A Fantástica Fábrica de Chocolate (Charlie and the Chocolate Factory, 2005)



“Candy doesn't have to have a point. That's why it's candy”
Baseado na obra de Roald Dahl e com direção de Tim Burton, eu considero “A Fantástica Fábrica de Chocolate”, de 2005, uma OBRA-PRIMA. Eu já perdi a conta de quantas vezes eu já assiste a esse filme, e quantas vezes me apaixonei pela fábrica e sofri com a história de Charlie e sua família… o filme traz toda a excentricidade de Willy Wonka de uma maneira bizarra e, quiçá, sombria, perfeitamente alinhada a todo o fascínio que é a fábrica de chocolate, toda construída com base em como uma criança a imaginaria, e à história de Charlie Buckett, um garotinho pobre que só ganha uma barra de chocolate por ano, em seu aniversário. E se ele só come um chocolate por ano, como ele pode encontrar um dos 5 cobiçados cupons dourados que o próprio Willy Wonka escondeu em barras de chocolate que podem estar em qualquer lugar do mundo?
Os primeiros 30 minutos do filme me fascinam mais que qualquer outra parte… eu amo a história de Charlie, e não exista uma vez que eu assista ao filme e que eu não chore com aquelas cenas. Os cupons dourados começam a aparecer por todo o mundo, descobertos por crianças que podem comer todo o chocolate que quiserem, ou que têm todas suas vontades atendidas pelos pais, enquanto o filme brilhantemente apresenta o contraponto de Charlie Buckett. Os Buckett moram em uma casinha pequena e torta; os seus quatro avós dividem uma mesma cama e raramente saem de cima dela; a mãe cozinha ralas sopas de repolho com repolho, que é tudo o que eles têm; e o pai é o único que tem um emprego, trabalhando na fábrica de pastas de dente, fechando os tubos, e ocasionalmente ele descobre uma tampa com defeito que pode levar para casa…
E Charlie é um garoto especial. Ele é carinhoso, compreensivo, e se alegra com as pequenas coisas. É fofa a cena em que ele recebe mais umas tampas de pasta de dente estragadas e termina a sua maquete da Fábrica de Chocolate do Sr. Wonka, assim como todas as cenas em que ele demonstra um carinho imenso pela família. Charlie é uma criança boa. Quando sai a notícia dos cinco cupons dourados que permitirão que cinco crianças entrem na misteriosa fábrica de Willy Wonka, Charlie sabe que não tem muita chance… afinal de contas, ele só come um chocolate por ano. Mesmo assim, quando os pais “adiantam” seu presente de aniversário, é impossível não criar uma pequena expectativa, e meu coração se parte toda vez que ele abre aquela barra de chocolate, vê que não tem um cupom dourado, e não comenta nada…
Apenas divide o chocolate com todo mundo.
O Vovô Joe fica empolgadíssimo com a chance de visitar a fábrica de chocolates, porque ele já trabalhou nela há muitos anos… as histórias que ele conta para o Charlie são tão fantasiosas que chegam a parecer um avô distraindo o neto em uma situação tão difícil, mas, nesse caso, são reais – sem deixar de servir, também, a esse propósito. Ele conta histórias sobre doces miraculosos, como sorvetes que nunca derretem ou chicletes que fazem bolas imensas, e sobre um príncipe que pediu que Willy Wonka construísse para ele um palácio inteiramente feito de chocolate, e sobre como, há muitos anos, Willy Wonka anunciou que fecharia sua fábrica para sempre, devido aos espiões enviados pela concorrência que estavam roubando suas receitas. Até que as pessoas viram fumaça saindo das chaminés da fábrica, e ela voltou a funcionar, mas ninguém entrava ou saí dela.
Apenas o chocolate, já embalado e endereçado.
Quatro crianças encontram os cupons dourados antes de Charlie. O primeiro é Augustus Gloop, um garoto que passa o dia comendo chocolate. A segunda é Violet Beauregarde, uma campeã de mascar chiclete. A terceira é Veruca Salt, uma insuportável garota mimada. E o quarto é Mike TV, um pestinha que hackeou o sistema e rastreou um cupom dourado. Charlie tem uma nova chance quando o avô lhe dá suas economias para ele comprar uma nova barra de chocolate, e pede que ele venha abrir com ele, em casa. Mas a barra não tem o último cupom dourado. E, por fim, quando Charlie encontra um dinheiro na rua, enterrado na neve, e corre para a banca mais próxima comprar chocolate – mesmo que o último cupom dourado supostamente já tivesse saído para alguém na Rússia (mais tarde, descobrimos que o cupom era falsificado).
Ele só queria comer chocolate mesmo.
