The Assassination of Gianni Versace: American Crime Story 2x05 – Don’t Ask, Don’t Tell


“I saved a sailor's life once. He was being beaten to death for being gay”
Para mim, O MELHOR EPISÓDIO DA SÉRIE. A segunda temporada de “American Crime Story” continua fazendo um excelente trabalho semana a semana, e essa morte de Jeffrey Trail, a primeira vítima de Andrew Cunanan, realmente mexeu comigo. Para mim, a morte mais triste das cinco vítimas do serial killer. Além de ser brutal e dolorosa, como vimos no episódio passado, ela também tem uma backstory fortíssima que levanta uma série de questionamentos e muita revolta. Foi absurdamente doloroso de assistir, e eu sofri ao lado de Jeff Trail o tempo todo. QUE EPISÓDIO FENOMENAL. Finn Wittrock faz um trabalho magnífico, e eu fiquei tão envolvido e curioso que precisei ir buscar um pouco mais a respeito de Jeff Trail e dessa entrevista que ele deu, que é real e DOLOROSA. Um episódio cheio de propriedade, complexo e pesado… foi impactante.
Quem estava com saudades de Versace? Estamos de volta a Junho de 1995, em Milão, e foi bom revê-lo, mas eu confesso que eu não sou daqueles que estavam sentindo sua falta. A parte do episódio focada em Jeff Trail foi muito mais forte e importante. Em 1995, Gianni Versace chamou uma revista americana para quem ele queria dar uma entrevista e oficializar ao mundo que era GAY. A tensão entre Donatella e Antonio eram palpáveis e cada vez mais fortes, e muito me pesou no coração saber que o que ela dizia, embora ultrajante, tinha o seu tom de verdade vergonhosa: “All these people's lives depend on you. We're opening stores in countries where it is illegal. Where it is a crime. You have to visit those countries. They might refuse your entry, refuse a visa, refuse to do business with you”. Como dói saber a verdade sobre essa sociedade intolerante em que vivemos!
E o episódio é sobre isso, de forma completa.
Vamos para 23 de Abril de 1997, quatro dias antes da morte de Jeff Trail, e a história por trás desse assassinato revela uma série de elementos que geram toda uma discussão assim como aquela decisão de Versace de se assumir gay para o mundo. Conhecemos Jeffrey trabalhando em uma fábrica, e ele é absolutamente lindo… e quase fofo, até que Samson toque em sua ferida ao falar sobre a Marinha, ou perguntar se ele é casado, ou ainda questionar o motivo de ele ter deixado a Marinha, se era um Oficial, para “trabalhar num lugar como aquele”. Dá para sentir a maneira como isso mexe com Jeff Trail, e nós sabemos, com base no que vimos da conversa entre Versace e Donatella, em 1995, que só há um motivo: ele deixou de ser um Oficial porque souberam que ele era gay. Assim, a série magistralmente conecta duas tramas importantes.
Estamos no fim de semana em que Andrew Cunanan chegou a Minneapolis para passar um fim de semana com David e Jeff, “como nos velhos tempos”. Mas nada é mais “como nos velhos tempos”. Jeff Trail já aprendeu a ver através dele, não sente pena nem nada por ele, a não ser desprezo, talvez desde que ele mandou aquele postcard “equivocado” para o pai de Jeff, tentando revelar que ele era gay. São pequenos detalhes que constroem essa relação nada amistosa entre eles, e eu achei particularmente doloroso como o episódio é irônico. Não apenas com Cunanan dizendo coisas como “Oh, we’re gonna have so much fun this weekend!”, mas naquela cena de Jeff com a sua irmã grávida, por exemplo, em que eles conversam sobre ele ser gay, sobre contar sobre isso aos pais, e ela é super legal com ele. Ali, ele diz “I’m looking forward to being an uncle so much!”, e nosso coração se parte.
Porque ele nunca terá a chance de ser tio de verdade.
Andrew lhe roubou isso.
O fim de semana começa com Andrew propondo casamento a David (“David Madson, you are the man that I want to spend the rest of my life with. Will you marry me?”), aquela cena sobre a qual ouvimos falar no episódio anterior, e é tão surreal vê-la acontecer de fato. Ali, David diz que eles não podem se casar porque “é contra a lei”, mas também diz que o problema não é o “termo”, mas “a ideia de você e eu”. Ali, as expressões de Cunanan começam a se transformar, e nós sentimos o nojo e o desprezo por ele ESCALAR. Ele é nojento e desprezível. Se impõe em um passeio com Linda, a amiga do trabalho de David, diz que “é muito mais que um amigo”, exibe o relógio de 10.000 dólares que deu de presente (!) e conta uma série de mentiras, como “I make movie sets. Right now I'm building the sets for the Titanic movie, in Mexico”, e David diz que “não precisa pensar”. ELE NÃO QUER SE CASAR.
Quando David expõe as “histórias loucas” de Andrew e o fato de ele precisar de ajuda!
Wow!

