Primeiro Capítulo de “Anos Rebeldes” (14 de julho de 1992)

“Eu sempre acreditei nessa juventude. O Brasil tá precisando muito de vocês, viu?”

QUE ESTREIA PODEROSA! Alguns anos depois do grande sucesso que foi “Anos Dourados”, Gilberto Braga retorna com a minissérie “Anos Rebeldes” que, diferentemente de sua antecessora, tem o seu teor político mais trazido para a frente da narrativa, e não apenas como pano de fundo… ainda que seja, de algum modo, uma história de amor também, é impossível falar sobre o Golpe de 1964, a Ditadura Militar no Brasil e a Revolução de 1968 sem que isso seja levado a sério. É um período sangrento e absurdo da história brasileira, daqueles que revisitamos porque a história precisa ser estudada e lembrada para que não se repita. E sabe o que é doloroso ao assistir a esse primeiro capítulo? Perceber o quanto essa história ainda parece atual!

É um recorte histórico e uma representação do conservadorismo em ascensão.

Por isso, somos RESISTÊNCIA!

O primeiro capítulo de “Anos Rebeldes”, exibido em 14 de julho de 1992, se inicia no Rio de Janeiro de 1969, depois do “ano que não terminou”, e encontramos João Alfredo como membro ativo da luta armada, e temos um vislumbre do futuro do casal protagonista que ainda nem se formou: Maria Lúcia tem medo disso tudo e não quer se envolver pessoalmente, enquanto João Alfredo acredita que eles precisam reagir de alguma forma… e é com esse pequeno adianto que retornamos a março de 1964, cinco anos antes, apenas dias antes do Golpe Militar que jogaria o país em uma de suas épocas mais sombrias, e aqui vemos João Alfredo como um jovem estudante engajado e atento à movimentação política do país, com a direita tentando derrubar Jango.

João Alfredo e os amigos estão planejando um evento com palestras de grandes estudiosos e nomes da esquerda na universidade, e têm a anuência de um professor, embora haja quem diga que a lista é “tendenciosa” e questione a ausência de “intelectuais de direita” (o que, particularmente, me parece quase cômico). Dentre os nomes que João Alfredo quer para as palestras está o de Orlando Damasceno, pai de Maria Lúcia, um jornalista de esquerda que certamente tem muito a contribuir. Quando João Alfredo conhece Lúcia na escola, no entanto, e pede a sua ajuda para chegar até o pai, ela diz que “não quer que o pai participe dessas coisas”, e não parece disposta a passar o recado de João Alfredo para o pai… apesar de que eles têm outros meios.

Enquanto João Alfredo conversa com Maria Lúcia, Galeno conversa com Heloísa, uma garota de família rica e de direita que ajuda a financiar o Golpe de 1964, e consegue um convite para ele e para quem ele quiser levar para um evento que acontecerá na sua casa no dia seguinte, no apartamento imenso da família, onde João Alfredo reencontra Maria Lúcia e descobre que ela não falou com o pai… e, eventualmente, descobre que ela não falará, porque “se depender dela, o pai não vai participar”. Então, João Alfredo, Edgar, Waldir e Galeno vão pessoalmente até a redação onde Damasceno trabalha para falar com ele sem a ajuda de Maria Lúcia, e nós percebemos de imediato o quanto João Alfredo e Damasceno têm em comum e como podem ser bons amigos.

Durante a conversa sobre escritas, Damasceno pede para ler o artigo que João Alfredo escrevera e, ao terminar de ler, ele pergunta se o jovem já escolheu sua profissão, a que ele responde de pronto que quer ser jornalista… é naquele clima de reconhecimento e respeito mútuo que Damasceno anuncia que ele vai, sim, fazer a palestra na UNE para a qual o estão convidando. E isso é mais importante do que nunca agora. Ao som de “I Wanna Hold Your Hand”, dos Beatles, a minissérie nos apresenta a uma montagem com cenas e matérias de jornais que falam sobre “famílias marchando contra o comunismo” e “contra Jango”, por exemplo… e percebemos o quanto isso é real, o quanto vivemos as mesmas coisas em anos recentes, como ainda lemos essas manchetes

Está chegando o dia 31 de março de 1964 e, portanto, o GOLPE MILITAR. Os Militares querem derrubar Jango, o estresse em todo o país se acentua, as pessoas conscientes percebem o que está por vir e como eles não podem simplesmente assistir passivamente, e as ruas são tomadas por confusão, por violência, universidades são invadidas… os jovens e Damasceno estão na UNE quando os militares atacam o lugar com gás e com tiros, em uma sequência desesperadora que é a maneira perfeita de encerrar o primeiro capítulo de uma minissérie como “Anos Rebeldes”. Sem sabermos bem o que aconteceu a Damasceno, vemos João Alfredo chegar sozinho à casa da família, recebido por uma Maria Lúcia brava que pergunta onde está o seu pai, o que aconteceu com ele…

Excelente primeiro capítulo!!!

 

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