Simon vs. A Agenda Homo Sapiens (Becky Albertalli)

  
Simon tem dezesseis anos e é gay, mas ninguém sabe. Sair ou não do armário é um drama que ele prefere deixar para depois.
Acontece que no meio do caminho tem um Martin. O bobão da escola descobre uma troca de e-mails entre Simon e um garoto misterioso que se identifica como Blue e que a cada dia faz o coração de Simon bater mais forte.
De posse de algo tão íntimo sobre a vida de Simon, é claro que Martin vai tentar chantageá-lo. Se Simon não ceder, seu segredo cairá na boca de todos. E pior: sua relação com Blue poderá chegar ao fim, antes mesmo de começar.
Agora, o adolescente avesso a mudanças precisará encontrar uma forma de sair de sua zona de conforto e dar uma chance à felicidade ao lado do menino mais confuso e encantador que ele já conheceu.

Uma narrativa sincera, bela e madura. Também sobre amadurecimento.
Eu queria dizer, antes de tudo, sobre como é bom ler! Sobre como é bom SER O SIMON por algum tempo, viver e sentir isso tudo com tanta intensidade que é exatamente como se fôssemos ele. Eu me sinto assim lendo. Eu vivo, eu choro, eu sorrio, eu fico sem fôlego. EU ME APAIXONO. Por algum tempo, eu estou vivendo isso tudo no lugar dele, isso tudo por ele… e por mim. Por que eu SOU ele, e essa é a experiência última da leitura: te fazer sentir, te fazer viver. É forte, é revigorante, e eu nunca quero parar. Quero ser pra sempre Simon, vou ser pra sempre um pouquinho de Simon, porque agora ele sou eu como eu sou ele. Profundo, mas sincero. Desde o começo do livro, eu me reconheci em Simon Spier em várias ocasiões, mesmo, e é bom nos identificarmos com algo que estamos lendo, porque a trama de Becky Albertalli é realmente tão honesta.
Já vivi isso, ou já vi pessoas próximas a mim viverem.
ISSO É REAL!
O primeiro livro de Becky Albertalli que leio, e eu sinto que ela é uma autora tão fenomenal. Com propriedade sobre o que diz, ela conduz uma narrativa envolvente, e você sorri a cada passagem, e se recusa a largar o livro porque os personagens se tornaram seus melhores amigos e seus cúmplices, e você não quer sair do lado deles. Isso é bom. O Simon é um fofo, totalmente apaixonante. O Blue diz isso a ele em seus e-mails, e é a mais pura verdade: ELE É FOFO, é isso. E talvez uma das coisas mais fofas sobre ele seja exatamente o fato de ele não saber que é tão fofo. Ele tem um cachorro chamado Bieber, melhores amigos fantásticos, e ainda não saiu do armário porque sabe que a família vai fazer um estardalhaço quando ele sair… e, de alguma maneira, ele não sentia, até então, essa necessidade. Não até ele realmente se apaixonar por alguém.
“Simon vs A Agenda Homo Sapiens” é um livro complexo e repleto de nuances e possibilidades. Ele está organizado, em sua maioria, por capítulos de narrativa intercalados com e-mails que Simon, como Jacques, troca com Blue, um garoto misterioso que se assumiu gay no Tumblr da escola, e que ele não sabe quem é. E por quem ele eventualmente se apaixona. Uma das coisas mais interessantes do livro de Becky Albertalli é que me parece um livro acessível a todos. Para alguém gay, como eu, além de ser apaixonante, sofrido e até excitante, ele também é um livro em que nos reconhecemos. Para quem não é gay, é um livro com uma história envolvente, bonita e que ainda é bem instrutiva para quem não faz parte do universo. De todo modo, o livro traz momentos peculiares como aquela troca de e-mails inicial sobre “quando eles descobriram”.
É algo pelo qual todo gay já passou, e já pensamos nisso. Quando nos demos conta de que somos gays? Gostei muito da resposta do Simon para o Blue:

“Não sei muito bem como foi comigo. Foram várias coisinhas. Por exemplo, um sonho estranho que tive com Daniel Radcliffe. E a obsessão que eu tinha pelo Passion Pit no fundamental, que depois percebi que não era bem por causa da música” (ALBERTALLI, 2016, p. 17)

