Lost 3x08 – Flashes Before Your Eyes

“O universo tem um jeito de corrigir as coisas”

CARAMBA, COMO EU AMO O DESMOND, COMO EU AMO ESSE PLOT E COMO EU AMO ESSE EPISÓDIO! “Flashes Before Your Eyes”, exibido em 14 de fevereiro de 2007, é um dos melhores episódios de “Lost” até o momento, centrado em um dos meus personagens favoritos, e é, possivelmente, uma das melhores maneiras de contas histórias do passado – a inovação nos convencionais flashbacks funciona muito bem e entrega uma história que é, ao mesmo tempo, uma “lembrança” de coisas que Desmond Hume viveu antes de ir para a ilha, como também uma nova história que ele está vivendo agora… ou que ele viveu depois que virou aquela chave. Desmond termina a segunda temporada virando uma chave para salvar a vida de todo mundo quando o botão na escotilha deixa de ser apertado, e ninguém sabe muito bem o que aconteceu com ele depois disso…

Na próxima vez que o vimos, ele está pelado no meio da floresta, de maneira misteriosa, e, mais misterioso ainda, ele parece ter aprendido a “prever o futuro” ou algo assim. Ele fala sobre um discurso de Locke antes mesmo de Locke fazê-lo, por exemplo, ou ele coloca um para-raios na barraca de Claire antes mesmo de uma chuva começar, e agora ele corre da floresta, há quilômetros de distância, para salvar a vida de Claire, que está quase se afogando – o que chama a atenção de Hurley e de Charlie. Hurley já percebeu que ele parece “prever o futuro”, mas Charlie, cético, não acredita nessa história, e tem um plano de como vai fazer Desmond contar como sabia que a Claire estava se afogando, já que ele não quer lhe dar uma resposta direta: ele vai embebedá-lo até que ele fique vulnerável o suficiente para responder a qualquer pergunta que lhe fizerem.

Não que isso funcione.

Percebemos uma mudança no estilo de Desmond da segunda para a terceira temporada, e eu adoro como se intensificou o tom de mistério que sempre rondou o personagem, e que sempre me fascinou… agora, quando ele percebe que só foi embebedado para que pudesse “contar como sabia que a Claire estava se afogando”, Desmond se prepara para sair, mas o Charlie o provoca, o chama de covarde, e então Desmond pula sobre ele, dizendo que ele não sabe o que ele passou quando virou aquela chave – e é verdade que nem mesmo nós sabemos, e é uma delícia poder retornar àquele momento. Quando Desmond vira a chave na escotilha, causando a implosão e contendo a anomalia, uma série de flashes passam diante dos seus olhos, e então ele desperta fora da ilha, de novo em um apartamento que ele estava arrumando para dividir com Penny…

É tudo extremamente curioso e inusitado, e a organização do episódio é a mais brilhante possível. Entendemos, de imediato, que não se trata exatamente de um flashback – mas, ao mesmo tempo, parece que estamos em algum momento do passado de Desmond, e ele demora um tempo para se reencontrar… enquanto vive/revive aqueles momentos com Penny, no fatídico dia em que ele foi pedir a sua mão em casamento ao pai dela e foi humilhado, flashes de seus dias na ilha lhe ocorrem, o que quer dizer que, de alguma maneira, ele está de volta naquilo tudo… inclusive, ele vê o Charlie tocando na rua em frente a um prédio e para para falar com ele, para dizer que lhe conhece, para dizer que ele estava com ele na ilha, mas é claro que o Desmond fica apenas parecendo alguém fora de seu juízo perfeito – ninguém vai acreditar na sua história.

Nem mesmo seu amigo, com quem ele fala sobre viagens no tempo… segundo ele, viagens no tempo não existem. Se não existem, o que exatamente está acontecendo agora?! Adoro como tudo é cheio de informação do passado e, ao mesmo tempo, intrigante. Como a tensão se amplia, por exemplo, quando Desmond vai comprar um anel de noivado para a Penny e a simpática mulher do outro lado do balcão age de maneira estranha quando ele diz que vai levar aquele anel – sabendo o que está acontecendo, em uma quebra sensacional de expectativa, a mulher diz a Desmond que ele não leva o anel… que ele pensa melhor, muda de ideia e não leva o anel, que na verdade ele não pede a Penny em casamento, que ele parte seu coração, e que isso precisa acontecer porque é isso que vai levá-lo para aquela competição e, depois, para a ilha.

