Último Capítulo de “Anos Dourados” (30 de maio de 1986)

A juventude e os caminhos da vida…

Com um último capítulo cheio de romance, drama, reviravoltas e caminhos que se separam no futuro, “Anos Dourados” chegava ao fim no dia 30 de maio de 1986 e entrava para a história, como uma das minisséries da Globo lembradas com mais carinho por todas as pessoas que a assistiram na época. O último capítulo começa com o Marcos invadindo a clínica para a qual Celeste levara Lurdinha para fazer um aborto, e caminha não só pela resolução dessa história, mas de muitas outras, como o fim do casamento do Major Dornelles e Beatriz e a revelação da identidade do verdadeiro assassino do dono da boate em que Glória trabalhava… além de uma narração final que traz algumas boas histórias e aquele toque inusitado de realidade e de ironia.

Quando Marcos ficou sabendo sobre o aborto que Celeste estava tentando obrigar Lurdinha a fazer, ele pegou a arma que Glória tirara de Morreu e partiu para lá imediatamente, porque o seu filho ninguém ia matar… felizmente, Glória chega à clínica logo em seguida, acompanhada de policiais para resolver o caso – e eu preciso dizer novamente: como não amar a Glória? Enquanto Celeste tenta “escapar” e se esconder no escritório do marido, que é no mesmo prédio, Glória vai atrás dela para dizer algumas verdades: ela diz que ela não é gente, e eu dei boas risadas quando ela diz que “fica olhando para sua cara de broa e vê um monte de merda”. Com a história resolvida, agora eles precisam cuidar de Lurdinha e do bebê que ela está esperando…

Mas o dia ainda reserva muitas surpresas. Enquanto Glória garante a Lurdinha que eles estão ali e que não vai faltar nada para o bebê e Rosemary diz à Lurdinha que ela não pode passar nem mais um dia na casa da mãe, Morreu ajuda a resolver o caso por trás do assassinato do dono da boate – e temos surpresas aqui. Os policiais pedem que Marcos leve Lurdinha para casa, porque “não vai ser fácil para ela”, então já começamos a entender: FOI O DR. VIDAL CARNEIRO! Bem, a revelação de que o culpado pelo crime foi o Dr. Vidal Carneiro é excelente em termos narrativos: além de explicar por que ele tinha tanta certeza, desde o começo, que o Marcos não era o assassino (!), também funciona como uma grande ironia porque, depois de tudo o que Celeste julgou Glória e Marcos…

O Dr. Vidal Carneiro tinha um caso com a melhor amiga de Glória, que trabalhava na boate com ela, e há alguns anos o dono da boate descobriu e começou a chantageá-lo. Foram anos tirando dinheiro e querendo mais, e quando Vidal Carneiro se sentiu pressionado e ameaçado, porque ele estava a ponto de entregar as provas todas para a sua esposa, ele pegou a arma que viu em cima da mesa e atirou… sem qualquer piedade. Agora, sem conseguir lidar com a vergonha e sem querer pagar pelo crime que cometeu, Vidal Carneiro prefere se jogar da janela do seu consultório, no alto do prédio, a se deixar levar pela polícia… Celeste está em choque, e Lurdinha ainda estava ali para ver o pai sem vida na calçada, o que é muito forte para ela…

Então, Lurdinha passa mal, mas é uma junção de coisas. É a violência que sofreu sendo levada para a clínica contra sua vontade, é a morte do pai e, por fim, o fato de que a sua gravidez não tinha mesmo como prosseguir, porque a gestação estava ocorrendo na trompa. É triste, mas Lurdinha sobrevive, para a celebração de todos, e ela é rodeada por pessoas que a amam e que sempre estiveram com ela – enquanto Celeste observa de longe. Todo fofo, Marcos a tranquiliza dizendo que eles têm a vida toda pela frente e poderão ter quantos filhos eles quiserem… infelizmente, Lurdinha volta a morar com a mãe, e Celeste está mais insuportável do que nunca, contando a todos uma mentira na qual eu acho que ela mesma acredita: que Carneiro morreu em um acidente.

Dornelles, por sua vez, está infeliz: ele não pode ficar com a mulher que ama, não pode escolher o emprego que ele quer e os filhos são mandados pelo avô. Quando Lauro enfrenta o Brigadeiro pela primeira vez, no entanto, dizendo que vai trabalhar em Brasília porque é o que ele quer fazer, independentemente da aprovação ou não do avô, Dornelles se enche de orgulho… e eu acho que aquele é o momento crucial no qual as coisas mudam. Ele também “tira seu time de campo” e anuncia que vai trabalhar na aviação comercial, porque é o que ele sabe fazer e o que sempre gostou de fazer. Beatriz fica enfurecida com ambos, mas tanto Lauro quanto Dornelles já tomaram suas decisões, e agora eles não podem e não querem voltar atrás…