Tive sensações conflituosas (e boas) ao ler essa passagem. Tive que deter a leitura por alguns minutos e pensar no quanto Simon me representava. “Foram várias coisinhas” é uma das coisas mais inteligentes que Becky Albertalli diz. E o “sonho estranho que tive com Daniel Radcliffe” é bem preciso, e não diz respeito apenas a Simon. Digamos que a cena da banheira em “Harry Potter e o Cálice de Fogo” e todas aquelas notícias de “Equus” tiveram um papel fundamental na descoberta de minha sexualidade… além de várias outras coisas. E tudo no livro, a cada virar de página, ME FASCINAVA. Eu conseguia me ver, e conseguia ver amigos meus em cada trecho – reconheço, com certa vergonha, que ri muito naquela cena do baile no Dia dos Namorados que ele passou no banheiro, e “terminou” com a sua namorada: “Porque uma coisa que eu tenho é classe”.
Não foi exatamente assim, mas… been there, done that.
Outra passagem forte:

“Só não foi muito constrangedor porque a coisa toda aconteceu na minha cabeça. Impressionante, né? Uma pessoa pode despertar sua crise de identidade sexual e não fazer a menor ideia disso” (ALBERTALLI, 2016, p. 19)

Anyway. Simon me representa em INÚMERAS formas e não é apenas quando tem a ver com o fato de sermos gays. Opiniões como “Ou talvez as pessoas devessem usar óculos logo e parar de tocar nos globos oculares” são coisas que eu já disse, fora essa imensa e eterna obsessão por “Harry Potter”, and I quote: “After all this time?” “Always”. Também foi totalmente eu quando ele fala de sua fantasia de Dementador e sua irmã Nora pergunta “o que é um Dementador”. Um momento de pausa, e um comentário para os leitores: “Ah, não dá”. Então ele diz que “Nora não é mais sua irmã”. E eu me divirto. No caso dele, ele ainda teve toda a questão das fanfiction slash de Harry Potter e Draco Malfoy “se pegando de milhares de formas diferentes, em todos os armários de vassouras de Hogwarts”. Mesmo fã de “Harry Potter”, se você não for gay, talvez não saiba sobre isso…
O livro começa com uma conversa de Simon Spier com Martin, o garoto que diz que “leu seu e-mail”, que ele deixou aberto no laboratório, e então descobriu que ele é gay. Até aí, até que quase tudo bem, até que Martin usa os e-mails (ele tirou print!) para chantagear Simon. Não mostrará para toda a escola se ele o ajudar a ficar com a sua amiga, Abby. É totalmente absurdo e ridículo, embora Martin se defenda e diga que não é chantagem… não sei o que ele pensa que é então! Simon está um pouquinho preocupado com tudo, mas ele diz que não se importa se a escola toda descobrir que ele é gay. Ele está preocupado com Blue, o garoto misterioso com quem troca e-mails e é tão reservado: ele cometeu um deslize e agora não apenas ele corre o risco de ser exposto, mas o Blue também! E ele não se perdoaria se isso acontecesse.
Sem contar que não quer que ele deixe de conversar com ele.
Mas em grande parte eu sinto que o que define o livro é a EMOÇÃO. Vide aquele momento em que ele está super mal por causa da chantagem, e fica no estacionamento da escola, dentro do carro, até a hora de entrar na sala, para não precisar ver Martin Addison. Nick, seu melhor amigo, entra no carro ao lado dele, e eles assistem “Hora de Aventura” até a hora da aula… Nick sabe que há algo errado, mas não pergunta, embora esteja ali, caso Simon queira conversar. É muito BONITO! E eu estava shippando Simon com todo mundo. Com o próprio Nick. Com o Cal Price e aquela franja castanha desgrenhada e os olhos azuis escuros. E por algum momento quase que com Martin, quando eles trocam olhares e sorriem e se divertem juntos no ensaio do teatro… o começo do livro faz com que você se apaixone por tudo e por todos, e o sentimento é sensacional.
ADORO o trecho do Halloween, e momentos embaraçosos como quando Simon manda e-mail para Blue do celular e o corretor automático faz umas loucuras como “BUM”, depois “BUNDA”, antes que ele consiga enviar “BOM”. O sentimento é de todos numa situação dessas: “Vou ali num cantinho morrer de vergonha e já volto”. E quando o Blue responde falando da “[…] previsão de tempo bum. Perdão, tempo bunda”? FOFO DEMAIS. Sim, o Blue também sabe ser fofo… mas o Halloween. Becky Albertalli adora encher o seu livro de referências. “Harry Potter” perpassa toda a narrativa, e o Halloween é sua oportunidade de citar um monte de outras coisas, como o Lanterna Verde, como Cleópatra e Macbeth (coisas da Nora), ou o maravilhoso Uau, a Katniss está beijando o Yoda?” O Halloween é UM EVENTO, eles se fantasiam para a escola, se fantasiam para ficar em casa quando as crianças passarem pedindo doces, e se fantasiam para ir a uma festa…
A primeira festa de Simon. O Halloween já parece um momento MÁGICO, propício, mas Simon fica totalmente deslocado na festa. Eu. Sua opinião sobre a cerveja? ME LEVOU ÀS GARGALHADAS!

