Sítio do Picapau Amarelo (2003) – O Primo do Carijó: Parte 1

“Eu sempre quis ter uma mula-sem-cabeça!”

Quando o Sítio do Picapau Amarelo recebe a visita de João Melado, um primo do Zé Carijó interpretado por Lima Duarte, e sua filha Berta, também uma mula-sem-cabeça começa a rondar o lugar… e, como sempre é o caso quando algo diferente aparece pelo Sítio, Emília decide que “seria legal ter uma mula-sem-cabeça”. Nessa história, temporadas anteriores começam a ser ignoradas… há comentários a respeito de quando o lobisomem apareceu por ali, nos remontando à história do “Cangaceiro Lobisomem”, do ano anterior, mas Pedrinho age como se nunca tivesse visto uma mula-sem-cabeça e como se não soubesse como desencantá-la, sendo que, em “O Saci”, uma das primeiras histórias da temporada 2001, ainda baseada nos livros de Monteiro Lobato, o Saci lhe mostrou uma mula-sem-cabeça na mata e ele chegou a salvá-la.

É noite de lua cheia para que o tom macabro e sombrio da história seja definido, e “O Primo do Carijó” acaba dando destaque a personagens que comumente não estão em evidência no “Sítio do Picapau Amarelo”. Personagens como Pedrinho, Narizinho, Emília e Visconde continuam por perto, acompanhando a todos, mas eles ainda não desempenham nenhum papel importante na história, embora a Emília esteja cismada em desencantar a mula-sem-cabeça. Assim, personagens como os desonestos e gananciosos Coronel Teodorico e Elias ganham destaque, negociando com João Melado em busca de lucro fácil, e a história é uma boa leitura a respeito do que a ganância pode fazer com os homens, além de ter umas referências bacanas não apenas ao folclore brasileiro, como também a outras histórias famosas, como da galinha de ovos de ouro.

A Madá.

O Zé Carijó e o Tio Barnabé são os primeiros a ouvir e, depois, ver a mula-sem-cabeça rondando o Sítio… no dia seguinte, o Tio Barnabé conta o que viu para a Tia Nastácia, e o pavor começa a se espalhar, enquanto Emília começa a pensar em “ter uma mula-sem-cabeça só para ela”. Em paralelo, também acompanhamos a chegada de dois “caipiras” nas redondezas: o João Melado e a Berta. Zé Carijó fica felicíssimo ao reencontrar o primo, depois de tanto tempo, e não é lá um grande mistério a identidade da moça amaldiçoada que vira a mula-sem-cabeça durante a noite… afinal de contas, elas apareceram por ali no mesmo instante, e a Berta não é muito bom em esconder suas reações toda vez que o pessoal do Sítio do Picapau Amarelo cita a mula-sem-cabeça. Sem saber que o “monstro” que ele tanto teme e que a moça bonita são a mesma pessoa, Zé se apaixona…

Durante a noite, Berta desaparece e, “coincidentemente”, a mula-sem-cabeça surge. As crianças vão atrás do Tio Barnabé para saber o que fazer para capturar a mula, e ele inicialmente não quer ajudar, “porque ela não é desse mundo”, e é essa sequência que me incomodou um pouco, tendo em vista que, até então, as temporadas anteriores sempre foram levadas em consideração, e agora o Pedrinho fala como se não soubesse nada a respeito de mulas-sem-cabeça, mesmo depois de ter salvado uma em “O Saci”. De todo modo, o Tio Barnabé diz que a maneira de desfazer o feitiço contra a moça é retirar o freio da mula-sem-cabeça, e é claro que a Emília vai tentar… não que ela consiga, a princípio. Durante a noite, quando ela tenta montar a mula usando o pó de pirlimpimpim, ela acaba montando a Cuca, que aparece para conferir a história do Saci de que a mula está nas redondezas.

