A Favorita – Donatela procura Flora

“Quanto tempo eu esperei por esse abraço!”

Agora Flora sabe que Donatela está viva… e não vai descansar enquanto ela não estiver na cadeia – ou será que nem tudo é como a gente imagina? Donatela acabou saindo do seu esconderijo em um plano arriscado no qual planejava fazer a Flora confessar seus crimes para “o fantasma de Donatela” em busca de perdão, mas uma goteira de teatro acabou denunciando a Donatela, e agora Flora quer capturá-la de qualquer maneira e entregá-la para a polícia. Depois que ela volta a ser uma “fugitiva”, Donatela abraça Halley e Lara em uma despedida antes de partir para algum lugar distante por um tempo, até que ela consiga provar a sua inocência e não precise mais ficar fugindo. Eventualmente, no entanto, Donatela acaba desistindo de fugir, e puxa o freio de mão enquanto o Zé está dirigindo, mandando ele voltar para o rancho: ela quer falar com a Flora.

Zé parece não achar “ir para o rancho” uma boa ideia, mas Donatela está decidida e nada vai impedi-la, então ela diz ao Zé que ou ele a leva lá ou ela vai sozinha, e liga para o Silveirinha avisando: “Eu tô indo pro rancho”. Flora fica chocada ao vê-la entrar, e nós entendemos rapidamente o plano de Donatela quando ela diz: “Eu voltei, Flora. Eu voltei pra cuidar de você, minha irmã”. Tão dissimulada quanto a Flora e demonstrando um sangue frio impressionante, Donatela está ali para fingir que ama a Flora, que a entende e que a perdoa, e que se sente culpada pela forma como a tratou a vida toda – Donatela vai apelar para um lado sentimental até que Flora acabe confessando seus crimes, e as cenas são incríveis de se assistir, embora estejamos o tempo todo apreensivos, nos perguntando o que vem a seguir – e quando tudo vai dar errado.

“Eu entendi!”, Flora protesta. “Você veio se entregar só pra cortar o meu barato!”

Flora está em sua fase mais descontrolada e mais interessante na novela, e é justamente quando Donatela pode mais jogar com ela e manipulá-la – e Donatela sabe exatamente como fazer isso. Ela diz que, antes de Flora ligar para a polícia, ela só queria lhe entregar um presente, e então quando Flora, desconfiada, abre o pacote que Donatela estende para ela, ela encontra uma boneca da infância delas, uma boneca que foi o motivo de uma briga na infância. “Eu só vim aqui pra te entregar a Maria Balinha e te dizer que ela é sua”. Aquilo mexe mesmo com a Flora, de uma maneira bem perturbada. Flora fala sobre como chorou por causa daquela boneca, fala de como até apanhou do pai por causa dela, e Donatela diz que nem gostou tanto assim da boneca, mas quando viu que Flora tinha gostado tanto dela, ela cismou que a queria para si. Donatela diz tudo o que Flora quer ouvir.

Donatela diz que sabe que não foi a irmã que ela queria, não deu o carinho e a atenção de que ela precisava, e diz que se arrepende disso, porque quando olha para trás, vê o quanto ela e o Seu Pedro “foram cruéis com ela”, e Flora começa a desabafar, começa a falar de sua dor, começa a falar sobre como todo mundo sempre gostou mais de Donatela do que dela: o Seu Pedro, o Marcelo, o Silveirinha, o Gonzalo… “E o pior de tudo: você não gostava de mim”. Esse é o trauma de Flora, e Donatela sabe: “Eu vim para te pedir desculpas. Para dizer que eu te amo. Por favor, deixa eu te dar um abraço. Deixa eu te dar um abraço, minha irmã”. Donatela abraça Flora, que resiste e manda Donatela soltá-la, dizendo que não quer o seu abraço, mas Donatela insiste, e eventualmente Flora se solta, a abraça de volta e chora, desesperada – ela queria essa aprovação da Donatela, esse pedido de perdão.

Como eu comentei: haja sangue frio para conseguir fazer o que Donatela está fazendo.

Mas ela consegue!