“Tomo um gole de cerveja e acho… Ah, é incrivelmente nojento. Acho que eu não esperava que tivesse gosto de sorvete, mas pelo amor de Deus. As pessoas mentem e fazem identidade falsa e entram escondidas em bares para isso? Acho que eu prefiro dar uns amassos no Bieber. O cachorro. Ou o Justin” (ALBERTALLI, 2016, p. 45)

Enquanto Nick canta “Wish You Were Here”, do Pink Floyd, Simon está pensando no Blue, e também em Cal Price, e eu fiquei todo elétrico… na verdade, parecia meio “óbvio” que o Blue era o Cal, por isso eu tinha certeza absoluta de que não era. Ainda estávamos razoavelmente no início do livro, e eu sabia que Becky Albertalli só podia estar nos enganando. Mesmo assim, era tão bonito sonhar! Ao voltar para casa com Abby pela vizinhança vazia, ele comenta: “Parece que somos os últimos sobreviventes de um apocalipse zumbi. Uma Mulher-Maravilha e um dementador gay. Não é um bom presságio para a sobrevivência da espécie”. Naquela noite, Abby dorme na casa dele, e eu adoro como ele fala da ironia de sua mãe colocá-la para dormir no quarto de Alice, tendo em vista que o Nick dorme no chão do seu quarto por noites e noites há dez anos.
Naquela noite, Simon pensa sobre sair do armário.
E fala sobre como tem que sair do armário o tempo todo. E isso é exaustivo.

“É isso que as pessoas não entendem. Essa coisa de sair do armário. Não é nem por eu ser gay, porque lá no fundo sei que minha família levaria numa boa. Não somos religiosos. Meus pais são democratas. Meu pai gosta de fazer piadas, e seria constrangedor, sem dúvida, mas acho que tenho sorte. Sei que eles não vão me deserdar nem nada. E tenho certeza de que algumas pessoas da escola pegariam no meu pé, mas meus amigos não se importariam. Leah adora caras gays, então acho que ficaria empolgadíssima. / Mas estou cansado de sair do armário. Tudo que eu faço é sair do armário. Tento não mudar, mas estou sempre vivendo essas pequenas mudanças. Arrumo uma namorada. Tomo uma cerveja. E, todas as vezes, preciso me reapresentar para o universo” (ALBERTALLI, 2016, p. 54)

Para mim, uma das passagens MAIS LINDAS do livro! <3
Como adolescente, o que você sentiria ao ler um e-mail como esse abaixo para você?

