Alice in Borderland 2x03

“Dificuldade: Valete de Copas. Jogo: Confinamento Solitário”

Eu preciso dizer que não gosto muito dessa organização nova de começar um jogo em um episódio e terminar no episódio seguinte… mas entendo que funciona, especialmente como estratégia comercial de uma série cujos episódios foram lançados todos no mesmo dia – o cliffhanger está ali para segurar o espectador para o próximo episódio. Esse terceiro episódio na segunda temporada de “Alice in Borderland”, então, é dividido em duas partes independentes: primeiro, assistimos à solução encontrada pelo grupo para o jogo contra a equipe do Rei de Paus; depois, reencontramos Chishiya enquanto ele participa sozinho de um jogo de confiança, e nos perguntamos, exatamente como nos perguntamos no episódio anterior, como ele vai sair disso.

Gostei bastante do jogo do Rei de Paus, “Osmose”. Havia certa complexidade nas regras, a necessidade do trabalho em equipe, e questionava os jogadores a respeito do quanto eles queriam vencer. Kyuma e os demais eram bons personagens, também, e serviram como adversários à altura para a equipe liderada por Arisu e Usagi. Quando o episódio anterior chegou ao fim, faltavam apenas alguns minutos para que a prova chegasse ao fim e, graças a Usagi, a diferença entre as equipes era de apenas 500 pontos – e Arisu sabia que podia resolver isso com um confronto simples, desde que conseguisse se aproximar de alguém da outra equipe. Não sabíamos como, ainda, mas quando Arisu se aproxima de Kyuma “pedindo um aperto de mãos”, sabíamos que ele estava tramando algo.

A vitória da equipe de Arisu se deve ao sacrifício de Tatta, que quer provar que “ele não é inútil como todos pensam” ou qualquer coisa assim – toda a questão de Niragi acusá-lo de ser o responsável por eles perderem, no entanto, me parece muito injusta, porque ele fez o que podia ao ser atacado na base por quatro adversários! Agora, Tatta convence Arisu a ajudá-lo a quebrar a própria mão e tirar a pulseira, porque não existe nenhuma regra contra retirar a pulseira, e ele está com 10.100 pontos, que somados aos de Arisu podem vencer um confronto… Arisu só precisa levar a pulseira com ele e será como se ele “estivesse jogando em dupla”. Uma artimanha muito simples, mas pela qual o Rei de Paus não está esperando e, portanto, acaba funcionando.

Toda a cena da conversa de Arisu e Kyuma funciona incrivelmente bem – dois bons personagens que, como o próprio Arisu comenta, “poderiam ser amigos, em outra ocasião”. Acreditei na sinceridade de Arisu quando diz que não quer que Kyuma morra, e achei triste e emocionante a maneira como Kyuma e os demais integrantes do seu time aceitam a derrota e, também, a morte, sabendo que jogaram o melhor que podiam ter jogado… também há muita melancolia em todo esse trecho porque a conversa de Arisu e Kyuma leva Arisu a perceber que talvez não exista escapatória daquele lugar, talvez eles estejam jogando em vão e não exista como “voltar para o mundo real”. E se não há como retornar, Arisu não pode deixar de se perguntar por que eles seguem jogando então.

Com o fim desse jogo, o episódio corta para uma segunda parte completamente independente que parece pertencente a outro episódio, e acompanhamos Chishiya entrar em um jogo tenso, no qual o objetivo é descobrir quem é o Valete de Copas. Com colares que a cada rodada indicam um naipe diferente, os participantes são desafiados a, ao fim de cada hora, entrar em uma solitária e anunciarem qual é o naipe que seu colar mostra naquela rodada… quem errar, o colar explode. O jogo continuará indefinidamente até que o Valete de Copas seja descoberto e morto. Assim, o que começa parecendo muito “simples”, com um olhando o colar do outro e contando qual é o naipe mostrado, acaba se tornando um jogo tenso de desconfianças e mentiras no qual não se pode confiar em ninguém.

Talvez o tipo mais perigoso de jogo.

Chishiya sabia exatamente o que estava por acontecer. Depois de uma primeira rodada pacífica, um cara mente para outro durante a segunda rodada e, com a primeira morte, “o jogo começa de verdade”. Toda a ideia é inteligente e intrigante, e “Alice in Borderland” tem muito disso de questionar ou de evidenciar qual é a verdadeira natureza humana… o cara com quem Chishiya está jogando, por exemplo, comenta algo sobre acreditar que “as pessoas eram boas”, mas Chishiya lhe diz que aquilo que está acontecendo na frente dos seus olhos agora é a realidade: é daquele jeito que as pessoas são. Quando as coisas se tornam tensas, dedos são apontados quase que aleatoriamente, não importando quem vai morrer na rodada seguinte, desde que, mais cedo ou mais tarde, o Valete de Copas seja capturado.

Mas sabemos que o Valete de Copas deve ser mais esperto do que eles pensam.

O jogo, então, se divide entre assistir à maneira como as pessoas se portam quando colocadas contra a possibilidade de morrerem, e como as relações de confiança são frágeis, e nós mesmos tentarmos descobrir quem é o Valete de Copas – e as opções vão ficando cada vez mais escassas. Assistimos àquela garota nojenta que lidera o maior grupo do jogo, por exemplo, e nos perguntamos se ela poderia ser quem buscamos, mas eventualmente percebemos que ela apenas tem o caráter duvidoso e é maldosa, mas não é o Valete de Copas… cheguei a desconfiar do parceiro de Chishiya, que é todo bobo e inocente, mas ele acaba morrendo no fim do episódio porque “não quer mais jogar”, então não era ele… e desconfiei daquele que foi o último a entrar no jogo e o primeiro a mandar que o outro mentisse… mas talvez fosse muito óbvio, então acho que pode não ser ele.

Não sei. Vamos ver como Chishiya desvenda isso. Como se salva, agora que está sozinho.

 

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