Na Batida do Coração (Into the Beat, 2020)

“I just wanna be me”

Como eu adoro um filme de dança! “Into the Beat”, filme alemão da Netflix, conta a história de Katya Orlow, uma garota que vem de uma família respeitada no ballet, mas que acaba descobrindo o hip-hop e a dança de rua e se apaixonando por isso. É um filme divertido, romântico, com ótimas sequências de dança e, é claro, bastante drama – Katya precisará tomar uma decisão em relação ao seu futuro na dança, mas, mesmo com a decisão tomada, convencer o seu pai de que é a dança de rua com Marlon que a faz feliz não vai ser fácil… especialmente tendo em vista a maneira como Victor Orlow a chama de e a anuncia aos quatro ventos como “a sua substituta”; quando Victor sofre um acidente durante uma apresentação de ballet e fica sem poder dançar, percebemos que essa pressão sobre Katya vai ficar mais intensa do que nunca.

Gosto do cenário que é construído para a história, e de todo o panorama familiar que não é novidade, mas que sempre funciona porque é bastante real – ainda mais quando Victor não pode continuar dançando ele mesmo, então existe aquela coisa de “se realizar através do outro”… quantos pais e mães não fazem isso na vida real, ao impor um “sonho” ao filho como se o sonho fosse do filho e não deles? Katya perdeu a mãe há poucos anos, agora está tendo que lidar com o acidente do pai e sua nova realidade justo a apenas algumas semanas de um teste importante para a Academia de Ballet de Nova York, e tudo parece demais para ela… é quando a sua bicicleta estraga no meio da rua e ela acaba sendo ajudada por um grupo de dançarinos de rua que se voluntariam para consertar a sua bicicleta, e que lhe mostram um novo mundo.

Katya se encanta depressa pelo hip-hop. Acho que tem muito a ver com a pressão que ela enfrenta no ballet (seja da professora, das colegas, do pai, do sobrenome que carrega…), e como as coisas ali naquele novo espaço parecem livres, parecem fazer as pessoas felizes. Adorei ver Katya sendo convidada para uma aula despretensiosa nesse espaço de dança de rua quando ela vai buscar a sua bicicleta no dia seguinte, e como ela tanto se diverte (acho que é a primeira vez que a vemos rir de verdade) quanto demonstra talento que ainda precisa ser trabalhado, mas que existe. Então, ela acaba se interessando cada vez mais pelo hip-hop, pesquisando coreografias na internet, ensaiando sozinha em casa, enquanto o pai continua colocando toda a pressão em relação ao teste para a Academia de Ballet de Nova York… e ela continua participando das aulas.

O protagonista do filme ao lado de Katya é Marlon, um dançarino de hip-hop talentoso e já bastante conceituado naquele espaço… adoro como eles começam a se aproximar com direito a provocações e desafios, mas como eles constroem algo bacana juntos, enquanto ele lhe dá “aulas” para ensiná-la a trazer a dança de sua alma para fora: não algo coreografado, não algo que ela esteja copiando de outra pessoa, mas algo que ela esteja criando por si mesma, algo que represente o que ela está sentindo e o que ela quer dançar. É uma delícia acompanhar as danças de Katya, a Estrela, e Marlon, o Alien, e uma das melhores sequências do filme é quando Katya se divide entre as suas aulas de hip-hop com Marlon e suas aulas de ballet com Frau Rosebloom e, enquanto está sozinha em casa, os ritmos meio que se misturam… que delícia assisti-la dançando!

A relação de Katya e Marlon é bem construída, gosto de como eles se aproximam, gosto de como ele eventualmente se abre com ela sobre a sua realidade, gosto de como um desperta o melhor no outro, e de como ela dança com todo o coração quando eles invadem um barco e começam a ser perseguidos, por exemplo… é ali, no hip-hop, que Katya realmente se realiza. E ela tem a chance de seguir isso no futuro quando os Tigers, um importante grupo de dança de rua famoso internacionalmente, anunciam audições para duas vagas no grupo, e Marlon a convida a se inscrever com ele, e os dois ensaiam uma coreografia lindíssima… e é tudo o que ela queria, tudo o que a faz feliz. Quando ela descobre que precisa da autorização do pai para participar das audições, no entanto, ela percebe que talvez ela não tenha a oportunidade de participar no fim das contas.

Aproveito para falar sobre algumas sequências de dança que me encantaram no filme… temos momentos muito bons durante o filme, como a já mencionada sequência quando Katya se divide entre o hip-hop e o ballet ou quando Katya e Marlon estão ensaiando a coreografia deles para o teste dos Tigers, mas temos outros momentos incríveis, como aquela sequência do metrô, que é uma das minhas favoritas no filme! E, na reta final, quando as coisas dão muito errado, tanto Katya quanto Marlon, em lugares diferentes, compartilham uma versão raivosa da coreografia deles, extravasando toda a dor e a angústia que estão sentindo, e aquilo é intenso, quase selvagem, e é a representação perfeita de como Katya está usando a dança para mostrar o que está sentindo por dentro… me fez pensar um pouco naquela (incrível) cena do Billy Elliot com raiva.

O filme é clichê? Sim, mas eu adoro um bom clichê. Adoro um romance, adoro uma dança, adoro um pai finalmente entendendo a filha e aceitando suas escolhas e suas paixões. Não é fácil para o grande Victor Orlow aceitar que sua filha não quer seguir uma carreira no ballet, mas quando ela não aparece no teste para a Academia de Ballet de Nova York e pede que ele assine a autorização para o teste dos Tigers, ele acaba se resignando, a contragosto, e assinando… mas ela o convida para ir assisti-la, e deixa o endereço da apresentação, e ele acaba chegando a tempo de assisti-la, e é uma cena emocionante. Adorei ver a alegria de Katya ao ver o pai e o irmão e como isso a deu um novo gás; adorei ver a surpresa e o orgulho nascendo nos olhos de Victor; e, é claro, adorei assistir à apresentação totalmente entregue de Katya e Marlon que garante a eles duas vagas nos Tigers.

Um bom filme, gostei bastante!

 

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