Me Chame Pelo Seu Nome (André Aciman)



“Você vê a pessoa, mas não a enxerga de verdade, ela simplesmente está por ali. E você fica lutando para aceitar algo que, sem que você soubesse, vinha ganhando forma bem debaixo do seu nariz, trazendo consigo todos os sintomas daquilo que só pode ser chamado de desejo. Como eu não percebi? Sei reconhecer o desejo. Desta vez, no entanto, tinha passado completamente despercebido. Tudo o que eu queria era pele, apenas pele”

QUE RELATO BELO, PROFUNDO E DOLOROSO. E é engraçado como muitas vezes nossas vidas e as histórias que vivemos são mesmo assim… por que pessoas fomos marcadas, quantas pessoas fizeram a diferença em nossas vidas, de todas as maneiras possíveis, e depois deixaram de “existir” fisicamente para serem apenas uma intensa lembrança? O livro me emocionou, me excitou (!) e, eventualmente, me machucou – tudo é incrivelmente intenso durante a leitura de “Me Chame Pelo Seu Nome”. Queremos acompanhar Elio e Oliver, queremos ser Elio e Oliver, e por vezes queremos ser alguém que “conserta” as coisas para eles… mas a finitude de tudo é o que deixa tudo ainda mais intenso, e é o que faz com que esse “romance de verão” signifique tanto para ambos… mesmo depois de 9 anos. De 13 ou 15 anos. Mesmo depois de 20 anos, eventualmente.
Ainda significa.
O autor é profundamente astuto e perspicaz em sua narrativa… contando a história do ponto de vista de Elio, Oliver é um mistério tão grande para nós quanto é para Elio durante grande parte da história – até que enfim possamos começar a conhecê-lo. E quando isso acontece, tenho a sensação de desespero que deve ser a sensação de Elio, porque parece que não haverá tempo para “conhecê-lo” como eu gostaria. Elio não é um narrador confiável… influenciado pela paixão e pelo desejo, mas também pelo medo e a insegurança, a primeira parte do livro nos convence de que Oliver é distante, talvez até “rude”, e nos apavoramos com sua versão “de calção vermelho”. Ao lado de Elio, sentimos tudo o que ele sente… o desejo profundo por Oliver deitado toda manhã no “paraíso”, ao lado da piscina, e tudo o que vem depois disso.
Mas eventualmente nos “desligamos” de Elio. Passei a entendê-lo, mas passei a me distanciar dele, vendo Oliver com olhos que, talvez, ele não conseguisse ver – vendo Oliver através das coisas que Elio compartilhava conosco, mas nas quais não focava… aquilo que estava nas entrelinhas e ele fingia não ver. Ou realmente “não via”, porque doeria mais. Achei que eu estaria perdidamente apaixonado por Elio ao fim do livro, e não estou. Estou apaixonado pelo sentimento, estou apaixonado pela história dolorosa, mas Oliver é muito mais apaixonante do que o Elio, no fim das contas… e não apenas de um modo “sexual”. Também, naturalmente – afinal de contas, ele é um tesão e as noites quentes podem ser bem descritivas, mas não apenas isso. Existe tanto sentimento e tanta verdade em Oliver que é impossível negá-lo. Ainda que ele meio que me “decepcione” no final.
Durante muito tempo – e me apavorava virar e virar páginas e pensar na quantidade de tempo de suas limitadas seis semanas juntos Elio e Oliver estavam perdendo –, Elio desejou Oliver. Ele o observou, ele tentou ler suas reações, seus olhares, seus toques… como quando Oliver lhe tocou os ombros tensos e Elio pareceu derreter. Elio categorizou Oliver por cores de calções, e tivemos momentos distantes mesclados a momentos em que Oliver estava tão próximo que parecia real. Mas sempre havia aquele inevitável “Se não depois, quando?”, que é o mote da primeira parte do livro… e ainda me pesa pensar nisso. Mas eu gosto de como Elio conta a história, de como ela não é necessariamente linear, e de como ele organiza a trama de “Me Chame Pelo Seu Nome” de acordo com a memória – que nunca é realmente tão confiável assim.
