A Cabana (The Shack, 2017)


“You’re never as alone as you think”
Muito se ouviu falar de “A Cabana” nos últimos anos, o livro de William P. Young, de 2007, que eu infelizmente nunca peguei para ler. Digo infelizmente agora, tendo assistido ao filme, porque eu não tinha noção do quão LINDA era essa história. Repleta dos mais belos simbolismos, A Cabana é uma história emocionante de um pai que perdeu uma filha, que foi brutalmente assassinada em um acampamento, e agora ele precisa aprender a lidar e viver com isso, e deixar de culpar a Deus por ter “permitido” que isso acontecesse. Comovente e arrepiante, o filme me levou às lágrimas em mais de um momento, e me tocou profundamente. É mesmo belíssimo, e traz uma mensagem forte e impactante, que muitas vezes nós precisamos parar para ouvir. Falando sobre fé sem falar sobre religião, o filme retrata a relação com Deus de uma forma palpável, íntima e mágica.
E por isso se torna um dos meus filmes favoritos de todos os tempos.
A Cabana começa nos apresentando Mack Phillips, um garoto que sofreu demasiado na infância com um pai alcóolatra que batia na mãe toda vez que bebia, mas que cresceu para ser um pai totalmente diferente daquele que teve. Sua relação com seus filhos, Josh, Kate e Missy é bonita demais. Sua relação com Deus, no entanto, é um pouco mais distante do que a que sua esposa tem, por exemplo, que chama Deus de “Papa”. E isso se intensifica quando um acidente bobo leva embora sua filha mais nova. Depois de uma introdução linda que nos leva a uma cachoeira e nos apresenta a história de uma princesa indígena, além das mais inteligentes perguntas de Missy, Josh e Kate estão em um barco no acampamento e quando o barco vira e Josh fica preso embaixo dele, Mack corre para salvar o filho, mas quando retorna, Missy não está mais lá.
Depois de algum tempo de procura, eles encontram o vestidinho vermelho da garota em uma cabana no meio da floresta, e algumas marcas de sangue. É brutal como o filme nos golpeia dessa maneira, com a dolorosa perda de uma garotinha tão pura e inocente, e tão carinhosa com o pai. Não chega a nos surpreender que a vida de Mack seja destruída a partir de então, e que sua relação com Deus se torne ainda mais distante do que já era. Porque ele não consegue entender como Deus “permitiu” que alguém matasse sua garotinha. As respostas começam a surgir a partir de um misterioso bilhete que lhe é deixado na caixa do correio, num dia de muita neve, mas sem nenhum rastro. O bilhete o convida para a “cabana” naquele fim de semana, onde “Papa” (como o bilhete é assinado) estará. Mack não sabe se é uma brincadeira de mal gosto ou uma carta genuína de Deus, mas ele precisa conferir…
Então ele vai.
Salvando-se por um triz de um acidente com um caminhão vermelho, Mack chega ao acampamento e à cabana como a conheceu. Vazia, quebrada, com as marcas de sangue no chão. E ele surta, ele quebra tudo, ele grita, e cai desolado no chão frio e com neve. Depois ele tenta ir embora, mas vê um homem passando que diz que “alguém gostaria muito de conhecê-lo”, e então ele leva Mack de volta à cabana, a uma versão diferente e lindíssima da cabana, onde não há neve, onde há muita cor e muitas flores, e muito sol… tudo é tão lindo e aconchegante, mágico. Quase não parece real. É onde Mack conhece três pessoas, cujas presenças já transmitem paz, que querem lhe ajudar a entender e a melhorar. E essas “três” pessoas são a Trindade Santa. O Pai, o Filho e o Espírito Santo. O Pai é “Papa”, uma senhora gentil e alegre. O Filho é Jesus, humano. E o Espírito Santo é Sarayu, o sopro de vida.
Tudo, absolutamente TUDO, no filme é cuidadosamente pensado e lindamente narrado, como uma espécie de poesia que te guia, te instrui e te leva consigo. Você se afeiçoa a cada um instantaneamente, com as brilhantes interpretações de Octavia Spencer, Aviv Alush e Sumire. E Mack entende rapidamente QUEM são essas três pessoas, afinal de contas Nan, sua esposa, chama a Deus de “Papa”, de todo modo. E é bonito e quase divertido como o filme retrata esse grande mistério da Trindade, em que os três são três e um ao mesmo tempo. Através das chagas, por exemplo, presentes nos pulsos de todos eles, que Papa mostra a Mack para que ele veja que ele entendeu as coisas erradas, e Ele nunca permitiu que Jesus estivesse sozinho na cruz… Ele não faz isso com os seus filhos, aqueles de quem “gosta especialmente”, como Ele diz.