“[…] Confesso que gosto de imaginar você criança fantasiando com comida porcaria. Também gosto de imaginar você agora, fantasiando sobre sexo. Não acredito que acabei de escrever isso. Não acredito que estou clicando em enviar. Blue” (ALBERTALLI, 2016, p. 73-74)

Eu QUASE MORRI. O e-mail não era para mim, eu não sou mais um adolescente, e eu quase morri. Mais um daqueles momentos em que tenho que parar o livro um pouquinho para dar uma pensada, uma respirada e uma calmada. E sério, o Simon é TÃO HUMANO, TÃO REAL, TÃO NÓS. Porque a autora representa exatamente o nosso sentimento em uma situação dessas:

“Ele gosta de me imaginar fantasiado sobre sexo.
Definitivamente eu não deveria ter lido isso logo antes de ir para a cama. Estou deitado na escuridão total, lendo essa frase no celular repetidas vezes. Estou ansioso e elétrico e com o corpo todo tenso só por causa de um e-mail. E estou excitado. Isso é meio estranho.
E muito confuso. De um jeito bom. Blue normalmente é tão cuidadoso com o que escreve…
Ele gosta de me imaginar fantasiando sobre sexo!” (ALBERTALLI, 2016, p. 75)

Segue uma brilhante e precisa descrição de uma masturbação! Nada vulgar, só legal! Real.
As emoções muito variam. No aniversário de Simon, ele ganha bolo, como todo mundo da mesa quando é aniversário deles, e a mesa nerd se torna a mais popular da escola. As pessoas perdem a dignidade quando se trata de um pedaço de bolo, e depois ele ainda faz um piquenique no palco com o pessoal do teatro, e ele tem um breve e bonito momento com Cal Price, em que ele dá um chutinho em seu pé, se senta ao seu lado, toda o seu ombro por uma fração de segundos… e o nosso coração dispara com essas pequenas coisinhas. Para o Blue, ele não pode contar que é seu aniversário, ou então seria fácil descobrir quem ele era, mas ele manda um divertido e-mail às 4 da manhã, bêbado de cansaço e açúcar, e sugere que eles marquem “um encontro às escuras”. Blue não acha uma má ideia, mas eles não conseguem fazer funcionar nos detalhes.
E dessa felicidade do aniversário partimos para um dia “de merda”, como ele diz. Começa com o Martin se metendo numa brincadeira dele e de Abby, depois ele vê uma garota com a perna por cima da de Cal, e por fim ele se sente excluído porque a Leah estava na casa de Nick sem ele. Para resolver esse dia, só conversando com Blue, e isso lhe faz bem – ali, parece que eles têm uma das conversas mais íntimas e mais bonitas. Falam sobre o judaísmo (Blue é meio judeu), sobre Sair do Armário (com letras maiúsculas) e bandas. Blue é um fofo dizendo que, se pudesse, compraria milhares de camisetas de bandas para ele… talvez eles pudessem ir a um show juntos. Diz que não entende de música, mas sabe que seria legal se estivesse com ele. Fora de brincadeiras, “Blue” e “Jacques” se conhecem talvez melhor do que ninguém, e as conversas são recheadas de sinceridade.
Eu me emociono.
E eles se apaixonam.
A primeira pessoa para quem Simon conta que é GAY é Abby, abruptamente. Ele não planejou nada, mas acabou saindo em uma ocasião. Os dois estavam no carro, com frio, e ele diz que é gay. Ela é uma fofa, mas o destaque não está nela. Está nele. A emoção de dizer isso em voz alta pela primeira vez… pode não parecer, mas é algo FORTE e tanto! Parece que se torna mais real quando você diz isso em voz alta, e o sentimento é bem esse que o Simon descreve, de mãos suando e tremendo. Mas é uma sensação TÃO BOA! Ao mesmo tempo, Blue também conseguiu contar para a mãe, e é LINDO como ele agradece ao “Jacques” por isso, dizendo que “sente que foi graças a ele”. Nesse momento, eu estava pensando que eles podiam até não ficar juntos, mas eles foram essenciais um na vida do outro e nesse momento. Depois de contar a Abby, Simon sente que precisa contar a Nick e Leah.
Mas não consegue.