Existem momentos profundamente excitantes na leitura do livro, e não são poucos. Talvez o primeiro deles esteja em pequenos detalhes como o damasco, no qual Elio parece ver a bunda de Oliver… ou aquela cena em que, de forma ousada, Elio invade o quarto vazio de Oliver, cheira o seu calção de banho, o veste, e depois se deita nu em sua cama, achando que aquilo era o mais próximo que jamais poderia estar do homem com quem sonhava. Mas então Elio descobre que Oliver pode sentir a seu respeito o mesmo que ele sente. Ele apenas o demonstra de um modo diferente, mais contido – muito menos evidente. E Elio se recusa a perceber os sinais… pelo menos até aquele lindíssimo momento dos dois no PENHASCO DE MONET, aquele momento em que as coisas vêm à tona, em que tudo é colocado para fora – o sentimento e o desejo.
E eles se beijam.
É um primeiro beijo excitante, profundo e detalhado. Um beijo que parecemos sentir junto aos personagens. E nos perguntamos se isso vai ser tudo que compartilham, porque Oliver parece bastante receoso – ou nem tanto, porque, durante o almoço, depois do beijo, ele acaricia o pé de Elio por baixo da mesa, com seu próprio pé, sem ninguém notar… e aquilo é tanto para Elio que ele chega a passar mal. Os desejos agora cada vez mais intensos, o pensar que apenas uma caminhada curta pela sacada do lado de fora da casa levaria Elio de seu quarto ao quarto de Oliver, que era seu durante o resto do ano. Depois disso, eles se afastam. Tentam negar o que sentem, temem fazer o que querem fazer, mas isso se torna cada vez mais doloroso e, consequentemente, cada vez mais intolerável. O silêncio ameaça consumi-los. Então eles marcam um encontro.
No quarto de Oliver.
À meia-noite.
É um livro de linguagem ousada e de muitos momentos quentes, e eu gosto de como André Aciman alterna seu modo de escrever de acordo com o humor, o sentimento e o tesão de Elio – porque isso nos permite viver tudo o que o personagem também está sentindo. O livro é sério, inteligente, polido, mas capaz de descer a um nível quase obsceno de sexualidade, com palavras explícitas e descrições selvagens dos desejos mais primitivos, o que representa qualquer ser humano nos momentos em que estamos excitados. E, ao fazê-lo, o autor nos excita. Imaginamo-nos de um modo, mas somos capazes de agirmos de forma completamente diferente no calor do momento. Dizemos e fazemos coisas que nunca anteciparíamos e, talvez, mal possamos nos reconhecer mais tarde quando pensamos no que dissemos e fizemos. E eu ADORO como André Aciman coloca isso com maestria ao longo de seu livro.
É assim na primeira noite de Elio com Oliver. E eu ADOREI cada segundo da sinceridade daquele momento. É um momento imperfeito e, justamente por isso, real – e, paradoxalmente, perfeito à sua maneira. Eu gosto de ler um relato honesto, que não tenta enfeitar com palavras difíceis ou termos formais como “genitália” e “pênis” os momentos mais íntimos e naturais, em que agimos por instinto… Elio usou palavras como “genitália”, Elio já desviou de dizer “pau”, em seus momentos mais racionais, especialmente à luz do dia. Mas não quando estava sozinho e nu em um quarto com Oliver à meia-noite. Naquele momento, ele estava despido não apenas de roupa, mas de qualquer vergonha, entregue ao momento, aos seus desejos mais profundos, e experimentando aquilo que o autor nos convida a experimentar com ele… em um momento intenso, erótico, profundo…
Que o autor conduz brilhantemente através de sua escrita.
Depois daquela primeira noite, depois de Elio entregar-se ao desejo que achou que talvez jamais realizaria, Elio tem dúvidas. Ele não sabe o que sente, ele não sabe como se sente em relação a Oliver ou ao fato de ele ter estado dentro dele na noite anterior, mas sabe que sente alguma vergonha que é fruto de uma sociedade que ainda nos oprime, de certo modo. Elio está apenas começando a se libertar. Ele achou que, depois daquela noite, tudo seria muito mais claro, que ele saberia “quem” era, mas vem a dúvida, a vergonha e a dor. É uma sequência forte e triste quando Elio tenta se convencer de que “superou” o Oliver, mas, como se adivinhasse o que Elio estava pensando, e talvez realmente estivesse, Oliver prova a Elio que não, ele não o superou – de uma forma astuta, breve e profundamente excitante. QUE CENA AQUELA!