Ele também finalmente diz a Beatriz que eles precisam se separar. De maneira clara, ele diz a Beatriz que o que eles têm nunca foi um casamento de verdade… Beatriz está em choque e desesperada, porque ela não sabe quem é sem o Dornelles, mas Dornelles é enfático ao dizer que terminou e conta, porque ela precisa saber, que ele está apaixonado por outra mulher. Ele está cansado da sua vida, ele não aguenta mais aquele casamento, ele só quer a oportunidade de ser feliz e estar com quem ama e fazer o que gosta. Pode ser doloroso, e é, mas eles precisavam fazer isso… e a verdade é que ambos ficam melhor. Dornelles vai de mala para a casa de Glória; Beatriz, por sua vez, vai para a faculdade, desafiando o pai, finalmente dando sequência às coisas que interrompera em sua vida.

É um bom recomeço para ela… é um caminho para ela ser feliz.

Depois de as coisas “se ajeitarem” e de a vida seguir em frente, vemos uma despedida de Claudionor, que está indo servir no exército, e ganhamos uma cena linda dele com Urubu e Marcos, quando os três se abraçam, chorando, e prometem que eles sempre serão amigos – e sabe o que é mais interessante aqui, na minha opinião? É que eles não conseguem cumprir essa promessa, e eu acho que isso é o que há de mais realista nesse último capítulo! Não quer dizer que, naquele momento em que eles estavam se despedindo e estavam chorando abraçados, o que eles disseram e sentiram não fosse verdade… era, mas as coisas não são eternas, e essas relações da juventude não precisam ser – e não foram, porque a vida tratou de separá-los.

Achei realmente EXCELENTE a narração que nos conta o que aconteceu com os personagens, e claramente tem algumas boas ideias ali que até gostaríamos de ver sendo exploradas! Marcos foi para a faculdade rural e Lurdinha cursou pedagogia, e os dois se casaram em 1963, depois de se formarem, em uma cerimônia simples no civil; Marli, que se casou nesse capítulo, se separou em 1965 e se casou novamente; Marina não chegou a ser candidata a Miss Brasil, como sonhava, mas depois da morte do avô ela se tornou modelo, ganhou fama internacional, virou editora de moda… nunca se casou, mas “mora há 10 anos com uma jovem companheira” nos Estados Unidos, e eu simplesmente AMO o fato de que eles levaram adiante a história de Marina não ser hétero.

Lauro, por sua vez, foi trabalhar em Brasília e a sua experiência na capital fez com que ele se tornasse um dos engenheiros mais reconhecidos do país, o que o ajuda a sustentar suas quatro ex-esposas e seus sete filhos (!), o que acaba sendo uma grande piada, mas que funciona (e ficamos nos perguntando se isso tem a ver com ele “sempre ter sido apaixonado por Lurdinha”); Rosemary, por sua vez, se casou virgem em 1962 (não deveria importar o fato de ela ser virgem, mas é ressaltado porque Rosemary é justamente a pessoa que ninguém que a conhecia esperava que se cassasse virgem), estudou ciências sociais (!), tornou-se jornalista e, mais tarde, uma escritora líder de movimentos feministas (como se eu já não a amasse o suficiente!).

Urubu virou um político (o que eu acho que realmente combina com ele) e foi eleito deputado em 1982, sem o apoio de Marcos em sua campanha eleitoral, porque Marcos pertencia a outro partido político; Pedro Paulo, o irmão mais novo de Lurdinha, cursou arquitetura e foi preso durante uma passeata do movimento estudantil em 1968; Cláudio se casou e seguiu carreira militar, e o Marcos cortou relações com ele em 1969, porque ele se recusou a ajudar a encontrar Pedro Paulo durante o seu desaparecimento. Esse é um dos detalhes que me faz gostar tanto desse final e dessa narrativa toda: a promessa, na juventude, de que os três “seriam amigos para sempre” e a maneira como os caminhos de Marcos, Urubu e Claudionor se separaram…

Por fim, retornamos a Marcos e Lurdinha. Depois de algumas coisas maravilhosas (o fim de Marina e de Rosemary, por exemplo), algumas divertidas (o fim de Lauro), e algumas mais agridoces (os destinos de Claudionor e de Urubu), temos uma finalização a la conto de fadas para Marcos e Lurdinha, mas que aceitamos de bom-grado, porque gostamos de ver na ficção a maneira como as adversidades enfrentadas são recompensadas… Marcos se tornou um excelente veterinário, Lourdes se tornou uma competente orientadora educacional e os dois têm um casamento bem-sucedido, com três filhos – e raramente eles veem os amigos da juventude. Não esperava tanta sinceridade da conclusão de “Anos Dourados”, é verdade, e eu AMEI.

Minissérie muito boa, por isso marcou época!

 

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