Todas as Flores – Jéssica vai para a Fazenda

The Promised Neverland

Certamente, A PARTE MAIS DRAMÁTICA DA NOVELA – mas boas novelas são ricas em drama, e eu estou bem curioso para saber as proporções que essa parte da trama de “Todas as Flores” vai ganhar. Já começamos a entender como a trama da família de Diego vai se conectar à trama principal (graças à “Fazenda” e ao tráfico humano e trabalho escravo comandado por Zoé), e me parece que tanto a Jéssica na Fazenda quanto o Diego saindo da cadeia e buscando vingança serão partes interessantíssimas de “Todas as Flores” que poderão roubar os holofotes… embora, é claro, falando em “roubar os holofotes”, Mauritânia está vindo aí e ela não está para brincadeira! Enquanto Diego continua preso e com pouca esperança de sair, a não ser com um acordo com Samsa, os irmãos passam fome na rua.

Infelizmente, toda a história da família de Diego é cheia de sofrimento, e as coisas ainda vão piorar. Os sentimentos são bem confusos enquanto assistimos, porque eu realmente admiro a Jéssica por ser desconfiada e por fazer perguntas quando alguém aparece “oferecendo teto e comida” do nada, e eu queria que ela fosse ainda mais forte do que é e conseguisse perceber o quanto tudo aquilo era crescentemente estranho, mas parte de mim entende que ela estava em uma situação tão desesperadora que a razão perde força frente à situação, e ela acaba caindo em um golpe. Com a mãe doente no hospital, o irmão preso, o irmão de 5 anos passando fome e frio na rua e toda a responsabilidade colocada sobre ela, acredito que as coisas saem mesmo de foco.

Jéssica não é tão inocente quanto mocinhas que nos irritam. Ela faz perguntas ao Galo quando ele aparece cheio de ofertas, duvida que ele seja mesmo de uma fundação, “porque nem está usando uniforme”, e o dispensa dizendo que eles não têm interesse no que ele está oferecendo, mas Biel, mais inocente que a irmã, acaba saindo correndo atrás do homem e aceitando comida e coberta. As cenas são particularmente cruéis porque são a representação de uma realidade dura e nos convida a entender a maneira como Jéssica vai aos poucos perdendo a força: ela chega brava com o irmão, manda ele largar a comida, mas ela também está morrendo de fome e não tem forças para dizer não quando Galo lhe entrega uma marmita cheia e a cobre com um casaco.

Ela está com fome.

Gosto de acreditar que Jéssica teria sido cética e resistido até o fim, se estivesse sozinha. Mas ver o Biel sofrer de fome e frio, e ouvi-lo dizer “Jéssica, eu quero ir”, quando ele acredita nas mentiras do Galo, fizeram com que ela balançasse. Galo fala sobre uma fundação, um lugar que ele descreve como “legal, divertido e cheio de comida”. É difícil acreditar, desde o começo, mas Biel quer acreditar, e ele e Jéssica acabam em um ônibus cheios de crianças exploradas, que trabalham pedindo dinheiro no semáforo durante o dia e o entregam todo para Galo no final… mas as coisas ainda vão piorar. Enquanto Jéssica começa a desconfiar, Galo a ilude falando sobre uma “fazenda-escola”, um lugar para onde ela pode ir, aprender a fazer artesanato, ganhar dinheiro e escolher uma profissão na qual se formar…

O tempo todo, Jéssica tem uma série de perguntas, motivadas pelo seu ceticismo e pela sua desconfiança, mas ela vai participando do “processo” que envolve uma entrevista cheia de perguntas estranhas e promessas ilusórias, e tem uma última chance de escapar, depois de ter sido “aprovada”, quando ela diz que está preocupada com Biel e que não quer ir para lugar nenhum sem falar com a mãe antes… e, infelizmente, aqui acontece um desencontro que deixa Jéssica ainda mais desesperançada. Preocupada com os filhos, a mãe foge do hospital, e se desespera quando chega à esquina na qual os deixou e eles não estão lá, e Jéssica fica igualmente preocupada quando chega ao hospital e encontra a cama em que a mãe estivera vazia.

É um desespero mútuo.

Queria muito que Jéssica tivesse decidido, então, ir visitar o Diego na cadeia… talvez ele pudesse ter dito para ela que ela não podia aceitar essas propostas milagrosas e que estava prestes a ser enganada como ele foi, mas Jéssica não faz isso. Pelo contrário, ela retorna para dizer que “topa ir para a fundação”. Ela tem umas últimas perguntas, a respeito de como vai mandar o dinheiro que ganhar para a família e como vai falar com a mãe e com o irmão, e eles mentem algumas últimas vezes antes de colocá-la em uma van e mandá-la para o inferno… pouquíssimo depois (por pouco Jéssica não se salva), a mãe reencontra Biel, que conta para ela que “a Jéssica foi aprovada e foi para a fundação”, algo que o Galo nega completamente quando ele é confrontado.

É revoltante e assustador – e eu gostaria de me permitir alguma esperança quando Mendonça, o investigador que Guiomar colocou para averiguar toda a história do envolvimento de Zoé com tráfico humano e trabalho escravo, chega até a mulher e o garoto, mas me parece cedo demais na novela para que isso comece a se resolver… de qualquer jeito, por aquela noite, Mendonça coloca os dois em um quarto de hotel, traz comida para eles, e eles também agem com desconfiança, como Jéssica agira com Galo, mas não querem negar comida. E Mendonça parece mais sincero, porque suas promessas não são tão utópicas: ele diz que quer ajudá-los, sim, mas ele também quer a ajuda deles para encontrar e derrubar a gangue que levou a sua filha. Infelizmente, Galo está por perto…

E isso quer dizer que logo Zoé fica sabendo de tudo.

A chegada de Jéssica à Fazenda é SINISTRA (“Sejam bem-vindos à nossa Fazenda. Vocês foram selecionados para o projeto social da nossa fundação”), em um cenário que me remete muito a “The Promised Neverland” (inclusive toda a questão de crianças em uma fazenda que não é o que diz ser e tudo o mais), e cenas e discursos que me fazem pensar em distopias famosas. A trama é promissora, mas também macabra e tende a entregar bastante sofrimento e nos causar asco e revolta. Jéssica até percebe o quanto tudo ali é bizarro (o lugar, os caras armados, a separação dos grupos, o exame médico, os uniformes…), mas é tarde demais para escapar. Essa é uma organização imensa, e destruí-la não vai ser nada fácil. Deve ser uma parte grande da novela.

Enquanto isso, Diego continua preso – preocupado com os irmãos e não vendo outra alternativa a não ser aceitar o acordo de Samsa: ele precisa sair daquele lugar. Ironicamente, em paralelo a uma cena fortíssima (toda a entrega de Nicolas Prattes a esse papel é exuberante!) em que Diego surta na cadeia e grita “EU VOU MATAR VOCÊS!”, assistimos à preocupação da esposa de Luis Felipe com o fato de que Diego foi transferido para o mesmo presídio de pessoas como o Samsa, e ela se preocupa que “ele pode virar um criminoso de verdade”. Mesmo sem que Diego perceba, isso está em andamento já… Samsa traz um advogado que vai tirá-lo de lá em breve, mas ele constantemente o lembra: ele vai ter que mudar de vida quando sair dali. Diego vai ter que virar outra pessoa…

E fazer coisas que jamais faria.

Essa trama PROMETE!

 

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