Depois de conversar com Elio brevemente sobre a noite anterior na praia, naquela manhã, Oliver entra no quarto de Elio pela varanda, manda ele tirar o calção e se sentar na cama – Elio obedece sem nem pensar no que está fazendo. Ele não pode pensar em não fazer o que Oliver lhe pede. Então, Oliver se abaixa, coloca o membro de Elio inteiro em sua boca, que fica imediatamente duro, e, maldoso, Oliver diz que “vão guardar isso para mais tarde”. Elio percebe que é sua resposta irônica à esperança dele de que o tivesse superado, enfim. E Oliver não está disposto a perder o Elio – ele quer mostrar que o deseja, ele quer excitá-lo constantemente, e ele o faz das maneiras mais simples e significativas, que são muito mais íntimas do que o próprio ato sexual… como quando Oliver desce para o café da manhã e está usando o calção de Elio ao invés do seu.
Wow.

“Vê-lo usando minhas roupas me deu um tesão insuportável. E ele sabia disso. Nós dois ficamos excitados. Pensar em seu pau roçando o forro onde o meu tinha estado me lembrava de como, diante dos meus olhos e depois de tanto esforço, ele finalmente gozou sobre meu peito”

Dali em diante, o livro assume outro tom. Do desejo à materialidade da relação deles. E era por isso que eu tanto esperava e ansiava: pelo momento em que eles se entregariam um ao outro, pelo momento em que, depois de transarem, eles realmente fossem um do outro. Mesmo quando diz que “só precisava de uma noite”, Elio sabe que está mentindo para si mesmo – e não pode mais se enganar. Depois que Oliver sai de casa e vai para a cidade, usando o seu calção, ele não resiste e acaba indo atrás dele, porque “precisava vê-lo”, porque “queria estar com ele” – mesmo que ele tivesse jurado, depois da noite anterior, que não andaria de bicicleta naquele dia. E é um dos momentos MAIS IMPORTANTES de todo o livro, porque, como eu disse anteriormente, é mais ou menos por aqui que começamos a conhecer o Oliver de verdade… não o Oliver que o Elio imagina, o que ele constrói.
Mas o Oliver como ele realmente é.
E, para mim, o Oliver pode estar mais apaixonado por Elio do que o Elio por ele. Elio é movido pela paixão do momento, Oliver era, talvez, um “experimento” para ajudá-lo a se conhecer melhor… mas Oliver o desejou desde o primeiro dia, embora talvez não tenha demonstrado… ou não o suficiente para que Elio notasse. Mas existem momentos que deixam isso muito claro. Quando encontra Oliver na cidade, Elio diz que queria vê-lo, mas está um pouco inseguro e lhe diz que “voltaria embora agora mesmo se ele lhe pedisse”, e o vemos perguntar a Oliver se “ele não está enjoado dele”, mas então Oliver diz algo que estava dentro dele há muito tempo, e aquilo ME ARREPIOU INTEIRO. Oliver dizendo “Você faz ideia do quanto estou feliz por termos passado a noite juntos?” é, talvez, um dos meus momentos favoritos no livro todo.
Tudo o que eu queria.
Oliver diz que o quis desde o primeiro dia, “só escondeu melhor”, e o que Oliver sente por Elio é TÃO INTENSO que eu adoraria ter lido pelo menos um pouco do livro sob sua perspectiva – mas o mistério de não conhecer seus pensamentos além de seus atos o torna ainda mais interessante. E real. Oliver volta a me excitar e a me convencer de que ama o Elio mais que o Elio o ama quando entra no quarto de Elio e come aquele pêssego, uma cena ousada e íntima, ou quando Elio descobre Oliver sentado sozinho nas pedras durante a noite, olhando no mar e pensando… era isso o que Oliver fazia quando desaparecia. Ele não estava “dormindo com a cidade toda”, como Elio sempre acreditou… ele estava ali, pensando. E quando Elio faz um comentário e Oliver diz “Eu sei o que você achava”, aquilo me doeu sinceramente… porque Oliver sabe o que sente.
Oliver queria se entregar mais.
