Desventuras em Série – Klaus Baudelaire



Eu sou apaixonado por Desventuras em Série. Admiro imensamente a maneira como Lemony Snicket conduz a narrativa; é soturno, mas ao mesmo tempo engraçado – um humor negro, mas divertido. Não podemos negar que, tirando o lado “cômico” dos livros, Desventuras em Série se resume a uma série de acontecimentos bizarros e desafortunados, que realmente são bem tristes.
A narrativa de Snicket é envolvente e simples. Você começa a ler os livros (cada um dos 13 dividido no mesmo número de capítulos) e não quer mais largar. E realmente não tem essa necessidade – afinal, tire um dia para cada um deles que provavelmente você consegue. O primeiro livro, por exemplo, tem apenas 148 páginas, em uma história ágil, repleta de cenas bem ilustrativas… é uma narrativa bem viva, e Lemony Snicket conversa continuamente com o leitor, o que nos aproxima da história. Essa característica de “conversa com o leitor” torna o livro parecido com uma grande conversa – lembra aquelas histórias que lhe contavam quando você era mais novo? Eu imagino Lemony Snicket como um parente mais velho, me contando a história…
Portanto, você pode imaginar que a leitura é deliciosa. Não tem como não se apaixonar pela história dos Baudelaire. Absurdamente desafortunada, você começa a pensar sobre a falta de sorte destinada às mesmas pessoas. Violet, Klaus e Sunny, os três órfãos Baudelaire, protagonistas dos livros, realmente passam por muita coisa… mas em meio a tanto sofrimento algumas cenas são tão bizarras e irreais que você dá uma relaxada e uma rida… mas não o tempo todo, of course.
Ah, sim, claro. Citei algumas vezes Lemony Snicket durante o meu texto. Lemony Snicket é um pseudônimo do verdadeiro escritor (Daniel Handler) e que é um personagem da história. Não chegamos realmente a vê-lo em nenhum momento, mas sua presença é constantemente notada… bem como a de Beatrice, sua amada falecida, que proporciona um dos melhores momentos nas últimas páginas de The End… a maneira como ele coloca seus sentimentos pessoais no meio da história, suas considerações, lamentações, conclusões… narrativa brilhante!
Leia por exemplo o trecho abaixo, que é como o autor inicia Mau Começo, primeiro livro da série composta por 13… sempre desencorajando o leitor a ler o livro e aconselhando a leitura de algo “mais alegre”:

Se vocês se interessam por histórias com final feliz, é melhor ler algum outro livro. Vou avisando, porque este é um livro que não tem de jeito nenhum um final feliz, como também não tem de jeito nenhum um começo feliz, e em que os acontecimentos felizes no miolo da história são pouquíssimos. E isso porque momentos felizes não são o que mais encontramos na vida dos três jovens Baudelaire cuja história está aqui contada. Violet, Klaus e Sunny Baudelaire eram crianças inteligentes, encantadoras e desembaraçadas, com feições bonitas, mas com uma falta de sorte fora do comum, que atraía toda espécie de infortúnio, sofrimento e desespero. Lamento ter que dizer isso a vocês, mas o enredo é assim, fazer o quê?
Mau Começo (Lemony Snicket)
Capítulo 1 – página 09-10 (Cia. das Letras)

