Blade Runner 2049

  
Em primeiro lugar, devo dizer que eu sou FASCINADO pelas histórias de Philip K. Dick, e o “Blade Runner” original, baseado em “Do Androids Dream of Electric Sheep?”, é uma das minhas maiores paixões da ficção científica (clássica, bem anos 1980, e Harrison Ford está impecável no papel de Deckard!). Em segundo lugar, quem não tem uma quedinha por Ryan Gosling? Juntando isso tudo em um roteiro impressionante, com trilha sonora forte e atuações incríveis, nós temos um verdadeiro espetáculo. Eu ainda não acho que Blade Runner 2049 vai revolucionar o gênero nem nada, como aconteceu com Matrix (!), mas certamente vai ser um marco da ficção científica para ser lembrado com imediata nostalgia e muita admiração. É um belo trabalho de arte, tem identidade e conteúdo, e ainda faz uso magnificamente de vários elementos do filme original.
Do unicórnio ao cavalinho de madeira, por exemplo.
Gostei muito de como Blade Runner 2049 não negou toda a dualidade deixada ao fim do filme original. K, interpretado por Ryan Gosling, é o novo protagonista da franquia, e ele assume o papel muito bem, com competência admirável. Seu personagem é abertamente um androide, um replicante de modelo moderno, Blade Runner, responsável por “aposentar” replicantes antigos. Por outro lado, temos Deckard, e aquela dúvida antiga de “replicante ou humano” não é respondida, nem para um lado, nem para outro… acredito que há pessoas que seguirão defendendo que ele é humano e outras que ele é replicante. Para mim, Deckard é um replicante, e cenas desse segundo filme me fizeram pensar nisso novamente, como própria escolha de vocabulário (que NÃO é aleatória), quando falam sobre ele e dizem que ele está “aposentado”.
Uhm.
De todo modo, o filme começa com K fazendo o seu trabalho: aposentando androides. E tudo é muito intenso. Também já é muito forte essa coisa de “nossa espécie”, e K é bem o que a propaganda do início do filme sugere: modelos modernos de replicantes obedientes. Ele faz o que lhe mandam, embora tenha sentimentos visíveis. Antes de um replicante morrer pelas suas mãos, ele diz que “K não testemunhou um milagre”, e então toda a jornada do filme se inicia, quando ele descobre uma caixa enterrada próxima a uma árvore no quintal e, dentro dela, ossos de uma mulher grávida, morta há muito tempo e que, supostamente, morreu ao dar a luz. Mas essa mulher era uma REPLICANTE, e isso promete revolucionar todo o conceito que temos deles dali para frente… e K começa a questionar sua missão, pois nunca matou algo que “tivesse nascido”.
Parece mais vivo do que nunca. O visual, que faz jus ao visual das ficções científicas dos anos 1980, por vezes me fez pensar em “A.I. Inteligência Artificial” que, para mim, é um dos melhores filmes JÁ PRODUZIDOS. A trilha sonora nos conduz com brilhantismo por momentos de intensidade e reflexão, enquanto desvendamos, com K, um mistério: quem é o filho daquela replicante? Assim, K encontra a data 10 de Junho de 2021 em uma árvore, a mesma data que estava embaixo de um cavalinho de madeira que ele tinha na infância, e o qual protegeu bravamente. Que ele tinha na infância, ou que pensava que tinha. Ele tem consciência de que essa deve ser uma memória implantada, não real. Replicantes nunca tiveram infância. Mas quando aquela mulher, “fabricante” de memórias, lhe garante que aquilo é real, foi vivido por “alguém”, e ele revisita o lugar e encontra o cavalinho…
…ele entende que tudo foi real sim.
Por isso, a sua busca incessante se torna muito mais pessoal, e ele chega até Deckard. É maravilhoso rever Harrison Ford em um papel tão marcante, relembrar Rachael, e ver aquela “batalha” intensa em um cenário ora silencioso e ora nostálgico, com Elvis Presley cantando para eles. Eventualmente, eles conversam, e eu fiquei esperando K dizer a Deckard que acreditava ser seu filho, o filho dele e de Rachael. Gostei de toda essa conexão, gostei de retornar ao “Blade Runner” original com tanta sensatez e complexidade, mas eu me apaixonei pelo filme por trazer pequenos detalhes e um clima total que nos leva de volta àquele filme, de uma forma ou de outra. Acabamos de descobrir que esse universo ainda tem muito a contar… infelizmente, K acaba levando os “vilões” do filme diretamente a Deckard, que precisa proteger sua prole, independente de conhecê-la ou não.
O filho ou a filha de Rachael, uma replicante, é o símbolo de uma revolução que nasce. K chega até um grande grupo que pensa em “lultar contra os humanos”, porque eles não são meras máquinas para serem escravizadas… eles podem gerar VIDA! E o roteiro dá uma reviravolta que não é tão surpreendente, mas é angustiante. Porque era “evidente demais” que K era o filho de Deckard e Rachael, então ele não podia ser. E não era. Era uma filha, e aquela memória toda do cavalinho, real, pertencia a ela, e era uma daquelas memórias genéricas implantadas em vários androides, como vimos no primeiro filme, com todo o lance do unicórnio. O mundo de K desaba ao descobrir isso, e é doloroso, porque aprendemos a amá-lo. Não queremos vê-lo sofrer. E ele se sentiu tão grande, tão importante, e de repente ele era apenas mais um replicante na batalha.
Seu mundo caiu, e a atuação de Ryan Gosling era brilhante.
Mas ele é um homem honrado. Sendo ou não o filho de Deckard, e responsável por matá-lo para que Wallace não chegasse até eles, ele não consegue fazê-lo, e defende o “pai” de todas as maneiras, salvando-o de morrer afogado e levando-o para conhecer sua filha. É um momento emotivo e bonito – Deckard, pai ou não de K (não), deixou um inquestionável legado, e isso é mais forte do que tudo. O final do filme nos deixa com vontade de ver mais, mas satisfeitos. É belo e emocionante, acima de tudo, em sua conclusão. K está deitando-se sob a neve, recebendo-a sobre si, e é um momento simbólico, de entrega e tristeza. Enquanto isso, Deckard conhece a sua filha, a responsável pelas “melhores memórias” dos replicantes… e faz sentido. Sinto que Blade Runner 2049 foi produzido para iniciar uma franquia… espero que seja boa.
Nossos corações fascinados pela ficção científica dos anos 1980 agradecem!

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Comentários

  1. Descobri o site recentemente! Uau, que site maravilhoso! Parabéns...

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    1. Muito obrigado! :D
      Volte sempre, fiquei muito feliz com seu comentário! ^^

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  2. Este comentário é excelente, tem uma perspectiva interessante sobre o filme. Alguns filmes de Denis Villeneuve geraram polêmica ou receberam bastante crítica e verdadeiros êxitos, acho que a chave é o profissionalismo que tem e além de cuidar de cada detalhe, minha preferida é Blade Runner 2049 filme por que me manteve tensa todo o momento, se ainda não a viram, tem uma boa trama leve bom ritmo e consegue nos prender desde o principio. O roteiro do filme foi muito original, um dos aspectos mais notável desta produção foi a trilha sonora. Excelente filme, desfrutei muito.

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