O Senhor dos Anéis: As Duas Torres (2002)

“All our hopes now lie with two little Hobbits, somewhere in the wilderness”

A CONSTRUÇÃO DE UM ÉPICO. “O Senhor dos Anéis: As Duas Torres” parte de onde o primeiro filme da franquia parou, depois que a Sociedade do Anel se desfez, Boromir morreu em batalha, Merry e Pippin foram capturados e Sam se recusou a deixar que Frodo seguisse sozinho o resto do caminho até Mordor para destruir o Um Anel. Diferente de “A Sociedade do Anel”, o segundo filme da franquia tem uma narrativa muito menos linear; dividido em diferentes núcleos e com alguns flashbacks, “As Duas Torres” é construído para mostrar que “O Senhor dos Anéis” é muito mais do que a história de dois hobbits que precisam destruir um anel, mas toda a história de um mundo inteiro e seus povos: é a batalha pela Terra-Média, enquanto Sauron continua expandindo seu poder. Assim, tudo parece ainda mais grandioso, sombrio e desesperador nesse filme.

O filme foi e é um grande sucesso de crítica e de público – particularmente, é o filme que eu menos gosto na franquia, talvez porque eu adore demais a introdução de “A Sociedade do Anel” e a conclusão de “O Retorno do Rei”, mas meios de trilogia são meio que fadados a isso. Mesmo assim, “As Duas Torres” é um filme excelente, com uma narrativa consistente, bom desenvolvimento de seus personagens e faz uma bela expansão do universo apresentado anteriormente, com destaque para a primeira aparição completa de Gollum/Sméagol, certamente um dos pontos mais altos do filme, e todo o povo de Rohan, que protagoniza a batalha mais importante do clímax do filme, introduzindo um pouco do que veremos com muito mais frequência no último filme da franquia… ah, e também conta com o esperado retorno de um personagem adorado.

Gandalf sempre tem os melhores momentos!

Acho que uma das melhores coisas de “As Duas Torres” é a apresentação do Gollum, aquela criatura feia e sofrida que segue Frodo e Sam enquanto eles tentam achar o caminho até Mordor, mas andam em círculos… atraído pelo Um Anel, Gollum os persegue se escondendo nas sombras, e eu acho ele um dos personagens mais bem-escritos de “O Senhor dos Anéis”, porque é muito fácil presumir que ele é mau e vai atacar os hobbits, mas acabamos nos afeiçoando a ele, da maneira mais improvável possível. Sam e Frodo o enganam para capturá-lo, e então, percebendo o seu anseio pelo Um Anel, que ele chama de “seu precioso”, Frodo resolve fazer um acordo com Gollum, sabendo que ele o obedecerá como seu “mestre”, por portar o anel: Gollum sabe o caminho para Mordor e o levará para lá… e ficamos o tempo todo esperando que ele os traia.

Várias das melhores cenas do filme vêm com os interessantes “diálogos” das duas “versões” do personagem. De um lado, temos Sméagol, a pessoa que a criatura era antes de ter encontrado o Um Anel e ser corrompido por ele; de outro, temos Gollum, o “monstro” ambicioso e traiçoeiro no qual ele se transformou… e são diálogos e discussões intensas em um só corpo que rendem algumas das melhores sequências de “As Duas Torres” a meu ver, e é também é muito bom acompanhar a maneira como os hobbits o tratam de maneira distinta: de um lado, temos Sam, que não confia nele e o vê apenas como um monstro que pode traí-los a qualquer momento… de outro, temos Frodo, que se lembra da história que Gandalf contara e o chama de Sméagol, tentando enxergar, sob toda essa estranheza, a criatura que ele fora. E, de certo modo, Frodo teme acabar como ele.

O Um Anel cada vez o atingindo mais.

Em paralelo, acompanhamos a jornada dos demais personagens… Merry e Pippin, por exemplo, ganham uma trama interessante quando conseguem escapar de seus captores e terminam na floresta, onde conhecem Barbárvore, um antigo ent que despertara e que eles esperam que possa se unir à guerra, trazendo com ele os demais ents… e, então, eles são levados a um misterioso “Mago Branco”, que presumivelmente seria Saruman, mas que depois descobrimos, com Aragorn, Gimli e Legolas, ser um rosto muito mais amigável: Gandalf. O retorno de Gandalf como “Gandalf, o Branco” é, para mim, A MELHOR PARTE DE “AS DUAS TORRES”. A emoção de vê-lo vivo, bem e mais poderoso do que nunca é de arrepiar, e é uma pena que o personagem tenha uma participação tão reduzida em relação ao quanto pudemos acompanhar dele no primeiro filme.

