Sítio do Picapau Amarelo (1978) – Memórias de Emília: Parte 3



A chegada do Anjinho e a criação do Visconde…
Emília continua contando suas “memórias”… ou o que ela entende por memórias. Lá no primeiro capítulo da história, a Dona Benta lhe fez essa pergunta e a bonequinha de pano deu uma resposta inteligente, e ainda disse que “diria apenas a verdade” em suas memórias – e é o que ela está fazendo, de acordo com o seu conceito. Ela mistura “realidade” com “ficção”, dando uma enfeitada a mais a alguns acontecimentos, mas é como ela disse: “Verdade é uma espécie de mentira das bem pregadas, mas que ninguém desconfia”. Agora, Emília encerra a sua narrativa sobre a primeira visita ao Reino das Águas Claras (com as mudanças incluindo o Pedrinho, o Capitão Gancho e os seus piratas, e até uma visita da Cuca, como a Princesa Ildegarda – sem “H”, porque o “Ildegarda” da Emília, segundo ela, é sem “h”), e anuncia novas aventuras…
O plano da Emília para se livrar do Capitão Gancho não dá certo, porque ela consegue atraí-lo até o palácio, achando que o Príncipe Escamado estará esperando com um monte de soldados, mas o Príncipe está dando uma festa e só – então, é fácil para o Capitão Gancho tomar o seu trono, e Emília é prática: não adianta ficar chorando sobre o leite derramado, ela tem que pensar em outro plano. Enquanto Emília pensa em uma maneira de devolver o trono do Reino das Águas Claras para o Príncipe Escamado, a Dona Carochinha chega ao fundo do mar com a Cuca, fantasiada de princesa, a Princesa Ildegarda. É sempre divertido quando a Cuca se transforma em gente, e eu adoro o cuidado de termos o cabelo de sua versão humana parecido com o seu cabelo original como jacaroa, um cuidado que a nova versão do Sítio foi ter apenas lá em 2004.
“Meu coração aguarda pela Princesa Ildegarda”
O Capitão Gancho é facinho de enganar, e já está todo apaixonado pela bruxa (sem nem imaginar que ela é um JACARÉ!), e a Emília, assistindo de longe, reconhece a voz da Cuca, e agora está preocupada em desmascarar a jacaroa, para depois tirar o pirata do trono… novamente, Visconde protesta contra a história que Emília está ditando, e diz que Emília está inventando isso tudo, porque, nessa época, ela nem conhecia a Cuca, então ela não poderia reconhecer a sua voz, mas Emília responde como sempre: “Visconde, de quem são as memórias?” Visconde diz que, ao invés de escritora, ela está se saindo uma grande mentirosa, como o Barão de Munchausen, e então Emília é cruel com o pobre Visconde, chamando ele de “um pobre sabugo rejeitado pela Mocha”. Ultrajado, o sábio sabugo de milho deixa a pena em cima da mesa e vai embora.
Ela que se vire com suas memórias…
Mas, sozinha, Emília não sabe escrever suas memórias – ela sabe o que quer contar, mas enche a história de “aí”, e sabe que não está bem. Finalmente, seu padrinho, o compadre Zé Bento, acaba a ajudando a escrever, e a cena é toda fofinha, com a boneca encantada com a escrita do padrinho, dizendo que “ele devia ser escritor”. Também diz que já percebeu que ele está interessado em tudo que acontece ali e fica observando porque “um dia planeja escrever um livro sobre eles”. É interessante a ideia, tendo em vista que o Zé Bento é caracterizado como o Monteiro Lobato, então essa é uma brincadeira constante do roteiro que brinca com a metalinguagem de forma bem bacana… eventualmente, Emília acaba enrolando o Visconde, dizendo que “é bom que a Mocha o rejeitou, porque onde mais eles achariam um sabugo tão inteligente e tudo o mais”.
Sabida e manipuladora.
Como não amar essa boneca?
De volta ao Reino das Águas Claras, Emília resolve todo o problema do Capitão Gancho e seu casamento com a Cuca, trazendo a Sininho para que ela vire a princesa de novo em Cuca, e tudo vira uma confusão… ao ver que a sua noiva é UMA JACAROA, o Capitão Gancho sai correndo, desesperado, e a Cuca vai atrás dele, enquanto a Dona Carochinha se aproveita da confusão para pegar o Pequeno Polegar de volta e devolvê-lo para o seu livro… então, essa parte chega ao fim, mais ou menos como de fato aconteceu: Narizinho ouve o grito da Tia Nastácia e volta para o Sítio, onde a Tia Nastácia fala sobre a chegada do Pedrinho e todos se assombram ao ver a boneca de pano falar pela primeira vez… assim, Emília continua mesclando suas invencionices com coisas que realmente aconteceram e como aconteceram… e é legal rever esse “início”.