Enquanto isso, a mula escapa…

Também acompanhamos, então, a esperteza do João Melado, o caipira que todo mundo queria fazer de bobo e que talvez seja muito mais esperto que todos eles. O Coronel Teodorico quer arrendar umas terras, e o João Melado diz que quer comprá-las, dando todas as suas economias por terras que não valem nada… Emília até tenta dizer que ele está sendo enganado, mas ele fecha o acordo, embora tudo ali seja terra seca, areia e cascalho. O Coronel Teodorico é um grande de um mentiroso e um mau-caráter. Depois de comprar as terras, João Melado compra fiado na venda do Elias, que já avisa que, se ele não pagar, ele terá que colocar juros, e ficamos apreensivos, achando que o João Melado será enganado, mas ele é astuto. Logo, logo ele reaparece na venda do Elias, com dinheiro o suficiente para pagar todas as suas contas, ainda que a terra não esteja dando nada…

Gosto de como o João Melado os entende depressa. Ele em nenhum momento fala sobre “galinha que bota ovos de ouro”, mas ele está com a Madá e fala sobre como às vezes ela bota uns ovos duros, e como de gema eles só tem a cor, e ele deixa que o Elias tire suas próprias conclusões sobre como “o caipira tem uma galinha que bota ovos de ouro”. Interesseiros, Elias e o Coronel já começam a rondar, e o Teodorico está em um desespero patético para comprar a galinha do João Melado… e, vendo esse interesse todo, João Melado faz charme, diz que a Madá não está à venda, porque “é muito especial”, e só aceita vendê-la depois de pedir uns mil reais, mais uma vaca, porcos, um cavalo e uma charrete… e o tonto do Coronel Teodorico aceita comprar a galinha, que precisa ir buscar lá no Sítio do Picapau Amarelo, para onde Berta fugiu com ela.

Ela não quer dar a sua galinha! E se vinga do pai na pimenta na comida à noite.

“Fiz mesmo, que é pra ocê aprendê a não vendê minhas amiga!”

Na manhã seguinte, no entanto, Madá bota ovos normais, e o Coronel Teodorico vai todo bravo em busca do “mentiroso” do João Melado, dizendo que “ninguém vai passá-lo para trás”, mas o negócio é que o João Melado NUNCA disse que a Madá botava ovos de ouro… quem chegou a essa conclusão foram eles mesmos, então o negócio foi justo. Para se defender do Coronel, ele ainda diz que ele nem ofereceu a galinha, foi o próprio Coronel que veio querendo comprá-la e insistiu. Dona Benta serve de mediadora, e diz que se o João Melado nunca disse que ela botava ovos de ouro, então foi precipitação do Coronel Teodorico, e tudo fica por isso mesmo… afinal de contas, ele pode até ter sido “enganado” pelo João Melado, mas ele também o enganou vendendo terras que a Dona Benta sabe que são bem ruins, então vai ficar por isso mesmo.

Mas Teodorico e Elias não aprendem… a ganância é demais, e está sendo lindo vê-los quebrar a cara uma vez após a outra… quando Madá se engasga com uma pedra brilhosa da qual aquelas terras estão cheias, novamente Elias e Teodorico deixam os olhos crescerem e anuviar a sua razão. Quando João Melado não tem dinheiro para pagar as compras na venda do Elias, ele oferece as bonitas pedras brilhantes como pagamento, e quando Elias vê a forma como elas brilham, seus olhos crescem, e ele corre para contar para o Coronel Teodorico, novamente ambos deixando que a ganância tome conta – já é evidente que aquelas terras não valem é nada! Mas o Coronel Teodorico, pateticamente desesperado, corre para a casa do João Melado para oferecer-lhe dinheiro pelas terras de volta… ele se propõe até a pagar pelas reformas que foram feitas…

Mas João Melado não quer vender. Teodorico oferece mil reais para que ele venda as terras, e ele responde que não vai embora dali nem por mim, nem por 2 mil ou por 10 mil, e quando o Coronel chega inconformado no Sítio do Picapau Amarelo, Dona Benta lhe pergunta por que ele tem tanto interesse em conseguir as terras de volta… afinal de contas, todo mundo que conhece o Coronel Teodorico saberia que ele não presta e deve estar aprontando alguma. E eu estou adorando vê-lo quebrar a cara… agora, para completar a história, uma personagem faz seu retorno em “O Primo do Carijó”: CANDOCA. Quando Candoca retorna ao Arraial dos Tucanos, ela ouve falar sobre “ouro” nas “suas” terras, e agora ela mesma vai tentar expulsar o João Melado e a filha das terras, para que possa pegá-lo todo… mas eu acho que João Melado é mais esperto que ela!

Bem-vinda de volta, Candoca.

Boas risadas nos aguardam!

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