“We can't get married. You're not making the sets for the Titanic movie. You don't have a condo in San Francisco. Andrew, you're unhappy. You know, you've helped a lot of people. Let me help you now. Not by marrying you. I don't know what that is. It's-it's not possible. It's-it's not real, it's just... another crazy story”

Foi sincero e bonito e fez com que eu gostasse ainda mais de David Madson, mas meu coração se aperta ao pensar nisso. Mas Andrew Cunanan não escuta ninguém. Tudo o que ele quer saber é “Is it Jeff? The friend you’re seeing?”, e então, depois de seguir David com o seu “amigo”, ele invade o apartamento de Jeff, onde encontra uma série de coisas. Uma foto de Jeff e David com o cachorro dele. A roupa da Marinha. Um VHS com o depoimento MAIS DOLOROSO de que me lembro. E então temos toda uma história nova a ser contada para que conheçamos bem a Jeff Trail e possamos lamentar mais o seu assassinato. Fala sobre homofobia na Marinha, com um DISCURSO DE ÓDIO desprezível e assustador, e foi muito difícil voltar mais no tempo para conhecermos isso tudo mais à fundo, mas eu acho que é algo que precisa ser trazido à tona…
Precisa ser mostrado, por mais que doa.
Porque a sociedade pode ser NOJENTA às vezes.
Assim, voltamos a Novembro de 1995, dois anos antes do assassinato de Jeff Trail, e temos cenas FORTÍSSIMAS de Jeff na Marinha. A primeira delas mostra a cena sobre a qual ele falou no seu depoimento gravado: quando ele defendeu um colega que estava sendo espancado até a morte por ser gay. Foi o ponto em que as coisas mudaram, em que passaram a “desconfiar” dele, e então nada mais foi o mesmo. MAS JEFF FEZ O QUE PRECISAVA SER FEITO. Gay ou não, ele agiu com HUMANIDADE. Mas a sociedade altamente homofóbica e intolerante da Marinha desconhece o conceito. Primeiro, ele separa uma briga no convés. Depois, ele acorda no meio da noite com o mesmo colega sendo espancado até a morte em sua cama, com a boca tampada, para que não faça barulho, e novamente ele faz o que precisa ser feito… ele vai até lá e salva a vida do homem.
Tudo isso mexeu muito comigo. Foi muito forte, e mesmo escrevendo sobre isso agora sinto um nó imenso se formar na garganta, um pesar no coração. A cena é profundamente real e desprezível, desumana, intolerante. Eu chorei, porque senti que estava doendo em mim. Mas aquilo também fez com que eu ME APAIXONASSE por Jeff Trail, porque ele foi um fofo defendendo o cara, salvando sua vida e cuidando dele depois, naquela cena do banheiro. Quando Jeff toca a nuca dele e o olha é quase sensual. Ali ele se abre, o conta sem precisar falar nada. Naqueles segundos em que se olharam, eles conversaram, o cara soube que ele também era gay, e foi LINDO. Então ele toca seu braço, o puxa para si, e o abraça. Jeff, por sua vez, o acolhe em seu ombro e em seu peito, o abraça e beija sua cabeça, como se estivesse o protegendo.
E aquilo foi tão bonito que arrepiou.
Tão HUMANO. E FORTE.
Mas essa cena quase poética e profundamente DOLOROSA acaba com a carreira de Jeff Trail na Marinha. Ele é visto, e se o homem estava sendo hostilizado daquela maneira por ser gay, agora isso também é transferido para Jeff, e é uma sequência de novas cenas terríveis de se assistir, com o ápice sendo aquele momento em que Jeff vai até o banheiro e corta fora a sua tatuagem, para não ser identificado. AQUILO ME DESTRUIU. Não consegui assistir, apenas ouvir já me doeu demais. Então Jeff enfrenta uma série de TENSÕES, como quando o Capitão o chama para conversar e o entrega um livro sobre CONDUTA, e depois disso ele tenta se matar. Coloca o seu uniforme completo, vai até o banheiro onde tudo aconteceu e se pendura com o cinto em volta do pescoço… mas ele não consegue realmente se soltar, ele não consegue seguir adiante no plano.
Ao contrário, ele vai a um bar gay.
E ali a sua vida foi arruinada para sempre.
Novamente, aquilo foi de nos deixar destruído. A cena do bar gay podia ter sido excitante, bonita, o descobrir de um novo mundo, mas foi ali que ele conheceu Andrew Cunanan, e nós sabemos que isso não acaba bem. Ele bebe, se diverte, é absolutamente encantador, e agradece a Andrew por tudo: “Well, thank you. For stopping this night from being a humiliation. I might not have tried again for another five years”. Tempo depois, ele conta a Andrew sobre a matéria que estão fazendo sobre gays no meio militar, sobre o preconceito terrível contra eles, e que querem ouvir o outro lado, e ele está pensando em dar uma entrevista. O que Andrew diz sobre ser humilhante e ele ter que “ficar nas sombras” enquanto seus colegas preconceituosos aparecem orgulhosos em seus uniformes é verdade, e aquilo nos golpeia. Mas ele sente que tem que fazer isso.
E foi um discurso ARREBATADOR:

