Como Treinar o Seu Dragão (How to Train Your Dragon, 2025)
“They're
not what we think they are. We don't have to kill them!”
UM DOS
MELHORES FILMES DO ANO! “Como Treinar o
Seu Dragão” já é uma marca gigantesca. Em 2003, Cressida Cowell lançou o
primeiro livro de uma série de 12 (sem contar os livros extras como “Como Treinar o Seu Viking”, ‘escrito
por’ Banguela) com as aventuras de
Soluço, um viking diferente dos demais
e seu dragão Fúria da Noite e melhor amigo, Banguela. Em 2010, foi lançada pela
DreamWorks a animação de “Como Treinar o
Seu Dragão”, que ganhou duas sequências, uma em 2014 e outra em 2019,
tornando-se uma das trilogias de animação mais amadas de todos os tempos, e por
um motivo simples: os filmes são
excelentes, cada um deles. Agora em 2025, “Como Treinar o Seu Dragão” ganha a sua adaptação live-action e segue tão perfeito quanto
sempre!
Dean
DeBlois, a mente por trás das três animações originais, é também o responsável
pelo roteiro e pela direção da adaptação live-action,
e ele chegou a dizer em entrevista que sabia que o estúdio faria “Como Treinar o Seu Dragão” com ou sem
ele e, por isso, ele escolheu ser parte da equipe criativa. O filme é um grande
acerto! Visualmente impecável, com efeitos fantásticos em cada dragão em cena e
com um elenco talentoso, o filme mantém a mesma energia e o mesmo propósito da
animação que conquistou tantos fãs desde 2010. O coração está no lugar certo
nesse live-action que segue
divertido, aventuresco e profundamente emocionante, tratando de temas como a
amizade, pressão familiar e expectativas, o medo do desconhecido, o respeito
pela diferença…
Mason
Thames, ator que conheci em “O Telefone
Preto” e que vem ganhando muito destaque no cinema, fica responsável por
dar vida a Soluço, o viking “desajeitado” e filho do chefe de Berk, em quem
ninguém coloca muita fé porque “ele não é como os demais”. De fato, ele não é como os demais… mas são os outros que precisavam
aprender com ele, e não o contrário. Berk é uma ilha constantemente atacada
por dragões que roubam sua comida e destroem a sua casa, e Soluço é um garoto
com ideias engenhosas que esperam uma oportunidade para serem colocadas em
prática, e que é capaz de ver além – e se os dragões não forem exatamente o que
os vikings pensam? E se os vikings compartilham da culpa dessa convivência violenta por invadirem seu espaço?
As coisas
mudam drasticamente para Soluço no momento em que ele faz o que todo mundo
considerava impossível: ele captura um
Fúria da Noite. Ele não é capaz de lhe fazer mal, no entanto… ao olhar para
aquele lindo dragão preto de olhos verdes e dentes retráteis, que eventualmente
ele chamará de “Banguela”, ele percebe que o
dragão está tão assustado quanto ele – eles são mais parecidos do que ele
jamais imaginara. E, assim, ele começa todo um longo processo de aproximação
que se transforma em confiança e em amizade. E a relação de Soluço e Banguela
SEMPRE foi a alma de “Como Treinar o Seu
Dragão”, e isso é lindamente transposto para essa adaptação, que faz com
que vibremos com cada detalhe… em vários
momentos, eu me flagrei com um sorriso bobo no rosto.
Soluço se
aproxima aos poucos… talvez mais por curiosidade e por fascínio do que por
acreditar que ele pode se tornar amigo de
um dragão. Conhecer o Banguela, no entanto, lhe dá a certeza não de que
“ele não é um dos outros”, mas de que “ele não quer ser”. Ele estuda o Fúria da
Noite à distância, inicialmente, e percebe sua dificuldade para alçar voo e
recorrentes quedas por causa de um problema em sua cauda, mas quando ele é
levado para perto do dragão, ele percebe, não pela primeira vez, que ele não
quer lhe fazer mal – que o discurso que ele passou a vida toda escutando e que
agora é repetido o tempo todo em seu
treinamento de que “os dragões vão sempre atacá-lo e matá-lo” não é verdade.
Banguela teve a oportunidade de fazê-lo e não o fez…
Banguela é
encantador. Soluço se aproxima dele oferecendo comida e espera que o dragão
esteja pronto para deixar que ele toque em seu focinho, e tudo isso rende
alguns dos momentos mais intimistas e mais belos de “Como Treinar o Seu Dragão”. Amo cenas como o Banguela tentando
imitar o Soluço desenhando na areia ou quando o Soluço prepara algo para a sua
cauda para ajudá-lo no voo, e eventualmente os dois estão explorando juntos o
céu e descobrindo como eles podem se tornar um só no ar… um ajudando o outro. É toda uma jornada linda de Soluço e Banguela
que é coroada por aquele voo finalmente controlado que abre todo um novo
horizonte para o pequeno viking que nunca quis, e agora menos ainda, fazer mal
a nenhum dragão.
As tardes
inteiras que Soluço passa com Banguela o ensinam truques que são ótimos em seu treinamento diário: ele aprende sobre
um peixe do qual os dragões têm medo, por algum motivo, ou sobre como eles são
alérgicos a dentes-de-leão ou, ainda, que parte do queixinho coçar para que
eles caiam no sono… “truques” que lhe são úteis durante o treinamento e fazem
com que ele se torne uma estrela, admirada por toda Berk, se saindo bem em cada
tarefa sem precisar machucar os dragões. E isso acaba por incomodar Astrid, a sua companheira de treinamento e garota por
quem ele é apaixonado, que estava fadada a ser uma grande matadora de dragões e não entende o que está acontecendo –
não até ela seguir o Soluço e descobrir Banguela.