“Estou deitado no porão de Nick, o local de tantas transformações de Power Rangers e batalhas de sabres de luz e copos de suco derramados, mas tudo que quero no mundo é que o próximo e-mail de Blue chegue. E Nick e Leah ainda estão conversando sobre a porcaria da TARDIS. Eles não fazem ideia do que está acontecendo comigo. Nem desconfiam de que sou gay” (ALBERTALLI, 2016, p. 119)

Cenas que também me alegram são as de Simon com Cal Price, embora eu sentisse o tempo todo que estava sendo enganado. Mesmo assim, eu estava amando, torcendo e querendo vê-los juntos. Vide o ensaio em que eles acabam (com o resto do pessoal do teatro) cantando as músicas da Disney na escada, ou aquela corrida de cadeira de rodinhas no corredor, em que Cal empurra Simon, com as mãos em seu ombro, e os dois rindo. No fim, tem até isso:

“As mãos dele seguram meus ombros, e nós estamos rindo; as fileiras de armários se tornam uma mancha azul, feito pasta de dente. Estico as pernas, e paramos. E acho que tenho que me levantar. Levanto a mão para bater na de Cal, mas ele entrelaça os dedos nos meus por um segundo. Em seguida, olha para baixo e sorri, e os olhos estão escondidos pela franja. Soltamos as mãos, e meu coração está disparado. Preciso olhar para outra coisa” (ALBERTALLI, 2016, p. 125)

Meu coração <3
Então as coisas se tornam mais sérias. Blue está preocupado porque seu pai vai ter outro filho, Martin está enfurecido porque levou um fora de Abby, e como um tremendo BABACA, ele desconta isso tudo em Simon, e posta algo vulgar e nojento no Tumblr, para magoar o Simon. Eu fiquei morrendo de ódio. Expor Simon é uma falta de respeito tremenda, e a maneira como ele faz isso, as palavras baixas que ele usa… então o mundo de Simon parece prestes a despencar, mas é aí que Becky Albertalli torna a sua narrativa ainda mais significativa, porque nem tudo é fácil, nem tudo é bom e colorido, mas ele está ali, forte para enfrentar o que precisar. Forte o quanto puder. E ele tem pessoas que o amam ao seu redor. Nora, sua irmã mais nova, é quem mostra o post no Tumblr, e é totalmente fofa com o Simon. Leah e Nick aparecem para conversar, mas não dizem nada. Abby manda mensagens lindas e preocupadas para ele.
E isso tudo o força a Sair do Armário, de letras maiúsculas.
Natal. Estamos em pleno Natal, e não parece justo o que Martin fez, mas agora Simon está saindo do armário. NINGUÉM (e isso é algo que precisa ser entendido) pode ser “tirado do armário”, é um momento pessoal e muito importante, e meu nojo por Martin escala, mesmo que Simon até que lide bem com isso. E é um grande passo para ele. O meu principal medo nisso tudo (e me sinto um adolescente nesse momento) era que Blue deixasse de falar com ele por causa daquela referência idiota do Martin que fala em “bluequete” no post, mas felizmente ele não viu a postagem, ao menos Simon não perdeu o Blue. E agora a família já sabe. As irmãs são absolutamente FOFAS, do início ao fim, tanto a mais nova quanto a mais velha, e os pais, meio em choque, não chegam a fazer todo o estardalhaço que ele esperava… não ainda, ele virá de outras formas.
No Ano Novo, no porão com Abby, Leah e Nick, se torna oficial que Simon é gay, e os amigos são bem legais sobre isso. A Abby tentando dar bronca neles, mandando eles fazerem alguma coisa, e quando ela manda que Nick segure a mão de Simon, e Simon diz que não vai fazer isso, o Nick é bem legal dizendo que “seguraria sua mão”. O problema, agora, é que Leah fica chateada porque Abby já sabia e Simon não contou a Leah, mas eu meio que o entendo – foi mais fácil contar a Abby, que ele conhece há alguns meses, do que a Leah, que ele conhece sua vida inteira, porque parecia estranho dizer isso para alguém que você sempre conheceu. Não porque ele temesse sua reação, foi ela quem o apresentou a Harry e Draco, mas sei lá. A complexidade do momento nos deixa confusos. É como se tudo estivesse bem, mas é uma situação peculiar e delicada… e eu temia que não estivesse.
O retorno à escola é outro momento delicado. Nora é toda parceira, mas ela não pode estar com Simon o tempo todo, e aqueles caras babacas zoando ele no corredor foi nojento. Até quem “apoia” é meio chato e inconveniente, se você não conhece essas pessoas. Leah e Abby, as fofas, é que são um máximo como “dois pitbulls o defendendo de qualquer olhar estranho”. E tudo é forte, como a cena de bullying desprezível na porta do teatro, mas ao mesmo tempo em que nos ENFURECEMOS com aquelas pessoas preconceituosas, nós também nos encantamos por quem não achávamos que nos encantaríamos, e é TÃO BONITO ver pessoas inesperadas lhe dando força… é assim na vida real também, felizmente. A Abby sair com raiva atrás dos garotos é natural, mas ela não é a primeira a sair. A primeira que sai é Taylor (!), a garota “chata” que gosta de se aparecer no teatro. E são pequenos momentos como esse que verdadeiramente NOS EMOCIONA. Ela volta depois, chorando, e Abby diz que ela quase bateu num cara. É perfeito. Depois de tudo, Taylor ganha o nosso respeito! E a Sra. Albright, a professora, também é um máximo no seu discurso e cancelando o ensaio para garantir a suspensão daqueles garotos.
Em seguida vem a cena do futebol e o sorriso lindo de Bram.
E meu coração novamente… DISPARADO. Tudo o que eu pensava nesse momento: “Ele é gay? Ele gosta do Simon? É ele o Blue?”
Enfim.
E para finalizar a experiência do primeiro dia de aula depois que ele foi exposto, Simon enfrenta Martin que tenta vir “lhe pedir desculpas”. Ali, ele diz TUDO que estava engasgado, e eu fiquei com muito orgulho de Simon!

