3% 1x06e07 – Vidro / Cápsula


“Oi, Michele”
O final do Processo se aproxima e as coisas ficam cada vez mais intensas – tivemos dois episódios bem construídos antes do grande Season Finale que está prometendo. Primeiro, conhecemos melhor Michele através de flashbacks que a mostram brincando com André, o seu irmão que foi assassinado durante o Processo por Ezequiel, supostamente. Depois, os 9% restante dos candidatos são submetidos às suas últimas provas, individuais dessa vez, antes de serem oficialmente aprovados e enquadrados dentro dos escassos 3%, com um discurso revoltante que inclui, mas não somente, “Agora vocês podem se considerar gente de verdade. Os 3% escolhidos”. Pareceria um ultraje se não fosse tão bem aceito por uma sociedade doente que acha isso a coisa mais linda – com exceções, claro. É por isso que temos a Causa, e o discurso de “Rafael” que a explicou de uma vez por todas foi absolutamente lindo e envolvente. Me fez querer ser parte da Causa (não que eu alguma vez apoiaria o Processo ao invés da Causa, evidentemente). De todo modo, as coisas estão ficando sérias, e mais uma vez todos eles precisam testar os limites de até aonde iriam para conseguir uma passagem para o Maralto.
E eles vão longe.
Capítulo 6: Vidro
Instalados em quartos individuais, cada um dos candidatos vê fotos de suas famílias e suas vidas do Lado de Cá, enquanto familiares também aparecem para conversar com eles, convencê-los de uma coisa ou de outra. Eles têm 30 minutos no quarto com um membro da família e a escolha: voltar para casa com o dinheiro oferecido pelo Processo ou continuar, sem nada? O momento é tenso. Não há excesso de ação, nem nada, é um suspense psicológico bem construído, porque o que está em jogo é a psique de cada um. Joana é atormentada por um cara que se infiltrou passando-se por seu pai, mas que está ali para levá-la para o Gerson, o pai do garotinho que ela matou. Michele está sozinha, com a escolha na sua frente. Fernando enfrenta o pai e acha que o melhor a fazer é voltar para casa com ele, mas o pai refuta a ideia e diz que ele não tem mais casa se desistir do processo. Mas o melhor, como SEMPRE, está na parte da trama reservada a Rafael. Ou melhor, a “Rafael”, também conhecido como Tiago. Porque a mãe dele aparece.
E é eletrizante!
As melhores cenas estiveram ali, porque a mãe de “Rafael” cobra dele, diz que o que ele fez com o irmão é inaceitável, xinga-o e é quase chocante – mas ele garante: “Eu vou passar, mãe”. E eu confiei nele. É o momento em que ela o ameaça. Diz que se ele não voltar para casa agora com o dinheiro, ela vai contar para todo mundo que ele já esteve no Processo antes, que roubou a identidade do irmão e está tentando novamente. Mas estamos falando de “Rafael”, é claro. Então ele revida brilhantemente na mesma moeda, e é GENIAL. Ele diz que se ela fizer isso, ele vai dizer que ela sabia. Que toda a família sabia e eram cúmplices, e então nenhum outro filho dela jamais poderá entrar no Processo. O destaque está para o momento Cornélio Fudge da mãe dele: “Você não faria isso”, que chegou a ser risível, mas ele responde, digno de aplausos: “Com uma mãe boa, não. Mas com você, faria qualquer coisa”, reconstruindo as palavras dela, e foi quase tão satisfatório quanto o “Sorry, but I must not tell lies” do Harry em A Ordem da Fênix. E aquilo fez com que eu amasse o Rafael um pouquinho MAIS.
Se possível.
Eu ri e o aplaudi, plenamente satisfeito.
No fim, os quatro passam. Rafael fica depois do confronto com a mãe. Michele decide não pegar o dinheiro, obviamente. Fernando é abandonado pelo pai, obrigado a continuar. Joana enfrenta um teste para saber se ela realmente queria ir para o Maralto ou se estava fugindo. “Se você quer passar, então para a gente você é a Joana”. A transição é excelente. Ezequiel é apresentado destruído se despedindo de Augusto (o garoto deitado no colo dele é de partir o coração). Fernando e Michele compartilham algo, se é que você me entende. E Aline dá pitecos na próxima prova na maior cara de pau. Então começam as PROVAS INDIVIDUAIS. E são eletrizantes, pelo menos algumas delas. Michele precisa convencer um casal a inscrever sua filha mais nova no Processo. Fernando precisa criar uma prova nova para o Processo. E Rafael precisa estar em dois lugares ao mesmo tempo, basicamente. Joana já passou por sua prova individual em conjunto com sua prova anterior, na tentação de voltar para o Continente.
Acho que a de Michele é a mais TENSA. Porque “convencer um casal a inscrever a filha mais nova no Processo” parece simples, mas a pegada doentia está no fato de serem os pais de Bruna, e ela ainda precisar contar a elas que a garota morreu durante o Processo. É intenso, e ela apela lindamente para a morte/assassinato de seu irmão. E o discurso dela é absolutamente fenomenal. Ela fala detalhadamente sobre o seu irmão, sobre os seus sentimentos, e parece que ela contou TODA a verdade (com exceção da parte da Causa, é claro), e isso comoveu, foi de arrepiar. Ela conseguiu um atestado: “A Isabela… a Isabela vai fazer o Processo. E ela vai passar. Obrigada”. E, logo em seguida, Michele é questionada sobre o que fez: “Eu tô impressionada. Por que você inventou aquela história do teu irmão?”, o que me enche de dúvidas, por que eles não sabem mesmo?! Fernando, por sua vez, mais modifica uma prova do que cria uma nova, mas dá uma boa explicação e é aprovado, mesmo mediante controvérsias.
