
Sabe como
diziam que as pessoas saíam do Circo mais “felizes”? Foi assim que saí! <3
“The noblest art is that of making
others happy”
Vocês ainda verão mais “O Rei do Show” por aqui! J












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