Me digam vocês: tem como não amar isso tudo? Já tendo lido todos os livros, há muito tempo atrás, recentemente resolvi voltar a lê-los, porque são realmente bons. Portanto, já sabendo o final, e os acontecimentos seguintes, tudo o que eu quero fazer é degustar o livro. De verdade. Leio um parágrafo, uma página, um capítulo… e fico revivendo aquilo, relendo as melhores partes e admirando como o livro foi bem escrito… tenho até certo dó de seguir em frente…
Provavelmente você conhece a história de Desventuras em Série pelo filme de 2004 com Jim Carrey. Por favor, esqueça-o! O filme diz trazer a adaptação dos três primeiros livros da série, mas não é muito fã da fidelidade, e realmente acho que Jim Carrey estragou o filme. Completamente. O meu Conde Olaf não tem nada a ver com aquele que ele colocou no filme… deixe o filme de lado, e parta para os livros: a série conta a história dos três irmãos Baudelaire, e sobre tudo o que passaram depois de perderem os pais em um terrível incêndio na sua mansão. Como o autor diz, um “romance gótico sobre crianças crescendo em situações terríveis”. O que começa como simples mudanças de tutor a tutor (enquanto o vilão Conde Olaf continua tentando roubar a herança deles) evoluiu bastante quando os irmãos descobrem os trigêmeos Quagmire, a organização secreta de CSC e se tornam fugitivos…
O livro é mestre em disfarces (de vários personagens) e conta com pelo menos uma morte por volume. Tendo ambientado meus leitores ao meu tema, vamos delimitar um pouco: gosto muito do personagem de Klaus, desde sempre, por sua imensa inteligência, por sua personalidade – com apenas 12 anos (mais tarde 13), Klaus é um grande amante dos livros, com memória fotográfica. Melhor do que eu descrever, é você ler como Lemony Snicket nos apresenta o personagem pela primeira vez, no primeiro capítulo de Mau Começo:

Klaus Baudelaire, o irmão do meio, e o único menino, gostava de examinar os seres minúsculos que pululavam nas piscininhas formadas à beira d’água. Klaus tinha pouco mais que doze anos e usava óculos, o que lhe dava um ar inteligente. E ele era inteligente. Os Baudelaire pais possuíam uma enorme biblioteca em sua mansão, uma sala com milhares de livros sobre todos os assuntos imagináveis. Aos doze anos, é claro que Klaus não poderia ter lido todos os livros da biblioteca dos Baudelaire, mas lera uma porção deles, e era impressionante como retinha na memória a quantidade de informações assim obtidas.
Mau Começo (Lemony Snicket)
Capítulo 1 – página 11-12 (Cia. das Letras)

Klaus Baudelaire fez parte de minhas leituras quase iniciais, e eu ainda nem era adolescente quando li essas histórias… é um dos meus modelos de nerd, um dos melhores. É incrível ver como ele adora ler, como tem uma biblioteca gigantesca (como eu tinha inveja disso!), como tem uma memória fotográfica… que eu sempre desejei ter igual! E o melhor de tudo é ver Klaus retirando da memória as informações mais inusitadas para inventar planos que possam salvar os Baudelaire das mais diversas situações… e tudo isso vindo de uma criança de 12/13 anos… sim, eu sempre o admirei! E continuo fazendo-o até hoje… relendo os livros, mais do que nunca!
Eu deixo a dica a todos, que tenham ou não visto o filme. Deixem o filme de lado e busquem os livros. Muito bem escritos, com uma história muito interessante, divertida e diferente… complexa em vários pontos, ambígua, cheia de mistérios, te deixa muitas questões abertas para que você pense e encaixe suas peças… vale muito a pena, procurem os livros! Até mais…

Comentários

  1. Eu nem sabia que Desventuras em Série era um livro, mas eu sempre gostei do filme.
    O primeiro livro é com esse nome mesmo? Vou procurar pra ler.
    Ah, me senti muito de fora quando você postou sobre o porque dos dizeres no título do blog, aí eu procurei o "Guia do Mochileiro nas Galáxias" ( sim, eu nunca li =P) e encontrei numa biblioteca aqui.
    Já um pedaço e adorei, mas ainda não peguei emprestado.

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    Respostas
    1. na verdade são 13 livros =P
      um melhor do que o outro, mas eu tenho uma grande paixão pelo sétimo, "A Cidade Sinistra dos Corvos"... a maneira como tudo acontece, os mistérios... muito delicioso!
      O filme foi "baseado" nos três primeiros livros, mas não é tão fiel, e o Jim Carrey destruiu o longa =/
      Eu comprei ontem uma edição antiga da coleção completa do "Mochileiro", a mais clássica, com as capas linda *-* estou morrendo de vontade de reler, mas não tenho muito tempo :S

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