E se ele não for para a ilha, todos eles vão morrer.

É MUITO BOM!

A conversa de Desmond com aquela mulher é uma das melhores sequências que “Lost” já nos entregou: tem muito o tom de ficções científicas que eu adoro… assistindo novamente à cena agora, eu fiquei pensando nas misteriosas e filosóficas conversas de Neo com o Oráculo, em “The Matrix”, e é tão boa quanto! Confusa, misteriosa e intrigante, a mulher dá algumas informações importantes para ele, sobre como o fato de que o universo sempre encontra maneiras de corrigir a história – então, se ela quisesse salvar a vida de um homem que é esmagado pela queda de um andaime, por exemplo, de nada teria adiantado, porque ele seria atropelado por um taxi no dia seguinte, ou então cairia tomando banho e torceria o pescoço… é uma noção recorrente da ficção científica que parece um pouco apavorante e que vai ser importantíssimo para essa temporada de “Lost”.

No fim, a mulher estava mesmo certa – Desmond leva o anel para pedir a mão de Penny em casamento, diferente do que acontecera originalmente, na primeira vez em que Desmond viveu aqueles dias, mas o universo encontra outra maneira de impedi-lo, quando ele começa a duvidar de si mesmo e não se achar bom o suficiente para ela, e eles têm aquela conversa triste que termina o relacionamento deles e ele joga o anel no lago… ele comprou o anel, mas o universo fez com que ele partisse o coração de Penny de qualquer maneira, ele está destinado a ir para a ilha. Mais tarde, quando ele percebe que realmente está revivendo aqueles dias e que sabe o que vai acontecer e, portanto, pode mudar as coisas, ou tentar, já é tarde demais, porque ele acaba levando uma pancada na cabeça que o faz despertar de volta na ilha, depois de ter virado a chave.

Esse episódio é um dos mais apaixonantes e mais curiosos de “Lost”. A sequência não chega a explicar, com tanta clareza, o motivo pelo qual Desmond parece estar “prevendo o futuro” na ilha, a não ser que levemos em consideração o fato de a sua “mente” ter retornado no tempo para antes de seu tempo da ilha, podendo querer dizer que, de alguma maneira, Desmond está menos suscetível à linearidade do contínuo de espaço-tempo do que outras pessoas, tendo, assim, alguns vislumbres do que ainda está para acontecer, mesmo coisas que ele ainda não viveu. O fim do episódio é um gancho interessante e assustador, porque descobrimos que Desmond salvou a vida de Charlie duas vezes: quando o raio atingia a barraca de Claire, Charlie morria eletrocutado; como ele impediu isso, Charlie morria afogado ao tentar salvar a Claire mais cedo…

Se o que a mulher disse está certo, e nós sabemos que está, não há nada que Desmond possa fazer… não importa quantas vezes ele tente salvar Charlie, eventualmente o universo vai encontrar sua maneira de “consertar” as coisas. Agora, continuaremos esperando pelas próximas “previsões” de Desmond e as próximas vezes que salvará a vida de Charlie, até que ele não possa mais fazê-lo… assim como Desmond tem vislumbres de coisas que ainda estão por vir, “Flashes Before Your Eyes” é uma bela visão do caminho que “Lost” pretende seguir de agora em diante, pegando mais elementos da ficção científica, e, particularmente, eu adoro. Tanto é que, diferente de uma parcela dos fãs, as minhas temporadas favoritas na série são a quarta e a quinta… mal posso esperar para voltar a encontrar o Daniel Faraday, por exemplo. Para mim, “Lost” só melhora de agora em diante! (No panorama geral, é claro. O próximo episódio é péssimo)

 

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