Quando Aragorn, Gimli e Legolas descobrem que Merry e Pippin estão bem e não precisam mais ser resgatados, porque Gandalf pediu que Barbárvore cuidasse deles, eles podem tomar novos rumos: agora, eles sabem que o destino da Terra-Média está, em parte, nas mãos de Frodo e Sam e a jornada deles para chegar à Montanha da Perdição e destruir o Um Anel, mas eles têm guerras a travar contra os exércitos de Saruman, que não param de crescer… assim, vemos orcs e uruk-hai avançarem sobre vilarejos e reinos que precisam de todo apoio que se puder conseguir, e essa é uma das expansões da história promovidas por “As Duas Torres”: conhecemos, por exemplo, o Reino de Rohan, que está prestes a ser atacado por Saruman, e é aí que a maior batalha do filme acontece, em uma sequência longa e eletrizante que apenas nos provoca sobre o que está por vir…

A Batalha do Abismo de Helm é um dos momentos mais épicos da franquia – Rohan precisa resistir, depois de ter tentado escapar, e Legolas, Gimli e Aragorn vão lutar ao lado deles, mesmo com poucas esperanças de vitória… pelo menos até a chegada de um exército de elfos que um dia lutaram ao seu lado também. A batalha é um espetáculo visual cheio de momentos marcantes, além de conseguir encaixar cenas leves como aquela “competição” entre Gimli e Legolas, e certamente chega a uma conclusão épica. A chegada de Gandalf com os cavaleiros de Rohan é uma cena de tirar o fôlego e que muda totalmente o destino da batalha, que termina com os uruk-hai fugindo para dentro da floresta, a floresta que foi despertada por Bárbavore, graças à interferência de Merry e Pippin… inclusive, os ents também marcham a Isengard em outro momento épico.

Mas a queda de Isengard, de fato, fica para “O Retorno do Rei”.

Ansioso para ver o Gandalf chegar lá e enfrentar o Saruman!

A jornada de Frodo e Sam ainda encontra um empecilho quando eles são capturados por homens de Gondor liderados por Faramir, o irmão mais novo de Boromir, que, quando descobre que aquele hobbit está em posse do Um Anel, quer levá-lo para Gondor para provar ao pai o seu valor e para que Gondor use “a arma do inimigo” para vencer a guerra – um discurso parecidíssimo com o feito por Boromir na reta final de “A Sociedade do Anel”. Diferente do irmão, no entanto, Faramir consegue resistir à tentação do Um Anel e permitir que Frodo e Sam fujam de Gondor, entendendo que o que eles estão tentando fazer é o que precisa ser feito: só há uma maneira de deter Sauron e de garantir que ele não vai jogar a Terra-Média novamente nas trevas que assolaram o mundo antes… todas as esperanças estão nas mãos daqueles pequenos hobbits.

E eles ainda precisam confiar em Sméagol, que agora volta a ser “atormentado” por Gollum.

Novamente, Sam e Frodo protagonizam A CENA MAIS EMOCIONANTE DO FILME nos últimos minutos. Se, no primeiro filme, temos aquela cena do Sam quase morrendo afogado para acompanhar Frodo, aqui temos aquele momento em que Frodo, transfigurado pelo poder do Um Anel, se volta contra Sam de uma maneira perigosa e, com lágrimas nos olhos, Sam pergunta se ele não o reconhece, dizendo que ele “é o seu Sam”. É uma cena lindíssima, e Sam a completa falando sabiamente sobre as histórias que os marcam e as histórias que continuam vivendo e por que continuam… o belo discurso de Sam é, ainda, acentuado pela fala de Frodo minutos depois, quando eles retornam à caminhada e Sam se pergunta se um dia escreverão canções e contarão contos sobre eles, sobre “a história de Frodo e do Um Anel”, e Frodo diz que “ele está se esquecendo de um dos personagens mais importantes: Samwise, o Bravo”, e ainda completa: “Frodo não teria chegado longe sem o Sam”.

A emoção de Sam, a sinceridade de Frodo, o amor e a cumplicidade dessa dupla expressos no olhar.

Eles são simplesmente incríveis, de verdade! Frodo e Sam são a ALMA desse filme!

 

“I can't do this, Sam”

“I know. It's all wrong. By rights we shouldn't even be here. But we are. It's like in the great stories, Mr. Frodo. The ones that really mattered. Full of darkness and danger, they were. And sometimes you didn't want to know the end. Because how could the end be happy? How could the world go back to the way it was when so much bad had happened? But in the end, it's only a passing thing, this shadow. Even darkness must pass. A new day will come. And when the sun shines it will shine out the clearer. Those were the stories that stayed with you. That meant something, even if you were too small to understand why. But I think, Mr. Frodo, I do understand. I know now. Folk in those stories had lots of chances of turning back, only they didn't. They kept going. Because they were holding on to something”

“What are we holding on to, Sam?”

“That there's some good in this world, Mr. Frodo... and it's worth fighting for”

 

Para ler a review de “A Sociedade do Anel”, clique aqui.

 

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