CAZUZA – Pro dia nascer feliz, o Musical – Trilha Sonora


Cazuza era um cantor excepcional.
E um poeta ainda MELHOR.
A base de todo o musical Cazuza – Pro dia nascer feliz é a sua criação poética. Passando por seu momento mais rock’n’roll com o Barão Vermelho e sofrendo com toda sua trajetória com a AIDS, nos comovemos pra valer com a maneira como ele consegue escrever e com quão lindas são suas composições – é sublime poder ver músicas serem escritas bem na nossa frente, suas interpretações também soam repletas de emoção e veracidade que nos comovem. O musical fica incrível. E que letras!
São as músicas que fazem tudo ficar ainda maior e mais bonito – são essas músicas, essas diferentes interpretações e esses atores fenomenais que dão movimento ao musical, que tem um cenário bem limitado. Eu, como todos vocês já sabem, sou um apaixonado por grandes números em grupo e por coreografias bem feitas… então não é de se espantar que eu tenha verdadeiramente me apaixonado pelos momentos em que o elenco todo entra para cantar em coro alguma música como Exagerado. Aquilo fica tão LINDO!
Incrível.
Mas duas músicas adquiriram uma nova imagem em minha cabeça. A primeira delas é Pro dia nascer feliz. Eu nunca mais a escutarei sem lembrar-me daquela ótima cena! Cazuza está saindo com Ney pela primeira vez, há toda a questão sexual entre os dois, e então todos os rapazes entram tirando suas roupas… estamos tão no começo do musical, e mesmo sabendo que não há pudor numa história de Cazuza, é uma surpresa muito grande. Com apenas duas meninas no palco, o restante dos meninos está se abraçando e tudo o mais no chão, e aquilo fica assustadoramente sensual, uma cena belíssima e muito bem construída. Parabéns a quem pensou nisso desse jeito!
E outra foi Faz parte do meu show, que ainda vem logo depois de Todo amor que houver nessa vida. Mas ela ficou tão bonita, tão romântica, tão perfeita. Na verdade Serginho e Cazuza estão tendo mais uma de suas brigas, e Cazuza está dizendo coisas lindíssimas enquanto Serginho luta para não se render, mas não resiste até o final… fica terno, fica natural e fica muito bonito – o restante do elenco ainda entra no final para terminar a música junto a eles, e é tudo tão grande, tão bonito, a música fica ecoando em nossas cabeças, simplesmente perfeita.
Outras músicas que marcam o primeiro ato são Vem Comigo, que eu realmente amei; Preciso dizer que te amo que foi uma composição de Cazuza, Dé Palmeira e Bebel Gilberto, e vemos isso acontecer de maneira muito bonita e ao mesmo tempo engraçada (“uma coisa entalada na garganta”). Carente Profissional, que ficou PERFEITA, INCRÍVEL, MARAVILHOSA. Uma das minhas músicas preferidas do primeiro ato; Maior Abandonado que é fenomenal e importantíssima na amizade de Cazuza com Frejat e Mais Feliz, que termina o primeiro ato de maneira melancólica.
Querendo muito um abraço da minha mãe, retornamos para o segundo ato sabendo que o número de músicas ali é bem reduzido. Mais curto que o primeiro, como de costume, não é tão mais curto assim, mas notamos uma clara diferença no tom do musical – aqui o musical adquire um tom muito mais pesado, muito mais sério (embora Cazuza esteja fazendo seus comentários irreverentes e brincadeiras que o caracterizam e que fazem com que nos apaixonemos por ele) e a história é mais densa. Em menos quantidade de cenas, o musical consegue fazer com que cada uma delas seja memorável e única. Fascinante.
Temos a maravilhosa versão de Ideologia no hospital em Boston, tentando tratar a AIDS, e ela acontece durante uma convulsão de Cazuza, então é verdadeiramente sofrida e difícil de assistir. Mas vê-lo mais parado, mais sério, e com aquelas roupas de hospital levantar na cama e cantar? Não tem preço. É assim também que temos uma belíssima versão de Codinome Beija-Flor, cantada com os pais, que ao mesmo tempo em que é bonita por mostrar eles ali com ele, também é triste por mostrar o medo do pai de se aproximar dele por causa da falta de conhecimento a respeito da doença. Ótima cena.
Xuxa?
Eu ri.
Malandragem é o ápice do segundo ato. A música é maravilhosamente bem interpretada, mostra o Cazuza retornando ao Brasil, tomando AZT e já melhor –mas a irresponsabilidade não o desacompanha, mesmo com os amigos que sempre estão ali dispostos a ajudá-lo. A cena ficou perfeita, bem como Blues de Piedade, O Tempo Não Pára e Poema. É triste ver a decadência do Cazuza, ver a doença se tornando mais grave, vê-lo falar com Zeca, contar da doença e então cair, sem sentir mais as pernas – foi quando eu comecei a chorar.
O que me comoveu ali foi a emoção que Emílio Dantas transmitiu ao cair ao chão, gritar pela mãe e chorar no colo do pai, de maneira tão forte. Era de partir o coração. Vê-lo na cadeira de rodas, com os lábios sem cores, gente que interpretação! Além da caracterização perfeita, Emílio está no auge de sua interpretação, nos comovendo de verdade com a entrevista à revista, e cantando Vida Louca Vida, com direito a narrativa de Lucinha. É o momento em que não estamos mais ouvindo nada, nem Sorte e Azar, estamos apenas chorando, chorando e chorando.
Belíssimo musical. No fim estamos todos fungando e enxugando os olhos. E é merecido o momento em que nos levantamos para aplaudir, mesmo antes de realmente chegar ao fim – a entrada final de Cazuza é espetacular. Brasil é uma música perfeita nas suas duas versões (no meio do segundo ato e depois, na curtain call). Todas as músicas são incríveis, perfeitas e colaboram para que essa história seja contada de maneira convincente e completa, perfeita como está. Não perca!
Posso só pedir uma coisa: façam um musical do Renato Russo agora. Por favor?

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