São apenas 7 anos que separam Oliver de Elio, mas esses 7 anos parecem ter feito uma diferença em Oliver que o torna mais maduro e mais entregue, se Elio também se entregasse da maneira correta. Mas Elio se engana e engana a todos ainda saindo com Marzia, anunciando a todos, acreditando que é essa a relação que tem com Oliver, e eu achei aquilo bastante insensível. Até porque o Oliver sabe ser romântico e fofo… na noite seguinte, Oliver e Elio invertem posições (!), mas mais do que os momentos sexuais deles, Oliver e Elio compartilham algo muito mais forte: suas vidas e seus sentimentos. Adoro como conversam, como Elio pergunta quando ele “soube” que Elio gostava dele, e Oliver diz que foi na primeira semana, quando ele corou, e naquela ocasião Oliver o encarou, tentou lhe dizer o que sentia num olhar tímido e intenso.
Que Elio confundiu com hostilidade e/ou indiferença.
C’MON, ELIO!
Oliver é um fofo… mas quando descobrimos o quanto ele é fofo, e o quanto ele sempre gostou de Elio, ele já está indo embora. Elio e Oliver compartilham as mais lindas tardes juntos em seus últimos 10 dias, uma paixão e um romance misturados, e então Oliver anuncia que vai embora mais cedo, uns 3 dias antes do previsto. Ele tem que ir para Roma, revisar o manuscrito final, e então ele convida Elio a ir com ele. A mãe de Elio também logo o oferece para ir com Oliver, e o pai reserva um hotel, o melhor hotel de Roma, como um “presente” para os dois, e então eu percebi que o pai já sabia de tudo, sempre soube, e apoiava o filho, apoiava o romance… aquilo é tão perfeito, mas também TÃO TRISTE, porque nós sabemos que é um romance de verão que não vai durar além dos 3 dias restantes… em poucos dias, Elio voltará para o seu quarto.
E Oliver não estará mais lá.
Então, ele pede que Oliver deixe um calção, e a camisa esvoaçante, como lembranças… e partem para Roma. Três dias juntos o tempo todo. “Talvez fosse um presente do meu pai para nós dois”. Oliver e Elio compartilham histórias no trem até Roma, momentos bonitos e tristes no hotel (“Estou começando a sentir saudade. Não quero que nada mude ou nos atrapalhe esta noite”), e momentos interessantes que os ajudam a conhecer-se melhor, além de momentos ousados e cheios de tesão, como os dois nus olhando pela janela, ou o dedo de Elio explorando o corpo de Oliver, o tesão latente “guardado para depois”, como tantas vezes antes… dessa vez, porque eles precisam ir para uma festa que o seu editor está organizando – afinal de contas, foi para isso que foram para Roma, e se eles começarem outras coisas, não deixarão o quarto de hotel.
A experiência em Roma é linda, mas totalmente diferente do que eu imaginei. Elio narra a primeira noite como “o dia mais feliz de sua vida”, e tudo começa em uma livraria lotada, pequena e quente, durante uma leitura de poesia e o lançamento de um livro, e é lindo quando o Oliver coloca o braço ao redor de seu ombro e fala de amor, sem medo – ali, eles curtem algumas noites de VIDA BOÊMIA, de bebedeira que nubla as memórias, que emendam um momento no outro… de falas longuíssimas de um poeta, talvez sem sentido, mas ao mesmo tempo dizendo tantas coisas. E isso meio que os conecta. Adoro como André Aciman faz com que o fato de Elio vomitar numa lata de lixo se converta em um momento lindo dele e de Oliver, com o Oliver cuidando dele, ao mesmo tempo em que tira sarro… ou o momento em que eles se beijam acaloradamente, Oliver o pressionando contra a parede.
Uma parede que, ao longo dos anos, Elio visitou várias vezes.
Porque o beijo ainda estava marcado ali, de algum modo.
