On Broadway – Into the Woods – Once upon a time… later!


Into the Woods é quase dois musicais em um só – a produção de Stephen Sondheim e James Lapine assume posições muito diferentes nos dois atos, e depois de uma visão interessante e bem estruturada das histórias dos Irmãos Grimm (o que eu mais gostei no espetáculo todo foi a busca pelos tais quatro ingredientes), o musical assume um tom soturno um tanto quanto estranho. As missões são bem mais sombrias, uma grande quantidade de mortes… mas um final emocionante.
O segundo ato recomeça com o “I wish”, e vemos as infelicidades de cada um, depois do “felizes para sempre” do primeiro ato – e cada um sai para a floresta com diferentes objetivos dessa vez: Jack acha que pode matar um gigante novamente, Cinderela quer ver o que aconteceu com o túmulo de sua mãe, além de estar entediada no castelo, Chapeuzinho vai procurar a avó depois que a mãe morreu, e o Padeiro e sua esposa resolvem acompanhá-la para não deixar que ela ande sozinha por aí… e vamos lá, into the woods novamente!
Se no começo tínhamos os quatro ingredientes, aqui temos o Gigante. Ou A Gigante. O fato é que, depois de Jack ter matado um gigante, temos uma viúva louca por vingança – o clima melancólico permeia todo o segundo ato, e nem as piadas parecem mais serem eficazes. O Narrador acompanha tudo com olhos arregalados e tristes, o Gigante está atacando loucamente, e parece que ninguém sobrevive… e até o final, pouquíssimos realmente conseguem. Se vão a mãe de Chapeuzinho, de Jack, a esposa do Padeiro, a Bruxa, a avó de Chapeuzinho, Rapunzel – e quase todo mundo que você consiga imaginar.
Quase fica ridículo cada anúncio de morte.
E DE QUEM É A CULPA?
Mas o pior, não foi nenhum desses. A Gigante faz um discurso (comovente) exigindo Jack como vingança, e sem Jack para oferecer, os personagens começam a pensar em alternativas – e o que teria sido uma ótima piada se torna em uma cena revoltante de pura crueldade, que é a Bruxa jogando para a Gigante o próprio Narrador. “Eu não sou parte da história. Eu estou do lado de fora. Vocês não entendem, estou contando a história”. E mesmo que algumas pessoas tentem defendê-lo, como a mulher do Padeiro, ou Chapeuzinho Vermelho afirmando que “Agora que ele se foi, nós nunca saberemos o que vai acontecer”, ele se vai.
E Into the Woods perde drasticamente o brilho.
O roteiro espanta pela crueldade, nós não sabemos mais o que pensar dos personagens, e a Bruxa fica mudando nossa cabeça constantemente. Quem nos conquista a cada cena é o Padeiro, com belíssimas cenas, e Chapeuzinho, que é a melhor personagem de todo o musical. A cena antes do final foi legal, com os poucos sobreviventes, Jack sem ter para onde ir, Chapeuzinho Vermelho se dispondo a ficar com ele, ser sua amiga e avisando o Padeiro: “Claro, não temos para onde ir, então vamos morar com você”. E Cinderela indo também para ajudar com o bebê e a limpar a casa…
Partimos para a melhor parte do musical então, que é o momento em que Into the Woods se redimiu comigo: trazendo o Narrador de volta para ser o filho do Padeiro, e ficou muito bonito! Foi muito triste ver o Padeiro chorando, desamparado, e o espírito de sua mulher pedindo que ele acalme o bebê, contando-lhe como tudo aconteceu. Até a Bruxa ganha uma parte da música muito bonita, falando sobre como ele precisa ter cuidado porque as crianças escutam. E a cena foi extremamente emocionante, com o Padeiro chorando, o Narrador de volta, vivo e contente, abraçando o pai, fugindo para a floresta no fim, e dizendo: “I wish!”.
Tive vontade de aplaudir.
Into the Woods é um musical muito bacana do qual gostei bastante, mas não entra para a minha lista de favoritos, por alguns fatores como o segundo ato arrastado, a escuridão dos cenários, e a crueldade com o meu personagem favorito. Agora vamos esperar porque nesse ano ainda teremos a adaptação cinematográfica para a obra – aguardando que seja fiel, no entanto a lista que encontrei com o elenco não menciona nenhum “Narrador” e eu acho que a história perderia muito sem ele… mas enfim, vamos aguardar.


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