“Terminou? Foi aí que começou. Terminou só o primeiro capítulo. A parte mais importante das minhas memórias vem agora”

O Anjinho da Asa Quebrada acaba indo embora porque ele veio visitar, com saudade, e a Emília não lhe deu nenhuma atenção, mas ela não está nem aí: como disse desde o começo, ela está ocupada. Agora, Emília conta o que aconteceu pouco depois da chegada de Pedrinho, a troca de presentes e o nascimento de um dos personagens mais importantes do Sítio: O VISCONDE DE SABUGOSA. Na versão da Emília, é ela quem dá ao Pedrinho o sabugo para fazer o boneco (“É pra você. Não parece um visconde?”), mas Narizinho chega revoltada e manda o Zé Bento pegar a borracha e apagar essa parte, porque é mentira. Inconformada, Narizinho grita e briga com a Emília, mas a boneca protesta dizendo que não é mentira nada… agora, quem foi que deu o sabugo para o Pedrinho? No fim, Pedrinho é quem esclarece toda a história e, de certo modo, foram as duas.
Quando nova discussão quase emerge sobre quem teve a ideia de fazer o Visconde, eles acabam concordando que a ideia foi de todo mundo, e podemos acompanhar aquela DELÍCIA de sequência que é as crianças juntas fazendo o Visconde, todos envolvidos – sendo criança, imaginando, brincando, criando… e o Visconde fica todo bobo ouvindo a Emília contar isso para as suas memórias, mesmo que ela seja bem breve. A Tia Nastácia contribui com a roupinha do boneco e a Dona Benta com a cartolinha, mas Emília não quer se estender nisso e pula para a parte do Anjinho, sob protestos, porque o Pedrinho quer continuar falando sobre o Visconde – “Construiu tá construído e pronto. Agora estamos no Anjinho”. Emília ainda acusa o Pedrinho de querer falar sobre o Visconde agora, mas quando o fez o jogou atrás da estante e o esqueceu lá…
Foi assim que ele virou um gênio.
Esquecido na biblioteca.
Emília, então, começa uma nova fase de suas memórias… com o Visconde ainda sem vida, ela pula para a parte em que o Anjinho é visto voando sobre o Sítio e a cidade com suas asas vermelhas, “muito antes de sua asinha quebrar”, e Emília vai até a venda do Seu Elias Turco para comprar uma arapuca para pegar anjo… claro que é tudo invencionice dela, porque não foi bem assim que as coisas aconteceram… e Emília continua misturando tudo em suas memórias. Depois de abandonar o Visconde, Pedrinho vai atrás do Tio Barnabé para ele ensiná-lo a caçar Saci, enquanto o Visconde é encontrado pela Narizinho e colocado em uma cadeira, onde ele é “interrogado” pelo Barão de Munchausen, que aparece pelo Sítio do Picapau Amarelo em busca do anjinho… enfim, uma confusão! Vamos ver como a Marquesa de Rabicó organiza isso tudo!


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