Inception – A Origem


Intrigante.
A Origem é um dos meus filmes favoritos de todos os tempos, uma inteligente ficção científica sobre a qual discussões infindáveis se instalam na internet. Pode ter se passado quase quatro anos desde o lançamento, mas até hoje as pessoas ainda assistem, buscam informações nos menores detalhes possíveis, e debatem suas teorias com base em toda e qualquer evidência encontrada para sustentar sua crença. Um bom filme é assim – atemporal, que te permite questionamentos, discussões, que exige a opinião de quem assiste e sempre o desafio a questionamentos.
O que é sonho e o que é realidade? Inception parte de um princípio interessantíssimo no qual é possível invadir o subconsciente de uma pessoa enquanto ela dorme para roubar informações preciosas. A teoria é bastante simples: projeta-se um sonho no qual constrói-se uma fortaleza – a pessoa tenderá a esconder suas informações lá, que é justamente onde o ladrão saqueará para conseguir as informações. Mas Dom faz isso de uma maneira curiosa e inovadora, mesclando diferentes níveis de sonho, e recebe uma proposta bastante complicada: inserir uma idéia em uma mente.
A própria natureza do sonho é constantemente questionada e explorada, e eu amo todas as teorias levantadas para explicá-la – o sonho como um lugar no qual tudo é capaz, no qual o tempo passa mais lentamente; e que pode muito bem ser confundido com a realidade. Também há a clara definição que afirma: nunca lembramos o início de um sonho, só nos damos conta que estamos sonhando quando já estamos no meio dele. E, claro, o fato de não percebermos a estranheza de um sonho quando estamos nele, fazendo isso apenas quando acordamos. Curioso, não?
É desse modo que o plano é todo meticulosamente pensado com uma equipe competente e uma série de três níveis de sonhos – um sedativo forte e uma série de chutes, 10 horas na “realidade”, 1 semana no primeiro nível (da van), 2 meses no segundo nível (do hotel) e 10 anos no terceiro nível (da neve). Mas como isso não era nada, ainda temos uma pequena visita ao Limbo, que desempenha um papel importantíssimo na trama. É interessante e inteligente ver a maneira como o roteiro mescla isso tudo, e o tempo todo faz interferências como o motivo de estar chovendo no primeiro sonho ou a falta de gravidade no segundo.
Um roteiro complexo guia Inception, mas é idéia é bastante simples: o questionamento da realidade. Parece algo digno de Philip K. Dick, com seus questionamentos sobre o que é real e o que não é. Quando terminamos de ver A Origem pela primeira vez, estamos extasiados e surpresos demais para ponderar. Depois disso você assistirá uma infinidade de outras vezes, sempre buscando diferentes informações. E é isso o mais legal do filme: a maneira como ele te possibilita a pesquisa e a formulação de teorias, podendo passar horas pensando ou discutindo sobre o filme com colegas.
Além de toda a discussão de uma “idéia” plantada na mente de alguém, que pode crescer e te definir. Uma idéia, como a de que o seu mundo não é real, pode te mudar e te destruir – e foi o que Dom aparentemente fez com a esposa, fazendo-a acreditar que seu mundo não era real apenas porque tinha falado que o Limbo não era real. E na verdade, o que era real nisso tudo? Para o tempo que Mal e Cobb passaram no Limbo, será que o próprio Limbo não se tornou, de fato, a realidade deles? Eles passaram lá muito mais tempo do que aqui, como seria acordar de volta aqui depois de todo esse tempo?
Mas se eu estava falando sobre teorias e sobre a maneira diferente com a qual assistimos a cada vez, hoje eu quero comentar sobre o totem. O totem oficial de Cobb é o peão, que nunca pára de girar caso ele esteja em um sonho – há uma série de questionamentos para essa teoria, uma vez que ninguém deve tocar o totem alheio, e esse totem era de Mal. O que já meio que destrói todos os conceitos. Mas também há o fato de a última vez antes do fim de ele ter girado o totem, ter sido há tanto tempo que foi antes mesmo de eles começarem a viajar pelas camadas de sonho…
Então não saberíamos o que é realidade e o que não é, e para mim esse final certamente não me parece com a realidade. Um dos meus motivos mais fortes é pura intuição, apenas o fato de ver essas crianças brincando no final e não concordar com o fato de eles se parecerem tanto com a última vez em que Cobb os viu. Eles parecem não ter mudado nada, nem mesmo as roupas. E não sabemos exatamente quanto tempo ele estava fora… a morte de Mal é tão recente assim? Ainda há uma série de pessoas sempre o perseguindo, e mais da metade do filme é construído nos moldes de um sonho: sem um início para as cenas.
Mas eu já escrevi sobre isso para o blog mais de uma vez, com uma série de argumentos que eu usava para defender essa teoria na época, além de ter escrito um ensaio para a faculdade sobre o tema no último ano. Acho que estou cansando-me de escrever sobre isso. Não, dessa vez eu vi o filme sobre outra perspectiva: avaliando a teoria que diz que seu totem não é o peão, mas sim a aliança – ele não a usa no que seria o mundo real. Eu acho que a teoria faz realmente muito sentido e explicaria muita coisa (embora perderia a magia do questionamento), mas minha objeção é: a definição de totem é aquele objeto que você usa e só você conhece para saber se está sonhando ou não. [Coloco 15 aspas aqui, mas já retorno a isso] E o fato de o próprio Cobb não ver sua aliança como tal (ele nunca a consulta para saber se o mundo é “real” ou não, ele consulta o peão) já acaba com toda a teoria de esse ser seu totem.
Parece muito mais o nosso totem.
No entanto, realmente percebemos uma profunda variação entre os momentos em que ele usa aliança e os momentos em que não a usa – mas vários momentos também são muito confusos, e o filme parece interessado em deixar isso como dúvida. Como no começo, no falso apartamento de Saito; o suposto sonho não nos permite ver a mão de Dom para confirmarmos a teoria se ele estava ou não de aliança. E embora em muitos momentos constatemos essa variação, em muitas mais momentos a câmera inteligentemente não nos mostra as mãos de Cobb, ou então astutamente ele está com a mão no bolso, e APENAS a mão esquerda.
Uhm.
Isso eu já escrevi diversas vezes, mas eu sempre gosto de ressaltar: o filme trabalha em cima da Inception propriamente dita fazendo isso conosco de maneira muito grande. Em nenhum momento se diz no filme que o totem serve para sabermos se estamos sonhando ou não. O que se diz é que o totem serve para sabermos que não estamos no sonho de outras pessoas. E quanto aos nossos próprios sonhos? O filme nos induz ao pensamento de que o totem prova o que é sonho e o que é realidade, mas na verdade isso nunca chega realmente a ser dito.
De qualquer maneira, como vocês podem perceber, Inception – A Origem é um interessante filme de ficção científica dos mais inteligentes que eu conheço, capaz de gerar uma série de diferentes discussões que certamente duram muito tempo, e que são sempre maravilhosas de se ter. Questionamos realidade, mas também nos admiramos com essa ótima idéia que o filme apresenta, que desde a primeira vez em que vi no cinema me deixou abismado, com um desejo imenso de poder estar no lugar deles e vivenciar isso, ao menos uma vez. Ótimo filme!

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