Chosen Home – Episódio 5

Experiências.

A força de “Chosen Home” está mesmo em seus diálogos, e esse episódio me mostra mais uma vez a delicadeza e a importância dessa série que vai além do mais habitual de “Séries BLs” e, como eu comentei em meu último texto, a torna também uma Série LGBTQIA+. É algo que muita gente de fora da comunidade, mesmo aquelas que se dizem “aliadas”, talvez não entenda, porque tem a ver com vivências e experiências que sentimos de maneira íntima. “Chosen Home” capta isso que é tão sincero e tão doloroso de maneira competente, e eu sinto que poderia passar horas ouvindo àquela conversa entre Hatano, Sakuta e Yoshida, quando ele aparece para ajudar Sakuta a montar os móveis para o novo apartamento para o qual ele está se mudando agora…

Sakuta vai morar no mesmo “condomínio” que Hatano e Hotaru, e Hatano está empolgadíssimo com a ideia de ajudá-lo com a mudança – tanto que ele reage de maneira hilária com a chegada de Yoshida, e eu gosto muito de como Hatano não consegue esconder as coisas e age de maneira tão natural e impensada. A presença de Yoshida acaba sendo muito bem-vinda, no entanto, e eu gosto de como a série não o trata como um “fantasma” do passado. A maneira como o trabalho em equipe acaba se transformando em uma conversa sem barreiras enquanto eles comem pizza é incrível… Yoshida conta sobre uma experiência em que sofreu preconceito em uma pizzaria por ser gay e sobre como ele “não pode mais voltar àquele lugar”, e não é um caso isolado…

Essa vivência de sentir que não pertencemos em uma sociedade heteronormativa é muito bem trabalhada em “Chosen Home”. É fluído sem ser desnecessariamente sutil, porque não é apenas algo que a série quer tratar “de passagem”: ela se debruça de fato sobre esse assunto, ela o torna pauta de toda uma conversa que dura parte do episódio e que nos envolve e permite reconhecimento… e tudo parte das experiências e decisões de Yoshida, quando ele percebe que perdeu a aliança falsa que usa no dedo e fala sobre o que ela representa e por que ele a usa: ele fala sobre a aliança evitar que as pessoas fiquem lhe perguntando sobre namoradas ou sobre casamento, e que a aliança é, na verdade, um “disfarce”; mais do que isso, um “objeto que faz com que ele se sinta parte da sociedade”.

Yoshida não é necessariamente um homem covarde, como uma visão mais superficial pode fazer com que algumas pessoas pensem… ele cresceu e viveu a vida toda silenciado e aprendendo que deveria esconder quem é e se habituou a isso, e talvez isso seja parte de por que ele e Sakuta não puderam dar certo: Sakuta acredita em uma mudança, acredita em um mundo no qual ele não vai precisar esconder o que sente, quem ama e quem é. Gosto da sua fala sobre como talvez as coisas sejam como são porque eles passaram muito tempo agindo como Yoshida e fingindo que “não existiam”, e talvez deixar de se esconder seja um passo rumo à diferença. E tudo isso é em um tom surpreendentemente amistoso e consciente. Amo como Hatano parece gostar mais de Yoshida quando eles se despedem…

E como Yoshida pede que o chamem para ajudar quando eles comprarem uma casa juntos.

FOFO DEMAIS!

Em paralelo, a série também coloca Tomoe para conversar com a proprietária que aluga os apartamentos para Hotaru, para Hatano e, agora, para Sakuta. Ela recebe uma carta de Tomoe, que marca um encontro com ela, e a conversa das duas também toma rumos muito bons com discussões pertinentes em relação à sociedade na qual vivemos… Tomoe fala sobre como mulheres que não são submissas são vistas como “problemáticas”, e como elas são tratadas como inferiores no ambiente de trabalho, onde são contratadas por salários mais baixos ou como temporárias, para não usufruírem dos mesmos direitos dos homens – além de outras coisas humilhantes que precisam enfrentar. E é daí que surge a explicação de todo o desvio de dinheiro…

Não tinha realmente parado para pensar se teríamos ou não uma explicação a respeito dos 32 milhões de ienes que foram desviados por Tomoe e que agora estão sob os cuidados de Hotaru, mas esse dinheiro é o resultado do cálculo feito por Tomoe de todo o dinheiro que ela não recebeu da empresa em que trabalhava por ser temporária e por ser mulher – um dinheiro que ela não pensava em roubar, mas que ela calculou por curiosidade quando foi levada a pensar sobre o assunto… e então, ela acabou retirando esse dinheiro “por causa” de Hotaru. Ela não queria que a filha se preocupasse com dinheiro e com o futuro, ou que escolhesse um curso e uma escola na qual estudar de acordo com o valor dela, então ela quis ser a mãe cuja filha não se preocupava com dinheiro.

Há muita força em seu desabafo, em seus motivos…

E é linda a cena em que elas se juntam a outra mulher para tomar sorvete juntas.

A conclusão do episódio vai amarrando as pontas de um dia – é um exemplo claro de como um bom texto não precisa de mirabolâncias para funcionar. É uma crônica simples de um dia ou dois na vida desses personagens, e tanta coisa advém disso! Hotaru se sai bem em uma prova de ciências para a qual Hatano tentara ajudá-la a estudar, e tanto ele quanto Sakuta reconhecem e valorizam o seu esforço, mas sem grande alarde, o que torna tudo fofo, belo e especialmente emotivo… a beleza está nos detalhes, como nos chaveiros enviados por Tomoe para a filha, ou na música que Hatano resolve cantar para Sakuta, que foi a primeira música que ele escreveu e que Sakuta dissera querer ouvir, e fiquei todo bobo e feliz com o Sakuta segurando a mão de Hatano e entrelaçando os dedos deles…

Mas dei uma gargalhada sincera com o Hatano, ali, decidindo procurar Koito, seu primeiro amor.

Curioso para como isso vai se desenvolver!

 

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