Eles retornam para o hotel quando já está amanhecendo, depois de uma noite nas ruas escuras, estreitas e úmidas de Roma, e não se dão conta de que aquela seria uma das últimas vezes em que fariam amor. E então, dolorosamente… tudo chega ao fim. Elio retorna para casa, sozinho, e ele não quer sentir dor. Ele está o tempo todo se assegurando de que “está tudo bem”, mas Oliver está por todos os lados. As memórias sobre ele em qualquer lugar. E devo dizer que, ao retornar para casa, O PAI DE ELIO É A COISA MAIS FOFA DE TODOS. Sim, ele sabia sobre os dois, sempre soube… ele deu a viagem de presente a Elio, reservou o hotel, lhe indicou onde ir… quando o Oliver liga para falar sobre a sua viagem, ele conversa com Elio e os pais, em três telefones diferentes, mas no fim o pai de Elio desliga, deixando que o Elio possa conversar sozinho com ele.
É lindo.
O pai de Elio é todo aberto, e conversa com o filho, querendo saber como foi… ele pergunta de Roma, e faz uma série de perguntas que instigam Elio a se abrir, a contar o que acontecia entre ele e Oliver, mas sem realmente expor Elio se ele não estiver preparado para falar sobre isso. “Você é inteligente demais para não saber como era raro e especial o que havia entre vocês”. Sábio e compreensível, o pai fala de Oliver, faz Elio pensar nele, e eu adoro aquele pequeno momento em que Elio diz que “acha que Oliver era melhor que ele”, e o pai responde: “Tenho certeza de que ele diria o mesmo sobre você, o que diz muito dos dois”. O pai valoriza o que eles tiveram, e deixa claro a Elio que ele tem o direito de sofrer, de deixar a dor entrar… ele não deve se fechar para ela, porque eventualmente ela vai encontrar um caminho e pode ser ainda pior.
E evitar sentir qualquer coisa para não sentir dor não é justo.
“Não invejo sua dor. Mas invejo sua dor”
Então, eu acho que o Elio sofreu. E eu sofri com ele, sofri muito. Não vou fingir que não doeu, que eu não chorei… é um livro eventualmente doloroso, com uma última parte dificílima de ler. Várias vezes eu parei, fechei o livro, pensei. Não dava para ler de uma vez… enquanto o tempo passava, nós precisávamos nos permitir algum tempo também. No Natal, Oliver vem visitá-los, e ali já vemos que as coisas entre eles jamais serão as mesmas. O calor de outrora foi embora com o verão. Doeu-me quando ele foi ao quarto de Elio, mas eles mal conversaram… ou quando ele se deitou ao lado de Elio, agasalhado e sobre as cobertas, dizendo que “não queria fazer nada”. Ali, eles trocaram um último beijo, e foi um beijo tão simples que parecia muito pior do que se Oliver não tivesse beijado Elio de modo algum. Eu queria gritar, queria chorar, queria voltar no tempo.
E eu acho que foi assim que Elio se sentiu.
Durante todo o restante de sua vida.
Oliver anuncia que vai se casar na primavera, e isso enterra qualquer coisa entre eles… eles se distanciam até que não telefonem mais um para o outro, não mandem cartas… nove anos depois, vemos a última ligação de Oliver. Ele já construiu uma nova vida, distante da que viveu em B. durante seis semanas. Ele tem uma esposa, filhos… depois, o tempo volta a passar. 15 anos depois do verão em que tudo aconteceu, Elio vai a uma aula na faculdade em que Oliver leciona, e solta um DOLOROSO “Você nem deve se lembrar de mim”, que é a pior coisa que Elio poderia ter dito, e Oliver demora uns segundos para reconhecê-lo, por causa da barba, mas ainda é o mesmo Elio de sempre… agora com 32 anos, mas o mesmo Elio. Ainda com os mesmos sentimentos. Elio estava lá porque queria “testar”… queria saber se ainda ia sentir o que achava que não sentia mais.
E é claro que ele sente.
Como sabíamos que sentiria.
Ao se reencontrar, eles conversam, eles riem, eles relembram – tudo ainda está TÃO VIVO. Mas é tão doloroso, justamente por isso. Não é apenas uma memória do passado, um momento para se lembrar e sorrir, mas algo QUE SE QUERIA VOLTAR A VIVER. Foi difícil acompanhar, foi difícil sentir o que Elio estava sentindo. Oliver estava FELIZ por vê-lo, sorridente, falante… o Oliver de calção verde. Mas Elio ainda tinha esperanças naquele amor, e vê-lo depois de tanto tempo o fez ver que ele não tinha motivos para tê-las. Oliver tinha seguido em frente, enquanto Elio ainda sentia o que sentia naquele verão há 15 anos, mesmo que tenha gostado de pensar que seguiu em frente depois daquilo. Mas ele não queria deixar nada para trás, e isso é, infelizmente, MUITO TRISTE. E o tom de Elio é doloroso, e faz Oliver perceber que ele talvez nunca o tenha perdoado.