E então, sem expectativa, sem drama, sem nada, Charlie Buckett abre a barra de chocolate, e o cupom dourado está ali. A alegria tomando conta do seu rostinho é LINDA e nos faz chorar (Freddie Highmore dando show de atuação desde a infância!), e então um cara lhe oferece 50 dólares e uma bicicleta nova, uma mulher lhe oferece 500 dólares, mas o dono da banca manda ele levar o cupom para casa e não entregá-lo para ninguém. A situação em casa estava ainda pior, o pai perdera o emprego quando foi substituído por uma máquina que fazia seu trabalho muito mais rapidamente, devido ao aumento do consumo de chocolate e consequente aumento da venda de pastas de dente, e Charlie tem noção disso, e diz, decidido, que ele não vai à fábrica… uma mulher lhe ofereceu 500 dólares por aquele bilhete, e com certeza ofereceriam ainda mais e, como ele diz, “eles precisam mais de dinheiro do que de chocolate”.
AQUELE MOMENTO PARTE MEU CORAÇÃO.
Mas o rabugento do Vovô George não o deixa abrir mão daquele bilhete: existe muito dinheiro no mundo, e todo dia se está imprimindo mais, mas só existem cinco daqueles bilhetes dourados… ele teria que ser muito burro para trocá-lo por algo tão comum como dinheiro. As cenas inicias de “A Fantástica Fábrica de Chocolate” (nas quais eu me prolonguei bastante no texto até aqui) são emocionantes, reais, dolorosas e incrivelmente bem-feitas. São, para mim, A MELHOR PARTE DO FILME. Porque as coisas mudam bastante quando chegamos à Fábrica do Willy Wonka, e é uma magia diferente dali em diante. É colorido, mágico e fascinante, com um tom de melancolia e macabro, mas tudo é mais fantasioso, e por isso me machuca menos. A parte de Charlie e sua família é duramente real, e é isso que sempre me comove quando assisto a esse filme.
Dali em diante, finalmente conhecemos a misteriosa Fábrica de Chocolate do Willy Wonka, e percebemos que vai ser bizarro desde aquela introdução com aquela música que apresenta o chocolateiro. E Johnny Depp também está incrível em mais um papel excêntrico, que algumas vezes me faz pensar no Edward Mãos-de-Tesouro, outras no Sweeney Todd, mas devemos lembrar que é a mesma combinação de protagonista e diretor, nos 3 casos, então faz sentido. Todo o restante do filme vai apresentar encantos miraculosos da Fábrica de Chocolate, como uma sala inteiramente comestível, ou os icônicos Oompa-Loompas, os funcionários de Willy Wonka que foram trazidos diretamente da Loompalândia e que idolatram o cacau, ao mesmo tempo em que nos mostra um pouquinho do passado de Willy Wonka, e o que o tornou o homem que ele é hoje.
E a dinâmica do filme é excluir crianças até que sobre apenas uma: a menos chata, que levará um importante prêmio no final do passeio. Uma a uma, as crianças são retiradas da “competição” graças aos seus próprios defeitos, e Willy Wonka parece se divertir assistindo a isso (como nós), assim como os Oompa-Loompas, que têm uma musiquinha para cada criança que é levada. Augustus Gloop, o primeiro a encontrar o cupom dourado, também é o primeiro a se despedir do grupo. Augustus Gloop é a representação da criança gulosa e sem limites. Ele come tudo o que vê pela frente, e fica fascinado demais com a primeira sala que Willy Wonka apresenta, e que é inteiramente comestível, e ele acaba negligenciando uma regra do Willy Wonka, que diz que seu chocolate não deve ser tocado por mãos humanas, e cai no rio de chocolate, misturado pela cachoeira…
Porque assim o chocolate fica “leve e aerado”.
A segunda criança a se despedir é Violet Beauregard, a representação da criança competitiva e convencida. Violet, que masca chiclete o tempo inteiro, está determinada a “ganhar o prêmio no final da visita”, independente do que ele seja, apenas porque ela está acostumada a ganhar prêmios, ela quer ser sempre melhor que todo mundo. Essa sua incessante ambição é que lhe condena, afinal, quando eles chegam à fantástica sala das invenções, onde conhecemos uma bala que nunca perde o gosto ou diminui de tamanho, por exemplo, ou uma que faz um novo tufo de cabelo e barba nascer em você, mas ela se encanta mesmo pelo “chiclete-refeição”, uma ideia do Sr. Willy Wonka que acabaria com as refeições. Ele até “tenta” impedi-la de prová-lo, porque a invenção ainda não está perfeita, mas Violet não se importa com isso.
E acaba virando uma amora gigante.
A terceira criança é a insuportável Veruca Salt, que é provavelmente a criança de que eu menos gosto. Veruca é a representação da criança mimada, aquela que tem tudo o que ela quer e na hora que ela quer. Ela quer um pônei, o pai dá. Ela quer um cupom dourado, o pai coloca todas suas funcionárias para abrirem chocolate sem parar até encontrar um (essa cena é revoltante). Ela quer um esquilo treinado que abre nozes para o Sr. Wonka, o pai tenta comprar um dele. Mas Willy Wonka é bem firme: “Meus esquilos não estão à venda. Ela não vai ter um”. Mas Veruca Salt nunca recebeu um “não”, nunca teve sua vontade não-atendida, e então ela resolve ela mesma invadir o espaço dos esquilos e roubar um, e acaba sendo avaliada como uma noz estragada e jogada pelo buraco no centro da sala, diretamente para o lixo… onde é seu lugar…
Adoro o Willy Wonka “tentando” abrir o portão pro Sr. Salt ir atrás da filha!