As cenas com Papa são particularmente comoventes. Ela explica o motivo de eles estarem justamente ali, na Cabana, porque segundo Papa, aquele é o lugar ao qual Mack ainda está preso, e é dali que ele tem que se libertar. A maneira como conversam, como Mack ajuda a amassar uma massa de pão, como eles fazem uma refeição juntos… a leveza do lugar, e a beleza intimista de tudo. Mas Mack não consegue simplesmente CONFIAR em Papa, porque acredita que foi sua culpa que Missy foi levada embora. E a maneira como ele culpa a Deus por isso é muito forte e angustiante, então ele diz que vai embora. Deus diz que não está interessado em prisioneiros, ele está livre para ir embora quando ele quiser, embora preferisse que ele ficasse. E Mack tenta mesmo ir embora, mas antes disso é interceptado por Sarayu, que pede sua ajuda com algo.
Uma das cenas mais LINDAS do filme.
Eles estão em um jardim. Uma “confusão”, segundo Mack. Mas Sarayu está cuidando de tudo, fazendo o que pode, retirando as ervas daninhas e jogando fora para que não voltem a crescer, a pedindo a ajuda de Mack nesse processo todo, porque “ela plantará algo especial ali amanhã”. Eles trabalham, assim, no centro do jardim, preparando o espaço, tirando o que não presta, e Sarayu traz bonitos ensinamentos através de metáforas que, mais tarde, Mack diz que não tem certeza de que entendeu. Mas, de todo modo, aquele lugar está sendo lindamente preparado e, embora seja uma “bagunça”, como Mack diz, não deixa de ser lindo… e como o Espírito Santo lhe diz: AQUELE É ELE. Aquele jardim, cada coisa bonita, cada coisa ruim e cada “confusão” é ele, representa ele. E eles estão, agora, cuidando desse jardim para receber o que for especial.
Em seguida temos a cena com Jesus…
E, para mim, É A MELHOR CENA DO FILME.
Acontece que cada momento com Jesus é tocante, e eu gosto das conversas dos dois, e de como, com Jesus, parece que Ele está no mesmo “nível” de Mack. O próprio Mack diz que, com ele, é mais fácil de conversar, e de se sentir à vontade, e Jesus explica que isso acontece porque Ele é humano, como Mack. A bonita amizade e cumplicidade que se forma entre os dois é tão palpável e tão bonita… é exatamente o que queremos para nossa vida. Essa profunda amizade com Jesus. Jesus está empenhado em construir algo na carpintaria, mas diz que já vai encontrar Mack, que sai em um barco para o outro lado. Claro que como Jesus o encontra é andando sobre as águas, como era de se esperar. E é uma cena LINDÍSSIMA, em que Jesus oferece sua mão e convida Mack para vir com ele, para andar com ele sobre as águas… e com medo, ainda testando sua fé, Mack teme, mas por fim aceita o apoio de Jesus.
E vai.
E anda.
Tudo isso me emocionou profundamente, tentando me preparar para o que veríamos a seguir, um dos momentos mais fortes do filme – Mack precisa fazer uma jornada sozinho, no qual encontra, dentro de uma caverna, a Sabedoria, que lhe coloca como juiz de tudo. Inicialmente, Mack não quer ser o juiz, mas ela não entende o porquê, já que julga a todos o tempo todo. Como julga a Deus por ter deixado Missy morrer. Como julga o cara que matou a sua filha. Como julga o seu pai. E as cenas que Mack presencia são fortíssimas e angustiantes, e então a Sabedoria, intensa e justa, o faz entender como é difícil julgar as pessoas, e como Papa não faz o que ele acha que ele faz… ele não escolhe entre seus filhos. Assim como Mack não pode escolher entre Kate e Josh, para mandar um para o Paraíso e outro ao Inferno. Aquilo me arrepiou profundamente.
Uma jornada de conhecimento próprio e de aprendizagem.
