Fifth Doctor – Tip of the Tongue (Patrick Ness)


Lá vem Patrick Ness surpreendendo.
Um conto totalmente diferente de todos os contos lidos até então, a história foca num estilo novo e inusitado que me agradou bastante – mesmo que não tenhamos visto a TARDIS, e mesmo o Doctor tendo tido uma questionável pequena participação, talvez esse tenha sido o melhor conto até o momento. E surpreendentemente, talvez o que melhor conseguiu captar a essência do Doctor a qual se refere. Não apenas na descrição física, ou mesmo nos momentos em que ele aparece… o espírito do Doctor de Peter Davison esteve presente durante Tip of the Tongue inteiramente, mesmo quando ele não estava lá.
O Quinto Doctor, interpretado por Peter Davison de 1981 a 1984 foi um Doctor bem diferente dos Doctors aos quais os fãs já estavam acostumados: muito mais humano e vulnerável, ele tratava todas suas companions como partes integrantes de uma mesma equipe, muito mais maleável e sociável, nunca se engrandecendo. Era um Doctor humano, gentil e com um ótimo coração, e era terno vê-lo em cena. Uma jogada inteligente da BBC, porque tendo em vista que Baker passara 7 anos no papel como o mais amado dos Doctors clássicos, Peter inova totalmente e nos conquista por suas diferenças.
Porque ele conquistou sendo legal, carinhoso e alguém que gostaríamos muito de ter por perto. E seu figurino mais uma vez foi pontuado por esquisitices que são, ainda hoje, alvo de muitas brincadeiras: vindas dele próprio inclusive, em sua décima regeneração! Oh, David! Mas o Quinto Doctor sempre me deu a impressão de ser um jovem carinhoso (ele entrou no papel aos 29 anos, e por muito tempo foi o mais jovem dos Doctors, só deixando o posto com a entrada de Matt Smith) e um tanto quanto riquinho… acho que eram aqueles uniformes de críquete, que eu nem entendo direito.
Suas roupas brancas de certa maneira transmitiam uma certa paz que combinava com sua personalidade, mas ao mesmo tempo também era estranho – seu cabelo loiro e liso ornava bem com o figurino, que tinha até pontos de interrogação no colarinho. Coisa que ninguém entendeu até hoje. Também usava chapéu ocasionalmente (combinando) e óculos por pura estética, mas o toque final estava no talho de aipo preso na lapela. Oi? I can save the Universe using a kettle and some string and look at me, I’m wearing a vegetable!
“Good Lord, was that celery he was wearing on his lapel?
A personalidade nobre, gentil e pacífica permeia todo o conto de Patrick Ness, e foi o que eu pude notar do começo ao fim da narrativa. Amei a maneira como ele interage não só com Nyssa, sua companion mais importante (e portanto a que foi representada no conto), mas também com os humanos tão jovens e vulneráveis que ele ajuda. A falta de ação dá lugar a diálogos inteligentes, uma história intrigante e discussões perfeitas que me fizeram ficar muito entusiasmado! E o conto é envolvente, sem divisões de capítulos, surpreendentemente você não quer largar em momento nenhum, já apaixonado na primeira página…
Guerra contra Hitler. Todo esse dinheiro. Dois dólares.
O Doctor aparece pouquíssimo, e os protagonistas da história são Jonny e Nettie – é impressionante como rapidamente o autor nos convence da importância dos dois, criando personagens tão absurdamente carismáticos e com quem nos importamos de verdade, que é impossível não amar a história como um todo, sendo guiada ora por eles ora pelo Doctor tão calmo com Nyssa…
[…] a blond man dressed in what seemed to be a cricketing uniform with what seemed to be a stalk of celery on his lapel, stepped out of what seemed to be absolutely nowhere with a thoughtful look on his face
Tip of the Tongue é a surpreendente história de uma cidade onde Truth Tellers (Contadores da Verdade – “[…] they told all the truths you weren’t brave enought to say yourself.”) estão se espalhando entre a população, especialmente os mais jovens. São pequenos seres colocados no rosto das pessoas e que contam aquelas verdades mais absurdas que tanto tememos contar – todo um plano mirabolante dos Dipthodats que o Doctor está tentando impedir, e que custamos a entender. Mas desde sempre a história é bastante intrigante, e nos faz pensar… as cenas com os Truth Tellers são, ao mesmo tempo, assustadoras e maravilhosas! Porque embora seja meio creepy vê-los agindo daquelas maneiras, é tão bom ouvir suas verdades… e cruel.
Embora seja questionável a razão de serem usados.