“I can't help feeling that, by talking to you, it's the end of my career. But maybe my career actually died a long time ago. Because they know. They have never promoted me. I'm a good sailor, but... I'm a good sailor going nowhere, because they know. […] I saved a sailor's life once. He was being beaten to death for being gay. And if I hadn't done it, if I hadn't have stopped them, no one would have suspected me. I did a good thing, the bravest thing I've ever done... and I can't tell you how many times I've dreamt about taking that moment back. And letting him die. Just so that people wouldn't know about me”

Quanta SINCERIDADE. E quanta DOR =x
Sofri tanto ouvindo a isso, e assistindo a isso!
O episódio, com essa cena, apresenta um INTELIGENTE PARALELO entre duas entrevistas dadas mais ou menos na mesma época. Uma de Jeff Trail, escondido nas sombras, falando sobre o preconceito contra gays no meio militar, e outra de Gianni Versace, cheio de fotos e pompa, pronto para se assumir gay para todo o mundo e correr os riscos que possa estar correndo. Ali, ele chama Antonio e aquilo realmente me arrepiou, mas eu confesso que não estava me importando o suficiente com Versace. A entrevista de Jeffrey é tão repleta de dor e de verdade que é impossível não focar nela. Deixou uma marca eterna em mim, inegavelmente. Acho que ainda podemos ver a entrevista completa de Gianni Versace em algum episódio futuro de “American Crime Story”, e então saberemos com certeza qual é a força dela e se se parece o mínimo com o impacto da entrevista de Jeff Trail.
Acredito que não.
Por fim, o episódio nos leva a 27 de Abril de 1997, O DIA DO ASSASSINATO DE JEFF TRAIL, e eu estava com o coração na mão, porque não precisava vê-lo novamente. Doloroso demais! Ali, Jeff culpa Andrew por tudo, diz que deseja a sua vida de volta, e discute com ele, chegando a dizer “You destroyed me. I wish I'd never walked into that bar. I wish I'd never met you”. Depois disso, ele ainda explode em um “NO ONE WANTS YOUR LOVE!” chocante, e acho que aquele foi o toque final para que Andrew Cunanan, descontrolado como era, decidisse matar Jeff Trail de uma vez por todas. Ele orquestrou tudo. Revemos detalhes, como o banho de David, o martelo, o telefone. E então revemos os momentos anteriores à morte em paralelo à irmã de Jeff Trail dando à luz. Foi de partir o coração ver as mensagens da mãe dele no correio eletrônico, com o apartamento vazio.
L
Sinceramente, eu achei esse o MELHOR EPISÓDIO da temporada, e impressionante em toda a sua FORÇA e VERDADE. Já estou me cansando, no entanto, de ver comentários na internet de quem não parece ter entendido a proposta da temporada. “The Assassination of Gianni Versace” é um subtítulo, e não adianta falarem que “a série não entrega o que prometeu”. Já entregou sim, lá no primeiro episódio, há muito tempo. Seguindo fielmente o título, o “Assassinato de Gianni Versace” é só aquele momento em que Cunanan atira nele no portão de sua casa e escapa, deixando-o ensanguentado nos braços de Antonio. Tudo o que veio e virá a seguir é parte de uma mesma história maior, que CULMINOU na morte de Gianni Versace. As outras vítimas de Andrew Cunanan e sua história não são o “assassinato” de Gianni Versace, tampouco qualquer outra cena que nos mostrem de Versace, então parem de reclamar da ausência do estilista. A série está esplêndida e bem escrita, focando nos temas que esse crime levanta e tudo o que o envolve, e se você consegue pôr defeito num episódio perfeito como esse, e não entender sua necessidade pra trama…
Bem, talvez você não devesse estar assistindo a essa série.

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