Legend – A verdade se tornará lenda


Outrora conhecida como a Costa Oeste dos Estados Unidos, a República é hoje uma nação em constante guerra com seus vizinhos, as Colônias. Nascida de uma família de elite em um dos bairros mais prósperos da República, June, de quinze anos, é um prodígio militar. Obediente, entusiasmada e comprometida com seu país, ela está sendo preparada para o sucesso nos círculos mais elevados da República. Nascido nas favelas do setor Lake da República, Day, de quinze anos, é o criminoso mais procurado do país. Mas seus motivos talvez não sejam tão mal-intencionados quanto dizem.

Desse modo surge mais uma série em um futuro distópico no qual os Estados Unidos foram destruídos e a população precisa enfrentar terríveis níveis de desigualdade, opressão e injustiça… mais um filho da geração que [acredito] nasceu com Jogos Vorazes. Foi assim que eu comecei a ler Legend, mas fui deliciosamente surpreendido com a narrativa – e tentando parar minhas comparações por aqui, ainda prefiro Jogos Vorazes, mas Legend é incrivelmente melhor que Divergente.
Então sim, o livro fala sobre esse futuro distópico de uma Los Angeles destruída – tratando temas como a opressão e a miséria novamente, mas de uma maneira um pouquinho diferente. Não mais que um “pouquinho”. Mas eu gostei bastante. Porque tem o ponto de vista de Day, pobre e foragido, a doença, a praga, o terrível X na porta e não entender exatamente o que acontece. E em contraponto o ponto de vista de June, vinda diretamente da República, que repugna os pobres e excluídos, que aprendeu que os Patriotas devem ser combatidos, que os olha exatamente com os olhares programados da República.
Mas ao mesmo tempo, June se incorpora ao mundo de Day e as coisas vão lentamente mudando, e vemos muitas coisas entrarem com conflito: como o próprio pensamento e ensinamento de uma vida dela, a raiva de Day pela morte de Metias, mas a constante admiração por seus feitos inteligentes, e como ela se aproxima dele antes de saber com certeza quem ele é. Foi inteligente, foi perspicaz. Ainda mistura ao desejo jovem, aos hormônios falando mais alto… a cena do primeiro beijo deles, regada a vinho, foi particularmente excitante e real. Incrível leitura.
Também sou singularmente apaixonado por esses protagonistas – que conseguem soar tão cativantes. Talvez por serem tão inteligentes. De maneiras diferentes (com semelhanças gritantes) tanto Day quanto June apresentam traços de inteligência altíssima e assustadora [mesmo com os diferentes resultados na Prova, uma manipulação barata a meu ver], e ver a mente desses dois funcionando é brilhante – porque mesmo com todas as confusões, com os nervos à flor da pele, com o desejo gritante, cada um consegue observar cada detalhe de um panorama maior e ser racional. Dificílimo e inteligente.
O que se reflete diretamente na narração de Marie Lu. Ela escolheu esse estilo de narrar em primeira pessoa através dos dois pontos de vista – um capítulo para Day, um para June. E funciona muito bem. Ela soa perfeitamente convincente como cada um deles, mas talvez as semelhanças entre os personagens deva ser atribuída à dificuldade da autora de realmente diferenciá-los – o que o diferencia é o sexo e o ambiente no qual cresceram. Não muito mais do que isso, mas a dinâmica… esse estilo de narrativa e de divisão faz o livro fluir muito depressa. Você se vê preso e a leitura rende, realmente muito interessante!
Opinião pessoal: Prefiro muito mais
essa capa... além de mais bonita,
combina mais com o restante da saga,
Prodigy e Champion! Confere lá...
Assim como em Jogos Vorazes (e eu evitarei comparações ao máximo), Marie Lu guia sua narrativa sabendo que o romance é eventual e não o foco de nada – dessa maneira cria uma narrativa cruel e verdadeira que mostra a realidade de Day, o desespero de ver sua mãe sendo brutalmente assassinada, e a maneira como eles são vistos/tratados, como se fossem nada; enquanto a alienação toda de June, essa maneira programada de pensar que todos compartilham na República, começa a se estilhaçar nessa mesma cena – e é impressionante ver as coisas começando a crescer e mudar de figura, e entender que muita discussão ainda pode surgir a partir dessa história inicial.
É tão nojento e revoltante ver a maneira como as pessoas na República pensam, que eu ria de puro nervosismo e desgosto; o tipo de manipulação, o pensar-se superior – então as melhores coisas do livro estão nessa imagem da República se destruindo perante os olhos de June: ela começando a pensar sobre a quantidade de comida para as meninas da favela que seu “vestido bonito” representava, ou então sentindo nojo de Thomas após a morte da mãe de Day, questionando o feito, e o maravilhoso momento em que ela hackeia o sistema e tem acesso à Prova de Day. Fiquei sem palavras naquele momento… “674? Ele é inteligente demais para isso” e eis que ela descobre não ser a única a atingir 1500 na Prova. Cena fascinante!
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Day fornece a melhor definição dos capachos da República: “Ele não passa de uma marionete burra do governo”. Ironicamente a melhor parte de se ler é a de June, é ver a visão mudando lentamente – ver o nojo crescente a respeito de Thomas, as descobertas apavorantes que envolvem tanto os resultados da Prova de Day quanto o assassinato de Metias. E mesmo sabendo de tudo o quanto eles são capazes, nós mesmos nos chocamos com essas cenas. E também amamos as cenas de Day, tão diferentes e esperançosas – como o emocionante flashback que explica a origem do medalhão!
O livro é fascinante, e infelizmente passa depressa demais. A narrativa cresce, as coisas mudam de figura com o passar dos capítulos, e mesmo em 250 páginas tanta coisa acontece que você fica surpreso – o início é muito diferente dos caminhos que chegamos no fim. E os cliffhangers que a autora deixa para os próximos livros da série são pertinentes e instigantes. Apesar de acreditar que o melhor da série esteja aqui, com os relatórios no blog de Metias (se tornou meu personagem favorito), as descobertas revoltantes, os imprevistos finais… fiquei muito triste com o fim, foi chocante e deprimente, mas preciso voltar para o segundo volume e descobrir mais sobre Éden… ÓTIMA LEITURA!

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