Oliver também é um novo Oliver. Quase tímido. Quase culpado. Mas sorridente.
Esperando que eles possam se dar bem. Porque o que viveram foi FORTE demais e sempre estará lá.
Mas não aqui.

“[…] enquanto servia o vinho para a esposa, para mim, para si mesmo, finalmente perceberíamos que ele era mais eu do que eu mesmo tinha sido, porque, quando se tornou eu e eu me tornei ele na cama tantos anos antes, ele foi e para sempre seria, muito depois de cada bifurcação da vida ter feito seu papel, meu irmão, meu amigo, meu pai, meu filho, meu marido, meu amante, meu eu. Nas semanas que passamos juntos naquele verão, nossas vidas mal se tocaram, mas nós atravessamos para o outro lado, onde o tempo para e o céu alcança a terra e nos oferece o que é divinamente nosso desde o nascimento. Desviamos o olhar. Falamos de tudo, exceto disso. Mas sempre soubemos, e não dizer nada agora confirmava ainda mais isso. Encontramos as estrelas, você e eu. E isso só acontece uma vez na vida

Isso ME DESTRUIU.
Depois, Oliver e Elio voltam a se encontrar, 20 anos depois do verão. Elio com 37 anos, Oliver com 44. Por apenas um dia, Oliver retorna a B., retorna às suas memórias, retorna a Elio. A mesma casa onde viveram tudo o que viveram, e tanta coisa mudou, mas tanta coisa ainda é exatamente a mesma, depois de todos esses anos. É forte, é belo, é TRISTÍSSIMO. Elio o tempo todo teme que as memórias sejam apenas dele, mas, dessa vez, Oliver lhe garante: “Sou como você. Eu me lembro de tudo”. E AQUILO ME ARREPIOU. É lindo, mas também é profundamente doloroso… eles passaram 20 ANOS se amando, 20 anos desejando um ao outro, mas 20 anos separados… e quando eu penso nisso, eu penso se eles realmente VIVERAM suas vidas depois daquele verão, ou aquele foi o ápice de suas vidas? As vidas não deveriam ser assim, ou deveriam?
Oliver viveu “uma vida paralela”, e ele pode gostar da vida que viveu, mas talvez não seja a vida que deveria ter vivido. A intensidade do sentimento, mesmo depois de 20 anos, e o fato de ambos ainda se lembrarem de tudo e de se amarem ao se reencontrarem, mostra que isso foi mais forte em sua vida do que qualquer outra coisa. Eles compartilham um momento breve, nostálgico e dolorido… intenso. Mesmo depois de todo esse tempo, eles ainda compartilham tanto. E os diálogos são impressionantes, com muito mais no não-dito do que no que é realmente dito. Consigo visualizar seus olhos dizendo muito mais do que suas bocas… mas Elio pergunta se ele “está feliz por estar de volta”, e quando Oliver lhe devolve a pergunta, Elio responde com toda a sinceridade que lhe resta, todo o amor que ainda tem por ele e sempre terá:
“Você sabe que sim. Mais do que deveria, talvez”
“Eu também”, Oliver complementa.
E eu chorei.

“Parei por um instante. Se você se lembra de tudo, eu quis dizer, e se realmente gosta de mim, então antes de ir embora amanhã, ou quando estiver prestes a fechar a porta do táxi e já tiver se despedido de todos os outros e não houver mais nada a ser dito nesta vida, então, só desta vez, vira para mim, ainda que de brincadeira, ou como um adendo que significaria tudo para mim, e, como fez naquela vez, olhe nos meus olhos, sustente meu olhar e me chame pelo seu nome”

Me arrepiou. Perfeitamente imperfeito.
Eu só espero que o Oliver tenha feito isso.
Realmente espero que ele tenha olhado pro Elio e dito seu próprio nome: “Oliver…”
Então, tudo terá valido a pena.

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