[Season Finale] Doctor Who (2025) 2x08 – The Reality War

“Oh, hello”

É impossível falar sobre esse episódio sem deixar que meus sentimentos fluam através das palavras… é o segundo ano consecutivo em que gosto muito do penúltimo episódio da temporada, mas ele leva a um Finale com o qual eu tenho questões – infelizmente, meus problemas com “The Reality War” são maiores do que no ano anterior, com “Empire of Death”. Eu não gostei de como o roteiro desperdiçou todo o potencial narrativo de ter a Rani e o Omega como vilões; não gostei de como foi concluída a história de Belinda Chandra, que parece muito fora de personagem; achei abrupta e fraca a regeneração do 15º Doctor, porque o Ncuti Gatwa merecia mais do que isso; e certamente tenho problemas com aquela aparição ao fim do episódio…

Ainda estou remoendo o episódio. Você pode até achar que é exagero de minha parte, mas “Doctor Who” é uma série que eu amo demais e que eu acompanho há muito, muito tempo, e eu ainda estou tentando processar o que eu assisti – e foi um episódio que me tirou o sono durante o fim de semana. Estou atordoado, mas não daquele jeito gostoso e inquisitivo, daqueles que nos deixam cheios de teorias gostosas pelos meses (anos?) sem episódios novos. Aqui, o sentimento é mais de revolta e incredulidade. Estou sofrendo por antecedência com tudo o que teremos que enfrentar com as viúvas do 10º e de Rose Tyler, que ressurgirão, e triste pela despedida claramente não planejada de Ncuti Gatwa, que merecia mais e que vai embora sem enfrentar um Dalek…

Gosto do início do episódio… gosto de como o Doctor é resgatado de sua queda rumo ao abismo por Anita, e como é estabelecida a conexão com “Joy to the World”: estamos de volta ao Time Hotel, e Anita aprendeu muito nesse tempo em que esteve ali – sobre o Doctor, inclusive: ela usou portas para visitar momentos da história do Doctor, como o 11º jogando xadrez, o 3º sendo mantido preso por Daleks ou o próprio 15º dançando com Rogue. E é Anita quem explica para o Doctor que o dia 24 de maio nunca chega… toda noite, quando chega às 23h59min, o loop reinicia e voltamos às 7h do dia 23 de maio… Rani quer que o dia aconteça de novo e de novo e de novo para que o véu da realidade seja cada vez mais fino e revele o que tem lá embaixo…

Omega.

Sabendo quem é e que precisa deter os planos de Rani, o Doctor usa a ajuda de Anita para tirar Belinda e Poppy da ilusão também, e depois parte para a UNIT, para fazer o mesmo… ele precise que todos se lembrem de quem são, porque ele precisa de toda a ajuda que puder reunir – vemos o retorno de Rose Noble, que foi apagada da existência no mundo idealizado por Conrad, e vemos a UNIT convocando de volta pessoas que não estão dentro do prédio, como a Melanie, a Shirley e Ruby Sunday… e é mais ou menos aí que começa o show de horrores, porque o roteiro deixa muito a desejar em toda essa sequência da UNIT. Temos tantos erros, como a afirmação de que o 15º tem a única TARDIS em existência, e tanta coisa mal escrita…

Quer dizer, o que foi aquele diálogo todo sobre como os Senhores do Tempo ficaram inférteis e não podem mais ter filhos e tudo o mais? É forçado e propositalmente bagunçado para parecer que faz algum sentido quando, na verdade, não faz. E o plano de Rani não é claro ou bom o suficiente… ela fala sobre trazer de volta o Omega, supostamente o primeiro Senhor do Tempo, que ficou louco, foi preso e banido para o Subverso, considerado “o Pecado Original dos Senhores do Tempo”. Aparentemente, o plano envolve usar o DNA de um Time Lord para trazer a espécie de volta e “reconstruir Gallifrey”, mas não é como se eles mesmos não estivessem fazendo isso com toda essa história de bigeneração que tem tomado conta dessa era…

Infelizmente, o que deveria ser o grande clímax do episódio é algo morno, sem graça e que termina muito rapidamente. O Doctor invade o Palácio de Ossos para enfrentar e deter Rani enquanto Ruby vai atrás de Conrad para pegar Desiderium e acabar com o Mundo dos Desejos (Conrad pode ser um lixo como pessoa, mas ele é um homem lindíssimo, minha nossa… fico todo distraído com ele em cena!). O tão aguardado retorno do Omega acaba sendo… patético. Ele retorna como uma figura irreconhecível, uma espécie de “lenda de si mesmo”, e aquela figura esquelética gigantesca simplesmente devora a Rani (a Sra. Flood escapa), dando também à personagem um fim aquém do que ela merecia… e o Doctor o derrota e o sela novamente com razoável facilidade.