“– Tudo bem, que tal isto? Acho você um babaca. Um babaquinha de merda. Nem vem com essa de que não sabia que isso ia acontecer. Você me chantegou. Isso… Cara, não era o que você queria? Me humilhar?
Ele balança a cabeça e abre a boca para responder, mas eu interrompo:
– E quer saber? Você não é ninguém para vir dizer que não é nada de mais. Isso foi uma grande coisa, sim. Essa história era para ser… Era para ser minha. Sou eu quem devia decidir quando, onde, para quem e como queria sair do armário. – De repente, surge um nó na minha garganta. – Você tirou isso de mim. E ainda colocou Blue no meio? Sério? Você é um merda, Martin. Não quero olhar para a sua cara nunca mais.
Ele está chorando. Está tentando se controlar, mas está chorando de verdade. E meu coração se aperta.
– Você pode se afastar do meu carro e me deixar em paz?
Ele assente, baixa a cabeça e vai embora.
Eu entro no carro. E desabo em lágrimas” (ALBERTALLI, 2016, p. 174)

Digitando essas palavras agora, eu novamente percebo o QUÃO FORTE é isso tudo. Simon lavou a nossa alma, e a maneira como os sentimentos são COMPLEXOS nisso tudo… wow. No meio disso tudo, Blue ainda lhe diz, em um e-mail, que sabe quem ele é. Jacques a Dit. Simon Says. E Simon não tem noção de quem Blue seja, porque ele descobre que não é Cal Price. De todo modo, “Na quinta-feira, depois do ensaio, Cal menciona casualmente que é bissexual. E que deveríamos sair qualquer dia desses”, e eu julguei um pouco o Simon nesse momento. Ele não sai com Cal Price, embora ele seja um fofo, lindo e adorável, porque “ele não é o Blue”, e eu quase fiquei com raiva… porque eu teria saído. Eu teria VIVIDO isso. Afinal de contas, Cal era gatinho e legal, e o estava chamando para sair… se o Blue sabia quem ele era e não queria dizer quem era em retorno, talvez ele não devesse ficar esperando.
Claro que devia sim. Eu sou provado errado.
Mas é que eu já tinha uma quedinha antes por Cal Price.
Não tanto quanto pelo verdadeiro Blue ao fim das contas, naturalmente.
Até o Simon está um pouco incomodado com o Blue, com o fato de ele não dizer quem é de verdade, mas ele ainda sabe ser um fofo, como quando coloca uma camiseta de presente para ele em seu armário, o que é bem fofo, mas ele ainda não tem coragem de dizer quem é. Simon guarda a camiseta, porque não lhe parece certo vesti-la (ele deixa debaixo do travesseiro), e fica todo confuso em seus sentimentos, pensando que talvez os e-mails tenham parado e Blue não queira dizer quem é porque não gostou de saber quem ele é, não o acha atraente, talvez. E esse sentimento é tão dolorosamente REAL! Infelizmente. Por isso, Simon fica em suspenso, e se dedicando à peça da escola, “Oliver!”, o que é um sucesso pela manhã, e Simon fica “absolutamente lindo sem óculos e de lápis nos olhos”, mas à tarde tem outro episódio de bullying. Ele até chega a pensar que Martin (!) seja Blue, e isso o incomoda. É zoado, é estranho e seria bizarro…
Mas em algum momento também já tinha pensado nisso.
