The Sandman 1x05 – 24/7

Um mundo sem mentiras.

Assistimos a um episódio como “24/7” e somos obrigados, mais uma vez, a comentar como “The Sandman” é UMA OBRA-PRIMA. Brilhantemente conduzido, “24/7” é, certamente, um episódio impecável, “encerrando” a primeira trama de “The Sandman”, já que Sonho dos Perpétuos finalmente consegue reaver sua última ferramenta do poder… quando li a HQ de “Sandman”, a edição da lanchonete 24 horas foi uma edição que me marcou e me aterrorizou – e isso é transposto para a série de uma maneira tão magnífica e cheia de nuances, de forma perfeita: acompanhamos algumas histórias se passando dentro de uma lanchonete, todas bem fundamentadas e desenvolvidas, e o episódio faz uma transição impressionante do que é de “aparência” ao que é mais bruto do instinto humano, brincando com o suspense, o horror e, quem diria, a poesia no final.

Um episódio completo, uma obra de arte!

O episódio começa com a chegada de John Dee, em posse do rubi que outrora pertencera a Sandman, em uma lanchonete 24 horas na qual ele quer “testar” um mundo sem mentiras… um mundo “completamente honesto”. E, com John como observador, vamos aos poucos conhecendo os personagens que povoam esse conto de “The Sandman”: Bette, uma garçonete e escritora que observa os clientes em busca de ideias para um romance que está escrevendo, e que gosta de agradar a todos; Marsh, um cozinheiro de quem Bette quer se aproximar, mas que parece desprezá-la; Judy, uma mulher que espera que a namorada responda às suas ligações ou às suas mensagens depois de uma briga que a deixa amargurada; Mark, um rapaz aparentemente inocente e sonhador que está se preparando para uma entrevista de emprego; e Kate e Garry, um casal com o relacionamento em ruínas.

Uma das coisas mais fascinantes em “The Sandman”, para mim, é a impressão quase “antológica” que a narrativa passa… estamos dentro de um universo amplo e cheio de possibilidades, temos uma narrativa maior sendo o fio condutor dessa trama, mas sempre me gera admiração o fato de termos histórias tão diferentes sendo contadas a cada edição ou a cada episódio, e como a história consegue conceder verdade a personagens que acabamos de conhecer. Bete, Marsh, Judy, Mark, Kate, Garry… todos personagens com histórias reais. Então, acompanhamos a transição de “24/7”, que começa nos apresentando os personagens e as “vidas de aparência” que eles levam, até que John comece o seu “jogo”, comandado pelo rubi, no qual ele retira das pessoas o medo e a mentira… e, aos poucos, todas elas vão se transformando.

A trilha sonora de suspense vai gerando angústia no espectador enquanto nos perguntamos a que ponto isso tudo chegará, a tensão entre os personagens vai crescendo de maneira convincente enquanto as verdades começam a ser ditas, mesmo aquelas que podiam continuar escondidas, talvez… vemos Marsh dispensar Bette e dizer que gosta de transar com o seu filho de 21 anos quando ela o chama para jantar na casa dela, por exemplo; vemos Judy confessar que bateu na namorada durante a briga do dia anterior; vemos Garry se rebelar contra as ordens e o controle excessivo de Kate… e, enquanto John assiste, duplas sedentas por toque e sexo, tomadas por desejo (!) da maneira mais primitiva possível, se formam: Mark e Kate durante a “entrevista de emprego”; Judy e Bette quando as duas desabafam; Garry e Marsh conversando na cozinha…

A construção de “24/7” é inteligentíssima, “transformando” os humanos nas suas versões mais primitivas e movidas pelo instinto animal conforme o medo e a mentira vão embora – e isso está acontecendo em todo lugar, a julgar pelo noticiário na TV. Então, Garry ataca Mark por ter transado com Kate e Mark, supostamente para se defender, mata Garry, e tudo vai se tornando cada vez mais horrível e sangrento conforme os ataques se intensificam e todos se voltam contra John, como se a culpa fosse dele… e é, parcialmente, mas não 100%, e é muito mais difícil olhar para si mesmo e reconhecer o que havia enterrado em algum lugar dentro de si, não? Então, melancólico e brutal, “24/7” é tomado por mutilações, sofrimento e mortes… o mundo que John criou, o mundo “honesto” com o qual ele sempre sonhou… e o único que pode detê-lo agora é o Sonho.

Interessantíssima a sequência de Judy, Bette e Kate se tornando representações das Graças, falando com John sobre o seu futuro, prenunciando a chegada de Sonho – e então Sonho e John começam a se enfrentar pela posse do rubi. Adoro como “The Sandman” mantém os toques poéticos e reflexivos que sempre foram tão marcantes na HQ de Neil Gaiman, e “24/7” novamente nos faz pensar muito quando Sonho confronta a decisão de John, e o faz ver que o mundo como existia antes não era tão imperfeito quanto ele acredita, e que aquela matança não é, necessariamente, “a verdade da humanidade”, porque nem tudo eram mentiras… algumas coisas eram sonhos, e sonhos movem a humanidade; a partir do momento que se rouba os sonhos e as esperanças das pessoas, aí sim aquele cenário se torna, como John chama, “a verdade da humanidade”.

Intenso e belo!

Sendo o desafiante dessa vez, Sandman leva John Dee para o Sonhar – onde eles “duelam”, e onde John pretende derrotá-lo, ficar com o rubi e assumir aquele reino… o que, é claro, ele não tem o poder de fazer e, quando ele tenta destruir o rubi, acreditando que isso também destruirá Sonho, ele libera toda a energia que estava contida dentro dele, e então vemos o Sonho maior e mais poderoso do que jamais o vimos desde o início de “The Sandman”: e aquela cena do Sonho gigante com o John na palma da sua mão foi algo que me marcou muito na leitura da HQ, e que ficou novamente impactante agora, na adaptação. Todas as ferramentas de poder de Sandman foram recuperadas com sucesso e, “amanhã”, o mundo e o Sonhar poderão recomeçar a sua construção… me preparando, agora, para a adaptação de “O Som de Suas Asas”, que é uma edição perfeita.

Mal posso esperar pelo episódio!

 

Para mais postagens de “The Sandman”, clique aqui.

 

Comentários