Tudo muito simples, muito rápido, muito sem emoção.

Ruby, por sua vez, consegue Desiderium e “deseja” que Conrad seja feliz. E ele fica feliz.

Uma das minhas cenas favoritas do episódio acaba sendo, infelizmente, uma cena que tem todo o seu brilho apagado na sequência. Enquanto o Doctor enfrentava a Rani e o Omega e a Ruby buscava Desiderium e desejava a felicidade de Conrad, Belinda estava presa em uma caixa na UNIT com Poppy, tentando proteger a criança de desaparecer quando todo o mais “desejado” por Conrad desaparecesse… e embora inicialmente isso funcione, temos uma sequência LINDÍSSIMA na qual Poppy e sua memória vão desaparecendo enquanto o trio está na TARDIS. Durante a conversa do Doctor e de Belinda, cujo foco vai mudando sutilmente, eles passam para lá e para cá o casaco de Poppy, que vai diminuindo, diminuindo até ser um pedaço de tecido e, por fim, sumir.

É a materialização do desaparecimento de Poppy, de seu sumiço por completo como parte do Mundo dos Desejos, e é uma cena com um quê de melancolia e muita beleza. Ruby está à parte, assistindo a tudo e lembrando de Poppy por algum motivo, mas aparentemente sendo a única que o faz… talvez o Doctor também se lembrasse no fim originalmente planejado para “The Reality War”, mas ele quer poupar Belinda… seria um fim excelente para toda a trama de Poppy, e DEVERIA MESMO TER SIDO ENCERRADO ALI. Ruby insiste na existência da garota, mas o Doctor e Bel riem da possibilidade de eles terem tido uma filha juntos e o Doctor diz a Ruby que Poppy era um dos bebês de “Space Babies” e sua memória deve estar ainda meio embaralhada.

Ruby não desiste da ideia de trazer Poppy de volta… e se já tínhamos tido uma saída terrível de Rani e do Omega de cena, essa é a escolha do roteiro que mais prejudica a conclusão do episódio… custa a vida do 15º Doctor e muda completamente a personagem de Belinda Chandra como ela havia sido concebida. Insistindo sobre a existência de uma garota chamada Poppy, Ruby consegue convencer o Doctor de que há uma pessoa faltando, porque supostamente a realidade está levemente diferente do que deveria estar (embora Poppy NÃO fizesse parte da realidade originalmente), e para devolver a realidade ao eixo, o Doctor pretende usar sua energia de regeneração e direcioná-la ao centro da TARDIS, fazendo o mundo balançar

Se mover.

O Doctor não leva ninguém consigo nessa última aventura com esse rosto, mas ele não está completamente sozinho, e ele compartilha uma cena bastante interessante com a 13ª Doctor, que reaparece na TARDIS com referência ao clássico “You’ve redecorated. I don’t like it” (embora a TARDIS da 13ª seja a que eu considero com o interior mais feio de New Who), e essa é uma das melhores cenas do episódio… a cena é simples, mas a dinâmica entre os dois é boa, o reconhecimento é bonito (“We never change. All these faces and we never really change”), e temos a surpresa da 13ª quando o 15º diz que a ama, porque isso não é algo que ela costuma dizer… inclusive, é algo que ela deveria ter dito à Yaz e não disse – e o 15º lhe conta que ela não chega a dizer.

Após a despedida da 13ª, que precisa “retornar para a sua vidinha”, o 15º segue com seu plano, conecta-se com o núcleo da TARDIS (!), faz com que a realidade se parta em pedaços, e então desperta em um jardim, que se revela o jardim da casa de Belinda… e ele descobre que seu plano funcionou, Poppy está ali, como filha de Belinda. Fico um pouco incomodado com o fato de o episódio brincar com nossa inteligência e tentar vender a ideia de que a necessidade de Belinda de voltar para casa no dia 24 de maio às 7h30min sempre foi por causa de sua filha Poppy, porque as várias cenas que “confirmam” isso são claramente uma reescrita – tanto da série em si quanto da realidade, porque o Doctor reescreveu a realidade para dar uma filha a Belinda Chandra.

