O Diário de Daniela – Pepe descobre que Gustavo bate em Martín

Por causa do dinheiro da bateria…

Às vezes eu me pergunto se Martín não é secretamente mais protagonista de “O Diário de Daniela” do que a própria Daniela – a sua trama é uma das melhores escritas e desenvolvidas ao longo da novela, e ao mesmo tempo em que é forte e, quiçá, traumatizante para as crianças, é um tema sério que precisa ser levantado, mostrado e discutido. Martín mora com a mãe, Rita, que está em seu segundo casamento, e Gustavo, o padrasto, o maltrata psicológica e fisicamente – e não é raro que Martín tenha hematomas espalhados pelo corpo. A única pessoa com quem ele se abre sobre o assunto é Daniela, que diz que ele precisava contar para algum adulto, mas ele não quer. Ele teme contar para a mãe, porque não quer que ela sofra por se separar novamente, e não quer contar ao pai porque sabe que ele virá conversar com Rita, e então dará no mesmo.

Felizmente, no entanto, as coisas caminham depressa, porque é ANGUSTIANTE ficar vendo o Martín sofrer nas mãos de Gustavo! Até porque ele TEM UM PAI, e o Pepe é um paizão, que só não passa mais tempo com o filho porque Gustavo e Rita não deixam. Ele prova repetidas vezes, como em cenas sobre as quais eu já comentei, quando Martín conta para o pai que gosta de Daniela, por exemplo, e lhe pede conselhos, e quando faz um sacrifício danado para que possa comprar-lhe uma bateria, e então Gustavo rouba o dinheiro do garoto enquanto ele dorme e, descaradamente, manda pintar o seu carro. Assim como Pepe é um bom pai, Martín é um bom filho, e me partiu o coração vê-lo lamentar o roubo com a mãe: “Não me dó tanto ficar sem a bateria, mamãe. O que me dói é que o meu pai trabalhou muito pra conseguir esse dinheiro, agora como eu vou dizer que me roubaram?”

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Mas, devido a toda essa história da bateria, Pepe descobre os maus-tratos que o filho está sofrendo na casa da ex-esposa. Corajosa ou estupidamente, Martín enfrenta Gustavo sobre o dinheiro que o pai lhe dera para comprar a bateria, dizendo que sabe que foi ele que o roubou, e então não dá outra: GUSTAVO BATE EM MARTÍN, e é um momento muito forte. Depois de apanhar novamente de Gustavo, Martín foge de casa e espera por Pepe na porta da casa do pai, embora não lhe diga nada do que aconteceu – ele só quer passar a noite ali, em um lugar onde se sente seguro. E quando Pepe o abraça, ele sente dores por todo o corpo, onde acabou de apanhar. Pepe, recebendo o filho em casa, liga para Rita para avisar que ele está ali, para que ela não fique preocupada, e coloca Martín contra a parede: ele não é de sair de casa sem avisar, então aconteceu alguma coisa.

Martín continua sem contar a verdade.

Tudo não passa, no entanto, da manhã seguinte. Antes de saírem para o teatro, durante o café-da-manhã, Pepe pede que o filho tome um banho e, ao ajudar-lhe a tirar a camisa, VÊ TODOS OS HEMATOMAS. Martín tenta dizer que “caiu da escada”, mas Pepe não é burro, sabe que ele apanhou, e por isso vai, furioso, até a casa de Rita para dizer-lhe o que aconteceu – e ela recebe a notícia com negação! Gustavo, então, chega gritando (como se tivesse moral!), e embora não seja a favor de violência, Pepe faz o que eu acho que qualquer um teria feito no seu lugar: METE A MÃO NA CARA DE GUSTAVO. Ele bate em Gustavo até que ele sangre, e Gustavo não revida… Pepe vai embora, depois, mas diz que se Gustavo voltar a encostar no seu filho, “ele o mata”. Ainda em negação, Rita cuida do marido, sem nem desconfiar dos motivos que fazem com que Gustavo não ligue para a polícia!

Acho que um sofrimento ainda maior do que ver Martín apanhar, chorar sozinho com dor ou se refugiar na casa do pai, é vê-lo mentir para a mãe, dizendo que “Gustavo não bate nele”, e ela acredita, porque não quer ver o que realmente está acontecendo. Depois de mentir para a mãe, Martín passa a noite sozinho no quarto, chorando em sua cama, em uma cena que não precisa de nenhuma fala, porque visualmente ela é pungente e terrível. Daniela repreende o amigo por não ter contado a verdade para a mãe. Para tentar alegrar um pouco o filho, Pepe tem uma atitude um pouco racional, talvez, mas totalmente BONITA, e são esses pequenos momentos que fazem com que eu ame ainda mais o personagem: ele vende o próprio carro para que possa comprar para Martín a bateria com a qual o filho tanto sonha… a cena me emociona.

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