Mufasa: O Rei Leão (Mufasa: The Lion King, 2024)

“It lives in you, it lives in me, you’ll see”

Divertido, fofo e ocasionalmente emocionante, “Mufasa: O Rei Leão”, lançado em 2024, funciona tanto como uma prequela quanto como uma sequência do remake de “O Rei Leão”, lançado em 2019. Aqui, na ausência de Simba e Nala e durante uma tempestade, a pequena Kiara é distraída por uma história contada para ela por Rafiki, na companhia de Timão e Pumba, sobre aquele filhote desgarrado que viria a se tornar O REI LEÃO após sua chegada a Milele… Mufasa, o avô de Kiara, que ela não chegou a conhecer, mas que Rafiki garante que “vive através dela”. Assim, o filme nos leva de volta à infância de Mufasa, nos apresenta sua relação com os próprios pais, com o irmão Taka que viria a se tornar Scar e com Sarabi, sua futura esposa e mãe de Simba.

Visualmente, é evidente como houve uma melhora das escolhas feitas para “O Rei Leão” em 2019. Na perspectiva de um “live-action” (embora não seja realmente um “live-action”), o filme abusara do fotorrealismo e não agradou o suficiente por causa das cores e da falta de expressão dos personagens… pequenos ajustes foram feitos para “Mufasa: O Rei Leão”, que embora ainda utilize o fotorrealismo como base, também abraça boas ideias das técnicas de animação que conferem expressões antropomórficas para personagens que não são humanos, e esse é um ganho e tanto que permite que a audiência se conecte com esses personagens e com as histórias que eles estão contando… eu estava, assim como eles, ansioso para chegar até Milele.

“Mufasa: O Rei Leão” é a jornada de Mufasa, de quando ele era um filhotinho veloz que se separou dos pais durante uma enchente até ele se tornar o Rei Leão de Milele, após ajudar a defender o lugar de invasores. O pequeno Mufasa foi resgatado e acolhido por Taka, um outro filhote destinado a ser Rei, cujo pai desprezava todo e qualquer forasteiro, porque acreditava que eles eram traidores traiçoeiros em quem não se podia confiar… mas Taka “sempre quis ter um irmão”, e o talento de Mufasa foi notado de imediato por Eshe, a mãe de Taka, que o acolhe como seu próprio filho e incentiva o desenvolvimento de suas habilidades para farejar e sentir. Eventualmente, eles são forçados a partir do que conheciam como lar por causa dos terríveis leões brancos, liderados por Kiros, em busca de vingança.

Assim, Mufasa e Taka começam a sua jornada em busca de um novo lar, talvez em busca da família de Mufasa, e em busca de Milele, o lugar “mágico” sobre o qual os seus pais lhe falaram quando ele ainda era um filhote, e que muitos animais consideram apenas um “mito”. A amizade e o companheirismo de Mufasa e Taka são colocados à prova quando Sarabi, uma leoa acompanhada de Zazu, se une ao grupo. Embora sempre tenha querido um irmão e o pai sempre tenha desprezado Mufasa, talvez esse ressentimento tenha se construído por anos… Mufasa é um leão não apenas talentoso, mas corajoso, algo que ele nunca soube ser, e Taka sente que ele teve a atenção que ele queria ter de Eshe… no fim, ele ganhou a atenção até mesmo de Obasi.

E, agora, ele acaba de ganhar a atenção de Sarabi… Mufasa tenta ajudar o leão que considera seu irmão, mas Taka não sabe ser gentil, não sabe aproveitar as oportunidades, e Sarabi percebe o quanto foi Mufasa o tempo todo – ele que reconheceu em seu pelo o cheiro das flores de onde ela veio ou que a salvou no meio da manada de elefantes que ironicamente os salvou de Kiros e os leões brancos. E o verdadeiro irmão que a vida e essa jornada lhe dão acaba sendo Rafiki, um mandril exilado que, em toda sua sabedoria e excentricidade, se torna o líder do grupo em sua busca por Milele… e ele nos entrega uma relação bonita com Mufasa, a quem ele eventualmente chama de irmão e que reconhece como o irmão que conhecera em suas visões.

Taka, por sua vez, se torna um leão cada vez mais amargo, ressentido e, por fim, vingativo. Ele se une a Kiros para entregar a ele não apenas Mufasa, mas todo o grupo, e acaba por colocar Milele em perigo, porque os leões brancos chegam ao lugar logo depois de Mufasa e dos demais. Na batalha para defender Milele, Mufasa faz um discurso a todos os animais e incentiva todos a lutarem por seu lar, e é assim que ele se torna O REI LEÃO, escolhido para essa posição e aclamado por todos. Taka, por sua vez, faz o mínimo ao salvar a vida de Mufasa em uma batalha direta com Kiros, o que lhe garante uma cicatriz cortando-lhe o olho (!), e embora não merecesse, Mufasa decide que ele sempre terá um lugar em Milele enquanto ele for rei…

Mas não pretende mais enunciar seu nome.

Taka diz que ele pode chamá-lo de “Scar” então.

A história sofre interferências diretas de seus interlocutores, e Timão e Pumba rendem, como era de se esperar, alguns dos momentos mais divertidos do filme… como não amar esses personagens? Eu adoro a constante quebra da quarta parede e como isso rende boas piadas: gosto do comentário sobre como Simba “passou seis anos cantando ‘Hakuna Matata’”, porque foi durante essa música a passagem de tempo do primeiro filme, ou o protesto porque eles não estão nessa história, com direito àquele diálogo sobre a possibilidade de “os colocarem na versão da peça” e a reclamação do Pumba, que diz algo como “Nem me fale sobre a peça… eu fui assistir. Eu sou só uma marionete gigante na peça!”, e o Pumba reclamando porque ele foi ver sem ele…

SENSACIONAL!

Musicalmente, embora seja impossível conseguir algo tão marcante quanto “Circle of Life”, eu gostei das músicas que nos foram apresentadas… o instrumental fica a cargo de Dave Metzger, enquanto as composições das letras foram feitas por Lin-Manuel Miranda e Lebo M, que também trabalhou no filme original de 1994. Gosto muito de “Milele”, que é a apresentação da ideia que permeia e norteia todo o filem, bem como “I Always Wanted a Brother”, de Taka e Mufasa. Também temos “Bye Bye” como uma música para o vilão Nikos, “Tell Me It’s You” como o dueto romântico entre Mufasa e Sarabi e a deliciosa “We Go Together”, interpretada pelo grupo formado por Mufasa, Taka, Sarabi, Rafiki e Zazu, durante a sua viagem em busca de Milele.

Eu não acho que “Mufasa: O Rei Leão” seja um filme imperdível, mas é um filme gostoso de se assistir e eu gostei bastante! Ele cumpre a sua proposta tanto de mostrar um pouquinho de Simba e Nala depois do fim de “O Rei Leão”, nos apresentando a Kiara e a um novo filhotinho que só surge no fim do filme, quanto de contar a história de Mufasa e de Taka/Scar, gerando um background para que a história que conhecemos na animação original de 1994. E a Kiara é, é claro, adorável… adoro a sua empolgação durante o filme, acho muito linda a sua cena rugindo, ainda um rugido de filhote, sobre a mesma pedra na qual Mufasa rugira um dia, entendendo o que Rafiki lhe dissera sobre ele viver através dela… afinal de contas, esse é O CICLO DA VIDA.

 

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