Astrid é um
ponto importantíssimo de “Como Treinar o
Seu Dragão”: se Soluço sempre foi diferente
dos demais e nunca quis, de verdade, fazer mal aos dragões, Astrid é alguém que
cresceu acreditando no mal que essas criaturas causavam e na necessidade de
matá-los, e que começa a ver as coisas sob uma nova perspectiva a partir da
revelação de Soluço e de sua amizade com Banguela… é todo um processo que
envolve confiar em Soluço e, depois, em Banguela. Soluço sabe que não vai ser fácil, mas Astrid lhe prova que não vai ser
impossível. Juntos, os dois descobrem o ninho de dragões que Stoico, o pai
de Soluço, está buscando sua vida toda, e eles descobrem, também, que o ninho
funciona como uma colmeia e eles alimentam sua rainha…
Um dragão de proporções gigantescas que os
vikings jamais poderiam vencer.
Soluço é
escolhido como o melhor da turma de treinamento e, por isso, ele é colocado
perante a “grande oportunidade” de matar um dragão na frente de todos os
vikings… é uma sequência complexa em muitos sentidos, a começar pela relação de
Soluço com o pai. A fala de Stoico sobre quem ele era e sobre como ele nunca
acreditou no filho é tão feroz que sentimos cada palavra como uma faca nos
perfurando. O filme é muito sobre expectativas que são colocadas sobre o
Soluço, sobre essa pressão que vem da família e da sociedade para “pertencer”,
e sobre a incapacidade alheia de ver, entender e respeitar quem é diferente… a expressão de Soluço ouvindo as palavras do pai,
que o pai ironicamente acredita que são “grandes elogios”, é de partir o
coração.
Então,
Soluço tenta fazer a sua parte: ele tenta provar a todos que os dragões são diferentes do que eles pensam
e que eles não precisam os matar. Teria funcionado, se não fosse pela
decepção de Stoico e suas ordens que fazem com que o dragão reaja… Soluço tinha razão, mas Stoico não deixou que ele
lhe provasse isso. Stoico age e lidera pelo
medo – é o medo do diferente que faz com que ele se feche em seus
pensamentos e impeça qualquer tipo de mudança…
é o medo que os dragões sentem dos vikings que faz com que eles os ataquem
também. É um ciclo vicioso que parece impossível de ser vencido e em cuja
possibilidade Soluço acredita por causa de Banguela… o seu Fúria da Noite que
vem de longe, mesmo com dificuldade, para defendê-lo naquela arena.
E, então, ele é capturado.
O filme é
surpreendentemente intenso, as cenas de Soluço e Stoico são angustiantes e
sérias, e a construção do grande clímax é de tirar o fôlego… Banguela é
aprisionado pelos vikings e usado para levá-los até a colmeia, e Soluço lidera
uma missão à parte com Astrid ao seu lado, confiando nele e sabendo que ele precisa fazer algo impensável.
Assim, Soluço e Astrid recrutam Melequento, Perna-de-Peixa, Cabeça-Dura e
Cabeça-Quente e os dragões aprisionados para treinamento para voarem até a
colmeia e salvar os vikings teimosos e
intolerantes. É uma batalha intensa que entrega uma ação frenética bem como
momentos profundamente emocionantes, como Stoico resgatando Banguela por Soluço
e dizendo que sente orgulho de chamá-lo de filho…
E, assim,
mudança é finalmente feita.
Gosto
particularmente da sequência final do filme, quando Soluço é salvo por
Banguela, que o ama imensamente, e essa é a prova final de que ele tinha razão sobre os dragões… quando
Stoico agradece a Banguela por ter salvo seu filho, nós sabemos que as coisas
não serão mais as mesmas dali para frente – e não são. Quando Soluço acorda,
ele descobre uma Berk na qual humanos e dragões vivem em harmonia… também gosto muito do paralelo traçado entre
Soluço e Banguela por ele perder parte de sua perna. Quando ele acorda e vê uma
perna mecânica e tem dificuldades para andar, Banguela o ampara assim como
Soluço o amparara durante todo esse tempo nos voos sem uma parte de sua cauda
para estabilizá-lo. Agora, eles são ainda
mais parecidos.
“Como Treinar o Seu Dragão” é
LINDÍSSIMO. Destemido, o filme é muito mais complexo do que algumas pessoas
podem acreditar antes de se voltarem de fato a ele… e é um filme que vale muito
a pena ser assistido! Terminei o filme com as lágrimas escorrendo pelo meu
rosto, plenamente feliz por poder assistir a um filme feito com tanto carinho,
respeito e competência, porque não fica aquém, em nenhum sentido, da animação
original. As relações familiares que envolvem expectativa e realidade,
identidades próprias, amizades forjadas no fogo, a relação com o diferente e o
desconhecido, a esperança na verdade e na mudança… tudo culmina em uma obra
intensa, profunda e bela que marcou desde a animação em 2010 e deve seguir
marcando com a franquia em live-action.
Ansioso pelo
segundo filme em 2027!
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