Por fim, a quarta e última criança eliminada é Mike TV, a representação da criança arrogante e impulsiva, que acha que sabe tudo. Mike TV passa o dia inteiro em frente à televisão ou jogando videogame, e ele hackeou o sistema para conseguir descobrir onde estaria um cupom dourado e, no fim, só precisou comprar uma única barra. Ele é arrogante e mal-educado, excessivamente grosseiro, e é ele quem escolhe a “Sala de TV”, que acaba com ele. Ali, Willy Wonka está desenvolvendo uma maneira de enviar chocolate pela TV (!), e Mike fica furioso com o chocolateiro, dizendo que ele é um idiota por não perceber o que acabou de fazer: ele inventou o teletransporte, e só pensa em chocolate. Então, ele pula na máquina para ser o primeiro humano a ser teletransportado pela TV, mas acaba do outro lado, em um tamanho minúsculo, como uma imagem de TV.
E não tem como voltar.
Por fim, então, Charlie é o único que sobra e, portanto, quem vai ganhar “o prêmio mais especial dos prêmios especiais do mundo”: a própria fábrica de chocolate. Willy Wonka acompanha Charlie e o Vovô Joe para a casinha pobre deles na cidade no Grande Elevador de Vidro, e explica para Charlie que, no seu corte de cabelo mensal, ele encontrou um fio de cabelo branco, e isso o fez perceber que ele precisava de um herdeiro. Agora, ele oferece a fábrica para Charlie, mas quer que ele abandone sua família e venha morar com ele na fábrica… isso porque o Willy Wonka é um homem sozinho, traumatizado, porque seu pai, Wilbur Wonka, era um rigoroso dentista que não o deixava comer doces, e que o repreendeu por desejar ser um chocolateiro… agora, ele acredita que a família é um empecilho à criatividade, e não quer saber deles.
Mas Charlie, de volta ao seu ambiente natural e à sua família, que ele ama mais que tudo nessa vida, demonstra mais uma vez seu bom coração. A gula, a ganância ou mesmo o desejo por segurança não fazem com que Charlie aceite a proposta de Willy Wonka: se ele não pode levar a sua família com ele, então ele não vai, e essa é sua última palavra. OUTRO MOMENTO LINDO PARA O CHARLIE. E é tão bonito ver o que vem a seguir… a sorte dos Buckett finalmente mudou, com ou sem fábrica de chocolate, porque o Sr. Buckett conseguiu um emprego ainda melhor na fábrica de pastas de dente, consertando a máquina que o substituiu, e agora que ele ganha mais, existe comida na mesa dos Buckett, e aquilo é EMOCIONANTE. Charlie não precisa de muita coisa para ser feliz… ele só precisa estar ao lado daqueles que ele ama.
Willy Wonka, por sua vez, não entende isso. Como ele pode ter recusado algo tão mágico como chocolate para ficar com a família? Por isso, ele não desiste, e vai atrás de Charlie novamente, sem mostrar seu rosto, e conversa com ele enquanto Charlie lustra o seu sapato, e quando eles começam a falar sobre o “Willy Wonka”, Charlie diz que ele parecia um cara legal, a princípio, mas depois ele viu que não era… e tinha um cabelo engraçado. Willy, então, estraga seu disfarce, e aceita a ajuda de Charlie para conversar com seu pai: ele não tem coragem de ir atrás dele, ou não sozinho, ao menos. E Charlie o acompanha, em uma cena simples e linda, em que o Willy Wonka aprende a perdoar e entende a importância da família – e é bonito ver que, embora extremamente rígido, Wilbur Wonka não era necessariamente mau… ele acompanhou, com orgulho, toda a carreira de seu filho.
As matérias estão espalhadas pelo consultório inteiro.
Assim, Willy Wonka entende o que Charlie estava dizendo, entende que a família é ainda mais importante que o chocolate. E eu ADORO a mensagem do filme, nessa última cena emocionante, em que Charlie chega com Willy Wonka na casinha, agora cheia de comida na mesa, e ele fica para jantar com eles – ainda excêntrico, porque esse é o Willy Wonka, mas visivelmente mais feliz… e, juntos, ele e Charlie têm ideias incríveis para o futuro da fábrica, para os novos doces que eles podem fazer, e isso é muito bonito. Um Oompa-Loompa faz a narração final do filme, enquanto vemos a casinha do Buckett, agora também com o Willy Wonka, posicionada dentro da sala comestível da Fábrica de Chocolate, com neve/açúcar caindo sobre eles de um grande açucareiro: “Charlie ganhou um prêmio incrível, mas Willy Wonka ganhou um ainda melhor. Uma família”.
EU AMO ESSE FILME COM TODAS AS MINHAS FORÇAS! <3


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