Em uma das melhores cenas, e eu sinto que Simon precisava disso antes de conhecer o Blue, Abby e Nick levam Simon até Midtown, a um bar gay, e é toda uma nova realidade, algo que ele desconhece e ama. O recepcionista que coloca a mão em seu ombro, o Peter, do terceiro ano da faculdade, que é um gato e fica todo pra cima dele, abraçando e dando beijos no seu rosto, e o apresentando aos amigos. Que cena com os amigos de Peter e as bebidas. Simon está FELIZ e está VIVENDO, e é emocionante, além de um pouco divertido. Ele fica bêbado, flerta com caras desconhecidos e gatos, e sai abraçado aos amigos que o ajudam a andar, dizendo que os AMA. Tão feliz e tão leve, o Simon precisava de uma noite assim. O que ele não precisava era da bronca dos pais que o colocam de castigo, mas foi culpa dele por querer voltar pra casa e buscar a camiseta do Blue, mesmo estando bêbado.
Depois daquela noite, a que Leah não foi convidada, ela fica magoada de verdade, e eu a entendo. Para completar, Abby e Nick estão namorando depois da sexta, e o livro parece estar acabando comigo a cada segundo. Leah está brava. Abby se afasta quando Martin “conta tudo” para ela, e diz a Simon que ele não tinha o direito de “decidir sua vida amorosa”, e eu não concordei com a atitude dela, tendo em vista todo o lance de chantagem. E é tão triste ver o Simon sozinho e infeliz. É ele quem usa essa palavra: INFELIZ. A peça foi um sucesso, mas ele está triste, embora a família seja bem bacana com ele. Os pais conversam com ele, o pai lhe pede desculpas pelas piadas sobre gays (porque o que Simon disse a ele na sexta, bêbado, foi FORTÍSSIMO), e a mãe só pede que ele fale com eles, lhes conte o que está acontecendo, e o deixam em condicional: não pode sair, mas pode usar o celular e o computador.
Ali ele se dá conta de que Blue não era Martin. Ufa.
Então ele relê todos os e-mails, e se apaixona novamente.
Ainda sem saber quem é.
Mas então Simon toma uma decisão. Ele manda um e-mail definitivo para Blue, diz que estará no parque de diversões depois da peça, e volta para casa para se arrumar, colocando a camiseta que ele lhe deu por baixo da jaqueta e, ao fazê-lo, ele encontra um bilhete que encheu meu coração:

“P.S.: Adoro o jeito como você sorri, sem perceber que está sorrindo. Adoro seu cabelo de quem acabou de acordar. Adoro o jeito como você faz contato visual por mais tempo do que o necessário. E adoro seus olhos cinza-lua. Então, se você acha que não sinto atração por você, Simon, você está maluco” (ALBERTALLI, 2016, p. 230-231)

Embaixo, seu número de telefone.
POR QUE SIMON NÃO VIU ISSO ANTES?
Mas eu respondo: porque Simon precisava passar por algumas coisas antes de descobrir quem era Blue e poder viver feliz ao lado dele. As cenas são PERFEITAS, E EU ME SINTO COMO SE FOSSE O SIMON, VIVI ISSO TUDO COM ELE. Essa descoberta… senti as emoções, o nervosismo, a tremedeira… aquele capítulo no parque de diversões, que também conta com uma reconciliação com Abby, os brinquedos quase fechando e Simon vai à Xícara Maluca, o único lugar a que Blue não iria. MAS ELE VAI. Eu estou ali, tão sem fôlego quanto ele, tão nervo e tão feliz quanto ele. É BRAM. SEMPRE FOI O BRAM <3 A construção é linda DEMAIS, do e-mail e bilhete na camiseta ao encontro no parque de diversões. Simon e Bram, aquele final de capítulo mais perfeito, que fez meu coração disparar, e que faz meu coração disparar novamente quando releio agora:

