Vale o Piloto? – Heartstopper 1x01 – Meet

Encontro.

É como se o primeiro episódio tivesse me pego totalmente desprevenido… eu já li a HQ de Alice Boseman, eu conheço e ADORO “Heartstopper” e a história de Charlie e Nick, mas terminei o primeiro episódio com o coração acelerado, um sorriso no rosto e chorando – literalmente, chorando. Séries e filmes como “Heartstopper” sempre me tocam profundamente, acho que porque eu fui um adolescente gay que não teve coragem de se assumir até o início da fase adulta… o adolescente gay que teria adorado assistir a uma série como essa quando ainda estava na escola. E, agora, eu não posso deixar de pensar em todos os adolescentes LGBTQIA+ que podem, finalmente, suspirar por uma comédia romântica protagonizada por um casal gay e se verem ali – eu fico TÃO FELIZ por esse tipo de história estar sendo contada, estar sendo assistida e amada por tanta gente!

Para mim, “Glee” foi a primeira série de que me lembro de ter feito isso por mim… eu me via ali, eu me apaixonava, eu aprendi a me aceitar enquanto assistia “Glee”. Muito muito mais tarde, eu me lembro do lançamento de “Com amor, Simon”, e como esse filme causou em mim a mesma sensação que “Heartstopper” está causando agora: eu li o livro e saí do cinema chorando porque estava genuinamente feliz e satisfeito simplesmente porque aquele filme existia. Quando falo sobre “estar feliz pelos jovens que hoje podem assistir a essa série”, eu me sinto um pouco como o narrador na primeira pessoa do plural de “Dois Garotos se Beijando”, um livro de David Levithan que é, de longe, um dos melhores livros que eu já li na vida – e que você precisa ler, se ainda não leu. Um livro que conversa lindamente, com muita sensibilidade e força, com gays de várias gerações.

Mas vamos ao episódio… “Meet” é o primeiro episódio de “Heartstopper”, e faz exatamente o que o título sugere: faz com que Nick e Charlie se conheçam. A série é leve, absolutamente fofa, nos arranca facilmente um sorriso – do tipo que aquece o coração e faz com que nos sintamos bem. É uma série que nos acolhe e que faz com que nos sintamos aconchegados, seguros, sem querer sair dali por nenhum motivo… e um dos destaques, para mim, é a maneira como a série conseguiu emular a sensação que tive quando li os quadrinhos pela primeira vez: a caracterização dos personagens e os cenários reproduzem brilhantemente os desenhos de Alice Oseman, e toda a condução da história tem o mesmo tom e o mesmo ritmo dos quadrinhos, com direito a efeitos que nos remetem a eles: é uma transposição brilhante, tendo em vista que são duas mídias tão distintas.

Charlie Spring, interpretado por Joe Locke, é um garoto tímido, nerd e abertamente gay – e sofreu muito no ano anterior, quando foi tirado do armário e teve que enfrentar muito bullying; nesse ano, no entanto, as coisas serão diferentes… talvez. Charlie está “saindo” com um cara chamado Ben, mas a verdade é que ele não está “saindo” com Ben nem nada, porque Ben é um tremendo babaca que está brincando com os seus sentimentos, marcando encontros escondidos pela escola para beijá-lo, ao mesmo tempo em que está oficialmente namorando uma garota e não quer que ninguém saiba sobre eles… pior, ele não quer que ninguém saiba nem mesmo que eles se conhecem! Odeio o Ben e sempre odiei, mas é doloroso demais quando o Charlie passa por ele no corredor e diz um “Oi” e o Ben age como se ele nem soubesse quem ele é.

Mas a mudança está vindo para Charlie graças a Nick Nelson, interpretado por Kit Connor – eles são colocados para se sentar perto um do outro e, em um primeiro momento, parece que eles não têm nada em comum… Nick é popular, jogador de rúgbi, provavelmente “igualzinho aos caras que faziam bullying no ano anterior” – mas não. Nick é educado, gentil, tem um sorriso fofo e Charlie não pode deixar de se apaixonar… mesmo que os amigos o advirtam de que ele pode estar prestes a se machucar. É inconsciente e inevitável, mas Charlie se envolve – o que não é difícil de entender, tendo em vista que Nick é um amor. Só o fato de eles trocarem “Ois” naturais e sinceros toda vez que se veem já é muito mais do que Ben faz, mas eventualmente eles começam a conversar de fato, com direito àquela icônica cena da caneta estourada (uma das cenas mais famosas dos quadrinhos) ou a tarefa de matemática a caminho da sala…

É tão adorável assistir aos momentos de Nick e Charlie – mesmo que eles não sejam oficialmente românticos ainda. Passar tempo com Nick faz com que Charlie se sinta tão bem, e ele já está tão envolvido, que ele acaba aceitando um convite inusitado para se juntar ao time de rúgbi. Ele não é o típico jogador de rúgbi, é verdade, mas Nick se surpreende ao ver sua velocidade correndo na aula de Educação Física, e eles precisam de mais um jogador, reserva, para poderem competir contra outras escolas ou qualquer coisa assim… e Nick se voluntaria para ensiná-lo como se joga. Então, Charlie aceita, e isso faz com que ele passe ainda mais tempo com Nick, e é muito fofo ver essa relação deles se consolidando – Charlie visivelmente apaixonado, Nick sendo bastante gentil e, quiçá, também se envolvendo, também começando a olhar para Charlie de outro modo…

Ou não.

Ele não sabe ainda, na verdade.

O episódio já traz uma “resolução” para a história com Ben, quando Charlie o vê beijando uma garota no portão da escola e manda mensagem dizendo que não quer mais encontrá-lo, o que deixa Ben bastante bravo – foi horrível assistir à cena de Ben “chamando o Charlie para conversar”, assim como horrível ler isso na época, e temos toda uma discussão levantada por essa história, na verdade, porque o que Ben faz é um abuso, e não me refiro apenas aos beijos que ele dá agora em Charlie, quando Charlie diz que não quer mais, mas desde o começo… desde que isso tudo começou. E é ainda mais doloroso perceber que o Charlie sente que “fez algo errado”, que ele precisa se desculpar para Nick quando Nick o salva de Ben, por exemplo… Charlie, entenda: você não fez nada de errado, você não tem culpa de nada. Mas que bom que Nick está ali.

Eles vão crescer muito juntos!

Acho que essa é a grande sacada de “Heartstopper”, na verdade… não é uma história inovadora nem nada, é um clichêzão que adoramos, mas faz com que torçamos pelos personagens, que acreditemos nos sentimentos e na relação de Charlie e Nick, que gostemos de vê-los juntos, nos perguntando o que vem a seguir – e, como eu conheço a história, sei que tudo é muito singelo, sincero e cuidadoso, e que ambos crescem muito juntos… que um faz toda a diferença na vida do outro, de uma forma saudável e bonita. Além disso, “Heartstopper” ainda traz representatividade, levanta discussões pertinentes e com responsabilidade, aquece o nosso coração… como eu disse, é o tipo de série que eu adoraria ter assistido na minha adolescência, e eu estou perfeitamente feliz por todas as pessoas que podem vê-la agora – e me incluo nessa lista!

 

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