Ali, quando Mack desistiu de ser o juiz, disse que não podia continuar fazendo isso, e se ofereceu no lugar de ambos os filhos para que eles fossem ao Paraíso, o filme me destruiu. Eu despenquei em lágrimas frente à maneira como Mack deixa, ou começa a deixar, de julgar Papa por suas ações, como julgou até então. E a Sabedoria permite que ele veja Missy. Ver Missy, leve e bem, brincando no Paraíso ao lado de outras crianças, um lugar colorido e alegre, com Jesus ali com elas… aquilo me arrepiou. E quando Missy se aproximou, sem vê-lo, mas sabendo que ele estava ali, e jogou-lhe um beijo como fez no acampamento, no início do filme, as lágrimas fluíram. Que momento mais emocionante! Daquele banho, Mack voltou muito melhor para o lado de Jesus, e ambos, JUNTOS, correram sobre as águas, quase como crianças. E a simplicidade desse momento lhe garante a beleza.
Essa relação tão intensa e bonita.
A partir de então, Mack entra na parte mais difícil de sua jornada. Primeiro ele tinha que conhecer Deus em suas facetas, e aprender a aceitá-lo. Agora, chegou o momento de perdoar. E ninguém disse que era fácil. São três cenas que representam esse processo: primeiro Mack perdoa Papa, e sua conversa com Ela foi emocionante demais, querido, amoroso, cheio de carinho; em segundo, Mack é levado por Papa, Jesus e Sarayu a um lugar onde estão os filhos de Deus, e ele encontra o pai, abraçando-o e perdoando por tudo, libertando, talvez, sua alma; por último, e mais difícil de todos, Deus quer que Mack perdoe o homem que matou a sua filha, e ele luta para fazê-lo, porque não é simples. Ele diz que perdoa entre lágrimas, e Papa adverte que ele terá que dizer isso inúmeras vezes até que seja mais fácil.
Mas será, um dia.
Com tudo isso conseguido, Mack encontra o corpo de Missy e todas as peças se encaixam lindamente. Com a ajuda de Papa, Mack enrola a filha em um tecido branco, e a carrega, em uma cena de destruir-nos completamente. O corpo é levado à Carpintaria, onde Jesus estava, nesse tempo todo, construindo um lindo caixão para Missy. E, com Sarayu, eles levam o caixão ao espaço especial que Ela e Mack estavam preparando no dia anterior, onde Papa já está esperando por eles. Um enterro digno, enfim, e profundamente doloroso e comovente. Uma cerimônia lindíssima, na qual o caixão é baixado, terra é jogada em cima, e com as lágrimas de Mack que Sarayu e os demais vêm juntando há bastante tempo, eles cobrem o túmulo onde nasce uma linda e grande árvore… a representatividade disso tudo é IMENSA e bela!
Então chega a hora de ir embora. O término do fim de semana – Papa dá a Mack a escolha, de ficar ali com eles e rever Missy, ou voltar para sua família, e ver Missy mais tarde… mas não importa, porque onde ela está não existe impaciência. Ele quer voltar pela família, por Kate que precisa dele, porque se sente culpada pela morte da irmã, mas diz que não quer que Papa, Jesus e Sarayu JAMAIS deixem seu lado, e eles garantem que isso não vai acontecer. Então Mack vai embora, e eu chorei com sua partida, assim como chorei com vários momentos dele nesse fim de semana. E no seu retorno para casa, novamente temos o acidente com o caminhão vermelho, do qual ele não escapa dessa vez. No hospital, mais tarde, dizem a ele que o acidente aconteceu na sexta, que ele nunca conseguiu chegar à Cabana, embora ele insista que chegou sim, e que passou o fim de semana todo com Papa…
Me arrepia pensar nisso e escrever essas palavras.
É o fim comovente de um filme inteligente e tocante, com uma mensagem belíssima. A maneira como Mack volta muito melhor do que foi, a maneira como fala com a família (Nan acredita nele), como garante a Kate que a culpa não é dela… a partir de então, embora vá doer para sempre, eles voltam a viver e a ser felizes, e foi um final emocionante, como todo o filme. É um filme inteligente, complexo e com uma representação do luto e de Deus (através de Papa, Jesus e Sarayu) inovadora e totalmente envolvente. Sentimo-nos, talvez, como se tivéssemos conhecido um pouco melhor Deus através da experiência de Mack na Cabana, nesse fim de semana tão especial, e isso é maravilhoso. Isso enche meu coração de alegria. Isso me faz sorrir como nunca. Estou encantado com a história e com a delicadeza e intensidade dela. Ansioso para ver de novo…
Quem sabe ler o livro?
Conhecer a Deus nunca é demais!

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