Doutor Estranho (Doctor Strange, 2016)


“Forget everything you think you know”
Acho bacana como essa fala, “Esqueça tudo que você acha que sabe”, serve tanto para a Anciã tirando Stephen Strange de seu corpo e desse plano e o projetando no astral, como uma forma de começar a abrir sua mente, como para o filme como um todo, até em relação aos demais filmes da Marvel. Esqueça tudo que você acha que sabe, ou conhece. Doutor Estranho é um filme diferente, inovador, e certamente um dos melhores personagens da Marvel – fico contente que a onda de filmes de super-heróis dos últimos [muitos] anos tenha proporcionado que até heróis menos convencionais, como o Doutor Estranho, seja retirado das páginas dos quadrinhos e trazido à vida no cinema. Porque esse filme é um primor incrível e o meu novo favorito da Marvel. Filme impecável, com efeitos lindíssimos e desconcertantes, atuações precisas… uma verdadeira obra-prima do gênero que merece todos os elogios que está recebendo pela crítica especializada. A introdução do filme já mostra isso claramente em uma eletrizante sequência de ação que brinca com o Multiverso, com poderes místicos, com efeitos estilo Inception.
Você já está sem fôlego nos primeiros minutos de filme!
Logo depois do teaser do começo, com as lutas e manipulação de espaço e realidade, conhecemos o personagem de Benedict Cumberbatch: Stephen Strange, um neurocirurgião egocêntrico, convencido, cujo ego superinflado gera uma terrível atitude arrogante. Não podemos dizer que ele não fosse mesmo o melhor no que fazia – mas ele fazia as coisas mais por ele que por mais ninguém. Escolhia os pacientes. Desafiava o bom-senso e a tradição para provar que podia ir além. Infelizmente isso era tão nato nele que ele até dirigia com essa atitude. O que causou o seu terrível acidente em uma cena desesperadora. O acidente, a cirurgia, os incontáveis pinos em suas mãos, que tremiam perigosamente ameaçando-o de jamais poder voltar a ser o neurocirurgião que outrora fora. Obcecado, Stephen Strange busca ajuda. Gasta todo seu dinheiro em busca de qualquer tipo de ajuda que possa conseguir, chegando, por fim, a Kamar-Taj e tendo toda a sua visão do mundo alterada para sempre. Ali, em uma cena INCRÍVEL, A Anciã abre a mente de Strange, joga-o astralmente pelo Multiverso, em efeitos lindos do Universo, com falas lindas e empolgantes de fundo.
Então você quer mais.
Então Stephen Strange quer mais.
Por isso ele não vai embora, passa horas na frente da porta da Anciã, pedindo que ela a abra, que ela o ensine. E aqui eu faço uma pausa para comentar: que atuação BRILHANTE de Benedict Cumberbatch. Quer dizer, eu sou aficionado pelo ator, com seus primores em Sherlock, em O Jogo da Imitação ou mesmo Star Trek: Into Darkness. Ele atua incrivelmente bem como Stephen Strange, um personagem por si só muito bem escrito. Há toda uma pegada Marvel de humor contido que proporciona ao personagem um carisma inegável. Você gosta de Strange a partir do momento em que o vê, mesmo quando ele ainda tem uma postura extremamente arrogante. Ele é inteligente, é mais ou menos engraçado (pra mim ele é, mas enfim) – vide as cenas iniciais nas quais seus poderes são duvidosos, ele não consegue conjurar um portal, enquanto os demais aprendizes estão visivelmente mais avançados. É quando a Anciã o leva para o Monte Everest e, simples assim, o larga lá. Então você sabe que, finalmente, ele vai conseguir.
E ele consegue.
