“Você não tá sozinha!”
Desde que
contou para Narizinho e Emília sobre Marcela, Cléo avisara que, se a madrasta
aparecesse por ali, ela fugiria novamente – mas não voltaria a morar com ela de
jeito nenhum. Quando a Marcela realmente
aparece no Sítio do Picapau Amarelo, então, o que não demora muito para
acontecer, Cléo precisa pensar rapidamente no que fazer, enquanto suporta
aquele teatro insuportável da madrasta que a abraça, a chama de “Cleozinha” e
fala sobre o quanto ela tem sofrido, sem dormir e sem comer… Dona Benta
percebe, então, que as suas suspeitas estavam corretas e que Cléo tinha mesmo fugido de casa sem a autorização
de Marcela, e é claro que ela fica chateada. Ao mesmo tempo, Dona Benta é uma
mulher muito sábia e muito justa, e eu adoro a maneira como ela vai se portar
em toda essa trama, sendo importantíssima na ajuda à Cléo.
Enquanto
Emília fala com Narizinho e Cléo sobre tudo
o que pensa em fazer com a Marcela (“Aquela
mortadela estragada tem cara de bagre ensaboado”), Dona Benta entra no
quarto das meninas acompanhada da madrasta de Cléo, e Marcela não quer perder
tempo: ela quer levar Cléo embora
imediatamente, mas Cléo protesta, diz que não vai embora com ela, e como as
coisas ficam tensas, Dona Benta intervém, dizendo que elas podem dormir ali
mais aquela noite e resolver calmamente no dia seguinte o que fazer. Então,
Cléo tem apenas aquela noite para escapar,
e ela tem as crianças ao seu lado… Pedrinho, Narizinho e Emília não gostam
muito de desobedecer a Dona Benta, mas eles sabem que Cléo vai tentar fugir com
ou sem a ajuda deles, então preferem que seja com. Emília, então, arma todo um plano e já começa a colocá-lo em ação.
Como no
Sítio do Picapau Amarelo um chá forte de cidreira parece ser capaz de derrubar uma pessoa como um sonífero,
Emília pede que Tia Nastácia prepare um chá fortíssimo, e dá a desculpa de que
o chá é para a Cléo, porque ela está muito nervosa e não vai conseguir dormir
naquela noite… Tia Nastácia aproveita para comentar que “achou aquela Dona
Marcela muito da falsa”, e diz que ela “não é flor que se cheire não”. Talvez as crianças tenham em Tia Nastácia
uma aliada futuramente? De qualquer maneira, Emília chega ao quarto com o
chazinho preparado pela Tia Nastácia, fingindo que é para Cléo, porque ela sabe
que assim a Marcela vai querer o chá para ela e não vai desconfiar de nada.
Então, não demora para que Marcela caia no sono, e Cléo é acompanhada pelas
crianças até a sala, onde ela recebe mantimentos, instruções e abraços.
O problema é
que, sozinha à noite, Cléo corre muito perigo… e é picada por uma cobra.
Na hora em
que Cléo sai sozinha do Sítio, João da Luz desperta lá na sua casinha na
árvore, gritando “Cuidado, menina!”,
e então se repreende por estar sonhando “com aquela patricinha”. Como acordou
de qualquer maneira, e ele está sempre
com fome, ele resolve sair para procurar comida, e então ele escuta Cléo
gritar por socorro. João reconhece a voz da garota com quem estava sonhando há
alguns minutos e corre para ajudá-la, mas ela já está desmaiada quando ele a
encontra – “Calma, garota, eu vou cuidar
de você, você não tá sozinha. Eu já sei onde eu vou te levar, é mais perto do
que o Arraial”. Então, João da Luz leva a Cléo desmaiada de volta para o
Sítio de Dona Benta, a deita num banco da varanda e grita “Oh de casa!” até que alguém acorde para poder encontrar a garota
ferida… e conforme todos acordam e as luzes se acendem, João percebe que pode ir
embora.
Antes, no
entanto, ele segura sua mão, preocupado.
É bem fofo!
O estado de
Cléo, no entanto, não é dos melhores… ela não está bem e precisa de um médico (“Peraí, Visconde… você tá dizendo que a Cléo
vai morrer?”), e Dona Benta liga rapidamente para o Dr. Madeira, para que
ele possa vir vê-la. Emília está chorando, todos estão preocupados, mas
felizmente o Dr. Madeira consegue dar o soro a Cléo a tempo, e garante que ela
vai ficar bem, mas precisa de repouso. Quando todo o susto finalmente passa, Dona
Benta pergunta para Cléo o que ela estava fazendo sozinha na mata a uma hora
dessas, e, sincera, Cléo responde que ia
fugir da Marcela… ao invés de repreendê-la, Dona Benta escolhe ouvi-la, o
que é lindo da parte dela; ela pede que as crianças saiam e voltem para os seus
quartos porque precisa conversar com a Cléo, e ela tem uma cena linda
conversando com a Cléo, porque ela se mostra totalmente disposta a ouvir.
Sem
acusação, sem bronca… ela só quer entender o
que está acontecendo.
Cléo, então,
conta para Dona Benta que Marcela a detesta, e Dona Benta tenta dizer que
Marcela também se viu em uma situação complicada, porque ficou sozinha com ela
quando o pai dela morreu, mas deve estar tentando o seu melhor, ou então não
teria vindo até ali para procurá-la, mas Cléo explica que ela só veio atrás
dela porque quer continuar a explorando, e então fala do quanto ela está
exausta de trabalhar – adorei que Cléo foi extremamente honesta com a Dona
Benta, porque isso joga muito a seu favor e pode lhe dar mais tempo de
segurança no Sítio do Picapau Amarelo! No fim, Cléo chora ao falar das cartas
que trocava com a Narizinho e sobre como imaginava que o Sítio era um lugar
onde ela pudesse correr e ter amigos, “coisas que todo mundo faz, menos ela”.
Dona Benta é um amor, extremamente carinhosa, e permite que ela chore, mas a
abraça.
É desesperador para Dona Benta, coração de
vó machucado.
Foi por isso
que Cléo foi para lá… por isso fugiu de Marcela, e ela pede desculpas a Dona
Benta, dizendo que não queria colocá-la nessa situação, e Dona Benta segue a
abraçando e diz que não é para ela pensar nisso – QUE AVÓ MARAVILHOSA! Dona
Benta é acolhedora DEMAIS, e a Cléo solta um doloroso: “Sabia que é a primeira vez que eu recebo um abraço desde que o meu pai
morreu?” Gosto da escrita para Dona Benta em 2005, gosto de como ela ganha
camadas, seja como amiga da Tia Nastácia ou do Coronel Teodorico, ou como avó…
gosto de como ela é sensata, de como ela é carinhosa, de como sabe ser dura,
mas na medida certa. É uma fase incrível para a personagem, certamente! Mais
tarde, Dona Benta também conversa com Narizinho, Pedrinho e Emília, e diz que não acredita que a Marcela seja tão má
quanto eles falam, mas ela não ignora tudo o que ouviu…
E vai
conversar com a Marcela!
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