Afinal não é qualquer um que quer, por vontade própria, suas verdades e seus pensamentos espalhados por aí. Foi uma verdadeira lavagem cerebral na população para convencê-los de que isso era uma coisa boa e todos deveriam usar. E isso faz parte do ambiente cuidadosamente construído por Patrick Ness, que mistura magistralmente a realidade na década de 1940, com a Segunda Guerra Mundial, com esse estilo futurístico e meio pós-apocalíptico dos Truth Tellers… fica sombrio, terno e apaixonante.
Confuso, huh?
Patrick Ness, autor de
"Tip of the Tongue"
Pausa para falar de Patrick Ness. Eu amei TANTO a sua escrita que eu vou ter que ler outros de seus livros, devem valer a pena. Como o exemplo da frase “Which was when the Acklin house exploded” que termina um período e me deixou apreensivo e extasiado. A naturalidade com a qual ele escreve, mas a maneira como termina seus períodos e muda de cena em pontos chaves que nos deixam ansiosos pela sequência, com vontade de ler e não parar para absolutamente nada. É uma leitura frenética e repleta de emoção, envolvente e deliciosa como nenhuma outra foi até o momento.
Os Truth Tellers nos levam a uma série de questionamentos, durante e após o conto: Que tipo de sociedade é essa em que esse tipo de coisa vira moda? Por que há as Truth Sessions? Por que é uma febre tão grande, afinal não parece algo tão convidativo… e portanto é terrível imaginar esse lugar como um lugar real! E o conto traz essa maravilhosa e interessante discussão sobre a “verdade”. O que é a verdade, e quais são as conseqüências da mesma – até que ponto a franqueza total é aceitável? Uma curiosa e controversa questão de moral e ética que nos deixa confusos e pensativos… bastante intrigante
Amei o desenvolvimento do conto, sabem por quê? Porque mesmo mal mostrando o Doctor (e achei isso um ponto muito alto, afinal os demais personagens tiveram tempo de contar sua história de maneira convincente e completa, sem que deixasse de ser Doctor Who), acho que o espírito do Doctor de Peter Davison esteve presente o tempo todo – há muita história, a “introdução” e a explicação dos Truth Tellers meio que tomando conta da humanidade é bem detalhada (amei a discussão máquina x coisas vivas), mas nunca cansativa; envolvente e legal. É interessantíssimo, pois o Doctor nós conhecemos muito bem, ele e Nyssa, mas a história não é dele, e sim dos demais… e na verdade, isso também foi inteligente de Ness, afinal reflete claramente a personalidade do Quinto Doctor, que ficou um pouco “apagado” enquanto era mais humano e vulnerável, deixando que seus companions se destacassem e os tratando como iguais… INTERESSANTÍSSIMO!
Tip of the Tongue foi bem diplomático, bonito e inteligente… e o final foi terno e muito fofo, cheio de pequenas dicas que o autor soube colocar tão bem em sua história. Não foi um romancezinho bobo, mas sim algo verdadeiro que podemos continuar em nossas mentes… e a personalidade tão compassionate do Doctor é admirável, provavelmente o Doctor mais gentil e querido até esse momento, interessado e preocupado, mas inteligente o suficiente para fazer tudo o que deve ser feito com calma e entendimento. Perfeito. Amei o final. He hit a Button, sending the TARDIS flying off into the vast eternity of space and time. ‘Which in the end,’ he said, ‘is all the truth you ever really need. LINDO do começo ao fim, estou extremamente contente!
E eu amei o estilo, tudo na verdade. O conto me conquistou muito depressa, muito mais rápido que qualquer um dos outros até esse ponto, pelo estilo – tudo se passa na Terra, no passado, com pessoas normais, mas também há a esquisitice de Doctor Who representada pelos Truth Tellers… mas os personagens são tão carismáticos e convincentes… e todos sabemos que essa é a chave para um sucesso. E eu amei a história Jonny-Nettie-Marisa… meio adolescente, mas profundo, verdadeiro, fofo, simplesmente maravilhoso de ler. E um suspense delicioso que nos deixava apreensivo para vê-lo colocar o “plano” dele em prática… sensacional.
O Quinto Doctor perfeitamente representado por um trabalho de mestre de Patrick Ness. Se você não for ler todos os contos de Doctor Who, eu realmente aconselho a leitura desse… mesmo que você não seja um grande fã de Doctor Who, porque é simplesmente apaixonante. Uma escrita impecável e envolvente, até nos dá vontade de fazer uma maratona com os episódios do Davison… bem, deixo a dica então para quem se interessar!

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