A Belinda do início da série realmente gostaria disso?

Eu gostava da “outra” Belinda, gostava daquela mulher que adorava questionar que conhecemos no início da temporada, que falava sobre consentimento quando o Doctor escaneou o seu DNA sem autorização, que tinha tanto potencial que não foi devidamente aproveitado pelo roteiro e ganhou um final que não parece condizer de verdade com quem ela é ou o que ela queria. Isso é algo que me incomoda profundamente, e pensar que o plano inicial, aparentemente, não era esse. Mas o Doctor consegue se despede dela antes de retornar para a TARDIS e deixar com que a energia de regeneração faça o seu trabalho… quando ela pergunta se vai vê-lo de novo, ele diz que espera que sim, mas “não desse jeito”, e ela não sabe o que ele quer dizer.

Nós sabemos… na porta da TARDIS, vendo Joy ao longe, o Doctor se regenera… e então surge, em seu lugar, BILLIE PIPER. Eu não acho que o Doctor de Ncuti Gatwa tenha tido a despedida que ele merecia, e certamente a sua era termina cedo demais quando ele ainda tinha tantas coisas a oferecer – ele precisava reencontrar Susan, precisava salvar o Rogue e precisava enfrentar um Dalek. Acredito que sua saída abrupta da série, que exigiu reescrita e regravações, esteja relacionada com a demora da Disney a dar uma posição sobre o futuro da série, e Ncuti Gatwa não podia ficar para sempre esperando notícias, possivelmente recusando outros trabalhos, quando já poderia estar gravando uma terceira temporada, caso a produção tivesse ganhado o sinal verde…

Ele precisou sair, e Russell T. Davies pode ter tomado a pior decisão possível ao trazer Billie Piper de volta, especialmente menos de dois anos depois de ele ter trazido David Tennant de volta para interpretar uma encarnação nova do Doctor e ter dado a ele o número 14. Billie Piper interpretou, a partir de 2005, Rose Tyler – a primeira companion da nova versão de “Doctor Who”, ao lado do 9º e do 10º Doctors. Eu não tenho absolutamente nada contra a Billie Piper, mas eu acho que a imagem de Rose Tyler precisa ser superada e deixada no passado como parte da história de “Doctor Who”, não seu presente. Martha Jones já foi negligenciada pelo Doctor, pelo roteiro e pelos fãs por causa de Rose, e tivemos o equívoco de muita gente que achava que “Doctor Who” era sobre o 10º e a Rose.

Esses chamados “viúvos” de TenRose estarão todos de volta.

Quem Billie Piper está interpretando, no entanto? Isso está aberto a discussão, possivelmente a decisão (!), e eu ainda não consegui me decidir em relação a que desejo. Pode ser, sim, que Billie estará interpretando a 16ª Doctor e que o fato de a regeneração ter passado pelo núcleo da TARDIS traga de volta esse rosto, MAS notemos algumas coisas: 1) os créditos finais não a apresentam como a Doctor, e o “as the Doctor” esteve presente em TODAS as primeiras aparições de um novo Doctor desde 2005; 2) no dia de exibição do episódio, Billie postou uma foto com uma rosa e a legenda “A rose is a rose is a rose”, além de dois emojis de rosa e um de lobo… será que teremos uma nova versão de Rose Tyler, de alguma maneira, ou o retorno de Bad Wolf?

Sinceramente, eu não sei… mas se vou ser sincero, eu digo mais: eu não tenho certeza de que a própria série sabe. Acho que esse final é razoavelmente aberto e a ausência de “as the Doctor” nos créditos dá espaço para que a produção faça o que bem entender… só espero que eles saibam o que está fazendo. Em parte, eu prefiro que ela seja a 16ª Doctor do que ressuscitar a história de Rose Tyler/Bad Wolf, que já foi encerrada e precisa ficar para trás; ao mesmo tempo, no entanto, eu sei que a chance de termos uma aventura da 16ª com o 14º Doctor são altíssimas, e não sei se isso fará bem à série ou àqueles que não superaram TenRose. O que eu sei é: Russell T. Davies tem um ego grande demais, e muito do que ele faz é para massagear esse ego porque ele se sente incrível…

E isso é um problema. Ele não deveria ser maior do que “Doctor Who”.

 

Para mais postagens de “Doctor Who”, clique aqui.
Visite também nossa página: Doctor Who

 

Comentários