Flora oscila bastante. Ela parece cair em um minuto, depois começa a acusar Donatela de “um golpe sentimental”, mas Donatela consegue sustentar o teatro até o fim, dizendo calmamente que Flora pode chamar a polícia se quiser, porque ela não vai fugir… antes, no entanto, ela diz que tem um último desejo: que o Silveirinha prepare “uma galinha ao molho pardo”, que era o prato favorita delas antigamente, e ela diz que quer comer ouvindo o disco delas, porque quer cantar “Beijinho Doce” uma última vez com ela. Percebemos que, ali, Donatela ganhou essa batalha. Ela traz histórias e memórias de volta, fala sobre um dia em que Flora se perdeu dela e do Seu Pedro na praia e fala sobre como ela “chorou por medo de perder a irmã”, e depois relembra a música que tocaram pela primeira vez naquele dia, e manda o Silveirinha trazer o violão para que elas cantem…

Ela canta, faz Flora acompanhá-la.

Donatela é astuta, ardilosa, manipuladora – adjetivos muitas vezes usados para descrever a vilã de uma novela, mas que cabem perfeitamente a Donatela, e é o que “A Favorita” fez ao reimaginar a estrutura já consagrada das telenovelas. Enquanto cantam, Flora vai se soltando cada vez mais, coloca um sorriso no rosto, e então Pimentel aparece anunciando que a polícia já chegou e que o sargento está na sala, esperando por Flora… Flora hesita, Donatela diz que “está pronta, quando Flora quiser”, mas Flora não tem coragem de entregar a Donatela. Ela dispensa o sargento e, quando ele vai embora, Donatela agradece a Flora e a abraça, enquanto a Flora, carente, chora e comenta: “Quanto tempo eu esperei por esse abraço!” Tudo é perturbadoramente divertido, como aquela cena das duas sentadas no sofá se “divertindo” jogando “Stop”.

Donatela está conseguindo.

Agora: ela vai conseguir uma confissão?

 

Para mais postagens de “A Favorita”, clique aqui.

 

Comentários

  1. Oi, eu adoro a novela “A favorita” e conheço seu blog desde Cumplices de um Resgate!!! E o que dizer dessa cena da Donatela pedindo perdão por tudo o que ela e o seu Pedro causaram pra Flora. Sinceramente, tanto Flora quanto Donatela precisavam urgentemente de um choque de realidade, porém de modos diferentes. Donatela tinha que aprender a ser menos superficial, intrometida e descontrolada e a Flora em varios momentos disse que tentou amar a Lara mas nunca conseguiu, isso me parece uma característica neurológica de um psicopata, por mais que queira o psicopata tem uma impossibilidade biologica de amar. Acho que o final da Flora poderia ter sido mais humanizado, talvez com uma terapia, medicamentos, ou pelo menos que a Flora encontrasse alguém que ela amasse de fato (o Silveirinha até cumpriu o papel de figura paterna que a Flora nunca teve com o seu Pedro), acho que o Silveirinha deveria ter feito mais pra ajudar a Flora a se recuperar do que simplesmente ser cúmplice dos crimes dela. Sinceramente me entristece como a Donatela pro roteiro virou uma santa e a Flora (por ter uma condição neuropsicologica diferenciada) virou um demônio. Eu adoro ver vilãs surtadas, porém também gosto de ver finais um pouco menos dolorosos pra elas. Além do mais, independente da Flora ser uma assassina, ela ainda é um ser humano que merece viver (nem que seja longe da Donatela e da Lara numa vida pacata). Enfim, gostaria de saber o que você acha dessa minha análise de como a Flora merecia mais.

    ResponderExcluir
    Respostas
    1. Desde Cúmplices?! Gente, é muito tempo, obrigadooo! :D

      Eu nunca parei para analisar tão profundamente essa questão toda da Flora, para dizer a verdade, e acho que em parte você tem razão sim. Normalmente, não gosto quando as novelas tentam forçar uma regeneração no fim (acontecia muito em Malhação, por exemplo, e geralmente acho bem cansativo/forçado), mas dependendo de como fosse trabalhado, seria mesmo bem legal... apesar de que esse trabalho deveria ter sido feito com a Flora há muito tempo, né, durante toda sua vida. Para isso, o autor teria que ter se disposto a trabalhar assuntos que são sérios com pesquisa e responsabilidade, "descaricaturando" a personagem um pouco. De todo modo, a Patrícia Pillar entregou uma vilã icônica, né? Então está valendo haha

      Excluir

Postar um comentário