“Eu me inclino na direção dele e sinto o coração na garganta.
– Quero segurar sua mão – digo, baixinho.
Porque estamos em público. Porque não sei se ele saiu do armário.
– Então segura – diz ele.
E eu seguro” (ALBERTALLI, 2016,p. 238)

Os dois compartilham os mais belos momentos. Coisas como um sorriso correspondido (“Ele sorri de volta, e fico tonto e sem fôlego e meio desnorteado”), ou uma fuga da escola, mesmo com chuva, para que eles tenham um almoço de Oreo no carro. O primeiro beijo, complicado no começo, natural e gostoso logo em seguida. A palavra “namorado”. Eu estava sorrindo E NÃO ERA POUCO. O tempo todo sorrindo, quase chorando, totalmente apaixonado. QUE NARRAÇÃO PERFEITA. E então vai para o Face, as curtidas bombam, Abby deixa um comentário lindo. Alice deixa um comentário hilário. Abby deixa mais um comentário, mas naquela noite Simon só quer falar com Bram, guardar esse momento PARA ELES, aproveitando o quanto a palavra “namorados” soa bem. No dia seguinte, ele lida com coisas como “Agora chega. Estou quase enlouquecendo. O que está rolando entre você e Bram?”, da Abby, ou “Pois bem. Uma das minhas irmãs está prestes a ser assassinada”, quando a mãe diz que “quer ver o namorado”.
O final do livro é EMOCIONANTE. Traz uma conversa linda com Leah e repleta de lágrimas, e um e-mail que parece sincero de Martin Addison, mas que Simon ainda não quer responder. Não sabe se um dia responderá, mas ele está lá. Agora ele está curtindo essa nova fase, está curtindo Bram, SEU NAMORADO LINDO, e eles estão felizes. Eu estava totalmente feliz. As cenas finais do livro trazem um Show de Talentos, uma banda chamada Emoji que tem Leah, Taylor e Nora, e é muito bacana, o “Theo da Alice”, que parece bem legal, e um plano da irmã mais velha para conceder duas horas sozinhos em casa para Simon e Bram, além de um sorrisinho malicioso de Bram que parece bem sexy. As duas horas deles sozinhos no quarto de Simon realmente foi bem bacana. Por fim, ele sabe que o “estardalhaço” vai vir, mas ele não se importa.
Porque ele está TÃO FELIZ.
E é bem isso o que eu sinto lendo o livro: FELICIDADE.
Amei de todo o coração, vai ficar entre meus livros FAVORITOS da vida <3



ALBERTALLI, Becky. Simon vs A Agenda Homo Sapiens. Rio de Janeiro: Intrínseca, 2016.



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Comentários

  1. Bom dia Jefferson! Assisti o filme e adorei a história, e agora lendo resenha do livro fiquei com muita vontade de ler! Mas tenho uma dúvida: no filme tem uma cena do Simon no pátio da escola abrindo um pacote de Oreo, o Bram chega e comenta que ama Oreo também. Isso junto com a narração dos emails deles falando um pro outro que gostavam de Oreo e depois trocando olhares na sala de aula. Dúvida: naquele momento o Simon desconfiou que o Blue seria o Bram, mas e o Bram, também já desconfiava ou já sabia que o Jacques era o Simon nesse ponto da história?

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    1. Oi Vinícius! Então... pelo que eu me lembro, vamos lá. No filme, sim, o Simon desconfia que Bram é o Blue, mas no filme ele desconfia de algumas pessoas, Bram é apenas a primeira, né? Depois ele passa para outras pessoas... no livro, o Simon nunca chega a desconfiar que seja o Bram, nem lhe passa pela cabeça! Já o Bram provavelmente sabia, porque ele descobre muito muito rápido que o "Jacques" é o Simon, ele ainda comenta que ele é "meio óbvio". Mas leia o livro, sim, é muito muito bom, muito fofo... como você viu no texto, eu amei, né? HAHA

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