Quando Stephen Strange retorna para Kamar-Taj você sabe que aquele é um ponto de transformação no filme. E é mesmo. Adoro ele se aventurando em novos conhecimentos, mesmo aqueles que não deveria tentar usar, como quando ele rouba livros de projeção astral da biblioteca enquanto Wong escuta Beyoncé. [Cena HILÁRIA, por sinal] Os seus trajes vão lentamente refletindo a transformação e crescimento do personagem, tornando-se cada vez mais completo, arrumado, em uma transição constante e crescente de Stephen Strange, o ex-neurocirurgião arrogante, a Doctor Strange. Quando ele está muito melhor do que qualquer um esperava (e audacioso usando poderes que nem deveria tentar), Strange se envolve em uma guerra muito maior que ele quando o Sanctum de Londres é destruído. Ali, temos o primeiro clímax do filme. Cenas de ação eletrizantes, muita brincadeira de câmera, perda de proporção, giros que confundem os sentidos, portais, novos lugares, tudo culminando na cena em que Stephen Strange chega baleado no hospital que trabalhava e pede a ajuda de Christine para operá-lo.
Bem, é uma cena desesperadora e, ao mesmo tempo, muito engraçada, porque ele aparece para ela fora do corpo, na forma astral, e vai indicando o que deve ser feito. Atuações incríveis proporcionam tanto o horror da pele se costurando quanto a tensão da seriedade do mundo e um gostoso senso de humor que vemos nos filmes da Marvel. Quer dizer, enquanto o corpo dele está sendo operado, seu espírito independente luta contra o último de seus adversários no plano astral, mais uma vez apresentando efeitos FENOMENAIS dessa produção incrível. Nesse primeiro clímax, eu adoro a apresentação do Manto da Levitação, que o protege numa primeira instância, depois vai em busca de salvá-lo. Doctor Strange levitando com o manto vermelho nas costas é surpreendente e, simultaneamente, tudo o que esperávamos. É muito poder, e isso enaltece o personagem. Fascinante. Claro que o Manto da Levitação vai ter uma grande variedade de cenas hilárias, puxando Strange pelo pescoço, por exemplo, ou acariciando-o, mas toda vez que ele coloca aquele Manto… WOW! Digno de aplausos!
O segundo clímax do filme vem na forma da Dimensão Espelhada. E QUE CENA! Primeiro você acha que o Doctor Strange é um máximo por conseguir prendê-los todos na Dimensão Espelhada, mas o poder dos demais sobre a Dimensão Negra lhes proporciona muito mais poder na Dimensão Espelhada, que é moldada de acordo com sua vontade nos MELHORES efeitos de todo o filme! Enquanto Strange tenta fugir, as cenas de luta são as mais eletrizantes. E a Anciã aparece com um incrível poder sobre a Dimensão Espelhada também, equilibrando a disputa e, por fim, levando mais uma paciente para Christine (ótimo momento). Ali, não há mais o que ser feito. A Anciã estende seus últimos segundos de vida indefinidamente, o suficiente para que possa conversar com Strange no plano astral e explicar o que fez. É um momento muito bonito, porque traz reflexões bacanas sobre a maneira como a Anciã foi e será julgada por seu envolvimento e dreno de energia da Dimensão Negra, mas Stephen entende, ainda que parcialmente, os seus motivos. Ela fez o que julgou que devia ser feito.
Assim como ele fará no terceiro e último clímax.
Doutor Estranho expande o Universo da Marvel significativamente. O misticismo agora presente dificilmente permitirá que o universo jamais volte a ser o mesmo, felizmente. E o próprio Doctor Strange aprende muito ao escolher não usar a magia apenas para ele mesmo, mas para salvar a todos. O terceiro clímax acontece no Sanctum de Hong Kong, destruído, e Doctor Strange desafia as Leis da Natureza e mexe com a dimensão do tempo, tentando reverter os acontecimentos antes que a Dimensão Negra tome conta de nossa própria dimensão. Uma dimensão livre do tempo. Astutamente (e de uma forma debochada característica dele), Doctor Strange atormenta Dormammu em um infinito time loop divertido (“Dormammu, I’ve come to bargain!”) que coloca fim nos problemas do filme, por ora. Incrível. Verdadeiramente incrível. As cenas pós-créditos também. A primeira conecta o Doutor Estranho aos demais personagens da Marvel na forma de Thor em uma conversa sobre Loki. A segunda, por sua vez, traz Mordo e sua “transformação” para o futuro da franquia. Duas ótimas cenas.
Mas sabe o que é melhor?
“DOCTOR STRANGE WILL RETURN”
E nós mal podemos esperar!

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