E Rafael. Eu gostei da prova de Rafael. Parece simples, mas é estrategicamente pensada, assim como as demais, para tocar em suas fragilidades, naquilo que eles podem falhar – e caso provem que não falharam, eles estarão entre os 3% aprovados. A ideia é simples: acionar ambas as imagens dos Fundadores, ao entardecer, exatamente às 18h, mas precisam ser ambas AO MESMO TEMPO, e cada controle está em uma extremidade da sala… como fazer então: conseguir ajuda? E como o RAFAEL conseguiria ajuda dos demais candidatos? Primeiro ele vai até Joana, e eu não entendi porque ele não disse para ela que roubou a identidade do irmão, que queria muito uma nova chance, ser parte do Processo e tal – embora, nos padrões da prova dela, isso seria entendido como um motivo de perdão. Assim, Rafael tenta Fernando. E a única maneira de convencê-lo é contando toda a verdade, dele e de Michele. A CAUSA. O discurso é lindíssimo, merecia ser transcrito na íntegra. Sobre como só 3% da população ter absolutamente tudo às custas da pobreza do restante da população é injusto, e como ele quer salvar todos.
Seu discurso é altamente marxista.
Fala da burguesia, fala das “merdas” causadas pelo sistema e sugere uma revolução.
Capítulo 7: Cápsula
Depois do discurso lindíssimo de Rafael, sobre uma maneira de reverter o jogo – Rafael está determinado a encontrar uma maneira de salvar a TODOS –, e das diferentes reações a terem sido aprovados, Michele surpreende: uma cápsula dentro da carne da barriga com um veneno para matar Ezequiel. E então o penúltimo episódio já começa surpreendente, com o jantar, a festa de comemoração para os 3% aprovados, que podem se considerar “gente de verdade” a partir de agora – não estava esperando que o Processo já tivesse chegado ao fim. Então Michele vê as suas últimas chances de se vingar de Ezequiel se esvaindo, e tenta colocar veneno em sua bebida, mas uma confusão (enquanto a Joana está fazendo uma pergunta pertinente sobre como é o sexo no Maralto) faz com que César tome o veneno no lugar de Ezequiel e morra depressa. Foi um descuido bem impensado e até um pouco decepcionante de Michele, porque ela poderia ter feito aquilo de uma forma muito mais calculada e segura, mas não…
Ah, e como César morre, com toda a medicina avançada do Maralto?
Um mistério maior que os de Lost.
E quando estava faltando apenas o Ritual de Purificação para terminar oficialmente o Processo, tudo desanda uma vez mais. Adorei Rafael fingindo-se de bêbado e passando mensagens importantes para Michele na frente de todo mundo, através de “códigos”, como o fato de Fernando saber do segredo deles – e Michele está perdendo o controle. Porque eles sabem que César foi envenenado, e que o responsável é alguém da Causa, e eles não vão descansar enquanto não descobrirem quem foi. Assim, sutilmente todos são chamados de “candidatos” novamente, e não mais de “escolhidos”, e um novo “Processo” se inicia, com interrogatórios intensos, um a um, com direito ao retorno de frieza e complexo de superioridade, e nós não sabemos o que vai acontecer. Joana acha que é mais um tipo de teste, tem gente que sabe que é uma infiltração da Causa, a cápsula rola pelo recinto e é jogada fora por Rafael, então passamos o episódio todo apreensivo que suas digitais fossem ser encontradas ali…
Uma tensão impressionante.
Gostei de como o episódio fez isso. Preparou tudo para o grande clímax do último episódio, em uma crescente admirável que nos deixou tensos. Michele e Ezequiel durante o interrogatório é altamente enigmático, embora haja muitos indícios para incriminá-la – e embora ela demonstre força segurando, fingido e negando, ela explode com Fernando: “Eu fiz merda! Eu fiz merda!”, em um verdadeiro ataque de pânico. Eu fiquei particularmente tenso quando a cápsula foi encontrada, mas a finalização… QUE FINALIZAÇÃO! Aline leva toda a culpa, em um plano macabro e inteligente de Ezequiel para tirá-la do caminho. Ela vai presa pelo assassinato, mas acusada de pertencer à Causa, de ter se infiltrado no Processo há mais de 10 anos, para destruir o Sistema lá de dentro, depois de ganhar confiança e cargo, tudo embasado em um discurso escrito para o capturado da Causa lá no Piloto ler, com a ajuda de Cássia. É genial. Diabólico. Mas genial. Complexo, fazendo todo o sentido, circunstâncias à favor, Ezequiel nem pode esconder um sorrisinho quando tudo dá certo e Aline é levada.
Mas não acabou…
Aquele “Oi, Michele” do fim do episódio me causou um arrepio na espinha.
Ezequiel no quarto de Michele, rolando a cápsula vazia entre os dedos, esperando.
WOW!

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