Vale o Piloto? – Black Box 1x01 – Kiss the Sky


Duas coisas que eu amo: neurociência e problemas psicológicos.
Até hoje eu me lembro de uma palestra na faculdade que marcou minha vida para sempre: em meu tempo de UNILA, um famoso neurocientista (e agora eu não me lembro o nome dele) falou coisas que me deixaram fascinado! Sempre me interessei pelos mistérios e segredos que envolvem o cérebro humano, e sou profundamente crente e defensor dessa coisa toda de “Caixa Preta”, porque há muita coisa em nossa mente a ser descoberta, a ser pesquisada. A partir do momento em que anunciam uma série com uma neurologista como protagonista, eu já me interessei profundamente pelo tipo de casos semanais que isso proporcionaria.
Mas então eles conseguem transformar tudo em uma coisa ainda mais interessante. A neurologista em questão, Catherine Black, é bipolar – nos primeiros minutos do episódio eu já achava que estava apaixonado pela premissa por vê-la conversando com sua psiquiatra, o que são cenas que eu adorei, e filmadas exatamente no estilo que eu tanto adoro. Precisamos ter muito mais disso durante os episódios. E além disso ainda tivemos os dois primeiros casos semanais, de Anthony e de Yojo, muito diferentes entre eles, mas os dois interessantíssimos. Então conseguimos perceber esses dois campos de estudo, ambos que trabalham com o cérebro, mas que são tão distintos entre si, conversando através da personagem da Dra. Black.
Gostei demais da maneira como a série foi filmada e como escolheram contar sua história. Há quem tenha reclamado da trilha sonora (e realmente é uma música sofrível toda vez que ela vê o Will), mas tudo faz parte da construção do ambiente e da maneira como a história vai ser contada – a série escolheu trabalhar dentro de cada um desses casos, apresentando o ponto de vista do paciente. Em âmbitos menores, vemos Yojo no colo daquela velhinha, ou escutamos as vozes que atormentam Anthony dizendo que ele não deve confiar nela. Num âmbito maior, e talvez menos evidente, a própria trilha sonora e a rapidez da narrativa ecoam as diferentes fases de Catherine.
Ficou impressionante o seu primeiro surto psicótico. Tivemos aquele começo no qual ela conta sobre uma noite para a psiquiatra, e ainda utiliza-se de inteligentíssimos exemplos como Van Gogh, e também alguns momentos mais tarde no qual ela não consegue se controlar – e constantes abandonos dos remédios que a fazem sair dos trilhos. Mas a grande cena do episódio está em seu primeiro surto, e em como ela age de maneira descontrolada com o noivo, mesmo no emprego. E percebemos o quão diferente Catherine é, quando está dessa maneira, ou quando está toda centrada em seu trabalho, sendo a melhor e mais competente profissional que consegue ser.
Como profissional, eu realmente me admirei com ela. Talvez justamente por sua condição, ela consegue entender seus pacientes e conversar com eles de maneira convincente. Suas cenas com Anthony foram todas fascinantes, e eu amei o personagem – gostei de toda a trama da física x o desenho, e de como ele deixou sua marca para sempre em Black Box com os desenhos no escritório dela. Também gostei demais da história da segunda paciente, com seu amigo imaginário Yojo que é na verdade um elfo do Papai Noel. E tivemos cenas muito fortes e impressionantes como o momento em que Catherine se dá conta que, ingenuamente, ela tirou da mulher a única coisa que ela precisava e que sua mente criou para ela: uma companhia, um amigo.
A série trata toda a perspectiva a partir de três pontos de vista básicos: primeiro sua profissão, e com isso os casos que ela atende, que nos permitem ter uma visão de diferentes problemas e a partir da mente dessas pessoas; segundo como ela uma mulher sofredora, que tenta conviver com o transtorno de bipolaridade – acreditando que livre dos remédios a vida é mais feliz, com uma sensação de liberdade, onde ela pode ser ela mesma (como Anthony recusando o remédio porque eles “o deixam bobo”); e por fim, sua relação de “tia”, mas na verdade é sua própria filha sendo criada pelo irmão e sua esposa, sem que a menina saiba que Catherine é sua mãe. O sofrimento de não poder mais ver a filha, de quase arruinar tudo em seu trabalho a leva para um final complicado…
Que ecoa a morte de sua mãe. Muito interessante a série ter feito um paralelo com a mãe de Catherine, visto que o problema é hereditário, e colocá-la em uma cena tão real na qual ela vai para a beira do mesmo mar, com pedras no bolso, e liga para a psiquiatra antes que possa se matar – e ela lhe convence que ela precisa voltar pelo seu emprego. E temos, realmente, aquele desfecho belíssimo no qual nos despedimos dos casos semanais desse primeiro episódio! Amei cenas como ela descrevendo a doença para Will, e dizendo que, diferente da diabetes, a bipolaridade é quem ela é, está em seu cérebro e define sua personalidade. O tema me chamou muito atenção, e eu tenho certeza que a série tem material suficiente para ser muito boa! Esperando que dê certo!

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