Lost 5x12 – Dead is Dead

“What lies in the shadow of the statue?”

O JULGAMENTO DE BEN. É muito interessante assistir “Lost” novamente, sabendo para onde essa história está indo – “Dead is Dead” me parece um episódio bastante importante para narrativas que estão por vir, mas confesso que não me lembro se, na época em que o vi pela primeira vez em 2009, algumas coisas me pareciam tão óbvias quanto me parecem agora… “Lost” tem uma maneira inusitada de contar história, e eu sou apaixonado pelo fato de que ela nem sempre precisa mastigar respostas – o fato de John Locke ter “revivido” quando voltou para a ilha, por exemplo, não precisa de muito mais explicação do que a dada naquele diálogo entre Benjamin e Sun (na qual Ben fala sobre como “morto é morto”) e, é claro, a nossa capacidade de nos lembrarmos de como Christian apareceu continuamente depois da queda do Oceanic 815.

“Dead is Dead” é, novamente, um episódio contado em flashbacks – um recurso muito usado nas três primeiras temporadas de “Lost” e muito menos nas três últimas. Particularmente, eu gostava mais da novidade de ter os personagens saltando por diferentes tempos, como no começo dessa quinta temporada, e sempre sinto falta quando a Iniciativa Dharma em 1977 é deixada de lado, como foi o caso aqui, mas os flashbacks ajudam a preencher algumas lacunas que nos levam até o Ajira 316. O pouco que vemos da ilha em 1977 é de quando Richard Alpert levou Ben para um lugar sagrado da ilha onde ele seria “curado” (e transformado para sempre, se tornando um deles), mesmo contra a vontade do seu líder na época: Charles Widmore. É essa “rivalidade” entre Ben e Widmore que movimenta toda a trama desse episódio, no presente e nos flashbacks.

Os flashbacks do episódio mostram um pouco mais da história de Ben: já vimos, em outras ocasiões, um pouco da sua infância e a maneira como ele matou toda a Iniciativa Dharma em sua juventude, e os saltos temporais estão nos permitindo acompanhar mais de sua infância, sua relação com o pai e sua fascinação pelos Outros (até se tornar um deles graças à ajuda de Sayid, ironicamente); esse episódio, então, nos mostra a lacuna que existia do tempo em que Ben se tornou o líder dos Outros. Assistimos enquanto ele rouba Alex de Danielle Rousseau, por exemplo, incapaz de cumprir ordens de matar a criança (!), e vemos a incompatibilidade de pensamentos dele e de Charles Widmore, que culminam no momento em que Widmore é “exilado” da ilha por “ter desobedecido às regras” – e Ben faz questão de assistir enquanto ele entra no submarino.

Também podemos acompanhar, nos flashbacks, as “últimas coisas que Ben tinha que fazer” antes de poder retornar para a ilha – e vemos uma ligação bastante birrenta dele para Charles Widmore, contando que ele vai ser bem-sucedido no que ele nunca conseguiu ser, e também dizendo que está ali para cumprir uma promessa e matar a sua filha. Ben está disposto a matar Penny, porque culpa Widmore pela morte de Alex, mas ele acaba não tendo coragem de puxar o gatilho quando vê Charlie, o filhinho de Penny e Desmond… e é no breve momento de hesitação que ele tem que Desmond consegue atacá-lo e dar uma grande surra nele. Eu sempre gosto quando “Lost” vai preenchendo essas lacunas, porque finalmente entendemos por que Ben estava de olho roxo quando chegou para embarcar no Ajira 316, e quem é que tinha feito aquilo com ele.

No presente, Ben está tentando retornar para a ilha principal para, segundo ele, ser julgado. Para John Locke, Ben diz que precisa ser julgado por ter desobedecido às regras da ilha ao sair e voltar, mas Locke sabe mais do que ele sobre o motivo pelo qual ele quer de fato ser julgado: ele quer ser julgado por ter deixado a filha morrer. É muito fácil culpar Widmore pela morte de Alex, mas a verdade que Ben eventualmente precisa enfrentar é que ele podia ter impedido aquela morte… além disso, Alex morreu o ouvindo dizer que “ela não significava nada para ele”. Não é verdade, porque em todo seu desequilíbrio e sua aparente maldade, Ben realmente amava Alex como uma filha, e “Dead is Dead” é, em grande parte, sobre a relação deles. Agora, será que ele pode ser perdoado por ter deixado que os homens enviados por Widmore matassem sua filha?

O encontro de Ben com o “monstro de fumaça”, no subsolo de um templo, é uma sequência interessante… místico e com um quê de absurdo que funciona muito bem para “Lost”, a cena do julgamento traz o Ben mais vulnerável e mais sincero do que jamais o vimos em toda a história da série, e é justamente aquele sentimento tão real e tão palpável que fazem com que ele seja “perdoado” pelo monstro de fumaça… ou que pelo menos ele tenha a autorização para continuar vivendo. Ben ainda tem um encontro com “Alex” (ou alguém se passando por ela), que “curiosamente” o manda obedecer a todas as ordens de John Locke. E falando de John Locke, ele está convenientemente ausente durante toda a sequência do julgamento: some pouco antes de Ben encontrar o monstro de fumaça, aparece pouco depois de a Alex falsa ter desaparecido. Interessante, não?

 

Para mais postagens de Lost, clique aqui.

 

Comentários